Problemas intestinais

Eles podem levar a complicações sérias e até à morte caso o indivíduo não receba acompanhamento adequado

 

Desconfortável, a diarreia se caracteriza pelo aumento na frequência das evacuações bem como pela perda da consistência das fezes. Uma das causas mais comuns desse processo são as viroses causadas por intoxicação alimentar, geralmente em função do consumo de alimentos não higienizados de forma correta, mal acondicionados, não preparados adequadamente, em mau estado de conservação ou até mesmo vencidos, além de bactérias, consumo de água contaminada, intolerância ao glúten (doença celíaca) e contato com pessoas contaminadas por vírus. 

“Algumas doenças, como a Retocolite Ulcerativa ou a Doença de Crohn, que são doenças inflamatórias do intestino, também podem dar origem a quadros de diarreia. As causas mais graves estão ligadas ao desenvolvimento de tumores ou câncer do intestino grosso. Nesses casos, pode haver também sangramento pelas fezes. Intolerâncias alimentares como à  lactose ou ao glúten também são fatores que podem ocasionar este quadro”, comenta o especialista em cirurgia geral e cirurgia do aparelho digestivo e diretor na Associação Médica Brasileira, Dr. Antonio Carlos Weston. 

A diarreia também pode ser eventualmente causada por medicamentos, como o uso continuado de anti-inflamatórios não hormonais, anti-hipertensivos, hipogliceminantes (indicados para o tratamento de diabetes), além de alguns antibióticos, bem como o uso abusivo de laxantes. “Nesses casos, o procedimento é trocar o medicamento que está causando o sintoma, porém quando isso não é possível, associa-se outro fármaco para combater o efeito colateral”, explica o gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Jaime Zaladek Gil.

Os quadros diarreicos respondem por 40% dos atendimentos médicos no mundo. Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, Ciência e Cultura [United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, em inglês (Unesco)], em 2009, aponta que 1,5 milhão de crianças morrem em função de diarreias severas. Países pobres e com condições precárias de saneamento e tratamento de água concentram a maior incidência de casos graves de diarreia. 

“No mundo todo, morrem cerca de 60 milhões de pessoas todos os anos e a diarreia é responsável por cerca de três a cinco milhões destas mortes, principalmente entre crianças e idosos. No Brasil, o Nordeste é a região onde mais temos casos graves”, diz o Dr. Zaladek Gil. 

O agravamento do problema se dá principalmente pela desidratação, uma vez que, durante o processo, o organismo perde muito líquido, o que pode levar à insuficiência renal aguda. “O intestino absorve 99% de todo líquido que passa por ele, são quase dez litros de líquidos por dia. Quando o indivíduo está passando por um processo diarreico, ao invés de absorver no intestino, excreta uma quantidade de líquido maior do que deveria e com isso há perda de sódio, potássio, entre outros”, explica o Dr. Zaladek Gil.  

Quadro pode persistir por semanas

A diarreia é um sintoma, uma forma de defesa do organismo para acelerar a expulsão de agentes que estejam agredindo o intestino, ela começa e termina basicamente sozinha, ou seja, o organismo tem a capacidade de curar o problema. “As diarreias agudas normalmente são autolimitadas, cerca de 90% dos casos, e costumam durar no máximo sete dias, ocasionalmente até 14 dias, porém devem começar a apresentar melhora entre três e quatro dias. Quadros com duração maior ou com sintomas, como febre, vômitos persistentes, mal-estar intenso, exigem avaliação médica”, diz o diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (Sbmfc), Dr. Rodrigo Lima. 

A diarreia também pode ser crônica e, neste caso, pode durar até mais do que 30 dias. Em casos assim, a realização de exames que possam determinar a causa do sintoma é fundamental para o tratamento. “Também é importante saber se há história familiar de algum problema intestinal, o que pode ajudar no diagnóstico”, comenta o Dr. Weston. 

Como se trata de um sintoma, a diarreia não deve ser interrompida, é preciso deixar que o organismo se encarregue de fazer essa limpeza durante o tempo necessário, até se curar. “Obstruir a evacuação não quer dizer que a pessoa não esteja doente. Há pessoas que acham que, porque a diarreia cessou, o problema foi resolvido, o que não é verdadeiro. Se o problema tiver como causa infecção bacteriana, ao impedir que o intestino faça essa limpeza, pode-se acelerar a multiplicação das bactérias, contribuindo para o aumento desses agentes, além de toxinas. Por isso, é bom reforçar que não se devem ingerir medicamentos que cortem o efeito da diarreia”, reforça o Dr. Zaladek Gil. 

