Sem atividade de fabricação no Brasil, fruto de uma revisão estratégica global de negócios, e para se dedicar em desenvolvimento e na venda de grandes marcas de medicamentos, a Bayer Pharma, divisão farmacêutica do grupo alemão Bayer, vem adotando o modelo de parcerias com outras companhias do setor para gestão e distribuição de algumas linhas de produtos. Essa estratégica não se limita ao Brasil.
A companhia acaba de firmar com a também alemã Megalabs um acordo para comercialização de um grupo de produtos das áreas de contracepção (ginecologia) e cardiologia, com vendas que devem somar mais de R$ 500 milhões neste ano, conforme cálculos da IQVIA, que fornece serviços de consultoria, pesquisa clínica e análises de dados na área de saúde.
A parceria envolve medicamentos que já perderam patentes e requerem forte relação comercial com o varejo. São nove marcas: Allurene, Angeliq, Aspirina Prevent, Diane 35, Mesigyna, Xarelto, Yasmin, Yaz e Yaz Flex. São usadas em tratamentos nas áreas de saúde feminina e cardiologia (caso de Aspirina Prevent e Xarelto). Anticoagulante, com patente perdida anos atrás, o Xarelto figura entre os medicamentos de maior venda no País dentro de sua categoria.
A decisão por esse modelo de negócio foi acertada para empresa, afirma Adib Jacob, presidente da Bayer Pharma no Brasil e líder regional na América Latina. O executivo informa que parceria igual com a Megalabs foi feita com êxito na Argentina e Chile (ampliada para Uruguai e Bolívia). E no Brasil, em 2024, fez um acordo similar com a Biolab na área de contraceptivos, no caso o Qlaira, com vendas estimadas em R$ 270 milhões na época.
“O acordo ilustra o momento da empresa no Brasil e mundo. Ao fazer isso poderemos concentrar esforços e foco em medicamentos de alto custo, que faz parte da nossa especialidade”, afirma o executivo. Jacob destaca cinco lançamentos feitos nos últimos três anos e novos produtos que a companhia vai trazer ao mercado futuramente.
Bayer foca em grandes marcas
A Bayer Pharma segue responsável, por exemplo, pela promoção e venda do Firialta, indicado para o tratamento de doença renal do diabetes. Também fica com a empresa a gestão e comercialização dos contraceptivos de longa duração Mirena e Kyleena (dispositivos intrauterinos hormonais). “São exemplos de marcas nas áreas cardiorrenal e saúde feminina que seguiremos investindo forte no Brasil e continuam prioridade para a Bayer”, afirma Jacob.
Segundo ele, a Megalabs traz musculatura comercial e grande presença no varejo de remédios. “Esse acordo é voltado a um portfólio mais maduro”, diz. E destaca: “Vamos focar nas grandes marcas, como o Firialta, terceiro maior produto da Bayer, que vai passar de R$ 200 milhões em vendas neste ano e na área de oftalmologia, no Eylia, com vendas na mesma ordem de valor.”
Na revisão estratégica da Bayer anos atrás, manter unidades fabris no Brasil não mostrou fazer sentido, embora o País seja considerado um dos grandes mercados de medicamentos no mundo. Há três anos e meio, a empresa vendeu para a União Química sua fábrica de hormônios que tinha na zona sul da cidade de São Paulo. “Alguns medicamentos eles continuam a fabricar para nós sob marca da Bayer Pharma”, informa.
A produção de medicamentos da divisão farmacêutica é concentrada na Alemanha, com vários complexos fabris. Nas Américas, está na Califórnia, EUA (biológicos), no México, Costa Rica (uma fábrica dedicada a contraceptivos de longa duração) e Argentina (na área de consumo, caso da aspirina). “Tem de haver algum sentido, por exemplo, tecnológico, entre outros para justificar uma unidade fabril”, diz o executivo.
