Cuidados redobrados com a resistência

Uma infecção é a invasão de tecidos corporais por parte de organismos, como as bactérias, os vírus ou os fungos. Normalmente, inúmeros agentes infecciosos vivem no corpo de um indivíduo

Com a chegada dos dias mais frios, o comportamento da população muda. Saem de cena as roupas leves e os passeios ao ar livre, que dão lugar a ambientes mais quentes – e fechados – e alimentação mais pesada.

Com isso, a saúde fica debilitada. É no inverno que o corpo tende a estar mais vulnerável a infecções, principalmente, nas vias respiratórias. E são as crianças e os adolescentes que apresentam os maiores problemas relacionados à garganta e ao ouvido.

O residente do terceiro ano de Otorrinolaringologia do Hospital Escola de Itajubá (MG), Dr. Diego Soares Marques Rodrigues, explica que existe uma diferença em relação às inflamações e infecções. As inflamações são reações do organismo a diferentes estímulos, como infecções, traumas, cortes, etc. Elas causam dor, edema e vermelhidão no local, enquanto o corpo tenta reagir. Não precisam necessariamente de um agente infeccioso para desencadear tal processo. Podem também partir do sistema imunitário inato que agride seu próprio organismo.

“A inflamação da garganta é caracterizada, geralmente, apenas por vermelhidão, dor ou sensação de irritação e aumento das amígdalas. É muito comum nos períodos de resfriados e gripes ou durante outras síndromes virais e deve ser combatida com o uso de anti-inflamatórios e analgésicos.”

Por outro lado, uma infecção, como relata o Dr. Rodrigues, é a invasão de tecidos corporais por parte de organismos, como as bactérias, os vírus ou os fungos. Normalmente, inúmeros agentes infecciosos vivem no corpo de um indivíduo sem causar doenças porque estão contidos pelo sistema imunológico da pessoa. No entanto, se esse equilíbrio for desfeito, sobrevém uma doença infecciosa. O sistema imunológico do hospedeiro reage, mas nem sempre é capaz de vencer os agentes infecciosos sem a ajuda de medicações.

“Caso a infecção de garganta seja causada por bactérias, deverá ser feito uso de antibióticos. Se viral, o próprio corpo consegue reagir na maioria das vezes. Uma febre mais elevada (acima de 39ºC), prostração intensa do paciente, além de placas esbranquiçadas nas amígdalas que não melhoram em até 48 horas, são indicativos de infecções bacterianas.”

Já no caso do ouvido, o otorrinolaringologista do Hospital Santa Paula, Dr. Rafael Monaco Raposo, complementa salientando que a otite, geralmente, é causada por uma infecção bacteriana. O processo inflamatório pode ocorrer como resultado dessa e outras agressões a esse órgão (doenças virais, por exemplo).

Dores simultâneas

Não é raro ver as pessoas reclamando de dor de ouvido e, logo em seguida, de dor de garganta ou vice-versa. Esse fator é explicado pelo otorrinolaringologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. André Ricardo Mateus. “Devido às características anatômicas da inervação sensitiva dos ouvidos e da garganta, uma dor por alteração na garganta pode desencadear uma representação da dor na profundidade dos ouvidos (chamada dor referida). Entretanto, por possuirmos um canal que comunica os ouvidos com a garganta (chamado tuba auditiva), uma infecção na garganta pode progredir para infecção no ouvido”, destaca.

Uma dica importante para diferenciar as situações é a de que, quando existe uma infecção propagando para o ouvido e não apenas uma dor referida, é apresentada, concomitantemente, uma diminuição da audição ou zumbido e, por vezes, tontura. A situação de acometimento de ouvido e garganta merece avaliação do otorrinolaringologista para diferenciação.

Além disso, o residente do terceiro ano de otorrinolaringologia do Hospital Escola de Itajubá (MG), ressalta que, quando se tem uma amigdalite ou faringite, ocorre dor na região da garganta devido à inflamação ou infecção. Esses patógenos podem chegar ao ouvido por disseminação direta através da tuba auditiva, uma comunicação que temos entre a faringe e o ouvido médio.

Outro mecanismo que explica essa relação seria a dor irradiada, já que as amígdalas recebem alguns feixes nervosos comuns com o ouvido, como o nervo glossofaríngeo. Isso explica o porquê, após amigdalectomias, muitos pacientes acabam referindo dor de ouvido.

“Em 60% das infecções de vias aéreas superiores (nariz e garganta), ocorre a evolução para infecção de ouvido (otite média aguda) devido à proximidade e ligação na anatomia dos mesmos”, observa o Dr. Raposo.

Pesquisas mostram que até os sete anos de idade, 90% das crianças terão apresentado pelo menos um episódio de infecção de ouvido.

Os mais acometidos

As amígdalas em desenvolvimento, no caso de crianças e adolescentes, são naturalmente mais expostas ao risco de inflamação. O sistema de defesa delas ainda não está completamente desenvolvido e não é tão forte quanto o dos adultos.

