A serviço da saúde

Aplicativos, realidade aumentada, biometria, consultas virtuais, cirurgia robótica e impressoras 3D são algumas das soluções que já fazem parte do universo da medicina e apontam que este futuro veio para ficar

O avanço na área da medicina é incontestável nos últimos anos. Aliás, ele pode ser comprovado pelos índices de longevidade exponencialmente mais altos no País. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, no Brasil, a expectativa de vida ao nascer passou de 62,5 anos de idade em 1980, para 75,2 anos de idade em 2014; e para 2060, a projeção é de que esse índice suba para 81,2 anos de idade. 

E dentro da área médica, a tecnologia tem ganhado mais força, contribuindo com o desenvolvimento de todo o setor. “As tecnologias hoje são menos invasivas, mais seguras e eficazes. Contribuem para o aumento da longevidade e melhor qualidade de vida. Reduzem o tempo de hospitalização, aceleram o tempo de recuperação, diminuem o risco de infecções e possibilitam a detecção precoce de doenças e maior precisão no tratamento e reabilitação, entre outros benefícios”, enumera o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), Carlos Goulart. 

E os ganhos não estão apenas na área hospitalar e de diagnósticos. Aplicativos desenvolvidos pela indústria surgem para aumentar a adesão a diversos tratamentos; biometria e tecnologias de identificação ajudam pacientes a ter mais segurança; e a realidade aumentada, junto com impressoras 3D, apontam para novas formas de tratamento.

Mas apesar de todos os benefícios, essa inovação tem um preço. Boa parte do desenvolvimento na área da saúde, e que tem a tecnologia como aliada, gera aportes elevados, fazendo com que nem toda a população possa ser beneficiada. 

“Produtos inovadores têm um custo alto no desenvolvimento, o que torna os equipamentos e as drogas de última geração mais caras. Isso faz com que nem todos sejam favorecidos com essa evolução”, argumenta o superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo), Paulo Henrique Fraccaro. 

Além disso, uma grande parcela dos equipamentos de última geração ou componentes desenvolvidos para a área da saúde é importada, advinda de países, como Estados Unidos, Alemanha e Holanda, encarecendo, ainda mais, os custos para o Brasil. E, nem sempre, por aqui, os hospitais públicos, por exemplo, têm verba para atualização das tecnologias. 

“Quando novos equipamentos chegam ao mercado, o governo, que representa 65% do consumo na área da saúde, não tem orçamento para a troca dos modelos atuais para os modernos. Assim, a população que depende dos atendimentos gratuitos acaba usando os equipamentos com performance inferior”, comenta Fraccaro. 

No entanto, ele acredita que esse custo tende a cair ao longo dos anos, aumentando a acessibilidade. “Pense em qual era o custo de um iPad ou de um notebook quando foram lançados. Hoje, esses equipamentos estão muito mais acessíveis. E o mesmo deve acontecer na área da saúde, quando houver uma massificação dessas tecnologias”, aposta o executivo da Abimo.

Outra lacuna que vem junto com a tecnologia é a capacitação. Afinal, não adianta deter um robô de última geração se não há uma equipe médica capacitada. Apesar dos avanços na área, a tecnologia não substitui o papel do médico. 

“A cirurgia robótica é uma ferramenta indispensável aos cirurgiões de ponta que querem o melhor para os seus pacientes, mas o que importa é a habilidade, experiência e, sobretudo, os bons resultados dos cirurgiões operando”, lembra o cirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), Dr. Antonio Macedo. 

Acompanhe, a seguir, como algumas tecnologias avançaram e têm sido aplicadas na área da saúde.

Biometria

A biometria, que começa a ser testada no Brasil para as eleições, também passa a ser adotada na área da saúde. Em breve, os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) poderão ser identificados pela digital. A política, construída a partir de uma parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), irá proporcionar maior segurança no registro e acesso de informações dos cidadãos, além de contribuir para evitar fraudes. O projeto-piloto para o novo modelo de identificação deve começar em serviços ofertados pela atenção básica já a partir de 2017. Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, a biometria permitirá a disponibilização segura do prontuário eletrônico do paciente, já iniciado a partir do Cartão SUS. 

Telemedicina

A telemedicina se constitui pelo uso da tecnologia para a prestação dos serviços médicos e fornecimento de informações quando a distância é um fator crítico. “Com ela, podem-se fazer laudos a distância, operar equipamentos remotamente, discutir casos em grupos de especialistas espalhados pelo mundo, entre outras aplicações”, avalia Goulart, da Abimed. 

Segundo ele, uma tendência é a de médicos realizarem consultas via rede de comunicação, no entanto, esse processo ainda não é permitido no Brasil. “Hoje, o País só autoriza a comunicação médico-paciente. Há estimativas de que, em um futuro próximo, 80% das consultas poderão ser feitas a distância”, projeta o especialista. 

Enquanto isso, a troca de conhecimento entre hospitais privados e públicos já é uma realidade. Em parceria com o Ministério da Saúde por meio do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento Institucional ao Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), o HIAE desenvolveu um programa permitindo que as equipes do pronto-socorro e da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais públicos recebam apoio, em tempo real, de seus especialistas. O programa funciona desde 2012. 

“Atualmente, 22 hospitais fazem parte do projeto, distribuídos ao longo das diferentes regiões, em especial Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, conta o coordenador do Serviço de Telemedicina do HIAE, Dr. Milton Steinman. 

Aplicativos

Aplicativos gratuitos que ajudam na realização de atividades físicas, que lembram a hora de tomar medicamentos, que auxiliam no emagrecimento… São diversas as plataformas com base nessa tecnologia capazes de ajudar as pessoas no controle da saúde. Inclusive hospitais e a indústria farmacêutica investem nessas ferramentas. 