Mercado cresce dois dígitos no País
Jacob, no comando da Bayer Pharma há seis anos no Brasil e há cinco também responsável por América Latina, diz que a farmacêutica registrou crescimento de dois dígitos nas vendas no País no ano passado. A empresa não abre seus números por países – no mundo, alcançou receita de € 18,13 bilhões em 2024. Desse valor, conforme números do balanço global, a América Latina reportou € 1,044 bilhão (mais de R$ 6 bilhões).
O foco dessa divisão – de medicamentos de alto custo, vendidos somente sob prescrição médica – é especialmente a saúde das mulheres e cardiologia, além das áreas terapêuticas de oncologia, hematologia e oftalmologia. Inclui ainda a unidade de radiologia, que comercializa equipamentos de imagem e diagnóstico, junto com os agentes de contraste.
Globalmente, com unidades industriais concentradas na Alemanha e em alguns outros países, o grupo Bayer registrou receita de € 46,6 bilhões em 2024. A predominância, 48% do valor (€ 22,26 bilhões) é da Crop Science, divisão voltada à formulação de defensivos agrícolas em geral e outros produtos químicos da agricultura e pecuária. O foco é o agronegócio.
A divisão Consumer Health, de medicamentos isentos de prescrição (MIPs), também conhecidos por OTCs, fechou o ano com vendas de € 5,8 bilhões. No Brasil, a linha de produtos dessa divisão vai dos analgésicos (um exemplo é a aspirina normal), antialérgicos, dermocosméticos, gripes e resfriados, nutrição, entre outras marcas.
O Brasil, com as três unidades de negócios, é o segundo maior país em receita do grupo, puxado pela divisão voltada ao agronegócio. Só perde para os Estados Unidos, onde as três divisões são fortes e há um peso enorme da Crop Science. “Na divisão farmacêutica, a Bayer Pharma Brasil está entre as dez maiores unidades de negócios do grupo”, comenta Jacob.
Conforme dados de balanço de 2023 do grupo Bayer no País, a receita consolidada dos três negócios foi de R$ 7,2 bilhões. A predominância, embora não revelado o valor, é da divisão Crop Science, puxada pela força do agronegócio brasileiro. A companhia atua há 128 anos no Brasil e atualmente o foco é preponderante em Saúde e Crop Science.
Acordo dobra receita da Megalabs
Para a Megalabs, que estreou no mercado brasileiro em 2016 com aquisição de uma farmacêutica local, o acordo com a Bayer Pharma leva a empresa a um grande salto em receita no País: quase dobra. A farmacêutica sai de pouco mais de R$ 400 milhões para além de R$ 900 milhões com a linha de nove produtos da Bayer que passa a fazer gestão e comercialização.
A estratégia da companhia, totalmente controlada por uma família alemã e presente em 20 países, é crescer com aquisições (empresas e/ou produtos), lançamentos e parcerias para distribuição, afirma Marcelo Forti San Andrea, Gerente Geral da companhia no Brasil. As principais áreas de medicamentos da Megalabs são dermatologia, gastroenterologia, ortopedia, linha respiratória e pediatria.
O acordo com a Bayer Pharma amplia um relacionamento já iniciado em outros países da América do Sul, fortalecendo a presença da empresa em ginecologia, cardiologia e medicina clínica. Forti informa que a farmacêutica vai reforçar seu time de marketing e de vendas, hoje de 500 pessoas, com a contratação de mais 100 pessoas para atingir 35 mil médicos em todo o País.
Segundo o executivo, a parceria com a Bayer Pharma antecipa planos que a empresa tinha de avançar sua atuação no Brasil nas áreas de ginecologia e cardiologia. “O mercado brasileiro cresce ao ritmo de dois dígitos (em torno de 10% em valor) e essas duas áreas são estratégicas”, afirma.
Atualmente, dermatologia é a linha de maior relevância no portfólio de 28 marcas (110 apresentações) da empresa, formado por medicamentos de venda livre. No Brasil, a Megalabs opera uma fábrica em Porto Alegre e outra no Rio de Janeiro, fruto de aquisições de empresas, como o laboratório Dout, e de linhas de produtos.
Fonte: Estadão
Foto: Shutterstock
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