O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no mundo, sendo caracterizado pelo crescimento anormal de células na mama. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima, para 2024, 74 mil novos casos de câncer de mama. Este é o câncer mais incidente em mulheres, depois do câncer de pele não melanoma.
“No mundo, em 2020, foram estimados cerca de 2,2 milhões de casos. Somente nos Estados Unidos, em 2024, foram estimados 310.720 mil casos da doença. Vemos, no Brasil e no mundo, um aumento do número de casos de maneira geral e também na população mais jovem – provavelmente pelas mudanças do estilo de vida moderno”, comenta a mastologista e ginecologista, membro da comissão de educação continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional São Paulo (SBM/SP) e do Departamento de Comunicação da SBM, Dra. Thamyse Dassie, com exclusividade para o Guia da Farmácia.
A importância do diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce é essencial no tratamento do câncer de mama, pois quando detectado nos estágios iniciais, as chances de cura podem ultrapassar 90%.
“Quanto mais avançado o câncer, mais difícil se torna o tratamento e maiores as complicações. A mamografia anual para mulheres a partir dos 40 anos, ou mais cedo em grupos de risco, é uma das principais ferramentas de rastreamento”, diz o cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Dr. Fernando Amato.
O autoexame
Um estudo de 2008 com quase 400.000 mulheres na Rússia e na China relatou que o autoexame da mama não tinha um impacto significativo nas taxas de mortalidade do câncer de mama e que poderia até causar danos ao solicitar biópsias desnecessárias.
“Devido à incerteza levantada por este e outros estudos, a Sociedade Americana de Câncer não recomenda mais o autoexame como ferramenta de triagem de câncer de mama”, alerta a Dra. Thamyse. Segundo ela, existem dados que nos mostram que é mais comum as mulheres identificarem alterações nas mamas no dia-a-dia (banho ou troca de roupa) do que no autoexame mensal.
“Além disso, muitas mulheres acreditavam que o autoexame normal dispensava a necessidade de realizar mamografia. E isso não é verdade”. Ela acrescenta que o autoexame tem um papel fundamental no autoconhecimento e conscientização da mama. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o autoexame como uma forma de empoderar as mulheres. A cada olhar e toque das mamas, a mulher se familiarizará mais com seu corpo”, afirma.
Ainda para a Dra Thamyse, não existe nenhuma técnica específica se autoexaminar. O importante é conhecer o corpo, valorizar as mudanças que notar e procurar ajuda do ginecologista ou mastologista quando isso acontecer. “E mesmo que a mulher não note nenhuma alteração nas suas mamas, é importante que passe por avaliação médica anual, que seja examinada pelo médico, e que faça os exames periódicos”, recomenda.
Os impactos da doença na vida da mulher
Os tratamentos, como cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia, podem causar efeitos físicos significativos, como cansaço, fraqueza, náuseas, perda de cabelo e alterações hormonais. Esses efeitos impactam diretamente a autoestima e o bem-estar da paciente. “Além disso, o tratamento pode desencadear outros problemas de saúde, como linfedema (inchaço causado pela retirada de linfonodos), perda de massa óssea e até depressão e ansiedade, devido às alterações físicas e emocionais”, pontua o Dr. Amato.
A Dra. Thamyse também destaca que os impactos do tratamento são inúmeros e são influenciados pelo estadiamento do diagnóstico. “Quando o câncer de mama é diagnostico precocemente, os tratamentos realizados costumam ser menos agressivos: cirurgias menores, menor necessidade de quimioterapia. Mesmo nessas situações não podemos menosprezar os efeitos colaterais do tratamento e muito menos subestimar o sofrimento das mulheres”, alerta.
Segundo ela, alguns efeitos colaterais relacionados aos tratamentos são:
- fadiga (cansaço) principalmente durante quimioterapia e radioterapia;
- perda de memória durante a quimioterapia;
- menopausa induzida ou piora dos sintomas da menopausa, como calorões e ressecamento vaginal, pelo efeito da quimioterapia e hormonioterepia;
- dor crônica na área operada da mama;
- limitação de movimentos do braço do lado operado;
- impactos sociais etc.
“O impacto na autoestima costuma ser frequente por inúmeros fatores: a cirurgia da mama, com cicatrizes e mudanças diretas no corpo, perda de cabelo, cílios e sobrancelhas durante a quimioterapia, ganho de peso relacionado ao tratamento, ou seja, são mudanças importantes na autoimagem. Isso com certeza pode impactar outros problemas de saúde: a frequência de depressão e ansiedade em mulheres que tiveram câncer de mama se dá pelo menos duas vezes maior do que na população geral, e esses números podem ser ainda maiores nas mulheres jovens”, comenta.
Tratamento multifatorial
O tratamento do câncer de mama é multifatorial e envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo oncologista clínico, cirurgiões oncológicos e mastologistas, cirurgião plástico, radioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, enfermeiros e fisioterapeutas.
