Além do medicamento

O laboratório novo nordisk dedica anos de pesquisas clínicas na busca de qualidade de vida para diabéticos

Graduado em Engenharia Eletrônica pela Escola de Engenharia Mauá, com MBA na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, o gerente-geral do Novo Nordisk no Brasil, Allan Finkel, atua no mercado de diabetes há dez anos, tendo 18 anos de experiência profissional em empresas multinacionais, como Bristol-Myers Squibb, nos Estados Unidos, e Eli Lilly, no Brasil. Agora, à frente do Novo Nordisk no País, ele segue o trabalho de combate à doença crônica que atinge milhões de pessoas em todo o mundo e planeja explorar outras áreas que merecem igual atenção.

O executivo concedeu uma entrevista exclusiva ao Guia da Farmácia. Acompanhe.

Guia da Farmácia O foco de atuação do Novo Nordisk é em diabetes por meio das insulinas? Mas vocês possuem três áreas de atuação. Quais são?

Allan Finkel Hoje, a empresa é focada em diabetes, mas temos duas outras áreas bastante importantes para nós, que é a área de hemofilia, em que temos um fator sete de coagulação, e também a parte de hormônio de crescimento. Essas são as três áreas que em hoje a empresa atua.

Guia Mais do que oferecer soluções em medicamentos, vocês falam muito em oferecer qualidade de vida e alternativas de prevenção. Como vocês promovem isso?

Finkel Investimos bastante em pesquisa e desenvolvimento para trazer medicamentos inovadores nessa luta contra o diabetes. Mas, hoje, a porcentagem da população que é diagnosticada com a doença e recebe tratamento é muito pequena. Então, fazemos um trabalho intenso de educação, seja com parcerias com associações de pacientes ou com associações médicas, visando educar, não só a comunidade médica, mas também pacientes para detecção e, principalmente, o tratamento do diabetes. Acreditamos que não adianta nada trazermos medicamentos inovadores e pesquisar cada vez mais, se não temos uma comunidade médica e pacientes que entendam como diagnosticar e tratar a doença. Não necessariamente só com medicamento, mas também por meio de uma mudança em hábitos alimentares, exercícios e assim por diante.

Guia Você acredita que hoje a maior carência está no diagnóstico ou no tratamento?

Finkel Acho que a maior carência hoje está no diagnóstico. Já temos uma gama importante de medicamentos para tratar o diabetes. Logicamente, continuamos investindo em pesquisas e em desenvolvimento. Mais para frente, várias moléculas muito interessantes devem aperfeiçoar o tratamento existente daqui a alguns anos. Mas, hoje, eu acredito que o tratamento está em um estágio muito avançado, do ponto de vista de disponibilidade de produtos para diabetes. 

Guia O que existe disponível vai cobrir todas as necessidades? 

Finkel Grande parte. Nós estamos buscando cada vez mais, para que o paciente tenha um tratamento mais confortável e uma qualidade de vida melhor. Lançamos, recentemente, uma insulina basal, que oferece maior conforto para o paciente quanto à hipoglicemia. Mas é muito importante que os pacientes sejam diagnosticados e busquem o tratamento. Quanto mais tarde isso acontecer, maiores os riscos relacionados aos efeitos do diabetes.

Guia Por que está crescendo tanto o número de diabéticos, na sua visão?

Finkel Primeiro, mais pessoas estão sendo diagnosticadas, então isto aumenta o número de pacientes que serão tratados. Existem também hábitos de vida que levam ao diabetes. Alimentação, sedentarismo, isto acaba, direta ou indiretamente, influenciando e levando o paciente ao diabetes tipo dois. O tipo um é genético. E por isso quando falamos de educação, não é só a parte de diagnóstico, é a prevenção. E a prevenção do diabetes é se exercitar, se alimentar corretamente, manter o peso adequado, isso faz parte.

Guia Por que você acredita que tenha essa demora no diagnóstico? A doença em si é silenciosa ou as pessoas não têm acesso tão fácil à consulta médica e aos exames?

Finkel Na verdade, acho que é falta de informação. Por isso que investimos tanto na educação. Olhando os números, o de pacientes que hoje são diagnosticados aumentou, logicamente. 