Um exemplo é o Einstein Vacinas, app para gerenciamento da carteira de vacinação. O diferencial fica para os alertas que o usuário receberá com a data da próxima vacina e a geolocalização, indicando onde pode se vacinar. 

Já a Sanofi desenvolveu o StarBem, dirigido a pacientes com diabetes. Composto por aplicativo e portal, o programa oferece, após o cadastro, atendimento com uma educadora em saúde (que pode ser presencial ou a distância), e entre outras funcionalidades, como lembretes sobre a reposição de medicação. 

Na mesma linha, a AstraZeneca também desenvolveu um programa de adesão ao tratamento dos pacientes, denominado fazbem, que igualmente está disponível via aplicativo. Nele, os pacientes cadastrados podem contar com reportagens, receitas e dicas exclusivas sobre bem-estar; além de descontos em medicamentos. As farmácias também podem se cadastrar nesse programa, auxiliando os pacientes com mais informações sobre diversas enfermidades e orientando-os sobre os descontos, que podem ser fundamentais para dar continuidade à prescrição médica. A Novartis é detentora do Vale Mais Saúde (VMS), um programa completo de adesão ao tratamento e descontos em medicamentos.

Já a Roche disponibiliza um serviço diferenciado para pacientes com diabetes. O monitor de glicemia wireless sem fio Accu-chek®, com tecnologia Bluetooh Smart, possibilita a transferência automática do teste de glicemia para o aplicativo Accu-chek® Connect, permitindo conectar médico e paciente para auxiliar no acompanhamento da doença. 

Vestíveis e similares

Além dos aplicativos, também há uma grande expectativa de crescimento dos chamados vestíveis. Esses eletrônicos, capazes de coletar dados e gerar informações, são constituídos hoje como pulseiras ou relógios inteligentes. Eles já possuem algumas aplicações na área da saúde ao redor do mundo, como acompanhamento de pacientes que realizaram cirurgias bariátricas; supervisão do sono; monitoramento do tabagismo; entre outros. 

Usando conceito similar, recentemente, a Abbott apresentou o FreeStyle Libre, que traz uma nova tecnologia de monitoramento de glicose para as pessoas com diabetes. O aparelho é composto por um pequeno sensor redondo, que é aplicado de forma indolor na parte traseira superior do braço. O sensor capta a taxa de glicose no sangue a cada minuto e um leitor escaneado sobre o sensor mostra o valor da glicose medida. 

Tecnologias para rastreabilidade

Um grande avanço, que ainda está em fase de implementação, diz respeito à rastreabilidade de medicamentos, conforme regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A norma prevê a impressão do GS1 DataMatrix (código bidimensional) funcionando como um Registro Geral (RG) do medicamento. Essa solução promete trazer ganhos não só para o consumidor final, que poderá ter mais segurança quanto à origem do medicamento, como também para as farmácias, que poderão garantir o histórico e a localização das embalagens. 

Cirurgia robótica

Robôs auxiliando médicos em cirurgias também já fazem parte da vida real. Com visão de alta definição em 3D e braços mecânicos que eliminam tremores, os sistemas robóticos reproduzem, com precisão, os movimentos do cirurgião de maneira muito estável. As cirurgias robóticas abrem um enorme potencial de realização de procedimentos minimamente invasivos.  

Um exemplo é a laparoscopia, que antes era apenas um exame de abdome, mas agora já pode ser usada para procedimentos cirúrgicos. “Todas as cirurgias realizadas por laparoscopia podem ser feitas por robótica, assim podemos utilizar para todas as cirurgias do aparelho digestivo”, lembra o Dr. Macedo, do HIAE. 

Diagnósticos

Equipamentos de diagnóstico possibilitam a realização de exames e resultados mais rápidos e precisos. Os tomógrafos, hoje, possibilitam a realização de exames de todo o corpo por vezes em tempo inferior a um minuto, conforme afirma o gerente médico de inovação e tecnologia do HIAE, Dr. Marcelo Felix de Maria. 

“As imagens adquiridas nesse tempo podem chegar a mais de mil fatias (slices), evidenciando que o desenvolvimento tecnológico foi capaz de adicionar qualidade e precisão, ao mesmo tempo em que reduziu desconforto do paciente”, avalia. Além disso, a qualidade dos exames reduz a necessidade de repetições, o que aumenta a produtividade e reduz custos. 

Impressoras 3D e realidade aumentada

O Dr. Felix de Maria conta que, hoje, as imagens adquiridas em aparelhos de tomografia e ressonância magnéticas podem ser reconstruídas em formato 3D por softwares de análises médicas.  

Já os resultados obtidos em impressoras 3D podem ser aplicados em aulas no ensino médico, em guias e planejamento de cirurgias, assim como na elaboração de peças de próteses. “As cirurgias ortopédicas e bucomaxilofaciais são as que incialmente se beneficiam da impressão 3D, em que as próteses plásticas de corpos vertebrais podem ajudar a guiar o procedimento de intervenção, levando à maior precisão para atingir alvos cirúrgicos”, mostra o Dr. Felix de Maria. 

A mesma propriedade de reconstrução 3D das imagens médicas tem aplicação em outras tendências tecnológicas, como as holografias. “As holografias médicas podem ajudar muito o ensino de medicina, enquanto que técnicas de realidade aumentada têm aplicação, por exemplo, no ato cirúrgico, com visualização comparativa dinâmica das imagens tomográficas e as estruturas anatômicas”, finaliza. 

Autor: kathlen Ramos

Avanço na saúde

Edição 287 - 2016-10-01 Avanço na saúde

Essa matéria faz parte da Edição 287 da Revista Guia da Farmácia.

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