Obsessão sem fim

A busca incessante pelo peso ideal se torna cada vez mais comum entre os brasileiros. Diante dessa necessidade, a indústria criou soluções que, aliadas à pratica de exercícios físicos e à alimentação balanceada, prometem bons resultados 

Estar totalmente satisfeito com o corpo parece ser um caso raro. Todo mundo tem alguma “reclamação” a fazer sobre si. Atualmente, é comum pessoas tentando buscar hábitos e estilo de vida mais saudáveis como alternativa para alcançar o físico desejado. Mas para conseguir o objetivo em um curto espaço de tempo, algumas pessoas optam por métodos que garantam resultados rápidos.

Para a nutricionista do Programa Dieta e Saúde, Ana Carolina Icó, há muitas justificativas possíveis para a insatisfação do brasileiro, desde experiências relacionadas ao peso e formato corporal vividas na infância, comentários de outras pessoas, a percepção da imagem corporal (forma como o indivíduo enxerga a sua própria imagem), padrões de beleza e até, em casos extremos, presença de transtornos alimentares. 

“Muitos profissionais apontam a influência da mídia na disseminação da insatisfação corporal. Atualmente, os meios de comunicação divulgam uma preocupação excessiva com o peso corporal, muitas vezes não relacionada à saúde e sim, associada apenas ao padrão estético considerado adequado e aceito pela sociedade. Padrão esse muitas vezes quase que inatingível e difícil de ser replicado em um país com uma forte miscigenação. O público mais atingido são as mulheres, frequentemente estimuladas a emagrecer independente da sua real necessidade. O que explica também o número cada vez maior de brasileiros que se submetem a algum procedimento para perda de peso, como dietas da moda, uso de medicamentos e suplementos”, informa Ana Carolina. 

Para ela, a maioria das pessoas que deseja emagrecer busca dietas com promessas milagrosas, como emagrecer 10 kg em uma semana. “O grande problema é que essas dietas propõem um padrão alimentar restritivo, monótono e pouco energético. Além disso, dietas não consideram fatores importantes e individuais envolvidos no consumo alimentar, como a rotina, acesso aos alimentos, local onde realiza as refeições, como é feita a compra de alimentos, prática de exercícios físicos, histórico de doenças e comportamento emocional, por exemplo, presença de ansiedade”, afirma.

Ao tentar seguir um padrão alimentar tão rígido, contrário às particularidades e distante do habitual, a dieta se torna muito difícil e insustentável. É por conta dessas experiências frustrantes que cada vez mais pessoas buscam a Reeducação Alimentar (RA), visto que ela é um método mais flexível, sustentável, focado na mudança de hábitos e assim mais eficaz para o emagrecimento definitivo.

“Aquele que faz dietas, seja qual for o objetivo, mas que não se reeduca psicologicamente falando, nunca obterá sucesso, estará sempre brigando com a balança e será frustrado. As mudanças precisam ocorrer de dentro para fora, o indivíduo precisa querer ter outros hábitos para a vida toda”, alerta a especialista em Nutrição e Qualidade de Vida e mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Michelle Parreira de Campo. 

Na contramão 

Se por um lado existem pessoas na busca exaustiva pelo corpo perfeito, do outro, há um cenário difícil de combater. De acordo com o preparador físico e autor do livro A Dieta Ideal, Marcio Atalla, apenas 35% da população brasileira pratica atividade física. É um número muito abaixo do esperado, mostrando que a população, de um modo geral, é inativa e contribui para o crescente número de obesos e pessoas acima do peso. “No Brasil, aproximadamente 42,3 milhões de pessoas (28,9% da população adulta), afirmam assistir à televisão por mais de três horas diárias. Porém, nosso corpo depende da atividade física para funcionar melhor. O exercício tem impacto hormonal, evita problemas cardíacos e obesidade, além de contribuir com o funcionamento do metabolismo e o movimento das articulações”, alerta. 

Para Atalla, o que funciona, para ter um corpo saudável e atingir a satisfação, é a dupla dieta equilibrada e movimento diário. A prática de exercícios ajuda na busca pelo peso ideal, já uma dieta equilibrada permite a manutenção de um corpo saudável. 

Ou seja, não adianta recorrer à internet à procura de dietas “milagrosas”, se o indivíduo não buscar por uma mudança geral no estilo de vida, é preciso ajuda de especialistas para conseguir um resultado saudável e que não fique no efeito “sanfona”. 

