Rotina exaustiva

Comportamento induzido por hábitos decorrentes do conforto dos dias atuais prejudica a saúde dos pacientes. A modernidade proporcionou diversas formas de impedir a prática de qualquer esforço 

O sedentarismo já é considerado a “doença” do próximo milênio. Trata-se de um fenômeno comportamental induzido por hábitos que decorrem de comodidades e confortos da vida moderna, em que a evolução da tecnologia substituiu as atividades que demandavam gasto energético por facilidades automatizadas; o ser humano adota, cada vez mais, o hábito de esforçar-se menos, reduzindo assim o gasto energético do seu corpo.

Quando a pessoa começa a ter dificuldades em completar atividades normais e simples da sua rotina, como limpar a casa, levar o cachorro para passear, lavar a louça e caminhar pequenas distâncias, são os primeiros sinais de que algo está errado.

As mudanças na sociedade e no estilo de vida parecem estar contribuindo de forma significativa para o aumento do sedentarismo, por meio de opções de lazer que não envolvem qualquer tipo de atividade física, tais como a televisão, o computador e as demais tecnologias disponíveis. 

“Mais importante do que classificar o sedentarismo como uma doença, devemos reconhecer os problemas relacionados à falta de atividade física. Não se discute, atualmente, que a prática de atividade física na medida certa está relacionada a benefícios funcionais, que a inatividade da pessoa pode contribuir para um aumento no risco de certas doenças e que pessoas que praticam atividade física de forma correta tendem a ser mais saudáveis. Por outro lado, não devemos entender que o sedentarismo seja a causa de todos os males, nem que a prática de atividade física seja suficiente para prevenir ou tratar todas as doenças que acometem as pessoas”, afirma o gerente médico da unidade MIP Aché, Dr. Carlos Eduardo Travassos.

Segundo dados do Ministério da Saúde (Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), em 2013, 33,8% da população adulta das capitais praticava exercícios. O índice é maior que o de três anos anteriores (33,5%), o que aponta para uma tendência de aumento desse hábito. 

O sedentarismo tem sido associado a diversos problemas graves de saúde, junto com outros comportamentos nocivos, como o tabagismo e a dieta inadequada. 

Sabe-se, hoje, que a prática de atividade física regular traz para o organismo diversos benefícios fisiológicos e psicológicos necessários para a manutenção de uma vida saudável: mantém e melhora a densidade mineral dos ossos, prevenindo, assim, a perda de massa óssea; melhora a força, a massa muscular e a flexibilidade, principalmente em indivíduos acima dos 50 anos de idade; proporciona melhora do equilíbrio; aumenta a capacidade respiratória; estimula a circulação periférica e ajuda no controle da pressão arterial; melhora o controle da glicose no organismo; melhora o perfil lipídico; melhora a autoestima e a autoconfiança, auxiliando também na manutenção da saúde mental. 

“No extremo oposto, a falta da atividade física priva o organismo de todos esses benefícios, o que pode levar, em maior ou menor grau, a problemas de saúde importantes. Assim, por exemplo, a falta de mineralização óssea, associada a outras condições pessoais, pode favorecer o aparecimento da osteoporose, doença fortemente associada a um risco aumentado de fraturas, que levam à grande incapacidade e maior mortalidade, principalmente em idosos”, informa o Dr. Travassos. 

Ele cita que outro exemplo é o desenvolvimento de condições clínicas relacionadas à doença cardiovascular. Nesse caso, o sedentarismo aumenta a chance de obesidade, diabetes, hipertensão e dislipidemia (alteração nas quantidades de gordura no sangue), condições que aumentam o risco de o indivíduo evoluir para uma doença aterosclerótica com o passar do tempo, estando sujeito a complicações, como infarto ou derrame. 

“As artérias e veias são responsáveis por levar e trazer o sangue para o músculo, como ele não é utilizado devido à falta de prática de atividades, o corpo fecha esse caminho para gastar menos energia e leva o sangue para partes que necessitam mais. Dessa forma, os músculos vão ficando pouco irrigados e, consequentemente, com pouca mobilidade”, explica o membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) do estado de São Paulo, Dr. Márcio Jansen de Oliveira Figueiredo.