Além disso, ambientes, como berçários e festas infantis, facilitam a transmissão de vírus e bactérias. Elas também correm maior risco de ter refluxo, que é um agravante. Além de possuírem a tuba auditiva menor e mais horizontalizada, favorecendo a migração de patógenos ao ouvido médio, oriundos da orofaringe. Além das crianças, pessoas imunocomprometidas (como idosos, pessoas em tratamento para câncer ou HIV+) possuem maior chance de adquirir essas enfermidades.

É no inverno que o corpo tende a estar mais vulnerável a infecções, principalmente, nas vias respiratórias.
E são as crianças e os adolescentes que apresentam os maiores problemas relacionados à garganta e ao ouvido

“Quando as amigdalites são recorrentes, as amígdalas sofrem uma alteração no formato, de tanto inchar e desinchar. Além dos poros, elas ficam com mais relevo, dobras que facilitam o acúmulo de vírus e bactérias, facilitando o surgimento de novas infecções”, observa o residente.

Tratamento e prevenção

As inflamações devem ser tratadas com repouso, analgésicos e anti-inflamatórios. Devem-se evitar bebidas geladas e ambientes frios, pois agravam a dor. Quando a região da garganta está irritada, o Dr. Rodrigues explica que os vasos sanguíneos sofrem dilatação, eles incham, o que é caracterizado como uma reação natural do organismo para sua defesa. “A partir do momento em que ingerimos sorvete ou bebidas geladas, a temperatura da região diminui, dificultando esse processo natural, piorando a dor. A hidratação é extremamente essencial para a saúde do corpo em geral. Manter a garganta seca piora a dor significativamente quando está com infecção.”

Como os anti-inflamatórios e antibióticos atuam no organismo?

Os antibióticos são um grupo de drogas com ação contra bactérias. Os medicamentos usados contra outros germes invasores, que não bactérias, acabam recebendo outros nomes, de acordo com o organismo a ser combatido, como antivirais, antifúngicos ou antiparasitários.

Os antibióticos são, consequentemente, as drogas indicadas para o tratamento de infecções provocadas por bactérias, tais como pneumonia, meningite, tuberculose, faringite, cistite, otites e amigdalites.

Os antibióticos mais comuns e antigos são os do grupo da penicilina, descoberta no ano de 1928. Atualmente, já existem várias classes de antibióticos diferentes, com características e espectro de ações distintas. É sempre bom lembrar que existem milhares de tipos distintos de bactérias, sendo muitas delas biologicamente bem diferentes entre si. Por isso, é perfeitamente normal que um antibiótico seja extremamente eficaz contra uma infecção urinária, mas totalmente inofensivo contra uma pneumonia.

O uso indiscriminado de antibióticos pode levar ao surgimento de bactérias resistentes. Se o regime antibiótico não for bem indicado, além de não erradicar a bactéria, ele ainda pode induzir a formação de cepas resistentes e de mais difícil tratamento.

Como já dito, inflamação é uma resposta criada pelo sistema imunológico contra agressões. Toda vez que alguma área do organismo sofre uma injúria, o sistema imunológico recruta células de defesa e as envia para o local. A inflamação é o resultado da liberação de diversos mediadores químicos que têm como função proteger o organismo, reparar danos e atacar invasores hostis. Caracteriza-se clinicamente por calor, rubor, dor e inchaço.

Os anti-inflamatórios são substâncias usadas para diminuir os sinais e sintomas indesejáveis desta reação de defesa do organismo. Esses medicamentos têm como características, além de diminuir os sinais de inflamação, o alívio da dor e da febre.

Não há nenhum problema em se associar um anti-inflamatório a um antibiótico. Pelo contrário, o primeiro alivia os sintomas da inflamação, enquanto o segundo ainda não fez efeito.

Fonte: residente do terceiro ano de Otorrinolaringologia do Hospital Escola de Itajubá (MG), Dr. Diego Soares Marques Rodrigues

O Dr. Mateus complementa dizendo que o uso de anti-inflamatórios auxilia no alívio sintomático e, normalmente, eles são utilizados principalmente na fase inicial de tratamento que pode durar de sete a 21 dias.
Já uma infecção deve ser tratada de acordo com a causa. Quando se trata de uma infecção viral, os mesmos tratamentos da inflamação devem ser instituídos. Quando há evidências de infecções causadas por bactérias, deve-se lançar mão de antibióticos. Se o paciente não melhorar em até 48 horas, troca-se o antibiótico por outro com um maior espectro de ação. Por isso é essencial diferenciar as doenças virais das bacterianas, evitando selecionar as bactérias, deixando-as mais resistentes.

No que diz respeito à prevenção, é importante que os pacientes tenham uma boa alimentação, ingiram bastante líquido e pratiquem atividades físicas aeróbicas. Além disso, evitar ambientes com grande aglomeração humana e pouca ventilação nos dias frios e evitar a mudança brusca de temperatura corporal e manter as cavidades nasais umedecidas com soro fisiológico 0,9% são ações fundamentais.

Rastreabilidade

Edição 272 - 2015-07-01 Rastreabilidade

Essa matéria faz parte da Edição 272 da Revista Guia da Farmácia.

Deixe um comentário