Balconistas precisam ter conhecimentos básicos sobre medicamentos

Muito mais do que ser prestativo e simpático, um bom atendente de balcão de farmácia deve possuir conceitos básicos sobre medicamentos, para que possa passar informações seguras aos consumidores

Gostar de lidar com pessoas é uma característica imprescindível que todo profissional que trabalha na área de atendimento de uma farmácia precisa ter. Saber ouvir o cliente, com atenção e paciência, é fundamental, ou seja, um sorriso no rosto não é suficiente. Um bom profissional deve estar preparado para passar informações e orientações corretas e garantir a segurança e eficácia do tratamento que o paciente busca. Por isso, é preciso conhecer os produtos vendidos na farmácia.

A área que analisa desde a formulação do princípio ativo até a ação terapêutica que aquela substância tem no organismo é a farmacologia. “É o estudo de substâncias que interagem com sistemas vivos por meio de processos químicos, ou seja, o estudo dos efeitos destas substâncias no funcionamento de sistemas vivos”, detalha a professora titular e farmacêutica responsável pela Farmácia-Escola da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e professora titular do curso de Farmácia da Universidade de Guarulhos (UnG), Maria Aparecida Nicoletti.

Atualmente, na estrutura da farmacologia, estão inseridas muitas áreas como, neurofarmacologia, imunofarmacologia, farmacocinética, entre outras. Nos currículos das faculdades de Farmácia, todos esses desdobramentos são amplamente estudados. O profissional que atua no varejo pode compreender de maneira bem mais resumida os princípios da farmacologia, mas deve dominar os conceitos básicos para prestar um atendimento satisfatório.

O que o balconista precisa saber

1) PRINCÍPIO ATIVO
É a parte ativa do medicamento, aquela que tem a ação farmacológica, que fará o efeito. O fármaco é o princípio ativo, então, por exemplo: diversos componentes integram um comprimido de ácido acetilsalicílico, mas o princípio ativo é o próprio ácido acetilsalicílico.

“Cada princípio ativo (fármaco) tem suas especificidades. O conhecimento dos fármacos se faz necessário para as orientações quanto à terapia medicamentosa dos pacientes, considerando todos os fatores interferentes, além da possibilidade de interações medicamentosas ou alimentares e das possíveis reações adversas”, pontua a professora titular e farmacêutica responsável pela Farmácia-Escola da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e professora titular do curso de Farmácia da Universidade de Guarulhos (UnG), Maria Aparecida Nicoletti.

 

2) PRINCIPAIS FORMAS FARMACÊUTICAS/VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
De acordo com conteúdo publicado no livro Farmacologia – Como agem os medicamentos, escrito pela farmacêutica docente na Faculdade Método de São Paulo (Famesp), Vera Pivello, o mercado oferece muitos medicamentos com o mesmo princípio ativo, mesmo nome comercial, frequentemente, com diversas formas farmacêuticas diferentes. Por exemplo:

• Metoclopramida: disponível em comprimidos, gotas pediátricas, ampolas;
• Cetoprofeno: cápsulas, supositórios, ampolas, comprimidos, drágeas, cápsulas gelatinosas e gotas pediátricas;
• Ibuprofeno: comprimidos, drágeas, cápsulas gelatinosas e gotas pediátricas;
• Dipirona: comprimidos, gotas, solução oral, injetável, supositórios.

“Por que tantas apresentações diferentes para um mesmo princípio ativo? São vários os motivos, por exemplo, de acordo com cada apresentação, o tempo para o início da ação do medicamento será diferente. No uso oral, as gotas dissolvidas em água começam a agir mais depressa no organismo que as cápsulas e os comprimidos, porque já estão dissolvidas e o medicamento será mais facilmente absorvido”, explica Vera.

Mas não é só para obter efeito mais rápido que existem várias apresentações; há outros motivos, como: a necessidade de liberação mais lenta de um princípio ativo; não desejar que ele se desintegre no estômago e, sim, no intestino; quando a substância não pode ser usada por via oral, porque é passível de ser destruída pelos sucos digestivos; comodidade, praticidade, facilidade de transporte; necessidade de evitar gosto desagradável; apelos de marketing.

3) FATORES QUE INFLUENCIAM NA ESCOLHA DA VIA DE ADMINISTRAÇÃO
Segundo Maria Aparecida, a escolha da via de administração do medicamento depende de fatores diversos e o paciente deve ser analisado com suas particularidades específicas: necessidade ou não da rapidez na ação da droga; efeito local e sistêmico; propriedades da droga e da forma farmacêutica; idade do paciente; conveniência para o paciente e estado geral de saúde; quantidade a ser administrada; velocidade de absorção e distribuição; pico e tempo de ação ou efeito do fármaco; duração do tratamento; particularidades inerentes ao paciente e cuidador (no caso de crianças, idosos, pacientes com necessidades especiais, etc.); utilização de outros medicamentos; etc.