Segundo dados fornecidos pelo endocrinologista e responsável pelo Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Marcio Mancini, o número de obesos e pessoas acima do peso no Brasil cresce a cada ano. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Nacional de Saúde, que mostra que 20,8% dos brasileiros, com 18 anos ou mais, apresentam obesidade (mais de 30 milhões) e 56,9% apresentam excesso de peso (mais de 82 milhões). Há dez anos, respectivamente, essas cifras correspondiam aproximadamente a 12% e 42%. É importante afirmar que a obesidade e mesmo o aumento de peso têm causas genéticas e ambientais. Por exemplo, de 40% a 60% das pessoas obesas têm a doença por origem genética. Existem estudos que comprovam os diversos motivos para a obesidade e eles vão muito além do excesso de alimentos.

Inovações da indústria 

De maneira geral, a reeducação alimentar é a melhor saída aliada aos exercícios, independente do objetivo da dieta, seja o emagrecimento ou a busca por um estilo de vida mais saudável. Pensando nisso, a indústria vem buscando inovações que auxiliam no dia a dia de quem procura por um estilo de vida mais saudável, sem deixar de oferecer ao corpo os nutrientes necessários. A nutricionista Ana Carolina explicou a funcionalidade de cada item que, se indicado por um profissional, depois de uma análise individual, pode garantir ótimos resultados, aliado, é claro, com a prática de exercícios físicos. São eles: 

• Shakes: misturas em pó que podem ser diluídas em leite ou água. Geralmente possuem em sua composição uma fonte de proteínas (por exemplo, proteína isolada de soja, albumina ou caseína), um carboidrato (por exemplo, maltodextrina, frutose), uma fonte de gordura vegetal (por exemplo, óleo vegetal, gordura de palma), no mínimo uma fonte de fibras alimentares (por exemplo, inulina, fruto-oligossácarideos, fibra de aveia ou de trigo) e vários suplementos de vitaminas e minerais. Os principais objetivos desse tipo de produto são fornecer a maior quantidade de nutrientes com o menor valor calórico possível e promover a saciedade, por isso o acréscimo de fibras e a orientação para o consumo de um grande volume.

• Sopas: compostas em sua maioria por legumes de baixo valor calórico (por exemplo, tomate, cenoura, cebola) e tubérculos (batata-inglesa, batata-baroa e batata-doce) desidratados, aliados a uma fonte proteica (por exemplo, proteína de soja, proteína do soro do leite, albumina, peito de frango), várias fontes de fibras (por exemplo, inulina) e uma fonte de gordura vegetal (por exemplo, óleo de soja), além de suplementos de vitaminas, minerais e realçadores de sabor. Os principais objetivos do produto, assim como os shakes, são ser uma alternativa de refeições com baixíssimo valor calórico e promover a saciedade. O valor calórico desse tipo de produto é realmente muito baixo, algumas sopas possuem menos de 100 kcal, total este aquém do esperado para um almoço de um adulto saudável cujo valor recomendado está por volta de 500 kcal. Manter o consumo prolongado desse produto como substituto de refeição pode provocar deficiências de nutrientes e levar a fraqueza, tonturas, dores de cabeça e, em alguns casos, à anemia.

• Chás e sucos: normalmente misturas de ervas e/ou frutas desidratas em pó. O principal atrativo desse tipo de produto é ser uma bebida com baixo valor calórico ou isenta de calorias. Algumas possuem sabor doce, devido à adição de adoçantes e para muitas pessoas é uma alternativa ao consumo de refrigerantes. Algumas opções de chás possuem alegação de propriedades termogênicas. Esses produtos basicamente favorecem o aumento do consumo de líquido e, portanto, auxiliam na diminuição da retenção de líquidos. Por ser produtos com um total de calorias muito baixo, provocam importantes deficiências nutricionais quando usados como substitutos de refeições.

  • Cápsulas: são princípios ativos isolados de alimentos (por exemplo, cafeína, betacaroteno, picolinato de cromo) ou nutrientes em altas concentrações (por exemplo, ômega-3, óleo de cártamo, quitosana, spirulina). O objetivo desse tipo de produto é entregar ao organismo uma quantidade do composto em proporções maiores do que o alimento oferece, além de muitas vezes ser isento de calorias como acontece com a cafeína, por exemplo. Muitas cápsulas são comercializadas como emagrecedores, pois possuem compostos com alegação de efeito termogênico, promotor de saciedade, bloqueadores da absorção de gorduras dos alimentos e até anorexígeno (inibidor de apetite).

Esses produtos podem fazer parte de uma refeição, mas nunca substituir o consumo de um conjunto de alimentos. 


Autor: Tassia Rocha

Saúde na América Latina

Edição 277 - 2015-12-01 Saúde na América Latina

Essa matéria faz parte da Edição 277 da Revista Guia da Farmácia.

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