Aperto angustiante

Dores abdominais podem representar diversos problemas de saúde e acometem tanto homens quanto mulheres. Conheça todas as formas de manifestação do problema

Dor intensa que provoca espasmos repetidos, a cólica está ligada à distensão do tubo digestivo, dos canais glandulares ou das vias urinárias. Aquela pontada intensa na barriga pode representar disfunções em diversos órgãos do corpo humano. A dor costuma ser impactante e causa desconforto e mal-estar. 

“Em primeiro lugar, devemos entender o significado da palavra cólica. É de origem grega (kolikós) e se refere ao cólon, estrutura final do trato digestivo. No entanto, o termo se difundiu na linguagem médica como sinônimo de dor de característica espasmódica, relacionada à contração da musculatura lisa de vísceras abdominais ocas, que são órgãos com espaço interno (luz) revestido por mucosa e cuja função é promover a propulsão ou excreção de conteúdos sólidos, líquidos e/ou gasosos. São inervadas pelo nervo vago, do sistema parassimpático”, explica o coordenador do Centro de Coloproctologia do Hospital Samaritano de São Paulo, Dr. Alexandre Fonoff.

As cólicas podem acontecer no trato digestivo, esôfago, estômago, duodeno, jejuno, íleo, apêndice cecal, cólons, reto, vesícula biliar, ductos hepáticos, colédoco e ducto pancreático; no trato urinário, nos rins, ureteres, bexiga e uretra; e no aparelho reprodutor, no útero. 

Segundo o Dr. Fonoff, os espasmos dolorosos ou cólicas ocorrem devido à exacerbação das ondas de contração da musculatura lisa do órgão, normalmente por um empecilho mecânico à propulsão de tais ondas ou reflexo da irritação de sua mucosa. “São mais conhecidas e frequentes as cólicas intestinais (diarreias infecciosas), biliares (pedra na vesícula), renais e ureterais (pedra no rim) e menstruais. As cólicas ureterais se destacam pela intensidade da dor.”

As dores são muito semelhantes, independentemente do órgão. “O local da cólica varia de acordo com o órgão acometido e da sua projeção anatômica. Começa geralmente com intensidade fraca, se acentua rapidamente até atingir um pico doloroso extremo que cede com fim da contração. Se não há eliminação do fator obstrutivo ou irritativo, ela se perpetua e se acentua. Geralmente é acompanhada de outros reflexos autonômicos, como mal-estar, náuseas e vômitos, sudorese, palidez, hipotensão, bradicardia e lipotímia”, explica o Dr. Fonoff, que afirma que a causa da cólica deve ser identificada e tratada de forma específica, porém a medida geral para o alívio da dor deve ser com medicação analgésica e antiespasmódica, iniciada prontamente. “Quando muito intensa, a via sistêmica em ambiente hospitalar é recomendada. Quando leve, a medicação via oral domiciliar normalmente atenua o quadro.”

Para a ginecologista do Hospital Samaritano de São Paulo, Dra. Maria Cristina Meniconi, quando a cólica é investigada, tanto na mulher como no homem, deve-se pensar em várias hipóteses. “Observa-se se é aguda ou crônica, se há alguma alteração com relação ao trato urinário, algum distúrbio intestinal, relação com período menstrual ou atividade sexual. Também é importante observar se é acompanhada de outros sintomas, como febre, distensão abdominal, corrimento vaginal, etc. Feito isso, podem-se descartar causas que não são de origem ginecológica e infecciosas. As causas ginecológicas que podem provocar cólica na mulher são: endometriose, doença inflamatória pélvica, ovulação, Dispositivo Intrauterino (DIU), miomas, estenose do canal cervical e menstrual.”

Exclusivamente femininas

As mulheres são acometidas pelas famosas dores mensais, as chamadas cólicas menstruais. Elas não costumam ter uma causa determinada, já que fazem parte do período menstrual. O endométrio, camada que recobre a parte interna do útero, é preparado durante o ciclo menstrual para a gravidez e, quando ela não ocorre, ele sofre uma descamação para liberar o sangue. Nesse processo, o útero se contrai para controlar a saída, causando a dor. 

“A cólica menstrual é a mais frequente e pode aparecer um ou dois dias antes ou junto com a menstruação. Geralmente, a duração está ligada aos dias de fluxo mais intenso. Como tratamento, são usados anti-inflamatórios, que diminuem as prostaglandinas; antiespasmódicos ou, às vezes, essa associação”, explica a Dra. Maria Cristina, que ainda afirma que a mulher deve valorizar a cólica que sai das características da menstrual ou ovulatória. Outra observação a ser feita é se tem uma intensidade tão alta que chega a interferir nas atividades diárias, podendo estar relacionada à endometriose.

De acordo com o ginecologista Dr. Nicola F. Gentile, a endometriose é uma doença ginecológica marcada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero, podendo estar em qualquer parte do organismo, como nas trompas e ovários. “Esse problema geralmente está ligado à genética ou às disfunções no sistema imunológico, causando dores intensas durante e após o período menstrual, além de dores durante a relação sexual.” 

