Cada tipo de exame usado para detectar o coronavírus tem suas vantagens e desvantagens. Entenda
O avanço da variante ômicron é um dos principais fatores por trás do aumento impressionante no número de novos casos de Covid-19 registrados em várias partes do mundo Antígeno PCR.
No Brasil, o apagão de dados do Ministério da Saúde (MS) após um ataque hacker no início de dezembro dificulta a notificação dos casos e impede análises mais aprofundadas sobre o atual cenário da crise sanitária por aqui.
Mas o que uma pessoa que está com sintomas de Covid-19, como febre, tosse, cansaço, perda de paladar ou olfato, dores e diarreia, pode fazer para saber se está (ou não) com a doença? Quais exames são indicados?
Confira a seguir os testes mais comuns e quais são as vantagens e desvantagens de cada um deles
RT-PCR: alto grau de confiança, mas resultado costuma demorar
Esse teste é considerado “padrão ouro” pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os laboratórios costumam orientar que a coleta aconteça entre o terceiro e o sétimo dia após o início dos sintomas.
Isso porque o RT-PCR detecta o RNA (material genético do vírus), e essa janela de tempo é o período da infecção em que há mais atividade viral e é mais provável encontrar o causador da Covid-19 lá no fundo da garganta.
Porém, em alguns casos, o médico pode indicar a realização desse exame já no primeiro ou até o décimo dia de sintomas.
Apesar do alto grau de confiabilidade, essa opção também traz algumas desvantagens: ela é mais cara (chega a custar entre 200 e 400 reais na rede privada) e o laudo com o resultado pode demorar mais de um dia para ficar pronto.
“Além disso, o RT-PCR é um método que exige profissionais muito capacitados e equipamentos de alta complexidade, que não estão facilmente disponíveis em todos os laboratórios”, acrescenta o médico patologista Wilson Shcolnik, presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
Ainda na seara dos testes moleculares, alguns laboratórios e farmácias também oferecem o PCR-Lamp. Ele também investiga a presença de RNA viral na saliva, mas seu resultado não é considerado tão preciso quanto o obtido no RT-PCR.
Outra opção, que se tornou mais popular recentemente com a epidemia de gripe H3N2 que atinge várias cidades brasileiras, são os chamados painéis virais.
Antígeno: resultados menos certeiros, mas acessibilidade pesa a favor
Também conhecido como teste rápido, esse método é considerado “menos sensível” pelas agências de saúde e pelos especialistas.
Em outras palavras, isso significa que os resultados dele são um pouco menos confiáveis quando comparados ao RT-PCR.
A taxa de falsos negativos — quando o exame diz que a pessoa não está com Covid-19, mas, na verdade, ela tem a doença — é um pouco mais alta nos testes de antígeno.
Para diminuir esse grau de incerteza, muitos locais e instituições recomendam repetir o teste de antígeno por vários dias consecutivos (às vezes, durante uma semana inteira).
Assim, é possível garantir a detecção do coronavírus em algum estágio do processo infeccioso, caso ele realmente esteja no organismo daquele indivíduo.
Vantagens
Entre as suas vantagens, é possível destacar o preço mais baixo (varia entre 100 e 200 reais em laboratórios privados), e a rapidez no resultado — como o próprio nome popular desse método já adianta, é possível saber se o teste é positivo ou negativo em 15 a 30 minutos.
“Os testes de antígeno conseguem entregar o resultado num prazo mais curto, sem a necessidade de centralização das amostras e dos laudos. Eles podem ser bastante úteis numa situação de alta demanda”, analisa a infectologista Carolina Santos Lázari, do Grupo Fleury.
“Esses exames dão um suporte importante para o diagnóstico precoce e rápido, capaz de interromper as cadeias de transmissão do vírus na comunidade”, complementa a médica.
Esse exame também é feito a partir do swab nasal e oral, que coleta o material no fundo da boca e do nariz.
Diferentemente do RT-PCR, que avalia a presença do material genético, o antígeno busca a proteína N na amostra.
Lázari explica que esse “N” vem de nucleocapsídeo, uma das estruturas que compõem o coronavírus.
