Proteção necessária

Com o aumento dos casos de dengue e também do Zika vírus, a população se arma para combater o problema, que afeta a saúde e traz riscos

A proliferação de insetos em temporadas de chuvas é um acontecimento certeiro no Brasil. Mais do que incomodar ou amedrontar os humanos, eles transmitem doenças. Por isso, é preciso manter o foco na prevenção e erradicação de criadouros.

Mas será que as picadas podem causar algum problema mais grave à população? A resposta é simples: sim! “O risco correlaciona-se com o tipo de inseto. O mosquito pode ocasionar em algumas pessoas uma reação alérgica chamada estrófulo (reação em que o pernilongo pica em um único local e outras picadas aparecem em partes diferentes do corpo) ou mesmo o ato de coçar o local pode levar bactérias para a região e provocar uma infecção chamada celulite. Agora, existem insetos da classe dos himenópteros, como a abelha, vespa e formiga de fogo, que podem ocasionar reações graves e até fatais em indivíduos alérgicos”, afirma a alergologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dra. Cristina Abud de Almeida.

Ou seja, as picadas de insetos são muito mais que um desconforto, podem provocar doenças por vezes mortais e também reações alérgicas severas nas pessoas e isto deve ser evitado.

De acordo com o diretor-geral do laboratório Osler, Paulo Castejón Guerra Vieira, os mosquitos e carrapatos precisam do sangue do paciente como alimento para seus ovos. Portanto, só as fêmeas é que picam. Segundo Vieira, no momento da picada, além de sugar o sangue, duas substâncias são injetadas no corpo: um analgésico, para que a picada não seja sentida imediatamente e o mosquito espantado, e um anticoagulante. É essa troca de substâncias que pode fazer o vírus, a bactéria, o protozoário ou o parasita passarem do mosquito para o humano e as substâncias injetadas provocam as reações alérgicas.

“O tratamento das doenças transmitidas por insetos variam muito com o tipo de doença bem como com a intensidade das reações alérgicas”, alerta Vieira.

Ele explica que as picadas mais comuns são daqueles insetos capazes de voar e que têm em seu instinto a necessidade de encontrar os indivíduos a fim de obter o sangue para alimento de seus ovos, ou seja, os mosquitos. Como não são capazes de voar, as picadas de carrapato são menos frequentes, mas não menos importantes.

Contra os insetos

Os repelentes passaram a ser um agente de combate importante e farmácias e drogarias são os estabelecimentos mais procurados para a compra do produto. De acordo com o IMS Health, essa categoria movimentou, somente no canal farma, no Brasil, oito milhões de unidades (período ano móvel de outubro/15). Um crescimento de 47% versus o mesmo período do ano anterior. “Observa-se um stock-out geral dessa categoria na farmácia, devido ao surto de dengue, zika e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypt, e uma alta nos preços devido a elevada demanda.” 

Alerta para o Zika vírus

Quais são as principais diferenças entre elas?

Dengue

A mais conhecida, possui como sintomas mais comuns febre alta, cansaço excessivo, dores de cabeça, atrás dos olhos e no corpo, náuseas e vômitos.

Chikungunya

Apesar de ter sintomas parecidos com a dengue, a grande diferença está no seu acometimento das articulações: o vírus afeta as articulações dos pacientes e causa inflamações com fortes dores, podendo ser acompanhadas de inchaço, vermelhidão e calor local.

Zika

Causada pelo vírus Zika, tem sintomas semelhantes aos da dengue, como febre, diarreia, náuseas e mal-estar. Porém, a grande diferença da doença é a erupção cutânea (exantema) acompanhada de coceira intensa no rosto, tronco e membros, podendo atingir a palma das mãos e a planta dos pés. Fotofobia e conjuntivite são outros sinais da infecção causada pelo vírus. 

Diferentes picadas

Podem-se dividir os insetos e aracnídeos em dois grupos:

Grupo A

Os que aferroam e não precisam do nosso sangue, não transmitem doenças, mas podem provocar reações alérgicas são:

Vespas

Abelhas

Marimbondos

Aranhas

Grupo B

Os principais insetos e aracnídeos que precisam do nosso sangue são:

Aedes aegypti

(dengue, chikungunya, zika)

Culex

(filariose)

Anófeles

(malária)

Carrapato

(febre maculosa, doença de Lyme)

Repelentes industrializados comercializados no Brasil

DEET (abreviatura de N, N-dietil-meta-toluamida ou N, N-dietil-3-metilbenzamia), dependendo de sua concentração pode ser utilizado em crianças a partir de dois anos de idade e atingir até seis horas de proteção.

Icaridina é um composto derivado da pimenta e, dependendo de sua concentração, pode ser utilizado a partir de dois anos de idade, e proteger em até dez horas contra picadas de insetos.

IR 3535 é uma loção antimosquito aprovada para gestantes e crianças acima de seis meses de idade, podendo atingir até quatro horas de proteção.

Fonte: médica e assessora da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dra. Nicole Perim

Ranking

1. Repelex (Reckitt Benckiser)

2. OFF Repelente (Ceras Johnson)

3. Autan  (Bayer Corp.)

4. Johnson (J&J Corp.)

5. Exposis (Osler do Brasil)

6. Xô (Cimed)

7. bye-bye mosquito (Aloha Distribuidor)

8. Moskitoff (Farmax Div. Cosm.)

9. Turma da Mônica (Kimberly-Clark)

10. InsetProtec  (Zanin Pharma)

Fonte: IMS Health

Recomendações para proteção contra picadas de insetos

Existe uma forma segura de aplicar o repelente para aumentar sua eficácia e evitar as picadas de insetos.

Como aplicar na pele

• Seja generoso: aplicar o repelente pelo corpo de forma generosa, pois a tendência natural é passar menos do que o necessário.

