Cansaço generalizado

Quando a sensação de exaustão mental e física aparece, é hora de acender o alerta para a condição de fadiga. Um sintoma que vem denunciar que algo não vai bem com o organismo

Do excesso de trabalho à preexistência de doenças crônicas, a fadiga é um sintoma que se manifesta como cansaço, perda de energia, desânimo, redução da capacidade física e mental, insônia, irritabilidade, perda de produtividade, perda ou aumento do apetite e, em algumas vezes, até falta de ar.

O sintoma pode representar a instalação de diferentes condições clínicas ou patológicas e, geralmente, inicia-se com a perda progressiva da capacidade física, o que pode ser parte dos sintomas de uma doença física ou psíquica.

De acordo com o médico cardiologista dos Hospitais Bandeirantes e Leforte e coordenador da Campanha Coração Alerta da Sociedade Brasileira de Cardiologia Intervencionista (SBCI), Dr. Hélio Castello, as causas podem ser variadas, passando por cardiopatias, distúrbios endócrinos, como hipotireoidismo, anemias, insuficiência renal, pneumopatias, aterosclerose, depressão, estresse, insônia e deficiência de alguns nutrientes, como na desnutrição ou na deficiência vitamínica.

Ainda segundo o Dr. Castello, o desequilíbrio entre lazer, trabalho, alimentação regulada e sono adequado, além de vícios e hábitos não saudáveis podem levar à fadiga crônica. “Existe uma condição séria que é a Síndrome de Burnout, que é caracterizada em fase adiantada por colapso causado pelo esgotamento profissional”, explica.

Na lista de indivíduos que estão no grupo de risco para apresentar fadiga estão os profissionais liberais, aqueles que possuem atividades muito competitivas, assim como os indivíduos portadores de doenças potencialmente incapacitantes.

A fadiga também é um sintoma que ganha muita importância em pacientes com doenças graves, como aids, câncer, degenerativas, entre outras, mas pode ser também uma resposta em pessoas sadias que demandam necessidades de descanso.

Ocorrência diversa

A fadiga pode acontecer por meio de múltiplos fatores relacionados e adquirir forma, diminuindo a capacidade física, o cuidado consigo, a motivação, o interesse, a concentração e a memória. “Quando o indivíduo sente fadiga, aumentam os sentimentos de tristeza, depressão, irritabilidade e angústia, o que causa prejuízo na qualidade de vida”, afirma o cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Américo Tangari.

Segundo o médico, as causas devem ser investigadas com exames médicos detalhados, uma vez que essa identificação é a base do tratamento. “Muitas vezes, a fadiga é ignorada pelos especialistas, mas ela ocorre justamente por conta de condições precárias na saúde do paciente, como escolhas de vida pouco saudáveis, problemas de trabalho e de estresse em geral”, alerta. 

Uma particularidade é que ela ocorre como sintoma isolado, sem outras manifestações ou associada a outros sintomas das doenças que a provocam. “Pode preceder, em meses e até anos, alguma doença que ainda está em instalação”, alerta o coordenador da Clínica Médica do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Mauro Iervolino. 

De acordo com o especialista, além das causas primárias já citadas, como as infecções por HIV, o câncer, entre outros, e que podem desencadear quadros de fadiga, há ainda causas secundárias a medicamentos, como o uso de sedativos, antialérgicos, antidepressivos, entre outros.

O Dr. Iervolino destaca que a Síndrome da Fadiga Crônica é ainda de causa obscura e pouco compreendida. “Geralmente, se associa a vários distúrbios orgânicos e psicológicos e ocorre mais frequentemente em mulheres na faixa etária de 30 a 45 anos de idade. Em metade a dois terços dos casos, se associa à depressão”, explica.

