Vias congestionadas

Entre o outono e o inverno, a incidência de problemas respiratórios pode crescer até 40%, aumentando, assim, o fluxo de pessoas com esses problemas nas farmácias. Prepare-se para proporcionar um bom atendimento

Espirros, obstrução nasal, respiração prejudicada e idas mais frequentes aos postos de saúde para buscar ajuda são alguns dos sinais que, junto com o frio, sinalizam a chegada do outono/inverno. Afinal, é neste período que começam a se intensificar os quadros de alergias respiratórias. Com a aproximação dos meses mais frios, o ar se torna mais seco e poluído, e costuma acontecer uma sensível redução das chuvas.

Também é o período de tirar as roupas mais quentes do armário e que, por vezes, foram impregnadas pelo mofo, ácaros ou poeira. Todos esses fatores somados, e aliados a ambientes mais fechados, que propiciam a disseminação de vírus e bactérias, são agentes responsáveis pela redução da qualidade de vida dos acometidos nesta época do ano.

“O inverno é a estação em que os alérgicos mais sofrem, sobretudo pelas bruscas mudanças climáticas e pela alta exposição a alérgenos. Estima-se que as alergias respiratórias aumentem 40% durante a estação”, avalia o alergista e coordenador técnico do projeto social Brasil Sem Alergia, Dr. Marcello Bossois.

Os sintomas variam de acordo com a doença respiratória, mas podem passar por coriza, prurido nasal ou coceira, espirros e obstrução nasal (nariz entupido), na rinite, e dispneia (ou falta de ar), tosse seca e chiado no peito, especialmente nos casos de asma ou bronquite.

Mas, segundo os especialistas, as doenças alérgicas podem ser prevenidas e controladas. E essa prevenção pode ter início desde cedo, na infância, evitando, assim, o desvio do sistema imune para o desenvolvimento do problema. “Medidas simples, como aleitamento materno exclusivo até os seis meses e evitar a exposição à fumaça do cigarro, particularmente na gravidez e na infância, podem auxiliar na prevenção de doenças, como a asma, por exemplo”, alerta a especialista em alergia e imunopatologia pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Dra. Elaine Miranda.

Segundo o pneumologista e membro da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), Dr. André Luís Albuquerque, também é importante que se atue diretamente na causa da alergia, reduzindo a exposição aos agentes desencadeantes. “O primeiro passo é o paciente evitar o contato com possíveis alérgenos. Se o agente causador são perfumes fortes, por exemplo, sempre devem-se evitá-los”, orienta.

Vale, ainda, estar em dia com os principais cuidados ambientais. “Na residência, o mais importante é priorizar a limpeza, evitar o acúmulo de pó ou mofo e manter o ambiente sempre arejado”, aconselha o otorrinolaringologista do Hospital Santa Cruz de São Paulo, Dr. Valter Hirome Tanaka.

Evolução no tratamento

Caso as crises respiratórias apareçam, há diversas formas eficazes de tratamento. “Na fase aguda, ajudam muito os anti-histamínicos via oral e os corticoides tópicos nasais”, descreve o Dr. Tanaka. Já para situações nas quais o paciente sofre por obstrução nasal, os descongestionantes também podem ser usados por tempo limitado, na fase aguda da doença. “Esses medicamentos agem por meio de vasoconstritores e provocam uma retração da mucosa”, explica.

Seja qual for o tratamento escolhido, é importante reforçar a evolução pela qual os medicamentos para esse fim passaram ao longo dos anos, seja na composição ou no modo de uso. “Existem anti-histamínicos com atividade anti-inflamatória que atuam, por exemplo, no bloqueio da histamina, uma das responsáveis pela sintomatologia da rinite”, comprova a alergologista do Fleury Medicina e Saúde, Dra. Barbara G. Silva.

“Ainda relacionado à rinite, os corticoides nasais também evoluíram, seja na variedade de formulações disponíveis ou na utilização de dispositivos diferentes e fáceis de usar”, acrescenta, destacando que, para casos de asma brônquica, existem os corticoides orais (para aspiração), que, à semelhança dos nasais, também possuem dispositivos fáceis de ser utilizados, com um maior número de classes diferentes disponíveis (diferentes potências).

Há, ainda, os novos medicamentos, como os monoclonais. “Eles agem em diferentes pontos do sistema imune, diminuindo a frequência das crises, controlando-as e melhorando, assim, a qualidade de vida dos pacientes”, explica a médica.

Os efeitos colaterais também foram reduzidos. Entre os anti-histamínicos, por exemplo, os mais utilizados há alguns anos eram os de primeira geração, considerados sedantes, que exercem um efeito calmante, levando à sonolência. Hoje, os usuários podem se livrar desses efeitos.