4) VANTAGENS E DESVANTAGENS DE CADA VIA DE ADMINISTRAÇÃO
Via oral

• Vantagens: fácil administração, confortável, facilidade para carregar e transportar.
• Desvantagens: interação com alimentos, limitação para pacientes inconscientes, idosos, crianças, efeito de primeira passagem.
Via sublingual
• Vantagens: fácil administração, boa vascularização da via, não apresenta efeito de primeira passagem, utilização em situação de agudização da enfermidade, resposta rápida.
• Desvantagens: limitação para pacientes inconscientes e para uso pediátrico.
Via retal
• Vantagens: utilizada para pacientes que não podem colaborar em decorrência do estado de saúde (inconsciência, vômito), além dos pacientes idosos que apresentam dificuldade na deglutição e também crianças. É uma alternativa à via oral quando há limitações de uso.
• Desvantagens: incômodo da administração, eliminação da forma farmacêutica após a administração, absorção irregular.
Via intramuscular
• Vantagens: é uma via de depósito, fácil aplicação.
• Desvantagens: pode ser dolorosa, não pode ser utilizada para a administração de grandes volumes.

5) TIPO DE AÇÃO DOS MEDICAMENTOS
• Ação local: o medicamento age no local onde foi depositado, não atingindo a corrente sanguínea. Por exemplo: colutórios, gotas otológicas, etc.
• Ação sistêmica: o medicamento precisa passar pela corrente sanguínea para chegar ao local de ação. Exemplo: xaropes, comprimidos, cápsulas, suspensões, soluções, etc.

6) ADESÃO
Adesão é a aceitação do paciente, ou usuário do(s) medicamento(s) ao tratamento. Essa etapa é essencial, pois a pessoa passa pelo médico, faz os exames solicitados, mas deve também utilizar os medicamentos que lhe foram prescritos. “Não adianta não cumprir o tratamento medicamentoso (bem como as outras orientações dadas pelo médico e demais profissionais de saúde), ou desistir dele no meio do caminho”, ressalta Vera.

7) MÉTODOS PARA CONSEGUIR ADESÃO
Para Vera, o melhor método é o esclarecimento do paciente sobre as consequências de cumprir e/ou não cumprir o tratamento. A conscientização sobre seu tratamento, sobre a ação de cada medicamento e a forma como cada um age despertará no paciente a responsabilidade sobre a condução de seu tratamento.

Caso a conversa não resolva, há outras técnicas disponíveis, segundo Maria Aparecida, como avaliação das condições sociais e econômicas de cada indivíduo (que estão relacionadas ao seu modo de vida), criação de uma rotina de administração do medicamento, sistemas (porta-medicamentos) que facilitem a administração de medicamentos, sistemas que por telefone celular alertam o horário da administração de medicamentos, contato do farmacêutico com os pacientes crônicos de determinados medicamentos, entre outras.

 

“Conhecer os fármacos (que, na nossa atividade, foram devidamente ‘preparados’ pela indústria farmacêutica ou pelos processos de manipulação), nos dá a condição de orientar as pessoas que atendemos sobre a forma de utilização, os efeitos colaterais e o perigo de misturar medicamentos – o que pode causar problemas devido à interação medicamentosa”, defende a farmacêutica docente na Faculdade Método de São Paulo (Famesp), Vera Pivello.

Maria Aparecida vai além. Acredita que os atendentes devem receber treinamento sobre diversos outros temas, para que possam atender satisfatoriamente às solicitações dos farmacêuticos, particularmente, na hora da dispensação e no acompanhamento de atividades relacionadas à Atenção Farmacêutica. “Os colaboradores devem ter conhecimento sobre vários assuntos relacionados às atividades desenvolvidas. Se eles não estiverem capacitados adequadamente, se tornarão somente ‘atendentes’ com a função de venda, o que não é mais aceitável considerando que a farmácia é um estabelecimento de saúde.”

Orientação necessária

Ainda que seja necessário investir no preparo dos balconistas, é válido ressaltar que os colaboradores devem realizar as atividades sob a supervisão do farmacêutico responsável técnico ou do farmacêutico substituto, dentro dos padrões técnicos definidos e o limite de atribuições e competências estabelecidos pela legislação. “A farmácia/drogaria deve ter um farmacêutico presente durante todo o período em que o estabelecimento estiver aberto e, portanto, os atendentes não poderão ficar sem supervisão. O farmacêutico responde pelos atos que praticar ou pelos que autorizar no exercício da profissão”, alerta Maria Aparecida.

O farmacêutico responsável técnico se responsabilizará por todos os atos praticados no estabelecimento, respondendo, em qualquer situação, solidariamente com os demais funcionários em decorrência de responsabilidade relacionada a escolher a equipe e a distribuir as tarefas, bem como, a de vigiar a execução das atividades. Portanto, o farmacêutico responde também pelos erros de sua equipe (responsabilidade solidária).

Conhecimento básico

O leque de assuntos relacionados à farmacologia é extenso, mas há alguns pontos-chave que devem ser repassados aos atendentes para garantir um bom atendimento, seja para venda de medicamentos sob prescrição médica, seja para os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs). Para os profissionais do atendimento, os pontos mais cobrados incluem o porquê determinado medicamento está sendo utilizado, os efeitos adversos que pode causar, as precauções de seu uso e as interações medicamentosas, caso o paciente utilize mais de um.

Análise clínica

Edição 274 - 2015-09-01 Análise clínica

Essa matéria faz parte da Edição 274 da Revista Guia da Farmácia.

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