Máxima eficácia

Os anti-inflamatórios são utilizados para diminuir os sintomas indesejáveis da reação de defesa do organismo, além de aliviar dor e febre

Quem nunca bateu algum membro e sentiu aquele desconforto agudo ou ainda teve uma febre intensa? Não é por acaso que os anti-inflamatórios têm papel importante na saúde da população.

São indicados para os problemas mais corriqueiros, proporcionando alívio rápido para um incômodo momentâneo. Atuam na redução da resposta inflamatória, diminuem a dor de causa inflamatória e baixam a febre. 

A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 138/03 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) prevê indicações de anti-inflamatórios isentos de prescrição para torcicolo, dor articular, inflamação da garganta, dor muscular, dor na perna, contusão e tendinites, permitindo também alguns princípios ativos, como naproxeno, ibuprofeno, cetoprofeno, além dos anti-inflamatórios tópicos não esteroidais, como o diclofenaco tópico.

Aliado do organismo

Frequentemente, o organismo precisa se defender de algum desequilíbrio ou dano nos tecidos, causados por agentes externos. Na tentativa de defesa, surgem as inflamações, processo útil e benéfico para que se restabeleça. Esse é um meio natural de reparação, que só deve ser combatido quando as manifestações clínicas agudas (tumor, calor, rubor e dor) são intensas e desconfortáveis, com repercussão sistêmica e caráter subagudo ou crônico, ou, ainda, quando manifestações sintomáticas podem ter resultados incapacitantes, como deformidades e perdas funcionais.

Para que o farmacêutico consiga orientar o cliente de maneira precisa, é fundamental conhecer a fundo as características dessa classe medicamentosa. Primeiramente, diferenciar as duas existentes: Anti-Inflamatórios Esteroides (AIEs) e os Não Esteroides (AINEs).

De acordo com a farmacêutica e mestranda em Biotecnologia, Nadine Cunha Costa, as diferenças são grandes entre as duas classes, porém, ambas possuem apenas um ponto em comum: a inibição da síntese de eicosanoides, mediadores químicos que funcionam como mensageiros do sistema central e exercem controle sobre diversos sistemas do organismo humano, como a inflamação e a imunidade.

Um dos maiores benefícios dos anti-inflamatórios está relacionado ao alívio das dores agudas e crônicas em geral, no tratamento de processos infecciosos junto com antibióticos, nas patologias reumatológicas, em problemas traumatológicos e ortopédicos e em pós-operatórios. Mas seu uso indevido ou não acompanhado pode mascarar e agravar doenças, causando diversos malefícios à saúde, além das complicações por interações medicamentosas e intoxicação.

Polêmica das tarjas vermelhas

Por orientação de alguns especialistas, a Anvisa colocou em debate, no fim de 2012, a exigência de retenção da receita médica para a compra de medicamentos com tarja vermelha, incluindo especialmente os anti-inflamatórios, que tiveram aumento das vendas quando os antibióticos passaram a ser vendidos com retenção da receita. 

A Agência já exige prescrição médica para a compra de anti-inflamatório, mas, na prática, a medida acaba não sendo aplicada pela maior parte das farmácias. Contudo, os estudos para implementação de mecanismos mais rigorosos para a venda desses medicamentos não chegaram a uma conclusão e, segundo a Anvisa, não há previsão de quando a medida possa ser adotada. 

“O maior controle da venda desse tipo de medicamento seria o mais benéfico ao consumidor”, entende a professora e coordenadora do curso de Farmácia das Faculdades Oswaldo Cruz, Marisa Regina de Fátima Veiga Gouveia. 

Já o professor e coordenador do curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, Alexsandro Macedo Silva, acredita que o papel do farmacêutico ganhe amplitude nessa questão. “O farmacêutico desempenha papel fundamental. Ele tem habilidade e competência para fazer a escolha mais correta para cada caso. Além disso, o paciente deve ser acompanhado pelo profissional durante o uso do Medicamento Isento de Prescrição (MIP), de forma que se possa avaliar a evolução do tratamento para tomadas de decisões.”

Enquanto isso, no mercado, prevalece a ideia do bom senso no uso do medicamento. “Não entendemos que a Anvisa esteja trabalhando em uma maior restrição para medicamentos com tarja vermelha; o que a Agência vem buscando com a sociedade são medidas para estimular o uso racional dos medicamentos, com foco na exigência da apresentação da receita no ato da dispensação desse tipo de medicamento”, afirma a vice-presidente executiva da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), Marli Martins Sileci. 

“Dessa forma, ampliar o leque de produtos isentos de prescrição, baseando-se em critérios de segurança ao paciente e na experiência do uso do medicamento como isento de prescrição em países que possuam agências reguladoras de referência, com tempo mínimo de cinco anos, é uma forma de contribuir e estimular o uso racional de medicamentos”, salienta a executiva. 

Já o presidente executivo do Sindicato da Indústria Farmacêutica no Estado de São Paulo (Sindusfarma-SP), Nelson Mussolini, acredita que se possa caminhar em duas frentes. “É preciso melhorar o controle da dispensação de medicamentos tarjados e isentar da prescrição médica obrigatória todos os produtos que, por sua baixa toxicidade, poderiam ser comprados diretamente nas farmácias, aliviando o sistema de saúde público e privado do atendimento de casos de menor gravidade”, avalia.

Para tanto, segundo o executivo, as autoridades sanitárias precisam reforçar a fiscalização nos pontos de venda para coibir a automedicação irresponsável. “Paralelamente, os profissionais, as empresas e os órgãos da área da saúde devem orientar a população permanentemente sobre o consumo seguro e responsável dos medicamentos”, conclui Mussolini.

Dispensação correta 

As farmácias e drogarias têm papel relevante no combate à automedicação. Para isso, é preciso investir na assistência farmacêutica plena, com a presença de um profissional farmacêutico atuante, responsável e habilitado pelos cuidados relacionados aos medicamentos e pelas orientações necessárias ao paciente. “A responsabilidade de zelarmos pela saúde da população deve ser a principal razão para que as pessoas continuem acreditando nos serviços prestados por cada um de nós. A importância dos primeiros cuidados inerentes à atenção básica são fundamentais para uma farmacoterapia eficaz e, por vezes, a ‘primeira porta’ de atendimento é exatamente na farmácia”, reforça a farmacêutica Nadine.

Para oferecer um atendimento de qualidade, a dispensação dos anti-inflamatórios deve ser feita a partir da anamnese farmacêutica para identificação da origem do processo inflamatório. Somente depois de avaliado, prossegue-se com a melhor conduta terapêutica com ação específica. 

“O anti-inflamatório deve ser prescrito baseado na história clínica e em outras doenças e medicamentos que o paciente utilize, a fim de minimizar os eventos adversos. Por exemplo, se o paciente for idoso ou apresentar disfunção renal, poderá ter necessidade de uma diminuição da dose normalmente administrada”, detalha a docente do curso de Farmácia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), Patricia Moriel. 

E mesmo pacientes sem histórico delicado ou aparente condição de risco devem receber uma orientação diferenciada. “O ideal e mais seguro é que o consumidor saiba exatamente se o que está comprando realmente é o que ele está precisando. Mesmo que seja uma cartela com quatro comprimidos”, acredita Nadine. 

Autor: Flávia Corbó

Prazos encurtados

Edição 282 - 2016-05-01 Prazos encurtados

Essa matéria faz parte da Edição 282 da Revista Guia da Farmácia.

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