Aliados da sazonalidade

Com o aumento da incidência de gripes e resfriados nas estações mais frias do ano, os analgésicos e antitérmicos merecem ganhar destaque nas gôndolas de farmácias e drogarias

Quando o outono e o inverno chegam, poucos são aqueles que conseguem atravessar ambas as estações sem ser atingidos pelo resfriado ou pela gripe. Junto ao crescimento de pessoas infectadas pelos vírus transmissores dessas doenças, aumentam as queixas de dores no corpo e elevação de temperatura – sintomas comuns trazidos por essas enfermidades. Logo, em busca do combate às sensações físicas desagradáveis, a procura por analgésicos e antitérmicos em farmácias e drogarias cresce no mesmo ritmo em que a prevalência das doenças típicas da época fria aumenta.

Em uma média geral, a comercialização desse grupo de medicamentos representa em torno de 34% do faturamento das indústrias e 38% do volume de vendas. Mas entre os meses de abril e agosto, esse valor tende a ganhar ainda mais importância. De acordo com estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), no outono e inverno, as vendas costumam crescer em torno de 15% a 20%.

O crescimento varia muito de ano para ano, dependendo dos surtos de viroses e gripes. Mas, de maneira geral, somente os analgésicos e antitérmicos da classe não opioides(que não necessitam da apresentação da receita médica para ser comercializado) representam 14% de todos os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) disponíveis no mercado. Ou seja, é uma categoria de alta representatividade. 

Exposição certeira

Ainda que a relevância dos analgésicos e antitérmicos seja inegável para a indústria farmacêutica, no varejo, a situação é ligeiramente diferente. A importância dos MIPs para o rendimento das farmácias varia muito de acordo com o tipo de sortimento da loja, que engloba uma série de outros produtos além dos medicamentos. Unidades que preferem dar ênfase a produtos de beleza e perfumaria não têm nos MIPs uma grande fonte de rendimento. Já em uma farmácia menor, que foca na venda de medicamentos, essa categoria pode representar até 35% do faturamento total.

Mas independente do perfil da loja, é certo que o outono e o inverno são as épocas certeiras para dar destaque à exposição da categoria. No entanto, não basta contar apenas com o aumento natural da procura por analgésicos e antitérmicos, devido ao crescimento da incidência de gripes e resfriados. O varejista que pretende explorar esse ganho sazonal deve investir em exposição e Gerenciamento por Categorias (GC) diferenciados.

A quantidade de produtos disponíveis no mercado é enorme. Medicamentos mais populares chegam a ter mais de 50 similares e cinco genéricos, o que faz com que a organização da categoria seja essencial para que o consumidor entenda que existem diferenças entre substâncias e apresentações.

A melhor opção é distribuir os produtos conforme a indicação terapêutica – medicamentos para gripe em uma mesma prateleira, para dor de cabeça em outra, e assim sucessivamente. Essa organização facilita a escolha do consumidor. Caso os medicamentos fossem separados por ordem alfabética, o cliente teria de percorrer a farmácia inteira para comparar o preço de um produto com o outro.

“Os produtos agrupados e a comunicação eficiente da categoria fazem com que o shopper navegue de forma intuitiva e o ajudam a economizar tempo, que é um dos bens mais preciosos nos dias atuais”, sugere a vice-presidente executiva da Abimip, Marli Sileci.

Compras planejadas

A compra dos produtos da categoria de MIPs mostra-se bem planejada, por isso é rápida, conforme afirma a gerente de shopper & gerenciamento de categoria da Johnson & Johnson, Patricia Gimenes. “A definição da marca é feita previamente e alguns recorrem aos balconistas que encaminham aos farmacêuticos para a orientação adequada. Como a compra é planejada, a preferência é por marcas conhecidas, definidas por experiências anteriores. A troca da marca acontece raramente e os fatores que podem levar a isto é a falta da marca preferida em caso de necessidade ou se o preço compensar muito”, comenta. 

Mesmo que os clientes entrem na farmácia já sabendo qual medicamento querem comprar, investir em ações de marketing dos fabricantes gera resultados. O checkout é uma área bem interessante a ser explorada. Materiais de ponto de venda, como “berços” para destacar o posicionamento do produto, aumentam a visibilidade da categoria ou de uma marca específica. Quanto mais organizada a categoria, mais fácil o consumidor encontrará os produtos, provavelmente ocasionando aumento nas vendas.

