Preocupação que bate no peito

No mundo, 17,5 milhões de pessoas morrem a cada ano de problemas cardiovasculares, 80% destas são vítimas de ataques cardíacos e Acidente Vascular Cerebral. A maioria dos casos (75%) ocorre em países de baixa renda

A saúde sempre inspira cuidados e quanto mais a medicina e a farmacologia avançam, mais as pessoas buscam prevenção para as doenças que abreviam o tempo de vida, mesmo assim, o coração parece estar sendo negligenciado. A válvula que bombeia sangue para o funcionamento do corpo é a campeã de mortes entre a população.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 17,5 milhões de pessoas morram a cada ano no mundo em decorrência de problemas cardiovasculares, 80% destas pessoas são vítimas de ataques cardíacos e Acidente Vascular Cerebral (AVC). “O espantoso é que 75% dos casos ocorrem em países de baixa renda, isso tem relação com os hábitos alimentares que influenciam diretamente na saúde do coração”, alerta o cardiologista e diretor médico do Hospital Santa Paula, Dr. Otavio Gebara.

O Brasil também tem um número alarmante. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) afirma que morrem 950 pessoas diariamente. Em muitos casos, segundo o Dr. Gebara, a morte ocorre por falta de tratamento.

Com a chegada do outono, o risco é ainda maior, já que as doenças cardiovasculares, aparentemente, estão relacionadas à vasoconstrição relacionada ao frio, que é responsável por aumentar a viscosidade sanguínea (menos hidratação) e pelo aumento de fatores de coagulação, que ficam prejudicados no frio.

As doenças cardiovasculares, como explica a cardiologista do Amato – Instituto de Medicina Avançada, Dra. Marisa Amato, são aquelas que acometem o coração e os vasos sanguíneos. Elas podem ser congênitas ou adquiridas. “A principal delas é a aterosclerose, acúmulo de placas de gorduras nas artérias ao longo dos anos que impede a passagem do sangue”, alerta.

Além disso, segundo o cardiologista do Hospital Samaritano de São Paulo, Dr. Maurício Jordão, as doenças cardiovasculares se dividem em quatro grandes grupos:

• Doença coronariana: manifestada por infarto, angina, insuficiência cardíaca e morte súbita.

• Doença cerebrovascular: sendo o principal exemplo o derrame.

• Doença arterial periférica: manifestada pela claudicação intermitente (dor nas pernas ao caminhar) ou úlceras nas extremidades das pernas.

• Aterosclerose aórtica: aumentando as chances de aneurisma da aorta torácica e abdominal. 

Por que elas aparecem?

Essas doenças são o resultado da aterosclerose nas artérias, que é o acúmulo de placas de ateroma, popularmente conhecidas como placas de gordura, no interior dos vasos. “Elas são o resultado de agressões contínuas à parede do vaso por diferentes fatores, como a pressão arterial aumentada, níveis de colesterol ou açúcar elevados, elementos químicos do cigarro, além de uma predisposição genética”, explica o Dr. Jordão.

Essas placas podem se romper repentinamente levando a uma oclusão aguda da artéria, a principal responsável pelo Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), ou crescer lentamente no interior do vaso, resultando em oclusão paulatina, levando, por exemplo, à angina.

O surgimento das doenças cardiovasculares ocorre, também, como completa o Dr. Gebara, com mais frequência em pessoas estressadas, que tenham uma má alimentação, que fumam ou que apresentem antecedentes familiares.

“A alimentação saudável é um dos pilares da boa saúde e é fundamental no controle e prevenção de diversas doenças cardiovasculares e metabólicas, entre elas a hipercolesterolemia (colesterol alto), a hipertrigliceridemia (triglicérides elevados), o diabetes mellitus e a hipertensão arterial. Ela pode ser inclusive o fator decisivo entre a necessidade ou não de uso de medicamentos para controle destas e outras patologias”, completa o cardiologista e diretor médico do Hospital Santa Paula.

Grupo de risco

O grupo de maior risco das doenças cardiovasculares são as pessoas que apresentam fatores de risco não controlados, como: hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, tabagismo, sedentarismo, obesidade, além de histórico familiar e da idade, que por si só já é um fator de risco. “As causas da aterosclerose podem ser de origem genética, mas o principal motivo para o acúmulo de gordura nas placas é comportamental”, avalia a Dra. Marisa.

