Obtenção ampliada

A Anvisa realizou uma força-tarefa e aprovou o registro de uma série de genéricos inéditos, que devem beneficiar a população com tratamentos mais baratos

O ano de 2014 não foi o que a indústria de genéricos esperava. O desempenho das vendas ficou abaixo das expectativas do setor. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), com base nos indicadores do IMS Health, apontam que foram comercializadas 871,7 milhões de unidades de genéricos no ano passado, aumento de 10,6% sobre 2013. A estimativa era de que a expansão poderia chegar a 15% no ano.

Já a venda de medicamentos totais (incluindo todas as categorias) atingiu 3,12 bilhões de unidades, alta de 7,8% sobre o ano anterior. A receita, no mesmo período, foi de R$ 65,8 bilhões, aumento de 13,3% sobre 2013. O faturamento das indústrias de genéricos foi de R$ 16,25 bilhões, crescimento de 18,5% sobre 2013. Mesmo com uma expansão acima de dois dígitos, para a presidente da Pró Genéricos, Telma Salles, o desaquecimento da economia no ano passado e o acesso mais limitado à saúde foram os culpados pelo crescimento aquém do esperado.

Depois de amargar os resultados obtidos no ano passado, as indústrias fabricantes de genéricos iniciaram 2015 com boas notícias. Com a queda da patente de 15 moléculas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o registro de uma série de medicamentos genéricos. “Houve um esforço dentro da Anvisa para que isso acontecesse. Por levar acesso e beneficiar tanto população quanto governo, os registros foram priorizados por um conjunto de esforços. Isso prova que é possível aumentar a agilidade dentro do órgão”, conta Telma.

A medida deve ampliar a oferta de produtos à população brasileira, já que os produtos chegarão ao mercado com preços 35% menores que os praticados pelos medicamentos de referência, conforme determina a lei. Além disso, o movimento deve ajudar a prescrição de genéricos a ganhar cada vez mais representatividade. Pesquisa do Instituto Close Up, responsável por auditar o receituário no País, indica que os medicamentos genéricos já respondem por 65% do volume das prescrições médicas no Brasil.

A chegada de uma leva de produtos a menor custo também deve exercer uma pressão natural no mercado. “Como os genéricos funcionam como um regulador de mercado, os preços tendem a cair significativamente após os lançamentos, beneficiando o consumidor”, diz Telma.

De acordo com o diretor comercial da unidade de genéricos da Eurofarma, Jorge Alberto Alves de Sá, o crescimento do portfólio dos genéricos traz ainda mais uma vantagem. “Permite aos médicos que prescrevam um medicamento de qualidade e segurança comprovadas por testes de bioequivalência, garantindo a intercambialidade, ou seja, a substituição segura do medicamento de referência.”

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Mas a adoção desses novos medicamentos deve demorar um pouco, segundo Telma. “Todas as vezes em que surge uma opção eficaz e segura, a população tende a aderir, mas primeiro é preciso ganhar conhecimento a respeito da existência dos novos medicamentos. No primeiro ano, os genéricos não tendem a tomar o mercado do de referência. Isso costuma ocorrer depois de dois a três anos. Depende da oferta, se houver outros três genéricos da mesma molécula, por exemplo.”

Entre os novos genéricos, existem medicamentos para tratamento de hipertensão, osteoporose, disfunção erétil, antibióticos e anti-inflamatórios, entre outras indicações terapêuticas, incluindo tratamentos de alta complexidade, como câncer de próstata, cérebro, pele e de mama. Há medicamentos bem conhecidos que ganharão versões genéricas, entre eles: o antibiótico Arcoxia (princípio ativo Etoricoxibe), o Cialis, para disfunção erétil (princípio ativo Tadalafila) e o anti-hipertensivo Atacand HCT (Candesartana Cilexetila, Hidroclorotiazida).

Números de destaque

Desde que a Pró Genéricos começou a monitorar o mercado, em 2001, os consumidores brasileiros conseguiram economizar R$ 55,4 bilhões com a aquisição de medicamentos genéricos até 2014. Com a aprovação das novas drogas, a economia deve aumentar consideravelmente, já que o conjunto das que ganharam versões de medicamentos genéricos somou R$ 600,3 milhões em vendas nos últimos doze meses móveis encerrados em novembro de 2014.

Para este ano, as perspectivas são boas, considerando os planos de expansão de algumas das principais fabricantes de genéricos do País. A Eurofarma tem como meta chegar ao mercado logo após a expiração de uma patente e, sempre que possível, à frente da concorrência. Por isso, a empresa trabalha em cima de um planejamento de lançar 20 novos produtos ao longo de cada ano. Em 2014, apresentamos o primeiro genérico olmesartana + hidroclorotiazida e também o promestrieno. Neste ano, já colocamos no mercado tadalafila e azitromicina suspensão. Temos excelentes expectativas para 2015”, aposta Alves de Sá.

Para que as metas sejam alcançadas, a Eurofarma investe 6% de suas vendas líquidas em pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Ao todo são, aproximadamente, 200 projetos no nosso pipeline que inclui: desenvolvimento de genéricos e similares, inovações incrementais e radicais. O valor atribuído ao desenvolvimento de cada produto varia muito em função da complexidade, valor do ativo, testes de bioequivalência e, no caso de produtos novos no País, de estudos clínicos”, conta.    

O papel do farmacêutico

O farmacêutico é um profissional de saúde com profundo conhecimento técnico que deve pautar sua atuação no ponto de venda de forma ética para orientar pacientes e dispensar os medicamentos de maneira segura. Seu papel é fundamental na orientação e educação do paciente.
“O farmacêutico tem como papel indicar ao consumidor a melhor opção farmacêutica. O bom atendimento deve seguir a prescrição médica, mas, sempre que possível, o profissional deve repassar a informação de que há opções mais acessíveis, com a mesma segurança e eficácia. Isso significa garantir acesso, pois há muitos pacientes que deixam de seguir o tratamento porque não têm condições financeiras”, destaca a presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), Telma Salles.

O Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da EMS também recebe 6% do faturamento anual do laboratório em investimentos. Além disso, a companhia conta com parcerias internacionais de licenciamento de produtos inéditos no mercado brasileiro e da parceria técnico-científica com o laboratório de pesquisa italiano MonteResearch.
O resultado mais recente desse investimento foi o lançamento de quatro moléculas e quatro apresentações no mercado de genéricos. São elas: Candesartana Cilexetila, Candesartana Cilexetila + Hidroclorotiazida, Pantoprazol (apresentação com 42 comprimidos), Oxalato de Escitalopram (apresentação 15 mg), Valsartana + Hidroclorotiazida (apresentação 320 + 12,5 mg), Dicloridrato de Pramipexol e Sibutramina

A empresa não fornece informações isoladas para cada medicamento, mas afirma que continuará trabalhando para permanecer chegando à frente e disponibilizar primeiramente às farmácias e drogarias os principais lançamentos de medicamentos, tanto de genéricos quanto de prescrição médica, Over the Counter (OTC), entre outros. “Em 2015, nosso foco será contribuir para medicamentos que auxiliem no tratamento de asma, dor, depressão, contracepção, doenças cardiovasculares e disfunção erétil”, revela o laboratório.

Autor: Flávia Carbó

Público feminino

Edição 267 - 2015-02-01 Público feminino

Essa matéria faz parte da Edição 267 da Revista Guia da Farmácia.

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