Mas existe um estudo, baseado na cardiologia, mas que foi adaptado para o diabetes, que estabelece a regra das metades. No Brasil, dos 12 milhões de pacientes com diabetes, só metade recebe o diagnóstico. Ou seja, a outra metade não é diagnosticada. Da parcela que recebe o diagnóstico, só metade consegue ter acesso ao tratamento. Dessa metade que é tratada, apenas metade consegue alcançar os resultados esperados. Então quando você olha o total desses 12 milhões de pessoas, você vai caindo, até ter o ponto de existirem pessoas com acesso ao tratamento e não ter o resultado esperado. Desses 12 milhões, 6% atingem o objetivo do tratamento. A empresa trabalha para quebrar essa regra.

Guia Como se dá esse investimento em busca de novas tecnologias? Como vocês avaliam a demanda do paciente, o que ele quer e como ele precisa ser tratado?

Finkel Um dos principais fatores é que escutamos os pacientes. Não só no Brasil, em que temos o serviço de atendimento ao consumidor, onde coletamos as informações de coisas boas ou necessidades dos pacientes e avaliamos. A corporação, de maneira geral, escuta muito o paciente. É a melhor maneira de identificar como você pode trazer uma solução que atenda a uma necessidade. Escutando médicos também. A comunidade médica é de extrema importância para informar sobre coisas que estão ou não funcionando, para que estejamos sempre atualizando.

Guia E qual é a estratégia de vocês para o lançamento de produtos? De quanto em quanto tempo novidades são apresentadas?

Finkel O portfólio de produtos a ser lançados é robusto. Não posso entrar em detalhes sobre tudo, mas vamos lançar soluções orais de medicamentos que temos. Neste ano, nós vamos entrar em uma nova área, que é a de obesidade. Então, além de diabetes, hemofilia e hormônio de crescimento, vamos lançar um medicamento endereçado a essa comunidade. 

Guia Hoje, o tratamento consegue ser pago em boa parte pelo governo?

Finkel Sim. Agora, acreditamos que neste ano vamos começar a ver bastante sucesso com a insulina que foi lançada, a Tresiba®, que é uma insulina basal e extremamente moderna. Nós estamos fazendo um trabalho, montamos uma equipe para que, a partir de 2016, alguns estados também passem a reembolsar para que o paciente tenha acesso a essa insulina de graça.

Guia O que vocês têm exportado, para qual país?

Finkel Hoje, cerca de 20% de todos os fármacos que o Brasil exporta é exportado por nós, proveniente da fábrica de Montes Claros (MG). Exportamos diretamente para a Dinamarca e lá é distribuído para vários países. Seja na América do Norte, na Europa, são mais de 70 países. 

Guia Então a nossa região continua sendo bastante interessante para os investimentos da empresa?

Finkel Sim, continua. Nós acreditamos muito no Brasil. Estamos vivendo em um momento complicado como país, mas continuamos investindo. Para 2016, estamos lançando novos medicamentos, vamos focar em uma nova classe terapêutica que é a obesidade, vamos continuar com o investimento em pesquisas clínicas feitas aqui no Brasil. Acreditamos muito no potencial do País. 

Guia Como se dá o relacionamento do Novo Nordisk com o varejo farmacêutico?

Finkel Temos uma equipe que visita farmácias, e mais do que isso, em 2015, iniciamos alguns treinamentos para farmacêuticos. Temos nossos médicos ou médicos externos parceiros que deram treinamento de como diagnosticar, como tratar o diabetes, quais são os nossos produtos, como aplicar. Acho que foram quase mil farmacêuticos que foram treinados. Vamos manter essa ação neste ano, porque foi um grande sucesso e o feedback dos farmacêuticos foi muito bom. É uma grande oportunidade que eles têm de obter mais informação, principalmente sobre uma doença tão importante.


Autor: 
Lígia Favoretto

Especial Farmacêutico

Edição 278 - 2016-01-01 Especial Farmacêutico

Essa matéria faz parte da Edição 278 da Revista Guia da Farmácia.

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