Presença incômoda

As mulheres são as que mais sofrem com os problemas no trato urinário. Entender os sintomas e como evitar as infecções ajuda na orientação correta

A Infecção do Trato Urinário (ITU), popularmente conhecida como infecção urinária, pode acometer qualquer parte do sistema urinário e é dividida em dois grupos: infecção alta (rins e ureteres) e baixa (bexiga e uretra), sendo a segunda mais comum. A infecção ocorre quando bactérias do intestino passam a colonizar o trato urinário.

Segundo a ginecologista, obstetra e mastologista do Hospital Sírio-Libanês, Dra. Leila Domingues de Oliveira Corrêa, geralmente, as bactérias que causam a infecção urinária vivem no organismo, principalmente, na região intestinal. Por isso, principalmente, as mulheres devem ser orientadas na higienização correta, da região vaginal para anal, evitando assim “levar” as bactérias patogênicas para a proximidade da uretra.

O ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Sérgio Podgaec, cita alguns outros momentos propícios para a contaminação: durante a relação sexual, na época da menopausa (a falta de hormônio deixa a região genital mais ressacada, tornando a mulher mais suscetível à infecção), além da presença de cálculos renais.

“As infecções mais altas, que são menos comuns, também podem ter a ver com cálculo renal, alguma má formação de trato urinário ou com alguma doença que abaixa a imunidade, por exemplo, diabetes”, diz. 

O tipo mais recorrente de infecção ocorre na bexiga (chamada de cistite) e, se tratada de maneira correta, não traz graves consequências, apesar de ser bastante incômoda por causar dor ao paciente.

“Os principais sintomas da infecção urinária são dor ou ardor ao urinar (disúria) e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga ao urinar, levando o indivíduo a realizar a ação com maior frequência (polaciúria). Também pode haver urgência miccional e incontinência urinária associadas à infecção urinária”, explica a Dra. Leila.

Apesar de não acontecer na maior parte dos casos, o quadro pode evoluir para pielonefrite (infecção nos rins). Esse segundo estágio é mais preocupante. “A cistite eventualmente não tratada pode evoluir para infecção nos rins. A infecção de bexiga não traz nenhuma complicação, mas nos rins pode causar uma infecção sistêmica em que a pessoa pode chegar a ser internada”, comenta o Dr. Podgaec.

Para entender a diferença entre elas, o médico cita os principais sintomas de cada infecção. O problema típico da cistite é a dor ou ardência ao urinar, ir ao banheiro diversas vezes e urinar pouco, além da urgência de ir ao banheiro. Já a infecção renal, além de apresentar todos esses sintomas, deixa o paciente com febre, mal-estar e dor na região lombar. 

Apesar de inconveniente, a infecção pode ser evitada no dia a dia com pequenas atitudes. “Tomar água em quantidade adequada ao longo do dia, não segurar a urina, urinar sempre logo após as relações sexuais, fazer uma boa higiene íntima após cada evacuação, lavar as mãos, manter a resistência do organismo boa com alimentação balanceada, atividade física regular, boas noites de sono e gerenciamento de estresse”, pontua a ginecologista e coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, Dra. Bárbara Murayama.

Todas as infecções devem ser tratadas da mesma maneira: com antibióticos. O que muda é a intensidade do tratamento de cada uma delas. Segundo o ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein, um quadro de cistite pode ser tratado com dose única ou três se for algo simples, mas casos mais delicados podem precisar de sete, dez e 14 dias de medicamentos.

Maior incidência

Muito mais comum em mulheres do que em homens, a ITU está presente na rotina de 10% a 20% da população feminina pelo menos uma vez na vida, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O problema ocorre pela uretra mais curta se comparada aos homens, facilitando a ascensão de bactérias da região genital até a bexiga.

Para se ter noção da discrepância entre os homens e mulheres, o coordenador do Centro de Referência em Saúde do Homem do Hospital de Transplantes, Dr. Claudio Murta, afirma que os homens têm 50 vezes menos chances de ter infecção urinária do que as mulheres.

OS SINTOMAS DA INFECÇÃO URINÁRIA

Cistitecistite 1

• Dor ou ardência ao urinar.

• Urgência de ir ao banheiro.

• Sangramento, apesar de não ser comum.

• Dor na região pélvica.

Pielonefritecistite 2

• Todos os sintomas urinários.

• Febre.

• Mal-estar.

• Dor na região lombar.

cistite 3

 

“A origem da infecção urinária em mulheres começa com a colonização da entrada da vagina por microrganismos que fazem parte da flora fecal normal e são capazes de causar infecção, caso cheguem ao canal da urina. Como o canal urinário na mulher é mais próximo do ânus do que o do homem, facilita o trânsito desses microrganismos”, explica a Dra. Bárbara.

Há um aumento das infecções urinárias também após o início da atividade sexual. “Assim, um dos cuidados importantes a se ter é urinar após o término da relação sexual, a urina ácida acaba por tornar o ambiente inóspito às bactérias, diminuindo consideravelmente o número de infecções”, complementa a Dra. Leila.

Por outro lado, as infecções urinárias que acometem as mulheres tendem a ser menos sérias do que as dos pacientes masculinos. Os homens costumam ter uma mudança anatômica associada à infecção urinária, facilitando o agravamento do problema nos rins, principalmente em idosos e pacientes com alguma outra recorrência.

“Já nas mulheres, 90% são cistites, não dão febre e não são quadros sintomáticos gerais. A evolução dessa infecção é relativamente rara”, frisa o Dr. Murta. 

Fotos: ShutterStock

 

Pesquisas farmacêuticas

Edição 295 - 2017-06-01 Pesquisas farmacêuticas

Essa matéria faz parte da Edição 295 da Revista Guia da Farmácia.

Deixe um comentário