Como trabalhar a categOrIa no Ponto de venda

Sugere-se denominá-la de “Dor e Febre” e, se possível, comunicar o nome desta categoria utilizando testeira, faixa de gôndola e stopper.

É imprescindível que eles estejam expostos em um local privilegiado. O ideal é aproveitar as chamadas áreas quentes, onde a visualização é maior: áreas centrais das gôndolas, na altura dos olhos, em pontas de gôndolas e em áreas de maior circulação.

Opções farmacológicas

Os principais fármacos utilizados como analgésicos e antitérmicos encontrados em diferentes formas farmacêuticas são:

• Ácido acetilsalicílico: apresenta ação analgésica, anti-inflamatória, antipirética e antiplaquetária. Utilizado em cefaleias, dores musculoesqueléticas transitórias, dismenorreia e hipertermia em adultos.

– Indicação de bula: baixa a febre, alivia a dor e reduz a inflamação, Por isso, é utilizado para alívio dos sintomas de várias doenças, como gripes, resfriados e outros tipos de infecções.

• Paracetamol: apresenta ação analgésica e antipirética. Normalmente utilizado por idosos e é o fármaco de primeira escolha para dor leve. A suscetibilidade à hepato-toxicidade é variável e está relacionada ao indivíduo, entretanto, esse efeito é intensificado pelo consumo de álcool.

– Indicação de bula: é utilizado como analgésico e antipirético, ou seja, no combate à dor e à febre.

Ibuprofeno: mais utilizado para dores de origem inflamatória de intensidade moderada. Esse fármaco pode ser comparado ao paracetamol em crianças febris quanto aos aspectos de início de efeito, efeito antipirético e tolerabilidade.

– Indicação de bula: febre e dores leves e moderadas, associadas a gripes e resfriados, dor de garganta, dor de cabeça, dor de dente, dor nas costas, cólicas menstruais, dores musculares e outras.

• Dipirona sódica: apresenta ação analgésica e antipirética. Medicamentos contendo esse fármaco não estão disponíveis em vários países em razão dos efeitos adversos que, embora raros, justificam seu uso com restrição pela gravidade e imprevisibilidade das reações.

– Indicação de bula: analgésico e antipirético.

Fonte: professora titular e farmacêutica responsável pela Farmácia-Escola da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e professora titular do curso de farmácia da Universidade de Guarulhos (UnG), Maria Aparecida Nicoletti

Ação no organismo

Os analgésicos são medicamentos cujos fármacos podem ser classificados como analgésicos não opioides, analgésicos opioides (narcóticos) e analgésicos adjuvantes (que são administrados por outra razão que não dor, mas podem contribuir com a minimização da dor).

De acordo com a professora titular e farmacêutica responsável pela Farmácia-Escola da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e professora titular do curso de farmácia da Universidade de Guarulhos (UnG), Maria Aparecida Nicoletti, a seleção e a prescrição de medicamentos analgésicos devem ser feitas a partir da avaliação de vários fatores, como: intensidade de dor do paciente, origem, localização, se é uma dor aguda ou crônica, intermitente ou constante, generalizada ou localizada, latejante ou não, entre outros.

Os analgésicos não opioides, como ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, dipirona sódica e paracetamol, que não necessitam de receita médica para ser comercializados, são os mais comumente utilizados. “Normalmente, são administrados para as dores menos intensas e mais corriqueiras, durante um período de tempo curto. Esses medicamentos apresentam propriedades analgésica, antipirética, antitrombótica e anti-inflamatória”, explica Maria Aparecida.

A farmacêutica explica que o mecanismo de ação desses medicamentos se dá por meio da inibição da enzima ciclo-oxigenase, diminuindo a formação de precursores das prostaglandinas e dos tromboxanos, a partir do ácido araquidônico, diminuindo a ação destes mediadores no termostato hipotalâmico e nos receptores de dor (nociceptores).

Esses mesmos princípios ativos são utilizados no combate à febre já que apresentam também ação antipirética. “Em presença de febre, o corpo produz em quantidade mais acentuada a enzima denominada de prostaglandina endoperóxido sintase, que, em níveis normais, auxilia na coagulação sanguínea, na produção do suco gástrico, entre outras atividades”, detalha.

