Intestino de volta ao trabalho

O sedentarismo e a alimentação não balanceada são os principais responsáveis pela prisão de ventre. Ingestão de fibras e água é essencial para melhora do quadro

A constipação intestinal também é bastante conhecida como prisão de ventre, intestino preso ou preguiçoso. Apesar das diferentes nomenclaturas, o problema é o mesmo: dificuldade de evacuação das fezes.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), a grande maioria dos casos não é provocada por um distúrbio de ordem física ou anatômica, mas da difícil propulsão do bolo fecal em seu caminho em direção ao reto e canal anal.

Mas não somente a frequência de idas ao banheiro é o suficiente para que a constipação seja diagnosticada. Segundo a coloproctologista do Centro de Coloproctologia do Hospital Samaritano, Dra. Helly Angela Caram Aguida, é preciso que o paciente apresente dois ou mais sintomas a seguir: evacuação menor do que três vezes por semana; esforço ao evacuar; presença de fezes endurecidas ou fragmentadas; sensação de evacuação incompleta; sensação de obstrução ou interrupção da evacuação; ou manobras manuais para facilitar a evacuação.

OS ALIMENTOS APROPRIADOS

É importante que haja a desmistificação dos alimentos que prendem ou soltam o intestino. Existem aqueles ricos ou pobres em fibras e, se usados com equilíbrio, nenhum fará mal ao funcionamento do órgão.

• Ricos em fibra: farinhas integrais, cereais integrais, frutas (incluindo a casca), verduras e legumes.

• Pobres em fibra: farinhas brancas, alimentos ricos em açúcar, gordura saturada, carnes em geral, entre outros.

Fonte: coloproctologista do Centro de Coloproctologia do Hospital Samaritano, Dra. Helly Angela Caram Aguida

Esses casos representam 85% dos acometidos pela constipação primária, causada, principalmente, pela ingestão alimentar pobre em fibras vegetais e líquidos. Além disso, estão associados ao problema, sedentarismo, ansiedade, depressão, hábito de adiar a ida ao banheiro e os efeitos adversos de algumas medicações.

“A fibra é importantíssima para o bolo fecal. Tudo aquilo que ingerimos como alimento é digerido, processado no intestino delgado e se transforma em nutrientes. As fibras são produtos que não são absorvidos, elas seguem para o intestino grosso e formam o bolo fecal, junto com a água”, comenta a especialista.

O clínico geral do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Marcus Gaz, explica que o processo de digestão se inicia com a mastigação adequada, depois com a atuação do suco gástrico e pancreático e a formação do bolo fecal que será eliminado pelo intestino. Porém, todo o processo é muito influenciável pela alimentação e pelos hábitos de vida.

De acordo com a gastroenterologista do Hospital Moriah, Dra. Nilma Ruffeil, a normalidade do funcionamento do intestino é bastante pessoal. A evacuação pode ocorrer desde três vezes ao dia até três vezes por semana, desde que seja o habitual para a pessoa e não cause nenhum desconforto. A ação depende de muitos fatores, como gênero, idade, ritmo de vida, alimentação e atividade física.

Porém, é preciso que haja atenção quando a rotina intestinal muda drasticamente. “Como quando de repente o paciente fica com o intestino mais preso ou mais solto. Pessoas que têm o intestino cronicamente preso devem se preocupar, também, se sintomas, como dores abdominais, náusea, inapetência ou sangramento intestinal, surgirem ao longo do tempo. Podem significar complicações, como diverticulite, gastrite ou hemorroidas”, assinala o Dr. Gaz.

Para melhorar o funcionamento do intestino, é recomendada a ingestão diária de 40 g de fibras, além de beber bastante água. “A primeira opção para tratar o intestino preguiçoso é a mudança de hábito alimentar e prática esportiva. Dieta rica em fibras, maior ingestão de líquidos e abandono do sedentarismo sempre devem ser adotados. Há, ainda, produtos comerciais à base de fibras alimentares, como probióticos, prebióticos e simbióticos”, finaliza a Dra. Nilma.

Os problemas sociais

Apesar de pessoas de todas as idades poderem ser afetadas pelo intestino preguiçoso, o incômodo acomete mais mulheres do que homens. “As mulheres têm mais queixas devido ao pudor do uso do banheiro fora de casa e a algumas alterações hormonais associadas à fase do ciclo menstrual”, revela a gastroenterologista do Hospital Moriah.

