Dificuldades íntimas

Após a menopausa, a mulher começa a sentir incômodos devido à falta de hidratação vaginal. Problema prejudica vida sexual e social daquelas que produzem menos hormônios

Aproximadamente metade (47%) das mulheres na pós-menopausa terá ressecamento vaginal, principalmente pela diminuição da produção hormonal pelos ovários que resulta na queda dos níveis de estrogênio e progesterona circulantes. O problema é bem menor em mulheres na idade reprodutiva (3%) e no período pré-menopausa (4%), segundo a ginecologista, obstetra e mastologista do Hospital Sírio-Libanês, Dra. Leila Domingues de Oliveira Corrêa.

“A diminuição do estrogênio faz com que ocorram mudanças nas mucosas da vagina e do trato urinário inferior – o epitélio torna-se mais seco, inflamado e fino (com menor número de camadas celulares); há uma perda de elasticidade; perda de rugosidades vaginais; diminuição e estreitamento do canal vaginal, perdendo sua distensibilidade; diminuição das secreções vaginais pela metade do volume regular e aumento do pH vaginal (>5)”, explica a médica.

Mas a falta de hormônios não é exclusiva daquelas que já passaram pelo período da menopausa. A ginecologista e coordenadora da clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, Dra. Bárbara Murayama, cita alguns dos estados hipoestrogênicos no caso de mulheres na fase reprodutiva. “Período pós-parto, lactação, amenorreia hipotalâmica – ausência de menstruação por mais de três meses por problemas hormonais e durante a administração de medicações antiestrogênicas”, diz.

A lubrificação natural é importante não só para a vida sexual saudável, mas para proteger a região. A secreção vaginal contém água, albumina, leucócitos e mantém o pH vaginal ácido, entre 3,8 e 4,2.

“As principais funções são lubrificar e proteger a mucosa vaginal, facilitar a penetração durante o ato sexual e proteger a mulher contra infecções”, afirma a Dra. Leila.

Os principais sintomas apresentados são ardor/dor na relação sexual com a penetração, secura vaginal, queimação ou irritação vaginal, sangramento vaginal e sintomas urinários, como urgência miccional e incontinência urinária.

Sensibilidade apontada

Por afetar diretamente a vida sexual das mulheres, o ressecamento vaginal pode ser um grande problema na vida a dois. O desconforto durante a relação sexual leva a mulher a perder o prazer. O problema é agravado pelo número de pacientes que não buscam auxílio.

A Dra. Bárbara considera que cerca de 70% das mulheres não procuram ajuda médica. Algumas delas acreditam que seus sintomas são uma parte esperada e necessária do processo de envelhecimento, outras por crenças culturais, religiosas e sociais, que também podem desempenhar um papel importante para que se sintam desconfortáveis ao discutir preocupações relacionadas ao tema. 

“Vale lembrar que a atividade sexual regular tende a melhorar tanto o ressecamento como os sintomas de desconforto na relação e sua prática deve ser estimulada. Podemos utilizar, em alguns casos específicos, dilatadores vaginais, principalmente se desejosas de manter relações sexuais e com contraindicações ao uso de estrogênios tópicos”, aconselha a ginecologista, obstetra e mastologista do Hospital Sírio-Libanês.

O ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Sérgio Podgaec, alerta para a necessidade da não simplificação do assunto. Segundo ele, o ressecamento vaginal pode não só incomodar a vida sexual da mulher, como pode ser reflexo de outros fatores da vida pessoal dela, assim como seu relacionamento e vida social. 

Tratamento e prevenção

Diferentes produtos auxiliam na melhora dos sintomas e do problema no dia a dia, como os hidratantes e lubrificantes. “Os hidratantes são usados na rotina e os lubrificantes na hora do sexo”, cita a ginecologista e coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho. Além disso, há a terapia hormonal tópica.

“Como a principal causa é a falta de hormônio, o tratamento é hormonal. Existe um hormônio que é usado via vaginal, ele não é absorvido pelo sangue e é um ótimo tratamento. Mas só pode ser usado pelas mulheres que estão na menopausa. Há, também, o tratamento de reposição hormonal sistêmico com estrogênio”, cita o Dr. Podgaec.

As mulheres que sofrem de dores no ato sexual podem recorrer aos lubrificantes. “Eles são feitos à base de água, especialmente desenvolvidos para ser semelhantes à lubrificação natural, causando mais conforto para a mulher”, explica a farmacêutica da DKT Brasil, Amanda Santos.

MITOS E VERDADES

– Todas as mulheres terão ressecamento vaginal?

MITO.

A atrofia ou ressecamento pode e deve ser tratada somente se a mulher tiver queixas.

– Camisinha pode causar ressecamento?

DEPENDE. 

O preservativo pode causar alergia, por isso, a mulher pode sentir coceira e acabar aumentando a frequência de higiene, o que causa 

o ressecamento.

– Mulheres com ressecamento deixam de ter prazer sexual?

MITO.

Com o tratamento adequado, é possível manter uma vida sexual normal.

– Estresse é um fator que acarreta 

no ressecamento vaginal?

VERDADE.

É um fator que pode causar o ressecamento. Normalmente, o que causa mesmo é a baixa do estrógeno, mas o estresse pode ser um dos agentes que potencializam o ressecamento.

– A maior parte das mulheres após menopausa terá ressecamento vaginal?

VERDADE. 

Quinze por cento das mulheres nos primeiros anos e depois de certo tempo, a maior parte sofrerá com o problema.

 

Esse tipo de produto é de uso somente local, não causa nenhuma relação sistêmica e não tem contraindicações, já que não é absorvido pelo corpo. Amanda frisa que os géis lubrificantes à base de água são compatíveis com o uso de preservativos.

Já os hidratantes vaginais são uma boa opção para as mulheres que não podem usar os hormônios. “É um creme vaginal que deve ser aplicado dentro da vagina. Eles têm um papel interessante, o problema é que precisam ser usados durante muito tempo, pois se a mulher parar de utilizá-los, há chance de voltar ao estágio inicial, então a adoção não é tão eficaz”, alerta o Dr. Podgaec.

A grande diferença desse creme e do lubrificante é a ação no corpo. “O hidratante tem ação prolongada, de 72 horas, e é usado para melhorar a saúde vaginal, enquanto o lubrificante é usado sob demanda, de forma recreativa vaginal – apenas durante o sexo”, diz o médico da Teva, Dr. Tomas Andriotti.

O produto deve ser utilizado com um aplicador que será descartado após o uso. Segundo o Dr. Andriotti, a frequência de uso é de a cada três dias e sua ação é local e não sistêmica. Além disso, pacientes com alergia ao ácido poliacrílico não devem tentar usar os cremes hidratantes.

A assessora médica da linha de ginecologia da FQM, Dra. Fernanda Marano, ressalta que o hidratante vaginal se adere às células da mucosa e libera água, promovendo a hidratação. “Assim ele é dispensado através da renovação celular que naturalmente ocorre no corpo a cada média de três dias.”

Apesar de ser um problema que acontece, geralmente, por conta do processo de envelhecimento da mulher, alguns detalhes podem ajudar a evitá-lo. Manter os cuidados com a região íntima de forma adequada, não usar produtos no local sem orientação médica e procurar ajuda médica se sentir algum desconforto local, são detalhes importantes.  

Foto: Shutterstock 

Pesquisas farmacêuticas

Edição 295 - 2017-06-01 Pesquisas farmacêuticas

Essa matéria faz parte da Edição 295 da Revista Guia da Farmácia.

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