
No último ano as farmácias se tornaram alvo de bandidos em busca de medicamentos de alto valor como as canetas injetáveis. Os números crescem de forma alarmante.
Uma reportagem do R7 aponta que, entre janeiro e agosto deste ano já foram registrados mais de 600 casos de roubos a farmácias e drogarias no Estado de São Paulo, sendo 258 na capital.
Onda de crimes
Segundo dados da Sekrom Digital, a onda de crimes cresceu 200% nos primeiros três meses de 2025 em comparação ao ano passado com foco especial em medicamentos termolábeis de alto valor como as canetas emagracedoras que se popularizaram no país.
Entre elas: Ozempic, Mounjaro, Saxenda e Wegovy. “Nos últimos meses, observamos um crescimento nos casos de furtos e roubos direcionados a medicamentos de alto valor, como os termolábeis, com preços que variam entre R$ 700 e R$ 1.900, que são produtos sensíveis e essenciais para muitos tratamentos de saúde”, diz o CEO da Sekron Digital, Rafael Bernardini. “Eles têm valor agregado elevado e, infelizmente, acabam se tornando alvo de quadrilhas organizadas”, completa.
Perdas por furtos também crescem
No varejo farma, as perdas, em 2024, chegaram 1,25% segundo a 8ª Pesquisa de Perdas no Varejo Brasileiro, elaborada pela Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe) em parceria com a KPMG, um percentual maior do que o registrado em 2023, que bateu em 0,90%. O setor, impulsionado por furtos de medicamentos de alto valor como Ozempic e similares, teve aumento de 38,93% nas perdas totais e 29,02% nos furtos.
Como se proteger?
A prevenção de furtos começa com uma análise crítica do layout da loja, da movimentação dos clientes e da rotina operacional. “Produtos de alto valor devem ser posicionados de forma estratégica: próximos aos caixas, sob vigilância ou com algum nível de controle no acesso — como vitrines fechadas, mock-ups ou exposição limitada por cliente”, explica o CEO da Aozawa Consultoria, Anderson Ozawa.
É preciso também adotar práticas claras de controle, como:
- Reposição de estoque com acompanhamento;
- Inventário cíclico para itens críticos;
- Registros diários de quebras e perdas visíveis;
- Acompanhamento da performance de vendas x movimentação de estoque.
Essas práticas devem estar integradas ao fluxo da loja e contar com a participação ativa da equipe. “Não basta ter o processo — é necessário garantir sua aplicação diária, com auditoria, correção de desvios e atualização contínua. Isso significa ter uma cultura de prevenção de perdas forte na empresa, com reforços constantes”, afirma Ozawa.
Como a tecnologia contribui com a prevenção de perdas e furtos?
A tecnologia é um dos grandes aliados na prevenção de perdas, desde que aplicada de forma inteligente e conectada à realidade da loja. De acordo com Ozawa, as principais soluções disponíveis são:
CFTV com inteligência analítica
- Câmeras que analisam comportamento, detectam padrões suspeitos e emitem alertas em tempo real.
- Devem ser instaladas em áreas de risco, caixas, corredores e sobre os produtos mais sensíveis.
Etiquetas eletrônicas (EAS)
- Adesivas ou rígidas, disparam alarme ao tentar sair da loja sem passar pela desativação no caixa.
- Indicadas para dermocosméticos, suplementos e fragrâncias.
Espelhos convexos
- Baratos e eficazes, ajudam a eliminar pontos cegos e ampliar a percepção de vigilância.
Controle de acesso eletrônico
- Garante que apenas pessoas autorizadas entrem em áreas críticas como estoques, salas de apoio e área de medicamentos controlados.
RFID e inventário digital
- Aplicável a redes com maior volume, permite controle de movimentações em tempo real.
“O mais importante é que a tecnologia esteja acompanhada de treinamento, manutenção e análise de resultados. Sistemas desconectados da operação não produzem o efeito esperado”, enfatiza.
Fator humano não pode ser desconsiderado
O colaborador é o principal agente de prevenção de perdas da farmácia. Quando bem treinado, ele enxerga além da função operacional e passa a atuar como guardião da loja, identificando sinais, orientando clientes e evitando perdas com atitudes simples e eficazes.
Treinar é mais do que repassar procedimentos: é formar cultura preventiva. Isso inclui:
- Sensibilização sobre o impacto das perdas no negócio;
- Capacitação para identificar e relatar comportamentos suspeitos;
- Abordagem correta e segura de situações críticas;
- Conhecimento dos procedimentos de segurança e conferência de estoque;
- Participação nos inventários e nas rotinas de prevenção.
“A equipe bem treinada atua de forma discreta, educada e eficiente. Torna-se parte da solução e não apenas executora de tarefas”, complementa Ozawa.
Impactos no negócio
As perdas por furtos afetam diretamente o caixa, a margem e a reputação da farmácia. Quando um produto é furtado, a empresa não perde apenas o item, perde a venda, o giro de estoque, a confiança do cliente e o equilíbrio financeiro.
Além disso, perdas constantes geram:
- Redução da rentabilidade e necessidade de compensar com aumentos de preço;
- Ruptura de itens estratégicos, afetando a imagem com o consumidor;
- Desconforto da equipe e clima organizacional de desconfiança;
- Dificuldade de manter um controle de estoque confiável;
- Maior pressão sobre a operação, logística e relacionamento com fornecedores.
“Em um mercado cada vez mais competitivo, permitir que as perdas avancem é comprometer o futuro do negócio. A prevenção, por outro lado, aumenta a eficiência, melhora a lucratividade e protege o ativo mais importante da empresa: sua reputação”, finaliza Ozawa.
Foto: Shutterstock
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