Covid-19: posso viajar, ir à casa de amigos ou encontrar familiares?

Dra. Nipunie Rajapakse, especialista em doenças infecciosas, nos ajuda na tarefa de entender o que está em jogo no relaxamento da quarentena

O relaxamento da quarentena no Brasil trouxe a reabertura de restaurantes, shoppings, salões de beleza, entre tantos outros estabelecimentos. Para a Dra. Nipunie Rajapakse, especialista em doenças infecciosas e consultora da Mayo Clinic, o perigo está na falsa sensação de segurança que esse cenário proporciona. “Isso pode levar ao relaxamento de medidas de proteção e ao consequente aumento do número de casos”, diz. E nesse cenário, vendo “todo mundo na rua”, muitos passaram a viajar, ir à casa de amigos ou encontrar familiares. Mas isso aumenta o risco de transmissão da Covid-19?

“O ideal é permanecer sem contatos externos já que os casos e óbitos por coronavírus continuam bastante altos no Brasil”, pontua a especialista. “Eu sei que as pessoas estão tentando tomar decisões difíceis sobre em que tipo de atividade devem participar. Eu acho que como regra geral há quatro dimensões a serem ponderadas à respeito de participar ou não de alguma atividade: tempo, espaço, pessoas e lugar”, explica a Dra. Rajapakse.

O tempo, no caso, determina o período de exposição, ou seja, quanto mais curta forem as atividades de casa, menor é o risco de contato com o vírus. Considerar o espaço ao redor também é essencial, e se você tem ou não controle sobre ele. “Um parque público com uma abundância de espaço tem o potencial de diminuir o risco. Nós temos recomendado uma distância de 6 pés (2 metros) com base na transmissão por gotículas da Covid-19, então se a localização da reunião de família permitir que os convidados mantenham distância para limitar a exposição de todos, isso diminuiria o risco.”

Covid-19: posso abraçar, beijar?

Depois de cinco meses dentro de casa, muitos longe de familiares, é difícil manter a frieza e evitar cumprimentos, beijos e abraços. Porém, a Dra. Nipunie Rajapakse pede alerta: isso pode aumentar (e muito!) o risco de transmissão da doença. Além disso, outra coisa que deve ser considerada ao promover qualquer almoço de família é a área em que isso vai ocorrer. “Qualquer espaço com aglomeração é prejudicial. Uma multidão de 50 pessoas, especialmente se vieram de diferentes cidades, pode trazer riscos altíssimos.”

E mesmo assim, as medidas de proteção continuam sendo lei, como usar a máscara. É preciso, portanto, ficar atenta aos demais familiares, se eles estão cumprindo a quarentena e todas as diretrizes de proteção e higienização. “Nós sabemos que a transmissão tem chance muito menor de acontecer em locais externos, mas ainda assim é preciso cautela.”  Caso a sua família ou grupo de amigos tenha uma variedade de faixa etária, o cuidado é redobrado. Mas caso não haja, lembre-se sempre que os presentes convivem com outras pessoas em outros espaços. As precauções são especialmente importantes para proteger adultos mais velhos ou pessoas com condições de saúde subjacentes, os quais podem ter um risco maior de desenvolver doença grave caso sejam infectados.

E se eu quiser viajar?

Depois de tantos meses em confinamento, muitas famílias e amigos resolveram alugar casas fora das capitais para aproveitar a vida mais perto da natureza. Mas a especialista reforça que, caso queira sair da cidade, é imprescindível que as viagens sejam feitas apenas com amigos ou familiares com os quais já se está passando a quarentena junto. “Deslocamentos de pessoas de diferentes grupos sociais, de fato, aumentam o risco de contaminação e de exposição de terceiros; – mesmo que todos estejam cumprindo o isolamento de maneira o mais correta possível. Se encontrar constantemente com alguém que está fora do seu convívio, em casa, é perigoso e não podemos minimizar os riscos”, explica.