Aliados do caso

Os reconstrutores da flora intestinal são medicamentos probióticos que se caracterizam pela presença de cepas de “bactérias boas”, aquelas existentes no organismo, mas que também podem ser ingeridas e que atuam como agentes de defesa e que irão substituir as ruins. Esses reconstrutores têm a função de restaurar a flora e mantê-la equilibrada. O tempo de uso depende do tempo de diarreia e da causa.

Problemas digestivos

A azia é um dos principais motivos pelos quais a população procura por um especialista da área, ela acomete cerca de 12% da população, conforme afirma o gastroenterologista da Clínica Chinzon, Dr. Décio Chinzon. 

Segundo ele, esse é um problema que se dá em decorrência da falha dos mecanismos que impedem que o conteúdo do estômago reflua para o esôfago. “O esfíncter inferior do esôfago funciona como uma válvula que fica na junção entre este órgão e o estômago, abrindo para a passagem do alimento, e fechando para impedir o refluxo. Quando esse mecanismo falha, o paciente queixa-se de azia e de regurgitação ácida”, explica.

Já a má digestão, ou dispepsia, atinge cerca de 20% da polução. O sintoma mais marcante, nesse caso, é a sensação de estômago cheio. “As reclamações mais recorrentes são de empachamento. A má digestão pode ser crônica ou acontecer por algum alimento em especial. De modo geral, as carnes vermelhas e gordas podem gerar essa sensação, já que seus componentes proteicos são digeridos mais lentamente”, esclarece o cirurgião geral da Clínica Healthme e endoscopista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), Dr. Sérgio Barrichello. Outros sintomas que podem aparecer junto com a dispepsia são enjoos, eructações, vômitos, sonolência depois da refeição e dores abdominais.

Além da reeducação alimentar e tranquilidade durante as refeições, as sensações de azia e má digestão podem ser atenuadas por meio de alguns medicamentos. Nos casos da azia, os mais indicados são os inibidores da secreção ácida, conhecidos como IBPs. No caso da má digestão, os medicamentos mais usados são os procinéticos que atuam, principalmente, na movimentação do estômago e ajudam na propulsão do conteúdo gástrico. 

Antiácidos podem ser uma excelente alternativa para controle dos problemas.

Água e fibras 

Beber muita água e aumentar o consumo diário de fibras é indicação constante para quem busca melhorar sua condição de saúde e equilibrar o organismo. Quando um quadro diarreico está instalado, essa premissa passa a ser palavra de ordem. Para evitar a desidratação, é preciso ingerir muita água, durante toda a duração do quadro, e para ajudar a reestabelecer a flora intestinal e, consequentemente, devolver consistência ao bolo fecal, as fibras são mais do que indicadas. 

“O melhor tratamento para a diarreia é a hidratação e a melhora na alimentação, associadas ao tratamento específico da causa. Para manter o trânsito intestinal em bom funcionamento, é preciso associar bons hábitos alimentares, com ingestão de fibras, água e prática de atividade física. Aliás, as fibras são importantes para o bom trânsito intestinal, sejam elas sintéticas ou naturais e podem ser ingeridas, na maioria dos casos, sem restrições, e como não agridem a mucosa intestinal, podem ser utilizadas por tempo indeterminado”, comenta a gastroenterologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dra. Cinara Oliveira. 

Alimentos industrializados e excesso de gorduras também devem ser evitados tanto em quadros de diarreia como para quem busca manter o trânsito intestinal saudável. “O abuso de álcool também pode interferir e deve ser evitado”, comenta o Dr. Rodrigo Lima. 

Durante o quadro, também é importante evitar o consumo de leite e derivados; segundo o Dr. Zaladek Gil, o paciente pode desenvolver intolerância momentânea à lactose. 

Autor: Adriana Bruno e Kathlen Ramos

Campanha Preventiva

Edição 288 - 2016-11-01 Campanha Preventiva

Essa matéria faz parte da Edição 288 da Revista Guia da Farmácia.

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