Sinais de retomada?

Analistas preveem que, para 2017, as luzes devem começar a se acender novamente, trazendo um pouco mais de otimismo aos negócios

É fato que o terreno no País ainda é bastante arenoso em relação às expectativas para 2017, especialmente pelas questões políticas. Mas, por hora, o que se pode dizer é que a situação começa a voltar aos trilhos, com um pouco mais de otimismo entre os consumidores, empresários e investidores. 

“A retomada do crescimento é um consenso entre os especialistas. A dúvida fica, apenas, sobre o quanto devemos voltar a crescer. Salvo alguma delação que possa vir a ocorrer e quebrar este ciclo, o que se espera é o início de um período positivo, já que o novo governo está apresentando uma equipe disciplinada e de primeira linha”, considera o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra.

Para o consumidor, apesar do cenário ainda ser de incertezas, a confiança parece começar a voltar. Segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) se recuperou da leve queda sofrida em outubro de 2016 e registrou avanço de 4,1% ao passar de 106 pontos em outubro para 110,3 pontos em novembro último. 

Essa foi a maior pontuação registrada desde fevereiro de 2015. Em relação a novembro do ano anterior, o ICC apresentou crescimento de 28,9%. Segundo a assessoria econômica da FecomercioSP, mesmo que ainda não haja uma melhora consistente na renda e no emprego, que são determinantes para o pleno consumo, a recente trajetória positiva do ICC sugere uma avaliação de que existe uma recuperação, mesmo que sutil, da confiança do consumidor, baseada, principalmente, nas expectativas.

E assim como os consumidores, os empresários do comércio paulistano estão mais confiantes. Pelo sexto mês consecutivo, em outubro de 2016, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC), divulgado pela FecomercioSP, registrou alta de 3,7% ao passar de 89,3 pontos em setembro passado para 92,6 pontos no mês. 

Em comparação com outubro de 2015, o índice apontou alta de 27,3% quando o ICEC registrava 72,8 pontos. Entretanto, continua abaixo dos 100 pontos, o que denota o pessimismo dos empresários com relação ao nível de atividade em geral da economia. Segundo a entidade, o pessimismo dos empresários reflete, principalmente, na queda das vendas do varejo. Mas assim como já vinha sendo observado entre os consumidores, houve uma melhora das expectativas decorrente da formação de uma nova equipe econômica e do anúncio de medidas para enfrentar a crise.

Uma importante alavanca que pode fazer o País voltar a crescer é o emprego. De acordo com a pesquisa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no fim de outubro de 2016, o desemprego ficou em 11,8% no trimestre encerrado em setembro – o maior índice de toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que teve início em 2012. 

Mas há promessas de que esses índices voltem a melhorar. O atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o desemprego “certamente” tende a começar a cair a partir deste ano, segundo informações publicadas no Portal Brasil, com informações da Agência Brasil. De acordo com o executivo, a situação da economia ainda é grave, mas a queda nos indicadores está começando a se estabilizar. 

“Esperamos que, com o crescimento da economia, a retomada do emprego acontecerá inevitavelmente. Não imediatamente, acreditamos que durante o ano de 2017, certamente. Não há dúvida de que com o crescimento acentuado e continuado da economia nos próximos anos, aí de fato, o desemprego vai tender a cair de uma forma consistente.”, disse o ministro, numa reunião com empresários, no fim de setembro de 2016.

Caminhos pós-crise

CAPACITAÇÃO

Agora é a hora de se modernizar, inovar, renovar e buscar conhecimento por meio de treinamentos. A empresa precisa estar preparada para enfrentar a concorrência, o que também é muito saudável para impulsionar o crescimento. Especificamente no varejo farma, a mão de obra é algo que deixa muito a desejar e é preciso capacitar os profissionais da área.

MELHORAR A EFICÁCIA

A concorrência no varejo farma, assim como no restante da economia, tem crescido muito nos últimos anos. Isso obriga o empresário a estar sempre disposto a incrementar o negócio, mas, principalmente, melhorando a sua performance, para que consiga ampliar a margem e tenha, assim, condições de superar os tempos difíceis.

ACOMPANHAR O CENÁRIO

Os empresários devem investir no mesmo ritmo dos fatos, sempre com cautela e racionalidade, já que o quadro não comporta grandes riscos. Mas vale lembrar que, a qualquer momento, pode-se antecipar um ciclo de crescimento e a empresa precisa estar preparada para ele. O endividamento agora, por exemplo, tem de ser evitado pelas taxas de juros ainda altas. Mas a eficiência tem de ser buscada sempre.

PRODUTIVIDADE

Esse é o momento para reduzir o custo operacional ao mínimo, mas sem perder a qualidade. E buscar negociação com fornecedores para conquistar bons preços e condições de negociação.

FOCO CONSTANTE NO CONSUMIDOR

Seja qual for o momento da economia, o empresário sempre deve se perguntar “quem eu sirvo”, “como eu sirvo”, “o que eu faço” e “como eu faço para ser eficiente”, sempre com foco no cliente. Às vezes, nem sempre o que o consumidor busca é preço. O que ele quer pode ser proximidade, flexibilidade, entre outros atributos. Assim, conhecer o cliente é fundamental.

