Além da estética

Quando surgem, as varizes causam um incômodo que a princípio é estético, mas o quadro pode evoluir, resultando em dores e comprometer a qualidade de vida do portador do problema

Elas aparecem devagar e, às vezes, demora-se a perceber. Aos poucos, as varizes vão se tornando mais importantes e causando incômodo em quem as tem. De uma questão estética para um problema de saúde é um passo.

As varizes são veias dilatadas e tortuosas que surgem nos membros inferiores atingindo, em média, 38% da população brasileira, sendo mais frequentes em 45% mulheres e 30% dos homens, considerando todas as faixas etárias. Ainda segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), quanto mais idoso, maior a prevalência do problema, sendo que 70% das pessoas acima dos 70 anos de idade podem ter varizes.

“A principal causa das varizes é genética. Se a pessoa tem casos na família, provavelmente, em algum momento da vida, terá varizes. No Brasil, não temos dados concretos sobre o problema, mas sabemos que ele atinge um homem para cada três ou quatro mulheres e também que 45% da população feminina tem alguma característica que levará às varizes”, explica o médico titular da SBACV, Dr. Pedro Pablo Komlós.

Segundo ele, as mulheres são mais acometidas do que os homens em função do estímulo hormonal que recebem. “O homem amadurece hormonalmente e fica estável, já a mulher tem muita flutuação hormonal, como na menstruação, na gestação, na menopausa, entre outros, o que fragiliza as veias, favorecendo as varizes. Por isso, afirmo que desde a primeira menstruação, a mulher que tiver predisposição para varizes já pode desenvolver o problema”, diz.

As varizes aparecem geralmente nas pernas devido ao acúmulo indevido de sangue nas veias. “Os sinais mais comuns são as telangiectasias ou vasinhos mais finos aparentes e manchas na cor marrom acastanhado. Em caso de dor, inchaço, coceira e sensação de peso nas pernas, a doença varicosa deixa de ser estética e merece atenção especial, podendo resultar em flebites (formação de trombos nas varizes), úlcera venosa e até hemorragia”, explica o cirurgião vascular do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, Dr. Jorge Kalil.

Ele acrescenta ainda que as varizes variam de grau um a seis. “Nas varizes de grau um, os vasos são bem fininhos e, à medida que o grau evolui, os vasos passam a ser mais grossos até chegar ao grau seis, úlcera varicosa aberta”, explica. As úlceras varicosas são geralmente acompanhadas de infecção, malcheirosas e limitam a convivência social da paciente.

Normalmente, os sintomas causados por varizes melhoram com a elevação dos membros inferiores e tendem a agravar-se ao fim do dia, principalmente quando se permanece por longos períodos em pé, em dias muito quentes, durante a gravidez e em períodos menstruais.

De acordo com a Regional São Paulo da SBACV, estudos internacionais apontam que cerca de 20% a 33% das mulheres e de 10% a 20% dos homens vão apresentar algum grau da doença ao longo de sua vida. Por ser uma doença crônica e evolutiva, cerca de 3% a 11% das pessoas com varizes podem chegar a estágios mais avançados da doença onde ocorrem alterações irreversíveis na pele da região afetada, como escurecimento, descamação e ressecamento da pele, geralmente acompanhadas de piora dos sintomas.

Cuidados e causas

Além da hereditariedade, existem outras causas que podem desencadear o aparecimento de varizes, entre elas: permanecer em pé por longos períodos, uso de anticoncepcionais, reposição hormonal e obesidade.

Mulheres e homens com predisposição a ter varizes devem tomar alguns cuidados mesmo antes do problema aparecer. Para o cirurgião vascular e coordenador do centro de Tratamento de Veias do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Pedro Puech, é importante não permanecer por longos períodos, diários, em pé e também controlar o peso corporal. “O aumento de líquidos circulando pelo corpo sobrecarrega a circulação, favorecendo o aparecimento de estrias em pessoas que estão no grupo de predispostos ao problema. Em alguns casos, recomenda-se o uso de meias elásticas”, comenta.

Quem possui varizes deve ter em mente que o problema não tem cura e sim tratamento. Aliás, quanto mais precoce for o diagnóstico, menores as chances da evolução das varizes. “O tratamento é cirúrgico, porém produtos flebotônicos e flebotrópicos éticos podem atuar minimizando os sintomas, diminuindo o edema. Eles atuam como coadjuvantes ao tratamento e devem ser sempre recomendados por um médico especialista”, diz o Dr. Komlós.

O especialista reforça ainda que o problema pode ser recorrente durante a vida toda. “O fato de a paciente ser submetida à uma cirurgia não quer dizer que o problema acabou. Varizes não têm cura e elas podem reaparecer em outro ponto. A taxa de sucesso da cirurgia é de 90%, porém estamos falando de uma enfermidade crônica genética, ou seja, onde foi operado, não aparece mais, porém, em outros pontos, sim, há chances de voltar”, esclarece.

De acordo com a assessora científica da FQM, Juliana Cotta, loções com ação flebotônica, antioxidante, anti-inflamatória, antiedematosa e vasoprotetora aliviam a sintomatologia da doença venosa crônica, como a sensação de peso e cansaço nas pernas e pés.

Para o Dr. Kalil, hábitos alimentares saudáveis e prática regular de exercícios são os segredos para prevenir as varizes, já que contribuem para o controle de peso.

Informações importantes

Principais sintomas

• Dor tipo queimação.

• Cansaço.

• Sensação de pernas pesadas ou ardendo.

• Edema (inchaço) das pernas, principalmente ao redor do tornozelo.

• Câimbras noturnas.

• Manchas.

• Aspectos estéticos.

Fonte: presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBVAC), Dr. Pedro Pablo Komlós

Principais causas

• Hereditariedade.

• Permanecer em pé por longos períodos.

• Uso de anticoncepcionais.

• Reposição hormonal.

• Obesidade.

• Múltiplas gestações.

Fonte: cirurgião vascular do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, Dr. Jorge Kalil


Você sabia?

Segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), não existe relação estabelecida entre o uso de salto alto e a formação de varizes. Além disso, a entidade destaca que o mesmo acontece com o ato de subir escadas e carregar peso.

Complicações

Quando não tratadas de forma correta, as varizes podem progredir e desenvolver severas complicações, como:

• Eczema – geralmente se inicia com prurido (coceira).

• Dermatite.

• Flebite e trombose – flebite significa inflamação da veia. Varicoflebite consiste na inflamação das varizes. Essa inflamação pode vir acompanhada da formação de trombo decorrente do sangue que coagula. Essa trombose superficial pode progredir para as veias profundas e aumentar o risco de embolia pulmonar.

• Pigmentação e escurecimento da pele.

• Hemorragias – a pele e a parede das varizes muitas vezes ficam tão finas que facilmente se rompem. Quando isso acontece, pode ocorrer uma importante perda de sangue. Esse episódio é chamado de varicorragia (hemorragia proveniente de varizes).

• Úlceras – a complicação mais temida pela população é a formação de feridas nas pernas denominadas úlceras. No início, cicatrizam com certa facilidade, mas, com o tempo e se tratadas de forma indevida, vão se tornando mais complexas. Como existem vários tipos de úlceras nas pernas, é importante o acompanhamento de um especialista.

Fonte: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), regional Bahia

Autor: Adriana Bruno 

 

Campanha Preventiva

Edição 288 - 2016-11-01 Campanha Preventiva

Essa matéria faz parte da Edição 288 da Revista Guia da Farmácia.

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