Existe também a cólica de mioma, que se trata de um tumor benigno que cresce na parede do útero graças à ação dos hormônios estrogênio e progesterona; a cólica por infecção de órgãos genitais por meio de bactérias, que pode afetar os ovários, o útero e as trompas; e a cólica de ovulação, podendo ocorrer no meio do ciclo menstrual, sentida apenas pelas mulheres que não fazem uso de anticoncepcionais. 

“É necessário observar a causa da cólica, se é menstrual, se possui miomas ou algum problema. Para reduzir as dores, é indicada a prática regular de exercícios físicos, compressas quentes na barriga e medicação; além da investigação, no caso de dores fortes ou incomuns, para ver a causa”, explica a ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Alessandra Bedin.

Cólicas renais

A cólica renal é considerada uma das piores já sentidas pelos pacientes que chegam aos hospitais. “É uma dor, em geral forte, na região abdominal, normalmente nos flancos (região lateral do abdomen), com possível irradiação para a região inguinal (virilha), resultante de uma obstrução parcial ou total do ureter, um tubo muscular longo que liga cada rim à bexiga. Essa obstrução é causada em geral por cálculos (pedras) que se formaram nos rins. Também pode ser decorrente de coágulos, porém é raro”, aponta o médico urologista e membro dos Conselhos Deliberativo e Médico do Hospital Santa Cruz, Dr. Antonio Monteiro da Fonseca Neto.

Em geral, a cólica renal vem acompanhada por náuseas e/ou vômitos, e algumas vezes de sensação de bexiga cheia (tenesmo) ou ardor para urinar (disúria). “Por vezes, é difícil diferenciar de outras manifestações clínicas derivadas de outros órgãos abdominais, como intestino, útero e vesícula biliar. A cólica renal é mais frequente em homens e costuma haver história familiar prévia e é associada a erros alimentares, como hidratação inadequada, consumo excessivo de sal e proteínas de origem animal, em especial carnes vermelhas, e obesidade”, explica o Dr. Fonseca Neto.

O tratamento inicial é o controle da dor, com anti-inflamatórios e analgésicos variados. A seguir, deve ser feita uma investigação para confirmação do diagnóstico e identificação do cálculo, analisando o tamanho e a posição. “Pedras menores que 5 mm costumam ser eliminadas espontaneamente. No entanto, as maiores que 5 mm podem apresentar maior dificuldade para chegarem até a bexiga, mesmo apesar da melhora da cólica. Há então a necessidade de intervenção”, diz o Dr. Fonseca Neto.

Para o médico, todo caso de cólica renal merece acompanhamento com urologista; mas pacientes grávidas, com um único rim, com indícios de infecção, como febre e queda do estado geral, têm, muitas vezes, necessidade de internação de urgência, bem como casos com dor de difícil controle. “Em muitos casos, há a indicação de remoção dos cálculos através de cirurgia endoscópica, procedimento minimamente invasivo, que permite um retorno do paciente à sua rotina mais rapidamente”, destaca o Dr. Fonseca Neto.

Cólicas abdominais

A cólica abdominal é bastante comum e geralmente é sentida entre o tórax e a virilha, conhecida mais popularmente como dor de barriga, dor de estômago ou gases, podendo ser apenas uma indisposição, ou então representar sérios problemas de saúde.

Muito frequente nos consultórios de gastroenterologia atualmente, a Síndrome do Intestino Irritável (SII), que se caracteriza por flatulência, diarreia ou obstipação, traz incômodos, mas sem gravidade. Após sua confirmação diagnóstica, os medicamentos específicos controlam os sintomas. 

“A intolerância à lactose, que tem sintomas semelhantes à SII, também traz desconfortos e o simples afastamento da ingestão da lactose ou a introdução da enzima lactase na dieta acaba melhorando o quadro”, comenta o Dr. Fonoff, do Hospital Samaritano de São Paulo.

Quando a dor é intensa ou inédita no contexto da vida do paciente, deve haver maior preocupação e procura por auxílio médico imediato, especialmente via pronto-socorro. São inúmeras as doenças importantes ou graves que apresentam cólicas como parte dos sintomas. 

“Litíase biliar e pancreática, geralmente, necessitam de tratamento endoscópico ou operatório. Obstruções intestinais decorrentes de hérnias encarceradas e aderências pós-operatórias tardias também necessitam de atendimento rápido, evitando complicações infecciosas e vasculares. Tumores também podem ter como primeiro sintoma uma cólica de leve intensidade, mas quando acompanhada de anemia, icterícia, sangramentos e emagrecimento (sinais de alarme), a preocupação deve ser maior e o retardo no diagnóstico pode fazer toda a diferença na obtenção da cura”, conclui o Dr. Fonoff. 

Pesquisas farmacêuticas

Edição 295 - 2017-06-01 Pesquisas farmacêuticas

Essa matéria faz parte da Edição 295 da Revista Guia da Farmácia.

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