• Seja homogêneo: aplicar o produto homogeneamente por todas as partes expostas da pele. Uma vez que a ação de um repelente limita-se a 4 cm de distância, uma simples aplicação no rosto não protege a nuca, por exemplo.

• Seja repetitivo: reaplicar sempre que achar necessário, inclusive após mergulhar no mar ou piscina, ao sair do banho ou em caso de sudorese excessiva.

• Seja seletivo: todos os repelentes podem irritar as mucosas. Cuidado com olhos, narinas e boca.

• Tipo de roupa: evitar roupas escuras e agarradas ao corpo. Dê preferência a roupas claras, compridas e afastadas do corpo. Se fizer uso de roupas curtas, vestidos ou sandálias, aplicar o repelente nas pernas e nos pés.

• Protetor solar pode ser usado: primeiro aplicar o protetor solar, aguarde o tempo indicado por seu fabricante para que o produto seja absorvido e só então usar o repelente.

• Cremes e maquiagem: depois de aplicar cremes ou maquiagem, usar o repelente por cima desses produtos.

• Não use perfume: eles provocam alergias e atraem insetos. É recomendado fazer uso de produtos sem fragrâncias, tais como desodorantes sem perfume, sabonetes neutros e xampus sem cheiros.

Fonte: Osler


Epidemias típicas

Segundo a gerente de categoria da Reckitt Benckiser (RB), responsável por Repelex, Holly Garbett, existe um indicativo de que a população conhece bem os riscos da dengue. “Em fevereiro de 2015, uma pesquisa realizada pelas marcas SBP e Repelex com a população dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro indicou que nove a cada dez entrevistados se sentiam suscetíveis à picada do mosquito da dengue.” Mais: a grande maioria, 72%, disse já ter sofrido pessoalmente com a doença ou conhecia alguém próximo que contraiu o vírus.

O executivo da Osler faz uma observação importante: “Os repelentes estão cada vez mais saindo de uma demanda considerada ‘sazonal’ e migrando para um consumo regular o ano todo. E em certas praças (todas as cidades ao norte do estado de São Paulo, por exemplo), o repelente é usado diariamente, não para uma situação específica de risco, mas como uma medida de proteção contra a dengue, até para ficar em casa ou ir trabalhar”.

A gerente de produto do Grupo Cimed, Angélica Néspoli, destaca que, no mercado brasileiro, os repelentes são comercializados em diversas versões, tais como: loção, spray e aerossol. E há três diferentes tipos de princípios ativos: icaridina, DEET (abreviatura de N, N-dietil-meta-toluamida ou N, N-dietil-3-metilbenzamia) e IR 3535. Ela explica que a icaridina possui ação de longa duração no combate aos insetos.

Segundo Vieira, o padrão ouro indicado pelas evidências médicas é a icaridina nas concentrações entre 20% e 25%, sem perfume na fórmula, já que, segundo a literatura, perfumes atraem insetos e devem ser evitados.

O DEET é o repelente comum, presente na grande maioria das marcas. Ele protege por até quatro horas, em média. E sua concentração varia entre 5% e 15%.

O repelente à base de IR 3535 é indicado para bebês acima de seis meses de idade, alerta Angélica. Todos os outros repelentes só podem ser usados depois de dois anos de idade por causa da toxicidade. Por ser uma substância com menos risco de alergias e intoxicação, é indicado para tão pouca idade. O tempo de proteção é de até quatro horas.

Apresentações específicas

A gerente de categoria da RB, responsável por Repelex, destaca também que as variantes aerossol, spray, loção e gel (kids) são desenvolvidas para atender a preferências e necessidades informadas pelo consumidor.

O aerossol, por exemplo, além de rápida secagem, é prático durante sua aplicação. As opções em spray também são de prática aplicação, em especial nas áreas em que as mãos não chegam com facilidade, enquanto as loções se espalham suavemente pela pele. Por fim, o gel, formato especialmente criado para crianças, não é oleoso, seca rapidamente e possui uma fragrância agradável.

Cada um deles vem com a recomendação de uso no contrarrótulo e a gerente de produto do Grupo Cimed aconselha que o farmacêutico oriente o consumidor a seguir a recomendação do produto/fabricante. “Água e suor: se for nadar ou praticar atividades físicas, o repelente deve ser reaplicado, pois ele perde sua eficácia em contato com a água e o suor intenso; crianças: procure repelentes específicos para bebês e crianças, já que as substâncias utilizadas nos tradicionais podem ser prejudiciais aos pequenos”, orienta Angélica.

Atuação dos repelentes

Os repelentes são métodos utilizados para afastar os insetos e podem ser físicos ou químicos.

Os repelentes físicos são as telas, os mosqueteiros, as vestimentas e formam uma barreira mecânica e devem ser usados sempre que possível. Já os repelentes químicos podem ser naturais ou industrializados, atuam formando uma camada de vapor com odor repulsivo aos insetos sobre a pele e possuem restrições em relação à idade e gestação.

Os repelentes químicos naturais, como o óleo de andiroba, citronela, eucalipto, possuem comprovada ação em afastar os mosquitos, podem ser usados a partir dos dois anos de idade, porém seu tempo de proteção depois de aplicado na pele é muito curto, muitas vezes não sendo superior a duas horas.

Já os repelentes industrializados podem alcançar até dez horas de ação contra os insetos, dependendo da substância e concentração utilizadas. Porém possuem uso restrito em crianças menores de dois anos de idade e gestantes.


Autor: 
Tassia Rocha e Vivian Lourenço

Aumento de imposto

Edição 280 - 2016-03-01 Aumento de imposto

Essa matéria faz parte da Edição 280 da Revista Guia da Farmácia.

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