As variações das concentrações dos hormônios femininos no sangue, no período perto da gravidez e, também na menopausa, dificultam o funcionamento normal do intestino, segundo informa o clínico geral do Hospital Israelita Albert Einstein.

“É uma característica do gênero feminino ter o hábito intestinal um pouco diferente, tendendo, muitas vezes, à prisão de ventre. Seja pela influência de questões hormonais, uma vez que os hormônios das mulheres intensificam a movimentação das alças intestinais, ou pelos hábitos de vida, relacionados a maior ingestão de alimentos ricos em fibras”, diz ele.

A Dra. Helly Angela aponta a responsabilidade dos educadores no medo de ir ao banheiro fora de casa. Extremamente cultural, o problema começa desde pequeno, quando as crianças (principalmente meninas) são ensinadas que a evacuação é algo vergonhoso, que não pode fazer barulho ou ter cheiro, para que as outras pessoas não saibam o que está fazendo.

Um dos problemas de segurar e ir horas ou dias depois ao banheiro é a desidratação das fezes. “As fezes chegam ao reto e não podem ser evacuadas. O intestino grosso tem a função de formar o bolo fecal e ressecá-lo, para que não tenha diarreia. Então, o intestino continua retendo líquido, ressecando as fezes. Além disso, o reto se contrai e manda o conteúdo um pouco mais para cima, em uma região que não há percepção da evacuação, então a pessoa perde a vontade. As fezes só voltarão ao reto junto com um novo bolo fecal, mas estará ressecado e maior, dificultando a evacuação”, argumenta a médica.

Outro causador do problema é o estresse crônico e repetitivo, que altera o sistema nervoso, endócrino e imunológico. “O intestino é um órgão muito importante. Então, quando o indivíduo está submetido a situações que liberam substâncias típicas do estresse constantemente, desregula as funções automáticas do corpo, como o funcionamento do intestino. É mais comum que haja diarreia, mas a constipação também pode acontecer”, completa a coloproctologista do Hospital Samaritano.

AS DIFERENÇAS DE CADA UM

• Prebióticos: fibras não digeríveis, mas que fermentam no intestino e estimulam o crescimento das bactérias probióticas.

• Probióticos: são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidade adequadas, levam benefícios à saúde.

• Simbióticos: são os produtos que associam os prebióticos com os probióticos, para intensificar os efeitos dos dois componentes. A ação está relacionada à modulação da microflora intestinal que depende de vários fatores, como clima, alimentação, idade, estresse, entre outros.

Fontes: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti; e nutricionista clínica do Hospital Sírio- -Libanês, Adriana Yamaguti

Ajudantes do intestino

Microbiota, ou flora intestinal, é o nome dado a um grupo de microrganismos (como vírus, fungos e bactérias) que habita o corpo humano. E é no intestino que se encontra a maior parcela deles. Ela é ligada diretamente ao funcionamento do intestino, além de formar uma barreira de defesa natural no organismo, estando diretamente ligada a funções fisiológicas que impactam na saúde geral, como a digestão de alimentos, à produção de vitaminas (B e K) e à resposta do sistema imune ao ataque de outras bactérias.

Diferentes fatores podem desequilibrar a flora intestinal. Os mais comuns são a comida de procedência duvidosa, excesso de gordura e alimentos contaminados. Fora a alimentação, estão o fumo, o excesso de álcool e até a presença de bactérias, como as patogênicas, responsáveis pelo desenvolvimento de doenças infecciosas.

Com a rotina agitada, é mais difícil para as pessoas terem o equilíbrio necessário para que a microbiota não seja prejudicada. E aí entra a suplementação alimentar, que pode ser feita com prebióticos (fibras alimentares), probióticos (bactérias benéficas, vivas) e simbióticos (uma combinação entre prebióticos e probióticos). Disponibilizados em comprimidos, cápsulas e sachês, esses produtos auxiliam no bom funcionamento do organismo.

 

Foto: Shutterstock

Farmacêutico na mira

Edição 296 - 2017-07-01 Farmacêutico na mira

Essa matéria faz parte da Edição 296 da Revista Guia da Farmácia.

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