“O objetivo é não apenas combater o tumor, mas também garantir a qualidade de vida da paciente, tratando os efeitos colaterais, cuidando do aspecto emocional e promovendo a reabilitação física”, destaca o Dr. Amato.
Segundo ele, a prática regular de atividade física é recomendada durante e após o tratamento, pois ajuda a reduzir os sintomas, como o cansaço, enjoo, depressão e ansiedade, além de melhorar a função cardiovascular, fortalecer a musculatura e auxiliar no controle do peso. “A alimentação também desempenha um papel crucial, fornecendo os nutrientes necessários para o corpo se recuperar e manter a saúde”, comenta.
Grupos de risco para a doença
Mulheres acima de 40 anos, com histórico familiar de câncer de mama ou ovário, ou com mutações genéticas nos genes BRCA1 e BRCA2, estão em maior risco. De acordo com o Dr. Amato, outros fatores incluem menstruação precoce, menopausa tardia, ausência de gravidez ou gravidez tardia, uso prolongado de hormônios, obesidade e consumo excessivo de álcool.
A Dra. Thamyse diz que as pacientes com mutações hereditárias de alto risco para predisposição ao câncer seriam o grupo de maior risco, porém, é importante ressaltar que representam a minoria dos casos. “Apenas 10% a 15% dos casos de câncer de mama são considerados hereditários. Os demais são ditos como esporádicos – relacionados a fatores externos, como os já citados acima”, afirma.
Apoio emocional e psicológico
O apoio emocional e psicológico é fundamental para ajudar as pacientes a enfrentarem o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama. “O impacto psicológico do diagnóstico, combinado com os desafios do tratamento e mudanças físicas, pode gerar ansiedade, depressão e baixa autoestima”, comente ao Dr. Amato, acrescentando que o acompanhamento psicológico adequado melhora a qualidade de vida e ajuda na adesão ao tratamento.
Esse suporte é fundamental desde o diagnóstico, durante o tratamento e após o mesmo, já que este é o momento no qual algumas mulheres se sentem abandonadas. “Esse apoio pode ser realizado tanto por profissionais específicos da área de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, quando indicado, mas também por toda equipe de profissionais de saúde que acompanham a paciente na sua jornada e também por familiares e amigos”, destaca a Dra. Thamyse.
Homens também podem ter câncer de mama
Embora seja raro, homens também podem desenvolver câncer de mama, representando cerca de 1% dos casos. “O câncer de mama em homens costuma ser diagnosticado em estágios mais avançados, pois muitas vezes não percebem os sintomas precocemente. Assim como nas mulheres, o diagnóstico precoce é crucial para aumentar as chances de cura”, explica o Dr. Amato.
A Dra. Thamyse conta que a mulher tem um risco 100 vezes maior que o homem no desenvolvimento da doença. “Mas sabendo que homens também podem ter câncer de mama, é importante reforçar alterações das mamas masculinas também devem ser valorizadas e investigadas. Por ser uma doença extremamente rara, não indicação de realização de mamografia de rotina (rastreamento) no homem”, completa.
Reconstrução mamária – quando é indicada?
A reconstrução mamária pode ser indicada para mulheres que passaram por uma mastectomia (remoção total da mama) ou quadrantectomia (remoção parcial) devido ao câncer de mama ou outras condições. A reconstrução pode ser realizada imediatamente após a cirurgia de remoção ou em um segundo tempo, dependendo da condição clínica da paciente e das preferências pessoais.
O Dr. Amato explica que nem sempre a reconstrução é possível de imediato. Pode ser necessária a reconstrução por etapas, especialmente em casos de ressecção de tecidos, ou na necessidade de radioterapia, pois o tecido irradiado pode comprometer a cicatrização e os resultados estéticos. “Além disso, condições de saúde, como diabetes, tabagismo e obesidade, podem contraindicar algumas técnicas de reconstrução. Além disso, questões pessoais podem influenciar no momento e técnica escolhida para a reconstrução”, diz.
Ele esclarece que após a reconstrução mamária, é fundamental seguir rigorosamente as orientações médicas, que incluem:
- evitar esforços físicos por algumas semanas
- cuidar da cicatrização
- usar sutiãs adequados para suporte
- e realizar fisioterapia quando indicado.
“Consultas de acompanhamento são essenciais para monitorar a recuperação e identificar qualquer complicação precocemente. Pode ser necessário um acompanhamento multidisciplinar com enfermagem”, finaliza.
Conclusão
O mais comum entre as mulheres, o câncer de mama deve chegar a 74 mil novos casos apenas em 2024. Nos EUA a estimativa é de 310.720 mil casos da doença neste ano.
O diagnóstico precoce é essencial no tratamento do câncer de mama, pois quando detectado nos estágios iniciais, as chances de cura podem ultrapassar 90%. Exames regulares com a mamografia se somam ao autoexame e podem ajudar a salvar vidas. O câncer de mama causa inúmeros impactos na vida da mulher e seu tratamento é multifatorial, incluindo apoio psicológico e familiar.
Fotos: Shutterstock
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