Bate coração

Hipertensão arterial e insuficiência cardíaca são doenças sérias capazes de comprometer a qualidade de vida do paciente e, se não tratadas, podem levar à morte 

Viver e envelhecer com saúde é um desafio e tanto para pessoas em todo o mundo. Doenças crônicas, genéticas, hereditárias, adquiridas por hábitos de vida desregrados estão na lista das que mais comprometem a qualidade de vida das pessoas. 

Entre elas estão a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e a Insuficiência Cardíaca (IC). Doenças que não escolhem raça, sexo, nem cor para se manifestarem. A hipertensão arterial atinge, segundo dados da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), 36 milhões de brasileiros adultos, sendo que entre os gêneros, a prevalência entre as mulheres é de 30%. A HAS é a causa principal do desenvolvimento de outras doenças, como a IC. 

De acordo com o cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Antonio Carlos Bacelar, existe relação direta e linear da pressão arterial com a idade, sendo a prevalência de HAS superior a 60% na faixa etária acima de 65 anos. “Isso provavelmente acontece devido ao maior enrijecimento dos vasos sanguíneos, processo chamado de arteriosclerose. A IC é mais encontrada na faixa etária acima de 60 anos, onde mais de dois terços (69,8%) das hospitalizações foram realizadas”, diz. 

O Dr. Bacelar explica ainda que a IC é a via final comum da maioria das doenças que acometem o coração. “A IC é uma síndrome complexa em que o coração é incapaz de bombear o sangue no volume necessário para suprir as necessidades do organismo. A mortalidade por doenças cardíacas aumenta progressivamente com a elevação da pressão arterial. A IC é a causa mais frequente de internação por doença cardiovascular. É uma doença que causa importante diminuição da qualidade de vida e possui alta mortalidade”, diz. 

A incidência de casos de HAS e de IC aumenta com o avanço da idade. Segundo o cardiologista, Dr. Giovanni Pinto, a IC está relacionada a diversas doenças que afetam diretamente o coração e estas, em sua grande maioria, ficam mais prevalentes com a idade, por isso a relação com a idade do paciente. 

O mesmo acontece com a HAS. “Ela é uma das doenças que podem levar à IC, se não controlada. Também está relacionada com o avanço da idade e entre as causas que aumentam as chances de desenvolver a doença, estão o enrijecimento da parede das artérias e também a chegada da menopausa”, explica. 

Para o especialista, a incidência e prevalência absoluta de IC é discretamente maior em homens, mas mulheres são menos propensas a ter doença arterial coronariana e mais propensas a ter hipertensão. “Elas geralmente se apresentam, em uma idade mais avançada, com função sistólica melhor do que os homens. Para ambos os sexos, não há uma diferença de morbidade significativa, porém dados revelam que as mulheres têm uma melhor sobrevida”, diz.  

Ainda de acordo com o Dr. Giovanni Pinto, no Brasil, estima-se que mais de dois milhões de pessoas tenham IC e surgem aproximadamente 240 mil novos casos por ano. Em junho de 2015, a revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicou um estudo coordenado pelo professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM-UERJ), Dr. Denílson Albuquerque, mostrando que 50 mil pessoas morrem todos os anos no Brasil em função de complicações cardíacas. 

O 1o Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca revelou que dados da American Heart Association (AHA) estimam a prevalência de 5,1 milhões de indivíduos com IC somente nos Estados Unidos, no período de 2007-2012. As projeções mostram que a prevalência da IC aumentará 46% de 2012-2030, resultando em mais de oito milhões de pessoas acima dos 18 anos de idade com IC. 

Conjunto de fatores 

A insuficiência cardíaca pode ser resultado de inúmeras patologias como, por exemplo, infarto agudo do miocárdio, doenças nas valvas, miocardite, doenças congênitas, alcoolismo, uso de drogas e a própria hipertensão. 

“No entanto, quase 50% das vezes não conseguimos identificar uma causa para a IC, sendo chamada de idiopática. Como a maioria das causas apresentadas é mais prevalente na população com idade mais avançada, a IC acaba por ser mais comum também nesta faixa etária, podendo, no entanto, também se manifestar em faixas etárias mais jovens”, explica o cardiologista do Hospital Samaritano de São Paulo, Dr. Alexandre Galvão. 

Ele reforça que a hipertensão é uma doença assintomática. Diferente do que a população acredita, cefaleia não é sintoma de hipertensão. “No momento em que se sente dor, ansiedade, fumar um cigarro ou tomar um café, a pressão pode subir. Na verdade, o aumento da pressão durante a cefaleia é consequência e não causa. O fato de ser uma doença assintomática dificulta bastante o diagnóstico”, explica. 