A causa é incerta, sendo que algumas pesquisas sugerem infecções, como doença de Lyme uma doença causada pela bactéria espiroqueta (Borrelia burgdorferi) transmitida, geralmente, pela picada do carrapato da espécie Ixodes ricinus infectado. No Brasil, existe uma forma similar da doença chamada de Borreliose humana brasileira ou Síndorme Baggio-Yoshinari.), mononucleose e outras viroses. “Nenhum exame laboratorial confirma essa doença e o diagnóstico deve ser feito por exclusão de outras patologias”, completa. 

Tipos de fadiga

Fadiga física ou muscular: se manifesta após esforço extremo e repetitivo dos músculos.

Fadiga mental: relacionada ao estresse persistente, se manifesta por meio do esgotamento mental, acompanhado da queixa diária de cansaço.

Fadiga do distúrbio das glândulas: as glândulas adrenais ou suprarrenais não funcionam corretamente, manifestando-se com sintomas variados, como fraqueza, mal-estar e, inclusive, aumento da pressão arterial.

Fadiga ocular: surge quando a utilização dos olhos é forçada por algum motivo específico, atualmente exacerbada pelo uso contínuo de computadores, televisões e celulares.

Fadiga crônica: síndrome que provoca fadiga e atinge, principalmente, mulheres na meia idade, cujas causas ainda são desconhecidas.

Fonte: cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. Américo Tangari

Fadiga x cansaço

Quando se fala em fadiga, a palavra cansaço é a primeira que vem em mente, porém, segundo o neurologista e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, Dr. Renan Barros Domingues, existe muita confusão entre o que é a fadiga e o que é o cansaço.

“O cansaço é, sim, relacionado ao estilo de vida e ocorre proporcionalmente ao esforço físico e mental diários. Já a fadiga é um sintoma de intensidade desproporcional ao esforço diário, ou seja, nela, a sensação de cansaço é muito maior do que seria esperado para o esforço realizado (um pequeno esforço causa muito cansaço)”, esclarece.

Além do esgotamento físico, o sintoma também se manifesta na forma mental. Uma vez que está relacionada à sensação de extremo cansaço e esgotamento, a fadiga mental significa condições mentais de estresse, que se traduz em dificuldade para se concentrar, realizar atividade mental, ou seja, pensar. 

“Uma pessoa com fadiga mental extrema pode não conseguir prestar atenção à sua volta, perceber a situação à sua frente, tomar decisões. Quando alguém está fadigado, muitas vezes, precisa interromper seu trabalho/estudo, descansar, dormir”, explica a psicóloga e membro da diretoria da Associação de Psicologia de São Paulo (ASPSP), Dra. Cleusa Sakamoto. 

Nos casos de fadiga mental, o perfil de personalidade poderá indicar, de certa forma, algum sintoma mais característico, por exemplo, uma pessoa bastante rígida em relação à autoexigência tenderá a apresentar crises de ansiedade; outra mais afetiva poderá ter crises de choro. 

“O importante na sintomatologia é perceber que o mal-estar está relacionado a cansaço extremo e isto não é difícil notar. Na verdade, nos dias de hoje, estamos acostumados a ‘passar do limite’ e não respeitar o estado de cansaço, quer físico ou mental. Dormimos cada vez mais períodos menores de tempo e consideramos isto certo, mesmo que o nosso corpo se queixe e acordemos cansados”, comenta. 

Identificar o problema 

A fadiga compromete a realização de atividades rotineiras do indivíduo, sejam elas pessoais ou profissionais. Mudanças de atitude e até a falta de vontade para realizar atividades prazerosas vão de encontro à perda da produtividade e da concentração no trabalho com piora nos relacionamentos interpessoais. Esse quadro aponta alguns dos sintomas da fadiga e ajudam a identificar o problema. Como a fadiga é sempre um sintoma desencadeado por outra situação, podem ser necessários exames laboratoriais.

Dado o primeiro passo, é preciso tratar e também prevenir que o problema volte. Para o Dr. Iervolino, a prevenção passa pelo controle dos fatores de risco para o desenvolvimento das doenças, sejam do coração, pulmão, endócrinas e outras.