E não se esquecer também que uma ação sozinha pode afetar um grupo de pessoas, afinal, estamos enfrentando essa situação como sociedade, e não individualmente. “Qualquer encontro que reúna pessoas de diferentes moradias, trará algum risco de transmitir o vírus. Alternativas mais seguras, como uma reunião virtual, devem ser cuidadosamente consideradas, especialmente se houver familiares com alto risco”, diz ela. “Caso escolham prosseguir com uma reunião presencial, precauções adicionais como fazer com que todos os presentes usem uma máscara, facilitar o acesso a produtos de higiene das mãos, bem como desinfetar frequentemente superfícies tocadas com frequência e manter o distanciamento físico sempre que possível podem ajudar a reduzir os riscos”, aconselha a Dra. Rajapkse.

Preciso lavar a roupa ao voltar da rua?

“O principal modo de transmissão do vírus é por gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra, canta ou fala. Não há relatos publicados na literatura médica de pessoas infectadas exclusivamente por causa de suas roupas; mas sim pelo contato das mesmas com essas partículas respiratórias. Portanto, todos precisam concentrar seus esforços nas práticas mais eficazes na prevenção da transmissão do vírus: ficar em casa se estiverem doentes, distanciar-se fisicamente, usar máscaras em locais públicos e limpar as mãos com frequência.

Estas são as medidas mais eficazes para a prevenção de infecções. Se as mãos possivelmente contaminadas forem limpas, e só depois disso entrarem em contato com as roupas, não há riscos ligados de infecção ligado exclusivamente às vestimentas. Ao sair para um lugar público, se o distanciamento for respeitado, as chances dessas gotículas atingirem as roupas também são muito menores. É recomendável que se lave bem as mãos assim que voltar para casa, mas tirar as roupas, lavá-las e tomar banho imediatamente não é obrigatório para o público em geral, apenas para aqueles que têm contato direto com pessoas contaminadas ou que não conseguiram respeitar as medidas de prevenção e distanciamento – por qual seja o motivo – quando estiveram fora de casa.”

Covid-19: e a volta às aulas, fica como?

“Famílias e distritos escolares em todo o mundo estão tomando decisões difíceis sobre como levar as crianças de volta à escola da forma mais segura possível. Seja presencial, à distância (online) ou em um modelo híbrido de educação, existem coisas que as crianças e os pais podem fazer para reduzir o risco de infecção. Isso porque se o seu filho voltar à escola pessoalmente, é importante começar a falar com ele com antecedência sobre como as coisas serão diferentes na escola este ano”.

“As crianças devem ser ensinadas sobre o distanciamento físico (tentando manter os 2 metros de distância) entre elas e as pessoas de fora de casa, sempre que possível. Máscaras de pano são recomendadas para qualquer pessoa com mais de 2 anos de idade nas áreas públicas, especialmente quando o distanciamento físico é difícil”, explica a especialista. Ela ainda aponta que, por razões de segurança, as máscaras não devem ser colocadas em crianças menores de 2 anos de idade ou em qualquer pessoa que não seja capaz de remover a cobertura do rosto sozinha e com segurança, se necessário, já que isso pode ter um efeito contrário e aumentar a possibilidade de contato com o vírus.

Cuidados necessários

“Algumas escolas podem exigir a entrada apenas se o aluno ou professor estiver usando máscaras faciais este ano. É importante que os pais descubram o que será exigido na escola de seus filhos”, diz. Vale deixar sempre uma máscara limpa de backup, dentro da mochila, no armário ou mesa. “Certifique-se de rotular claramente a máscara de seu filho com seu nome e ensine as crianças a nunca compartilhar ou trocar máscaras com outras pessoas. É preciso entender que ainda é muito importante praticar o distanciamento físico, mesmo se você estiver usando uma máscara. Nenhuma medida preventiva isolada oferece 100% de proteção contra infecções. Portanto, o uso de todas essas medidas em conjunto oferece a você e seu filho a melhor proteção contra infecções”, esclarece a Dra. Nipunie Rajapakse.

Foto: Shutterstock

Fonte: Revista Glamour

 

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