Já a insuficiência cardíaca se manifesta com inúmeros sintomas. “Os mais comuns são dispneia que vai desde grandes esforços, como subir uma ladeira, até mesmo em repouso, tosse seca, dispneia ao se deitar (ortopneia), dispneia que desperta o paciente à noite (dispneia paroxística noturna) e edema nos membros inferiores”, diz O Dr. Galvão. 

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Mudança de hábitos 

É consenso entre os médicos e especialistas afirmar que não há como prevenir essas patologias. É preciso, na verdade, maior conscientização da população em geral em consultar periodicamente um médico, realizar exames e acompanhamento, principalmente em casos em que exista prevalência de casos na família para HAS, por exemplo. 

“Não existem medidas para evitar a hipertensão. O mais importante são as avaliações anuais para identificação precoce e tratamento adequado. Para a IC, o importante é a identificação e o tratamento adequado dos fatores de risco, como controle do colesterol, hipertensão, diabetes e evitar a ingestão de álcool, por exemplo. Assim podemos evitar doenças que possam resultar em IC”, diz o Dr. Galvão. 

As mudanças do estilo de vida comprovadamente diminuem a incidência de hipertensão e IC, assim como a mortalidade por doenças cardíacas. “Devem-se cultivar hábitos de vida saudáveis com uma alimentação balanceada, restrição de sal e álcool, atividade física regular, perda de peso e combate ao tabagismo. Além de tratar adequadamente as doenças cardíacas que podem levar a IC, como a hipertensão, a doença isquêmica e problemas nas valvas cardíacas”, recomenda o Dr. Bacelar. Segundo ele, o tratamento da hipertensão e da IC é constituído de medidas medicamentosas e não medicamentosas, como cultivar hábitos de vida saudáveis. 

Tratamento medicamentoso

A hipertensão arterial é tratada com medicamentos classificados como anti-hipertensivos e cada classe age de uma forma diferente. Segundo o Dr. Galvão, um exemplo são os diuréticos que agem nos primeiros dias por depleção de volume e posteriormente realizando vasodilatação. “Os mais efetivos são os tiazídicos. Já os betabloqueadores agem de forma complexa, envolvendo diminuição do débito cardíaco inicialmente, e depois reduzindo a secreção de renina, readaptação dos barorreceptores e diminuindo as catecolaminas nas sinapses nervosas. Os bloqueadores dos canais de cálcio agem reduzindo a resistência vascular periférica por diminuição da concentração de cálcio nas células musculares lisas vasculares”, conta. 

Já no tratamento da IC, o objetivo da medicação, segundo o Dr. Bacelar, é facilitar o trabalho do coração já que o mesmo não está funcionando de forma adequada. “Usamos assim os betabloqueadores e a ivabradina para diminuir a frequência cardíaca e aumentar o tempo de enchimento ventricular. Com isso, a cada contração ventricular, como o coração está mais cheio, mais sangue é bombeado para frente. Para facilitar o trabalho do coração, devemos diminuir a pós-carga, ou seja, diminuir a resistência dos vasos para que o coração gaste menos energia para contrair e consiga bombear mais sangue. Usamos então os Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECA), Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina II (BRA) e associação de hidralazina e mononitrato de isossorbida. O resultado final do insulto ao coração com IC é a morte dos miócitos e, por consequência, a fibrose. Os inibidores da aldosterona agem inibindo exatamente a fibrose, melhorando o prognóstico dos pacientes”, explica o Dr. Galvão. 

Segundo o especialista, a maioria dos sintomas da IC é resultado do excesso de volume no organismo, para isso podemos associar diuréticos de alça a fim de aumentar a diurese e diminuir os sintomas. 

Dez passos para o controle da Insuficiência Cardíaca – oriente os pacientes

Ter uma alimentação saudável.

Controlar a ingestão de líquidos.

Praticar exercícios físicos.

Controlar o peso.

Tomar as medicações.

Tomar as vacinas.

Não faltar às consultas.

Não fumar.

Não tomar bebidas alcoólicas.

10° Controlar os fatores de risco.

Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) 

Autor: Adriana Bruno

Reajuste dos medicamentos

Edição 281 - 2016-04-01 Reajuste dos medicamentos

Essa matéria faz parte da Edição 281 da Revista Guia da Farmácia.

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