Dor de cabeça acomete quase toda a população

As dores incomodam os pacientes de diferentes maneiras. Entender o que desencadeia a doença é um primeiro passo para o tratamento.

É praticamente impossível encontrar uma pessoa que nunca tenha se queixado de dores de cabeça. E essa sensação não é à toa: 93% dos homens e 99% das mulheres já sofreram com cefaleia ao menos uma vez na vida, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC), além de 76% do sexo feminino e 57% do masculino terem ao menos uma ocasião de dor por mês. Embora o tratamento mais comum seja o uso de analgésicos, é necessário que o paciente entenda o porquê da dor de cabeça estar presente.

A Sociedade Internacional de Cefaleia classifica as cefaleias em três principais grupos: primárias (quando a dor de cabeça é a “doença”); secundárias (dor acontece em decorrência de algum outro problema, como infecções e traumatismos); e aquelas que não se enquadram em nenhuma das anteriores. 

“As cefaleias primárias, que são as mais comuns, têm na própria dor o problema a ser tratado. Estão incluídas nesse grupo, a enxaqueca, a cefaleia do tipo tensional e a cefaleia em salvas, além de outras menos comuns. Já nas cefaleias secundárias, a dor de cabeça é apenas uma manifestação da causa subjacente, como, por exemplo, um tumor, um problema circulatório, infecção, efeito colateral de medicamentos, trauma craniano, doenças inflamatórias, entre outros”, explica o neurologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Eli Faria Evaristo.

As mulheres sofrem mais, principalmente, de enxaqueca. Ao comparar com os homens, o público feminino sofre três vezes mais, segundo o neurologista do Hospital Moriah, Dr. Antônio Barata. Isso não acontece nas cefaleias tensionais. 

PARA ACABAR COM A DOR

A prescrição de medicamentos depende da intensidade, origem, localização da dor, entre outros. Porém, os analgésicos não opioides são os usados para as dores menos intensas e mais corriqueiras, durante um período de tempo curto. Possuem propriedades analgésica, antipirética, antitrombótica e anti-inflamatória. Entre os princípios ativos analgésicos não opioides: ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, dipirona sódica e paracetamol. 

Os três primeiros, considerados analgésicos anti-inflamatórios não esteroides, inibem a enzima ciclo-oxigenase, diminuindo a formação de precursores das prostaglandinas e dos tromboxanos a partir do ácido araquidônico, diminuindo a ação destes mediadores no termostato hipotalâmico e nos receptores de dor. 

O mecanismo do paracetamol não está totalmente determinado, ele pode atuar predominantemente inibindo a síntese de prostaglandinas no nível do Sistema Nervoso Central (SNC) e, em menor grau, bloqueando a geração do impulso dolorido no nível periférico. 

Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti

“Isso ocorre porque o hormônio feminino é um fator agravante nas dores nessa doença. O uso de anticoncepcional hormonal também piora o quadro de dor”, complementa o neurologista responsável pela Clínica de Dor do Hospital CEMA, Dr. Joel Augusto Ribeiro Teixeira.

Outro fator de risco é a genética, por isso é importante que haja um estudo familiar para ajudar no diagnóstico da doença. Estar atento a fatores desencadeantes também é essencial para evitar e diminuir as crises. O neurologista do Hospital Moriah cita alguns deles: período perimenstrual, alguns alimentos (chocolate, condimentos, álcool, entre outros), perfumes, estresse, privação de sono e jejum. 

Apesar de incômoda, a dor nem sempre é o principal motivo de preocupação. “A dor sozinha nem sempre é um sinal de alarme, mas outros aspectos, como uma dor de cabeça completamente diferente, nova. Paralisia, perda de consciência, desmaio, convulsão, febre e outros sintomas devem ser observados”, frisa o neurologista da Unidade de Atendimento à Cefaleia do Hospital Samaritano, Dr. Marcelo Calderaro. 

Para o neurologista do Hospital Moriah, 90% dos casos de cefaleia primária têm um bom resultado somente com o tratamento medicamentoso e mudanças de hábitos. Ainda que o tratamento para dor seja de fácil acesso, é necessário que o paciente tenha cuidado na automedicação exagerada. 

NÚMEROS DA CEFALEIA

Maior ocorrência

         Exaqueca             Cefaleia        Cefaleia por
                                    em salvas     arterite temporal

     cefaleia 2

     especialmente       homens de     mulheres
     mulheres na fase   meia idade     acima dos 60
     de adolescência                           anos de idade
     e juventude

Tempo das crises

           Enxaqueca       Cefaleia       Cefaleia por
                                    em salvas    arterite temporal

    cefaleia 3

 

Porcentagem de acomeditos no Brasil

cefaleia 4

Fontes: neurologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Eli Faria Evaristo; Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC); e Classificação Internacional de Cefaleias, 3ª edição, da Sociedade Internacional de Cefaleia

A farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti, adverte que o uso abusivo de medicamentos poderá desencadear a cefaleia por uso inadequado de medicação, classificada entre as cefaleias secundárias. 