Agenda promissora

No cenário político, ainda é difícil fazer previsões, dado o número de investigações anticorrupção em andamento, a exemplo da operação Lava Jato. 

Mas o que os especialistas no setor esperam para um cenário mais estável é: 1) que o presidente Michel Temer não seja envolvido em nenhum esquema de corrupção ou que prejudique o seu mandato; e 2) a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, que limita os gastos públicos. Esta medida estabelece que as despesas da União só poderão crescer conforme a inflação do ano anterior e é considerada um dos mecanismos mais importantes para controlar as contas públicas do País. 

Terra compartilha de opinião similar. “Para a ‘roda girar’, o País precisa estar organizado e o que mais assustou o empresariado foi o buraco nos gastos públicos e a falta de responsabilidade fiscal. Com essa aprovação, podemos esperar um ciclo mais sólido e consistente”, reforça.

Longe da recuperação completa

Alguns especialistas em política e economia afirmam que a crise vivida no País já é considerada a maior da história nacional. Assim, falar em recuperação completa da economia ainda é muito prematuro. 

“Vemos, sim, uma redução da taxa de inflação, câmbio mais estabilizado, repatriação de recursos que estavam no exterior, entre outros sinais, que mostram que o pior já passou. Mas a recuperação deve ser lenta. Vê-se pela redução mais sensível da taxa de juros e também da inflação, que devem se dar de forma vagarosa. O que podemos dizer é que o País parou de piorar e está se preparando para uma retomada”, prevê o assessor econômico da FecomercioSP, Altamiro Carvalho, reforçando que, no próximo um ano e meio, não se devem esperar grandes melhorias. 

Para o coordenador-geral dos cursos de MBA do Insper, Silvio Laban, 2017 deve ser mais um ano difícil. “O Produto Interno Bruto (PIB) retrocedeu aos níveis de 2011, algo difícil de se recuperar”, considera. Entretanto vêm-se muitos esforços para que o Brasil, de fato, siga em retomada. “Até mesmo a oposição está torcendo para dar certo, exceto radicais”, conclui Terra.

Setor menos sensível

Apesar de todas as incertezas, a indústria farmacêutica se mostra pouco suscetível à crise econômica. Um exemplo é o crescimento em vendas do mercado de medicamentos. As vendas de genéricos, por exemplo, cresceram 14,30% em volume no primeiro semestre de 2016 em comparação ao mesmo período de 2015. Foram comercializadas 534,6 milhões de unidades contra 467,7 milhões no ano passado, segundo dados do IMS Health, compilados pela Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos). 

De acordo com o mesmo levantamento, o mercado farmacêutico total, que inclui as vendas de todas as categorias de medicamentos, também apresentou evolução de 6,14%. Foram comercializados 1,766 bilhão de medicamentos entre janeiro a junho de 2016, contra 1,664 no mesmo período de 2015. Números como esses também refletem a realidade da população brasileira. “O País está envelhecendo e, com isto, a necessidade de uso de medicamentos cresce. Havendo melhora na economia, consequentemente, aumenta o poder de compra da população”, analisa o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sincofarma-SP), Natanael Aguiar Costa. 

No caso específico do varejo farma, para Laban, durante a crise, um dos pontos que favoreceram esses canais de vendas foram as questões relacionadas à indulgência. “Em tempos de crise, as pessoas cortam um monte de coisas, mas há um mínimo de válvula de escape. E muitas vezes, essa válvula é cuidar melhor da saúde”, analisa. 

No entanto, segundo o executivo da Sincofarma-SP, no varejo farma, o crescimento deve ser menor em 2017. “A crise já começa a bater na porta do nosso setor e vejo drogarias em excesso na maioria das cidades brasileiras. Vemos as redes despontando progressivamente, porém as pequenas empresas sentindo de forma sensível”, lamenta.

Conjuntura atual e perspectivas para 2017

No último dia 25 de novembro, o Banco Central divulgou mais uma edição do Boletim Focus – publicação semanal que reúne projeções de cerca de 100 analistas – e, pela terceira semana consecutiva, registraram-se índices mais otimistas em relação à inflação para o ano de 2016. A expectativa, agora, é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche em 6,72%. Uma semana antes, a previsão estava em 6,80% e, no mês anterior, 6,88%, apontando, assim, uma tendência de queda. Para 2017, ainda de acordo com o mesmo boletim, a expectativa é de que o IPCA atinja a marca de 4,93%, estando, assim, mais próximo da meta do governo, que é de 4,5%.

Ainda de acordo com as estimativas do Banco Central, para 2016, a taxa de juros para o fim de 2016 deve fechar em 13,75% ao ano, com previsão de mais um corte até dezembro. Já para o fim de 2017, a estimativa para a taxa de juros segue estável em 10,75% ao ano, prevendo-se, assim, continuação no processo de corte dos juros. 

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Fonte: Focus – Relatório de Mercado (25 de novembro de 2016)
Obs: a última atualização recebida pela redação do Guia da Farmácia data de 25 de novembro de 2016. O fechamento desta edição ocorreu no dia 15 de dezembro de 2016.

Autor: 
Kathlen Ramos

 

Estrada do crescimento

Edição 290 - 2017-01-01 Estrada do crescimento

Essa matéria faz parte da Edição 290 da Revista Guia da Farmácia.

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