Em estado febril, essa enzima é produzida em excesso, o que acaba por desequilibrar o funcionamento do hipotálamo. A consequência é a manifestação da febre. Os antitérmicos (antipiréticos) agem no início do processo, inibindo a enzima responsável pela elevação da temperatura corpórea. O farmacêutico deve sempre lembrar o paciente de que os antitérmicos agem apenas no combate ao sintoma e não na causa do problema gerador do sintoma apresentado. A febre é um indicador de que algo não está bem na saúde do indivíduo. É preciso investigar para iniciar o tratamento correto.

Orientação ao consumidor

À medida que cresce a procura por analgésicos e antitérmicos, o cuidado com a dispensação de medicamentos deve ser redobrado. Mesmo os produtos de venda livre, como os analgésicos não opioides, característicos por ação mais branda e recomendados para dores moderadas, podem representar risco à saúde se mal utilizados. “A automedicação quase sempre traz consequências, mas por terem acesso facilitado, as pessoas acabam minimizando os riscos. Os analgésicos podem provocar distúrbios gastrointestinais e problemas hepáticos, quando tomados em excesso”, alerta a oncologista Dra. Andréa Naves.

No caso do opioides, que por lei só podem ser dispensados mediante a apresentação de receita médica, a atenção deve ser redobrada. Nos Estados Unidos, o abuso de analgésicos já virou problema de saúde pública. Cerca de dois milhões de americanos são viciados em opioides, segundo o Departamento de Saúde e Serviços Humanos do país.

Os opioides são revestidos por uma camada dupla de proteção, que faz com que a ação analgésica seja liberada, aos poucos, ao longo de 12 horas. No entanto, os viciados maceram o comprimido e inalam o pó, ou o misturam com um solvente e injetam na corrente sanguínea. Dessa maneira, a ação do medicamento ocorre de uma só vez, gerando um pico de euforia.

Para o farmacêutico, Alexsandro Macedo Silva, é preciso haver uma mudança no setor farmacêutico e no hábito do consumidor. “O abuso da automedicação e da venda incorreta de medicamentos (sem prescrição) geram mais problemas de saúde, tornando o paciente vulnerável e onerando o sistema de saúde”, opina.

Já para o infectologista Dr. Paulo Olzon, o maior problema está no baixo rigor na fiscalização de medicamentos que exigem apresentação de receita médica, como no caso dos analgésicos opioides. “Falta uma lei que seja cumprida, como ocorre com antibiótico”, afirma.

Intenção de compra

Uma pesquisa realizada pela Johnson & Johnson apontou que:

76dos shoppers da categoria já sabiam a marca do MIP que iriam comprar antes de entrar na farmácia

16não encontraram a marca e, por isso, não compraram

4realizaram a compra impulsionados pelo hábito e com forte ligação com a marca

 

Você sabia?

Um estudo recente avaliou a eficácia do tratamento com analgésicos em pessoas com dores nas costas, com e sem depressão e ansiedade. Pessoas com altos níveis de depressão e ansiedade tiveram menos alívio de suas dores com a medicação (em torno de 21% de alívio, contra 39% de alívio nas pessoas com menor grau de depressão e ansiedade), mostraram mais dependência do medicamento (39% contra 8%), e relataram mais efeitos colaterais com esses fármacos.

Segundo o fisiatra do Spine Center, Dr. Daniel Camargo Pimentel, é comum pacientes com dores crônicas nas costas apresentarem quadro de depressão ou ansiedade. “A dor pode piorar os sintomas, mas estes transtornos também podem aumentar a percepção da dor nas costas”, diz.

O estudo serve como alerta aos profissionais que tratam de pacientes com dores nas costas. “Medicamentos potentes podem não ser a melhor alternativa para o problema, o tratamento efetivo deve abranger o paciente como um todo, físico e psicológico. As chances de sucesso na diminuição do quadro de dor aumentam quando os transtornos de humor são cuidados adequadamente”, conclui.

Autor: Flávia Corbó e Kathlen Ramos

Reajuste dos medicamentos

Edição 281 - 2016-04-01 Reajuste dos medicamentos

Essa matéria faz parte da Edição 281 da Revista Guia da Farmácia.

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