Coronavírus e crianças: saiba o que dizem os estudos mais recentes

Veja dados detalhados sobre crianças e transmissão, disseminação em escolas, síndrome associada à Covid e outros pontos

 Em setembro de 2020 as pesquisas já apontavam que as crianças podem contrair o coronavírus e também desenvolver formas graves, mas que esses casos eram raros.

No entanto, estudos recentes confirmam esses indícios e acrescentam novos dados: crianças transmitem a doença menos do que adultos, escolas não são foco da transmissão e, quando têm surtos, é mais comum que o primeiro caso seja em um professor.

Veja as principais conclusões tiradas de 20 artigos de pesquisadores e universidades renomadas.

1) Crianças também podem transmitir a Covid-19, mas menos do que os adultos

De acordo com o Centro de Controle de Doenças Europeu (ECDC), nenhuma evidência foi encontrada” sugerindo que crianças ou cenários educacionais sejam os motivadores principais da transmissão do vírus Sars-CoV-2.

Pesquisas feitas ao longo da pandemia vêm sugerindo que as crianças, apesar de se infectarem e serem capazes de transmitir a Covid-19 para outras crianças e adultos, transmitem menos a doença.

Ainda no início da pandemia, uma pesquisa ainda não revisada, feita por cientistas chineses e australianos, analisou outros estudos e concluiu que, de 31 focos de casos dentro de casas na Coreia do Sul, Japão e Irã, 3 tiveram o primeiro caso em uma criança.

Eles concluíram, então, que as crianças não tinham um papel substancial na transmissão do Sars-CoV-2 dentro de casa.

Casos pediátricos

Uma pesquisa publicada no “British Medical Journal”, em agosto do ano passado, acompanhou todos os primeiros casos pediátricos de Covid-19 na Coreia do Sul, registrados entre 20 de janeiro e 6 de abril de 2020.

Ao todo, foram identificados 107 casos em pessoas com 18 anos ou menos. O estudo acompanhou 248 pessoas que moravam na mesma casa do caso inicial.

Os pesquisadores conseguiram identificar uma situação em que o caso pediátrico inicial – de um adolescente de 16 anos – infectou um adulto.

O adolescente ficou isolado no próprio quarto, em casa, mas dividiu a mesa ao fazer refeições com o adulto que acabou infectado. O tempo de exposição foi de 2 dias no período pré-sintomático e de 1 dia no período sintomático do caso inicial.

Anticorpos IgG em crianças

Um estudo publicado em janeiro, também na revista “Jama Pediatrics”, mediu as infecções e a presença de anticorpos IgG em crianças e adultos no sudoeste da Alemanha.

Entre abril e maio de 2020, os pesquisadores testaram 2.482 crianças com idades entre 1 e 10 anos e o pai ou a mãe de cada criança, num total de 2.482 adultos.

A pesquisa foi feita em um período de lockdown, o que significa que as crianças não estavam indo à escola ou a creches.

Os principais achados foram:

  • Houve 14 pares de participantes em que ambos tiveram anticorpos detectados; outros 34 pais que tiveram os anticorpos tinham um filho que não tinha os anticorpos. Oito crianças tiveram os anticorpos detectados sem que o responsável também tivesse.
  • Entre 56 famílias que tinham pelo menos uma criança ou pai/mãe com anticorpos detectados para o vírus, a combinação pai/mãe com anticorpos + criança sem anticorpos foi quatro vezes maior do que a combinação pai/mãe sem anticorpos + criança com anticorpos.

 

Coronavírus tem contrastes com outras infecções

Para os cientistas, “a menor soroprevalência do Sars-CoV-2 em crianças pequenas em comparação com seu pai correspondente é uma observação importante, porque indica que é muito improvável que as crianças tenham aumentado o surto de Covid no sudoeste da Alemanha durante o período de investigação.

Isso contrasta com outras infecções do trato respiratório, como gripe ou pneumococos, nas quais as crianças podem ter papel de destaque na disseminação da doença”, avaliam.

O infectologista pediátrico e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Marcelo Otsuka, alerta que as crianças podem transmitir o coronavírus, mas não são parte grande da cadeia de transmissão.

A avaliação de Otsuka é compartilhada pela pediatra da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Débora Miranda.

Hoje a gente sabe que a criança não é tão transmissível, não é tão grave. É um transmissor muito menor do que nós, adultos, que estamos saindo. Elas têm menos receptor que promove a incorporação do vírus, diferenças de imunidade que fazem com que sejam menos transmissoras“, diz.

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