A farmacogenômica aliada ao cuidado farmacêutico em benefício à farmacoterapia

O estudo da farmacogenômica de doenças crônicas vem possibilitando o desenvolvimento de terapias individualizadas com risco menor de toxicidade e eventos adversos

Sabe-se que um mesmo medicamento administrado, em mesma forma farmacêutica e dose, nas mesmas condições, a diferentes indivíduos, poderá gerar respostas farmacológicas distintas e o conhecimento das variações genéticas, bem como, da forma como influenciam a farmacocinética e a farmacodinâmica dos fármacos é essencial para a orientação da farmacoterapia, considerando que muitas vezes as respostas podem estar relacionadas à variabilidade genética de cada indivíduo.

A Farmacogenômica é uma ciência que busca identificar as variações genéticas que modulam a respostas ao fármaco, alterando a farmacocinética ou a farmacodinâmica dos medicamentos ou a predisposição às reações adversas. Portanto, seu conhecimento é relevante para a orientação terapêutica no cuidado farmacêutico a ser prestado pelo profissional da saúde e, em especial, do farmacêutico, particularmente, em relação às doenças crônicas onde tem sido objeto mais intensamente de estudos.

Farmacogenômica x farmacogenética

Existe uma diferença entre a farmacogenômica e a farmacogenética; a primeira estuda vários genes simultaneamente e suas interações e poderá ser empregada para o auxílio farmacêutico na forma em como a genética influencia a metabolização dos fármacos ou em como a genética facilita o desenvolvimento de uma doença e, a segunda estuda os efeitos dos genes isolados.

Saliente-se que as diferentes respostas terapêuticas dos indivíduos podem estar associadas aos polimorfismos genéticos em genes que afetam a farmacocinética ou a farmacodinâmica e esses polimorfismos podem ser divididos em classes distintas.

As variações na sequência do DNA (incluindo os polimorfismos genéticos) podem alterar a transcrição do mRNA e, consequentemente, a função proteica, que poderá resultar em variabilidade de resposta farmacológica.  Não somente os fatores genéticos estão relacionados ao sucesso da meta terapêutica, mas devem ser considerados outros fatores como os individuais e os ambientais.

Doenças crônicas

As doenças crônicas estão ganhando destaque no estudo da farmacogenômica, como na hipertensão e câncer (de mama, pulmão e gástrico), que podem surgir com maior facilidade em indivíduos que apresentam determinados polimorfismos em seus genes.

Um outro problema bastante atual é a depressão que foi intensificada nos últimos anos em função da condição de saúde que ficou mundialmente vulnerável. É estimado que os fatores genéticos são responsáveis por 50% da variação na resposta aos antidepressivos utilizados, considerando que são substratos do sistema enzimático citocromo P450, em que existem várias isoformas enzimáticas desse citocromo codificadas por diferentes genes. A isoforma CYP2D6 envolvida na metabolização de antidepressivos tricíclicos e inibidores seletivos da receptação da serotonina apresenta estudos indicando diferentes atividades enzimáticas dependendo da mutação presente nessa isoforma.

Já em relação ao diabetes, os tratamentos apresentam significativa variabilidade individual na obtenção da resposta terapêutica e estima-se que um elevado percentual dessa variabilidade seja decorrente de polimorfismos que podem estar localizados nos genes que codificam os transportadores, nos genes que codificam as enzimas envolvidas no metabolismo dos fármacos (superfamília citocromo P450) ou nos genes que codificam o alvo terapêutico.

Em relação à hipertensão, a maior parte dos polimorfismos estão distribuídos nos genes que integram o eixo renina-angiotensina (ERA) e nos genes envolvidos na metabolização e transporte dos fármacos anti-hipertensivos. Um polimorfismo do tipo inserção/deleção (I/D) no gene que codifica a enzima de conversão da angiotensina (ECA), leva ao aumento dos níveis plasmáticos desta e da pressão arterial (PA), originando resistência ao tratamento com IECAs.

Desensolvimento de tratamentos individualizados

O estudo da farmacogenômica de doenças crônicas vem possibilitando o desenvolvimento de terapias individualizadas com risco menor de toxicidade e eventos adversos, e até o momento, pode-se observar a importância da enzima CYP2D6, que apresenta muitos polimorfismos que impacta na resposta aos medicamentos utilizados em um número razoável de doenças crônicas, o que torna um excelente marcador para predição de susceptibilidade de desenvolvimento de determinadas enfermidades.

Fontes:

– Bessa LDF. A perspectiva do profissional em farmácia sobre a farmacogenómica e a sua implementação em Portugal. URI: http://hdl.handle.net/10400.22/11507 Repositório Científico do Instituto Politécnico do Porto.

– Peres V, Salavert A, Espadler J. Efficacy of prospective pharmacogenetic testig in the treatment of major depressive disorder results of a randomized, double-blid clinical trial. BMC Psychiatry, v.17, n.1, p.250, 2017.

– Fernandes FTRG. Farmacogenómica do eixo renina angiotensina – relevância na suscetibilidade e terapêutica da hipertensão arterial. 2012. Dissertação [Mestrado]. Universidade de Algarve, Portugal.

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Fonte: Farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, Maria Aparecida Nicoletti, com exclusividade para o portal Guia da Farmácia.

Foto: Maria Aparecida Nicoletti.

Não se automedique, consulte um profissional de saúde.

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