“Manter um estilo de vida saudável, com atividade física regular, alimentação saudável e balanceada, evitar excessos, como os de álcool, fumo e outras drogas, dormir tempo adequado à sua faixa etária são ações fundamentais para manter a saúde em dia”, orienta.

Quanto ao tratamento, o médico ressalta que o mesmo sempre será dirigido à causa da fadiga, o que dependerá do diagnóstico e conclusão do caso. 

Se há fadiga mental, a mudança de hábitos e de rotina pode ajudar no tratamento e na prevenção. Para a Dra. Cleusa, da ASPSP, quando a fadiga se torna crônica ou se desencadeou por alguma outra situação, como um distúrbio, geralmente, há necessidade de tratamentos medicamentoso e psicológico. 

Fadiga e estilo de vida

A fadiga é uma consequência direta da maneira com que as pessoas vivem suas rotinas, o que envolve, segundo a psicóloga e membro da diretoria da Associação de Psicologia de São Paulo (ASPSP), Dra. Cleusa Sakamoto, a agenda de atividades, o ritmo, a carga de estresse envolvida no dia a dia, o nível de exigência para consigo mesmo e os outros, as metas estabelecidas para a existência, os objetivos estabelecidos para o ano ou outros períodos de vida, entre outros.

Nesse cenário, há ainda as pessoas sedentárias que tendem a sofrer mais com sintomas de fadiga. “Aqueles que trabalham em ritmo incessante, nos ‘workaholics’, além de quem tem o costume de dormir menos que o necessário, também”, diz o coordenador da Clínica Médica do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Mauro Iervolino. 

A esse grupo soma-se quem exagera no álcool, não tem bons hábitos alimentares, está exposto a situações de violência diária, como o bullying, por exemplo, além de outras, como o desemprego ou pressão financeira.

Todo esse quadro comportamental reflete estilos de vida diferentes e que podem ter em comum um encontro indesejável com a fadiga e suas incapacitações. Portanto, a chave para prevenir o problema é que as pessoas investam em mudanças positivas de hábitos, além de estar sempre em dia com as consultas médicas.

 

Fadiga e alimentação

Hábitos alimentares inadequados podem levar o indivíduo a carências nutricionais, como de ferro e vitaminas que causam fadiga e cansaço. Segundo a nutricionista do Hospital Samaritano de São Paulo, Lizandra Traldi Mendonça, o ideal é ingerir quantidades adequadas de nutrientes por meio de uma alimentação equilibrada e rica.

“Alguns alimentos são fontes importantes desses nutrientes essenciais e melhoram o funcionamento do organismo. Podemos destacar entre eles: banana, aveia, iogurte, nozes, feijão e espinafre”, comenta. 

Segundo Lizandra, a banana é rica em vitaminas do complexo B, vitamina C, ácidos graxos ômega-3, ômega-6, fibras e carboidratos, que ajudam a combater o cansaço, a desidratação e outros sintomas de fadiga.

Já a aveia contém um carboidrato de qualidade que garante energia para o funcionamento do cérebro e dos músculos ao longo do dia. Além disso, é rica em proteínas, magnésio, fósforo e vitamina B1 que ajudam a aumentar os níveis de energia.

“O iogurte contém alta quantidade de proteínas e probióticos que cuidam da saúde intestinal. Os probióticos presentes no iogurte melhoram os sintomas da Síndrome da Fadiga Crônica”, afirma a nutricionista.

Ela diz ainda que os alimentos devem ser consumidos preferencialmente in natura, sendo pelo menos quatro porções diárias de frutas, legumes e verduras, variadas, além de uma porção de oleaginosas. “Manter uma alimentação equilibrada e variada é a chave do sucesso”, explica.

Quando a alimentação, por si só, não supre as necessidades diárias de nutrientes, a suplementação torna-se essencial. 

Autor: Adriana Bruno 

 

Momento único

Edição 291 - 2017-02-01 Momento único

Essa matéria faz parte da Edição 291 da Revista Guia da Farmácia.

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