“A vida sedentária, a alimentação inadequada com o consequente aumento de peso e, principalmente, a associação de hábitos, como o tabagismo e o grande consumo de álcool, aumentam o risco individual de desenvolvimento de doenças cardíacas mesmo sem antecedentes familiares”, destaca o Dr. Gebara. Por isso, incorporar as orientações de vida saudável à rotina pode reduzir em mais de 60% o risco de doença cardiovascular em 20 anos.

Insuficiência Cardíaca Congestiva: uma síndrome complexa

Quando o coração sofre uma agressão, seja por um infarto, uma doença na válvula ou por medicações, como quimioterápicos, ele perde a capacidade de bombear adequadamente sangue para os órgãos. Essa incapacidade é a Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC).

É considerada, de acordo com o cardiologista do Hospital Samaritano de São Paulo, Dr. Maurício Jordão, a via final comum de qualquer doença do coração quando não tratada. Estima-se que 23 milhões de pessoas sofram dessa condição no mundo. Sua prevalência aumenta consideravelmente com a idade, sendo de oito casos por mil pessoas entre 50 a 59 anos, chegando a 66 por mil após os 80 anos.

“A hipertensão e o diabetes mal controlado são causas importantes da ICC. Estima-se que no Brasil existam dois milhões de casos e, aproximadamente, 240 mil casos novos por ano. A faixa etária mais acometida é aquela a partir dos 60 anos”, completa o cardiologista e diretor médico do Hospital Santa Paula, Dr. Otavio Gebara.

O primeiro passo para o tratamento é focar na causa. O tratamento em si da ICC é feito com medicamentos que melhoram a capacidade de bombear sangue e evitam a progressão da doença. Casos mais avançados necessitam de dispositivos que auxiliem no trabalho do coração, como os ressincronizadores e os corações artificiais. Estes, geralmente, servem de tratamento provisório nos casos onde o transplante é a melhor opção de tratamento.

 

Infarto Agudo do Miocárdio

O IAM é a falta de oxigênio no músculo do coração ocasionado pela interrupção do fluxo de sangue pelas artérias do coração. Quando a ruptura abrupta da placa de ateroma ocorre na artéria coronária, há uma súbita interrupção do fluxo de sangue para o coração, levando ao IAM, explica o Dr. Jordão.

Essa ruptura repentina tem como os principais gatilhos o estresse, picos de pressão repentinos e o hábito de fumar. A incidência varia de 12 a 27 casos/mil pessoas para homens e de cinco a 16 para mulheres, e após os 65 anos de idade, há um aumento significativo.

“A faixa etária que corresponde a 60% dos eventos é de 50 a 55 anos. A prevenção para evitar o infarto é manter níveis adequados de colesterol, atividade física regular, não fumar, manter níveis de glicemia controlados e evitar obesidade”, explica o cardiologista do Centro de Cardiologia do Hospital 9 de Julho, Dr. Alex Matiguin.

Taxas e Incidências

Infarto Agudo do Miocárdio (IAM):

Responsável por 1/3 das mortes de pessoas acima de 18 anosde idade (Brasil)

É principal causa isolada de morte no País

60% dessas vítimas são homens, com média de idade de 56 anos

12% das vítimas têm entre 20 e 40 anos de idade

Doença vascular periférica:

Prevalência de 10% a 25% na população acima de 55 anos de idade

Cerca de 70% a 80% dos pacientes acometidos são assintomáticos

É mais frequente nos homens, mas também pode acometer as mulheres

Tem incidência estimada de 2 a 8 casos/mil pessoas

Acidente Vascular Cerebral (AVC):

Atinge em média 12 pessoas para cada mil após os 65 anos de idade

Os AVCs estão entre as principais causas de morte e incapacitação física em todo o mundo

20% dos AVCs ocorrem em indivíduos abaixo dos 65 anos de idade

É uma doença que atinge mais a raça negra, especialmente na faixa etária mais jovem