“Os tratamentos podem ser divididos em tratamentos da crise aguda e tratamentos preventivos, também chamados de profiláticos. Os de crise incluem o uso de analgésico e anti-inflamatórios, além de tratamentos mais específicos para certos tipos de cefaleia. Nas cefaleias secundárias, além do tratamento da crise de dor, geralmente com analgésicos, faz-se necessário tratar a causa específica”, adverte o Dr. Evaristo. 

Enxaqueca: a mais comum

A enxaqueca é uma das categorias mais comuns de dores de cabeça, sendo considerada a terceira doença mais prevalente e a sétima causa específica de incapacidade no mundo, de acordo com o Global Burden of Disease Survey 2010. O Dr. Calderaro explica que os principais sintomas da doença são a dor unilateral da cabeça, latejante, dor que costuma ser moderada a intensa, piora com esforço físico, náuseas e incômodo na luz e em barulhos.

“Em alguns casos, chamados de enxaqueca com aura, sintomas neurológicos, especialmente visuais, podem ocorrer alguns minutos antes do início da dor de cabeça, trazendo uma pista bastante importante para o diagnóstico”, reforça o neurologista do Sírio-Libanês.

As crises de enxaqueca costumam durar entre quatro e 72 horas e, apesar de ser difícil evitá-la, pode ter fatores desencadeantes, como alguns tipos de alimentos, exposição à luz ou a perfumes que podem ser evitados para diminuir a frequência das crises.

“A enxaqueca pode ter tratamento profilático, ou seja, tomar medicamentos todos os dias para evitar crises. No entanto, esse tratamento é proposto quando a dor é muito frequente e atrapalha o trabalho e a qualidade de vida do paciente”, comenta o neurologista do Hospital CEMA.

De acordo com Maria Aparecida, se a intensidade da dor for de leve a moderada, normalmente, são administrados analgésicos ou anti-inflamatórios não esteroides tanto para enxaqueca com ou sem aura. 

Dor pelo estresse

A cefaleia tipo tensional é bastante comum, com prevalência ao longo da vida da população geral entre 38% e 78%, segundo a Classificação Internacional de Cefaleias, 3ª edição. “De maneira geral, são dores com as quais as pessoas não se incomodam tanto. As dores são como um peso, na cabeça inteira, não costumam ser intensas a ponto de incapacitar o paciente, não dão náuseas e não pioram com o esforço físico”, cita o neurologista do Hospital Samaritano.

Diferente da enxaqueca, a cefaleia tensional costuma durar pouco – sendo comuns episódios de apenas meia hora ou algumas horas do dia. Para se tornar frequente, é preciso que haja ao menos dez episódios de cefaleia entre um e 14 dias, por mais de três meses. Em casos de episódios diários ou contínuos, a doença passa a ser considerada crônica. 

“Crises de cefaleia tensional podem ocorrer no contexto de situações de maior estresse ou de privação de sono, além em alterações do estado de humor, às vezes de forma mais prolongada, como os quadro depressivos. Técnicas de relaxamento e atividade física podem ser úteis na prevenção desses casos”, diz o neurologista do Hospital Sírio-Libanês.

Cefaleia em salvas

Marcada pelas crises em uma determinada época da vida do paciente, por isso chamada em salvas, a doença tem crises de dor bastante fortes associadas à hipertemia conjuntival ipsilateral, lacrimejo, congestão nasal, rinorreia, sudorese da região frontal e da face, miose e inquietação da pálpebra.

De acordo com o Dr. Evaristo, a dor é mais localizada na região dos olhos, normalmente de certo lado, de forma muita intensa, às vezes descrita como uma sensação de facada. “Costuma ocorrer, em certo paciente, com caráter mais sazonal (certa época do ano), período em que alguns fatores desencadeantes se tornam de maior risco para essa ocorrência, o que é especialmente visto com o uso de bebidas alcoólicas”, completa.

A dor muito forte costuma acontecer entre 15 a 180 minutos (se não tratada) e uma crise pode durar semanas ou meses. Dados da Classificação Internacional de Cefaleia revelam que 10% a 15% dos pacientes possuem cefaleia em salvas crônica.

Foto: Shutterstock

Brasileiro deixa a desejar

Edição 297 - 2017-08-01 Brasileiro deixa a desejar

Essa matéria faz parte da Edição 297 da Revista Guia da Farmácia.

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