“Os mais utilizados, atualmente, são os de segunda geração, não sedantes”, constata a Dra. Barbara. A alergologista do Fleury também recorda que os broncodilatadores, no início, se resumiam apenas aos de curta duração, fazendo com que o paciente tivesse de levar ‘bombinhas’ para todos os lugares. Essa realidade também mudou. “Agora, com broncodilatadores de longa duração, isso não é mais necessário na maioria dos casos”, mostra a especialista, acrescentando que, entre os corticoides por inalação/aspiração via oral, o que melhorou foi a sensação de ardência.

Ela lembra, no entanto, que independentemente do tipo de dispositivo, é necessário que a técnica de administração seja sempre revista. “A melhora do paciente depende do medicamento e da correta utilização. A aplicação incorreta pode levar a alguns efeitos colaterais, seja a não melhora do quadro clínico ou o surgimento de candidíase oral. Por isso, se recomenda o ‘gargarejo’ com água após a administração”, finaliza.

Rinite

É a inflamação da mucosa do revestimento nasal. A rinite alérgica se parece muito a um resfriado e se constitui como a mais comum das alergias respiratórias, afetando de 10% a 40% da população mundial ao longo da vida, especialmente as crianças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 400 milhões de pessoas sofrem de rinite. Vale lembrar, ainda, que cerca de 80% dos pacientes com asma têm rinite alérgica. Embora não seja considerada grave, a doença pode se tornar muito incômoda, causando espirros repetidos, coriza líquida e abundante, com coceiras no nariz, olhos, ouvidos e garganta.

Sinusite

É a inflamação das mucosas dos seios da face, região do crânio formada por cavidades ósseas ao redor do nariz, maçãs do rosto e olhos. Na forma aguda, costuma trazer dor de cabeça, que pode ser forte, em pontada, pulsátil, sensação de pressão ou peso na cabeça. Na grande maioria dos casos, surge obstrução nasal com presença de secreção amarela ou esverdeada, e/ou sanguinolenta, dificultando a respiração. Febre, cansaço, coriza, tosse, dores musculares e perda de apetite costumam estar presentes.

Faringite

É a inflamação da faringe, geralmente viral. Causa febre e dor na deglutição com ou sem foco bacteriano.

Asma/Bronquite

São complicações respiratórias, mas patologias distintas. A asma é uma doença genética com forte componente alérgico, mas tendo ocorrência condicionada também pela interação do indivíduo com o meio ambiente. A bronquite se divide em dois tipos: a aguda, geralmente causada por vírus e bactérias ou inalação de substâncias irritantes; e a crônica, caracterizada pela tosse produtiva diária por mais de três meses.

Segundo a OMS, estima-se que 235 milhões de pessoas sofram de asma em todo mundo. No Brasil, ela acomete cerca de 10% da população e também é responsável por elevados gastos com hospitalizações. Em 2014, foram 112.772 internações por asma, constituindo uma das principais causas de internação no Sistema Único de Saúde (SUS), considerando todos os grupos etários. Ainda no País, o número de mortes evitáveis por asma é estimado em cerca de 2.500 pessoas, anualmente.

Em estudo com asmáticos em tratamento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi estimado um custo médio (direto e indireto) da asma de quase R$ 2 mil/paciente-ano, com um incremento de 12% para os asmáticos com rinite associada. Seja na asma ou na bronquite, os sintomas mais comuns são a intensificação da tosse que pode ser acompanhada com produção de catarro, falta de ar e chiado no peito. Muitos pacientes acordam à noite com falta de ar e chiado, visto que os sintomas da asma tendem a piorar durante a noite.

Fontes: otorrinolaringologista do Hospital Santa Cruz de São Paulo, Dr. Valter Hirome Tanaka; diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia, Dr. Rodrigo Athanazio; Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde; e o especialista em alergia e imunopatologia pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Dr. Eduardo Costa

Grupos de atenção

As alergias respiratórias podem afetar pessoas de quaisquer idades. Entretanto, em alguns grupos, a atenção precisa ser redobrada. Em crianças, por exemplo, as chances de evolução do quadro alérgico para pneumonia são muito maiores. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), fornecidos pelo Dr. Bossois, mais de 300 milhões de pessoas sofrem de asma em todo o mundo, sendo que as crianças representam mais metade dos casos.

Mas seja qual for a faixa etária, é importante estar atento aos primeiros sinais. Afinal, uma simples alergia pode se tornar algo bastante preocupante, já que a doença aumenta muito as chances de uma infecção secundária. De acordo com o Dr. Bossois, uma alergia de fundo respiratório mal tratada pode provocar, por exemplo, uma grave pneumonia crônica, caso a inflamação da mucosa respiratória e o acúmulo de secreção nas vias respiratórias se mantenham por um longo período.

“Aproximadamente 35% da população mundial sofre de algum tipo de alergia, então é muito importante que todos estejam atentos aos primeiros sinais de uma alergia respiratória, que poderá se manifestar por meio de espirros constantes, tosses e/ou falta de ar”, adverte. 

Autor: Kathlen Ramos

Economia e o varejo

Edição 270 - 2015-05-01 Economia e o varejo

Essa matéria faz parte da Edição 270 da Revista Guia da Farmácia.

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