Como combater

Segundo especialistas, a orientação de um estilo de vida mais saudável deve incluir, entre outras recomendações, a prática de atividade física, e essa orientação pode ser feita por qualquer profissional da área da saúde, inclusive por profissionais de farmácias. Existem, entretanto, alguns pontos a ser observados. Em primeiro lugar, deve-se lembrar de que, em alguns casos especiais, é importante que seja feita uma avaliação médica prévia do estado de saúde da pessoa, de forma a identificar eventuais riscos envolvidos e a melhor maneira de iniciar a prática. 

De acordo com a fisioterapeuta pela Universidade Metodista de Piracicaba, com doutorado em Reabilitação pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora científica do Centro de Estudos em Medicina da Atividade Física e do Esporte (Cemafe), Dra. Gerseli Angeli, combater o sedentarismo exige boa vontade e disciplina. “É uma questão de escolha, pois, muitas vezes, o consumidor precisa abrir mão do conforto (como ir caminhar, ao invés de chegar em casa e se ‘jogar’ no sofá para descansar. Acordar mais cedo para se exercitar, ao invés de dormir até mais tarde, etc.) De acordo com uma pesquisa recente encomendada por Targifor ao Conectaí, somente 17% dos brasileiros disseram ter disposição para realizar atividades de lazer e 74% afirmaram que não se exercitam regularmente. Ou seja: a qualidade de vida está em segundo plano, condição que pode acarretar ganho de peso, problemas cardiovasculares e até mesmo depressão”, completa.

As vitaminas são compostos de grande importância, necessárias ao crescimento, à reparação dos tecidos, ao funcionamento orgânico, essenciais para reações metabólicas específicas no meio celular e vitais para o funcionamento dos órgãos. 

“Em geral, são obtidas de forma adequada por meio de uma dieta saudável, sendo que o uso de suplementação apenas é necessário em casos de deficiência comprovada. O problema é que, muitas vezes, a dieta do indivíduo moderno não é adequada no que se refere às quantidades ingeridas de vitaminas, e não é incomum a ocorrência de deficiências subclínicas de certas vitaminas. Além disso, em algumas condições específicas, pode haver um aumento transitório das necessidades de uma ou outra vitamina, e a suplementação pode ter efeito benéfico”, orienta o Dr. Travassos. 

Segundo o especialista, a decisão de suplementar, ou não, esse tipo de nutriente, depende da avaliação individual de cada caso, mas deve-se ter em mente que o consumo excessivo também pode trazer prejuízos conforme o tipo de vitamina. “Por sua vez, o termo energético pode se referir a substâncias conceitualmente diferentes. Os chamados estimulantes causam aumento temporário da energia, mas este efeito é seguido por um período de diminuição acentuada da capacidade de trabalho, resultando em reações desagradáveis”, completa.

Mudanças de hábito. Oriente os clientes da farmácia

1°. Passo: fazer uma avaliação física (teste de flexibilidade, força muscular, composição corporal e teste ergométrico – avalia o esforço do coração em condições de estresse). Esse passo é importante para avaliar a condição física atual e ajudará a traçar as metas pessoais.

2°. Passo: estabelecer metas realistas, alcançáveis e mensuráveis a curto (um a três meses), médio (quatro a sete meses) e longo prazo (um a dois anos). Atingir e perceber os benefícios associado à atividade física é a forma mais motivadora de manter as mudanças. 

3°. Passo: escolher um exercício de sua preferência; mesmo que musculação, caminhada e corrida sejam os mais comuns, talvez o mais prazeroso para o consumidor seja pilates, yoga, badminton ou dança de salão. Isso varia de indivíduo para indivíduo. 

4°. Passo: se o paciente não está acostumado a se exercitar, deve começar a atividade física aos poucos, com uma intensidade leve e respeitando os limites do corpo. Isso vai ajudar a evitar lesões e diminuirá as chances de se sentir desestimulado.

5°. Passo: não desistir dos novos hábitos, pois é normal que imprevistos do dia a dia o impeçam de cumprir com os objetivos estabelecidos. Diversos estudos comprovam que o número de desistência dos novos hábitos antes dos três meses é muito maior do que a manutenção dos mesmos. Portanto, nunca desistir na primeira barreira. Tentar quantas vezes forem necessárias! Quando o paciente começar a sentir os benefícios físicos, cardiovasculares e mentais proporcionados pela atividade física, perceberá que todo aquele esforço valeu a pena.

Fonte: fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein, Felipe Gambetta


Autor: 
Tassia Rocha

Análise clínica

Edição 274 - 2015-09-01 Análise clínica

Essa matéria faz parte da Edição 274 da Revista Guia da Farmácia.

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