O Brasil está obeso

Dados da Vigitel 2016 revelam que a população está cada vez mais acima do peso e com doenças crônicas. Falta orientação sobre hábitos do dia a dia 

 Se antes o Brasil tinha problemas com desnutrição, o novo desafio é chamado de obesidade. A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico 2016 (Vigitel), divulgada pelo Ministério da Saúde (MS), revela dados importantes sobre a rotina alimentar e a saúde dos brasileiros. 

O estudo mapeia a situação de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial. Entre fevereiro e dezembro de 2016, foram entrevistadas por telefone 53.210 pessoas com mais de 18 anos de idade em todas as capitais do País.

Os resultados revelam um momento de preocupação no Brasil, onde o número de pessoas que estão acima do peso cresce constantemente, aumentando a existência de doenças crônicas em todo o País.

Briga com a balança

Nos último dez anos, o excesso de peso aumentou 26,3%, acometendo mais da metade (53%) da população em 2016. A complicação é mais recorrente entre os homens (57,7%) do que nas mulheres (50,5%) e tende a ser pior conforme o público fica mais velho – entre os jovens entre 18 e 24 anos de idade, somente 30,3% apresenta sobrepeso. 

Rio Branco, capital do Acre, é a cidade com maior número de pessoas com excesso de peso, 60,6% da população. Já Tocantins (TO), revela o menor índice (47,7%). Em geral, as outras capitais flutuam no decimal de 50%.

A tendência acompanha o preocupante valor de obesidade, que cresceu 60% no mesmo período, batendo a marca de 18,9% em 2016, contra 11,8% dez anos antes. Diferente do excesso de peso, homens e mulheres têm praticamente a mesma incidência de obesidade. Após os 25 anos de idade, a prevalência duplica, saindo de 8,4% para 17 anos de idade,1% até os 34 anos de idade. 

Ambos têm algo em comum: quanto menor a escolaridade do público, maior o índice de obesidade e excesso de peso. Enquanto as pessoas que estudaram 12 anos ou mais têm 14,9% da totalidade obesa, a porcentagem chega a 23,5% entre aqueles com escolaridade entre zero e oito anos. 

CÁLCULO DO IMCbalanca

Para classificar um indivíduo em relação ao peso, é usado o Índice de Massa Corporal (IMC), que indica o risco para a saúde e levanta algumas complicações metabólicas. 

IMC = Peso (kg) / Altura (m)²

Considera-se excesso de peso: IMC igual ou maior que 25 kg/m².

Considera-se obesidade: IMC igual ou maior que 30 kg/m².

 

Melhores hábitos

Por outro lado, parece que o público está entendendo que precisa de um ritmo de vida melhor para não ficar doente. A prática de exercícios físicos aumentou, chegando a 37,6%, ainda que a prática diminua conforme a faixa etária. Enquanto 52% dos jovens entre 18 e 24 anos de idade praticam alguma atividade, o número abaixa para 46% para 25 e 34 anos de idade e 36% entre 35 e 44 anos de idade, diminuindo regularmente até a terceira idade. 

Já a alimentação está pior. No ano passado, 37,6% da população adulta costumava se alimentar com frutas e hortaliças. Em 2016, esse dado caiu para 35,2%. No total, somente um a cada três adultos consome esse tipo de alimento cinco dias da semana. As mulheres costumam ter alimentação mais saudável. Do total, 40,7% afirmaram comer frutas e hortaliças, enquanto apenas 28,8% dos homens têm a mesma rotina. 

Elas têm melhor desempenho, também, no consumo de refrigerantes. O público feminino é inferior, com 13,9% sendo consumidor regular de bebidas gasosas ou sucos artificiais, contra 19,6% dos homens. Em geral, o consumo diminuiu. Em 2007, o indicador apontava para 30,9% das pessoas e, em 2016, 16,5%.

O lado positivo dos homens está no consumo de feijão, onde eles lideram com 67,9% contra 55,7% das mulheres. Porém, em geral, as pessoas estão comendo menos feijão. Em 2012, 67,5% afirmaram se alimentar com o grão e, no ano passado, o número caiu para 61,3%. O consumo abusivo de bebidas alcoólicas permanece estável, saindo de 15,7% em 2006 para 19,1% no ano passado. O público masculino se destaca com até 27,3%, contra 12,1% das mulheres.

Doenças crônicas

Assim como o sobrepeso cresceu, as doenças crônicas seguem a mesma tendência. O número de pessoas com diabetes aumentou 61,8%, chegando a 8,9% em 2016. As mulheres apresentam mais casos, com 9,9%, contra 7,8% dos homens. De acordo com a idade, a doença aumenta consideravelmente. Enquanto somente 0,9% daqueles entre 18 e 24 anos de idade são acometidos, pessoas com mais de 65 anos de idade apresentam 27,2%.

A capital carioca tem a maior prevalência de diabetes em todo o Brasil, com 10,4% da população. No contraponto, Boa Vista (RR) tem somente 5,3% de pessoas com diabetes. Pessoas com menor estudo (zero a oito anos) são mais atingidas pela doença, chegando a 16,5%. O número abaixa consideravelmente entre aqueles que estudaram entre nove e 11 anos (5,9%) e 12 ou mais (4,6%).

A hipertensão também afetou mais pessoas. No ano passado, 14,2% mais pessoas foram diagnosticadas com pressão alta. O número total de pacientes passou de 22,5% em 2006 para 25,7% em 2016. Assim como diabetes, a hipertensão tem mais casos femininos (27,5%) do que masculinos (23,6%).

O Rio de Janeiro continua sendo o campeão, com 31,7% de casos de hipertensão. Palmas (TO) tem a menor incidência, 16,9%. A diferença entre as pessoas com menos estudos é ainda mais agravante. Enquanto aqueles que estudaram entre zero e oito anos chegam a 41,8% com o problema, o número cai para 20,6% quando estudada a faixa entre nove e 11 anos e 15% para 12 ou mais anos de estudo. 

Foto: Shutterstock

Pesquisas farmacêuticas

Edição 295 - 2017-06-01 Pesquisas farmacêuticas

Essa matéria faz parte da Edição 295 da Revista Guia da Farmácia.

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