Estima-se que 80% dos AVCs sejam isquêmicos

Estima-se que 15% dos casos sejam hemorrágicos

Morte súbita:

Atinge cerca de 200 mil pessoas por ano no Brasil

A partir dos 40 anos de idade, as pessoas que não mantêm hábitos saudáveis e têm
antecedentes familiares se incluem na faixa etária de risco

No Brasil, a incidência de morte súbita está em torno de 0,11%

Nos Estados Unidos, estima-se que 15% da mortalidade geral da população seja por morte súbita

Doença vascular periférica

A causa é a mesma que leva ao infarto. Ocorre em virtude do estreitamento ou obstrução dos vasos sanguíneos arteriais, responsáveis por levar o sangue para nutrir as extremidades, como braços e pernas, sendo mais comum o acometimento nos membros inferiores do que nos superiores, explica a Dra. Marisa.

“A maior parte das ocorrências se dão em pacientes mais idosos ou com alguma comorbidade. A maioria dos casos está ligada a alguma alteração que justifique o desenvolvimento de lesão nas artérias (diabetes mellitus, tabagismo, colesterol elevado)”, ressalta o Dr. Matiguin.

A doença vascular periférica, quando presente, pode ser considerada um sinal da doença vascular coronariana, é um marcador de presença da aterosclerose nas artérias do coração. Assim o coração e as artérias carótidas também podem estar comprometidos em pacientes com doença arterial periférica.

“A prevenção se dá pelo controle de fatores de risco. E parte do tratamento é o exercício (caminhada, corrida) para estimular a circulação periférica e colateral das pernas”, complementa o Dr. Gebara.

Acidente Vascular Cerebral

O AVC, conhecido popularmente por derrame, é causado pela interrupção do fluxo de sangue ao cérebro, levando a um déficit neurológico correspondente à área afetada, por exemplo, a paralisação de um membro ou incapacidade de falar, explica o Dr. Jordão.

Sua causa é semelhante à doença vascular periférica, ou seja, a aterosclerose e êmbolos estão entre as principais causas. Atingem em média 12 pessoas para cada mil após os 65 anos de idade.

De acordo com a cardiologista do Amato – Instituto de Medicina Avançada, o AVC pode ser Isquêmico ou Hemorrágico: o AVC Isquêmico tem como causa alguma obstrução, como as placas de gordura, ou êmbolos que reduzem subitamente o fluxo sanguíneo em uma artéria do cérebro, provocando falta de circulação e diminuição da função neurológica. Já o AVC Hemorrágico ocorre quando um vaso – artéria ou veia – rompe dentro do cérebro, causando extravasamento de sangue e inchaço naquela região onde houve o sangramento. O mais frequente é aquele devido a um pico elevado de pressão alta, ou o que ocorre em pacientes que têm hipertensão arterial por vários anos e não tratam corretamente.

“Sua prevenção também é semelhante à doença vascular periférica, focando nos fatores de risco e na busca por potenciais fontes de êmbolos, principalmente tipos específicos de arritmias cardíacas”, ressalta o cardiologista do Hospital Samaritano de São Paulo.

Morte súbita

É definida como morte instantânea ou dentro de 24 horas após início dos sinais e sintomas. Ela é a morte que ocorre repentinamente, sem previsão, sem sinais de trauma ou violência, em adultos ou crianças, doentes; ou pessoas sãs, porém, sedentárias ou atletas. Geralmente ocorre nas primeiras horas do dia.

Trata-se da interrupção repentina do funcionamento do coração. Segundo o Dr. Matiguin, o agente causador da morte súbita vai desde alterações estruturais na anatomia do coração, arritmia cardíaca, até IAM.

“Mais da metade dos pacientes com infarto morrem antes do primeiro atendimento. Por isso a prevenção por meio do controle dos fatores de risco é fundamental”, analisa o Dr. Gebara.

A faixa etária varia muito dependendo das alterações que levam à morte súbita. É possível ocorrer em crianças que possuem alguma cardiopatia congênita e em paciente com IAM de grande proporção.

Autor: Vivian Lourenço

Prazos encurtados

Edição 282 - 2016-05-01 Prazos encurtados

Essa matéria faz parte da Edição 282 da Revista Guia da Farmácia.

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