Aqui, mais uma vez, há uma janela ideal para fazer o teste: para uma acurácia maior no resultado, ele precisa ser realizado após três dias do início dos sintomas.
“Esse tempo de espera é desejável porque o paciente pode apresentar uma carga viral mais baixa nos primeiros dias, o que reduz a sensibilidade do teste de antígeno e pode levar a um resultado falso negativo”, explica o infectologista Alberto Chebabo, da Dasa, rede de laboratórios, hospitais e outros serviços privados de saúde.
Quando fazer esses testes?
Basicamente, existem duas situações que pedem a realização de um exame para diagnosticar ou descartar a Covid-19.
A primeira delas é quando você está com um ou mais dos sintomas típicos da doença.
A segunda é quando você teve contato próximo com alguém que está com suspeita ou já recebeu o diagnóstico de Covid.
O que fazer antes e depois do exame?
Se você apresenta os sintomas típicos de Covid-19, o ideal é ficar em isolamento, mesmo antes de ter feito o teste, ou caso não consiga realizar o exame por falta de disponibilidade.
Ao evitar o contato com outras pessoas, você diminui o risco de passar o vírus adiante e criar novas cadeias de transmissão entre seus contatos próximos.
Após o exame, as recomendações sobre o que fazer vão depender muito do resultado.
Mas lembre-se que é preciso sempre ponderar esse resultado, especialmente se você tiver feito o teste de antígeno, em que o risco de um falso negativo é mais alto.
Esse cuidado deve ser ainda maior se os sintomas sugestivos de infecções respiratórias continuarem. Além do risco de falso negativo, existe ainda a probabilidade de você estar com gripe, outra doença que está em alta em algumas regiões do Brasil e também pode ser bem grave.
Em alguns casos, pode ser necessário repetir o exame alguns dias depois, seguindo, então, a orientação de um profissional de saúde.
Saúde
Agora, se o resultado for positivo mesmo (o que significa que você está com Covid), é preciso lançar mão de outras medidas que protegem sua própria saúde e a de todo mundo ao redor:
Além do isolamento, é importante avisar os contatos próximos, monitorar os sintomas, repousar, caprichar na hidratação e buscar um hospital se os incômodos piorarem.
E os autotestes?
Em muitos países da Europa e da América do Norte, é possível encontrar testes de antígeno que podem ser feitos em casa, pela própria pessoa que está com suspeita de Covid-19.
Esses kits estão amplamente disponíveis em farmácias e supermercados por um preço muito acessível (em torno de 5 a 30 reais na Alemanha, por exemplo) e são até distribuídos gratuitamente para a população.
“A avaliação dos cenários, contexto epidemiológico, fatores culturais e mesmo a capacidade de assistência devem ser considerados na implementação de medidas que visem a melhoria de resultados”, diz a agência em nota.
“Portanto, a ampliação de acesso, inclusive ao público leigo, deve ser estudada com critério quanto aos riscos, benefícios e possíveis efeitos”, conclui a agência, que ressalta que a responsabilidade por criar políticas públicas de testagem é do Ministério da Saúde.
Disponibilidade de insumos preocupa
Embora o apagão de dados não permita saber o cenário atual da pandemia no Brasil, os relatos que chegam dos laboratórios que oferecem os testes não são nada animadores.
“Depois do ataque hacker que afetou o Ministério da Saúde no final de 2021, muitos dos sistemas de notificação de novos casos foram desligados e estamos com a transmissão de informações interrompidas desde 10 de dezembro”, informa Shcolnik, da Abramed.
Demanda
O especialista também se mostra preocupado com a disponibilidade dos insumos necessários para a realização dos testes — de acordo com depoimentos publicados em redes sociais, muitos laboratórios e farmácias estão com demanda altíssima de clientes à procura dos testes.
E, alguns desses estabelecimentos não possuem mais vagas para agendar a coleta e a análise das amostras.
“Eu acredito que os maiores grupos brasileiros desse setor ainda possuem um estoque que talvez seja suficiente para os próximos dois meses. Para depois desse prazo, a escassez já é algo que pode virar um problema”, vislumbra Shcolnik.
Fonte: G1
Foto: Shutterstock