A farmacêutica japonesa Daiichi Sankyo vai investir R$ 420 milhões para expandir a sua fábrica no Brasil. Com o lançamento de novos produtos e aumento da demanda, a indústria pretende ampliar a sua distribuição para América Latina. Hoje, a unidade brasileira atende 12 países, representando entre 2,5% e 3% das vendas globais, mas existe a perspectiva de crescimento da exportação. A meta é dobrar a receita, chegando a R$ 1,8 bilhões nos próximos cinco anos.
O Brasil é um dos três maiores mercados da companhia, que globalmente faturou cerca de US$ 63 bilhões no ano fiscal de 2023. A farmacêutica vem investindo em estudos no país, trazendo evidências sobre o uso de seus tratamentos na população brasileira, garantindo eficácia e embasamento científico para aprovações regulatórias.
Atualmente, as vendas para o Sistema Único de Saúde (SUS) representam cerca de 10% e ocorrem de maneira descentralizada, diretamente às secretarias estaduais e municipais. Vendo a possibilidade de tornar essa fatia mais representativa, a empresa planeja propor ao Ministério da Saúde a avaliação de um medicamento para o tratamento de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e vê potencial de aprovação, por apresentar um custo menor que outros tratamentos para a doença.
“Sabemos o quão complexo é. O Brasil tem um sistema universal que é referência no mundo e nos enche de orgulho. Por outro lado, isso também significa um ajuste monetário bastante restritivo, em especial para as novas tecnologias. Historicamente, a maior parte das incorporações são de produtos que perderam patentes e possuem competição entre empresas”, afirma Marcelo Gonçalves, presidente da Daiichi Sankyo Brasil.
Estudos locais
Um dos caminhos que a farmacêutica tem adotado para viabilizar a melhor avaliação e incorporação de medicamentos no país é a produção de estudos locais, avaliando os benefícios para a população brasileira e agregando dados que possam colaborar com a demonstração de eficácia e segurança em diferentes públicos.
No escopo de aumento da demanda e expansão do parque fabril, a indústria japonesa vê potencial em lançamentos de medicamentos inovadores. No entanto, segue atuando no mercado de cuidados primários, tendo o segmento cardiovascular um dos seus principais pilares.
“Temos duas alianças estabelecidas globalmente com a AstraZeneca e com a MSD. Já lançamos o nosso primeiro tratamento oncológico através de uma dessas alianças e lançaremos quatro outros produtos oncológicos nos próximos anos. Além disso, pretendemos lançar um medicamento próprio para o tratamento de leucemia, com previsão de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos próximos anos”, explica Gonçalves.
Ampliação da fábrica e negócios
“Produzimos cerca de 25 milhões de unidades de medicamentos por ano no Brasil. Vamos aumentar de forma significativa. Estamos investindo pela falta de capacidade que estamos prevendo para o futuro próximo. Adquirimos um terreno ao lado do nosso parque fabril e estamos iniciando as obras agora. Com certeza vamos produzir mais do que o dobro da produção atual”, conta Gilberto Hayashi, diretor industrial e responsável pela planta da fábrica em desenvolvimento.
Além das áreas de oncologia e cardiovascular, a empresa tem produzido tratamentos para doenças raras e do sistema nervoso central. Através de parcerias com empresas japonesas que não atuam no Brasil, tem licenciado e comercializado produtos inovadores, mantendo seus investimentos em medicamentos que já perderam a patente.
O diretor da empresa no Brasil explica: “Muitas empresas multinacionais acabaram focando no que chamam de linhas especializadas e desinvestindo em cuidados primários, onde as empresas locais avançaram de forma significativa. Mantemos como pilar estratégico o investimento na linha de cuidados primários, não abrimos mão disso”.
A meta da empresa é ampliar as vendas no país para impactar a receita global da Daiichi Sankyo. É inclusive uma das visões que a sede tem, já que os investimentos para a ampliação da fábrica podem servir para que a unidade do Brasil forneça produtos para outros países onde ainda não atua.
Com crescimento anual superior a 30%, em relação às vendas no ano anterior, a marca quer fortalecer sua posição. Por isso, voltar a dialogar com o Ministério da Saúde para conseguir a incorporação de um medicamento ao SUS está no escopo da farmacêutica, buscando ampliar o acesso e o impacto da saúde pública na receita.
“Já tivemos tentativas de incorporação centralizadas que foram negadas, como para um produto de antiagregante plaquetário para pacientes como diabetes, por exemplo. Temos planos de médio e longo prazo para que, com o decorrer dos anos possamos ter êxito nessas incorporações, mas é muito complexo”, comenta Gonçalves.
Um dos principais produtos carro-chefes da Daiichi Sankyo é o Enhertu (trastuzumab deruxtecan), um antineoplásico para tipos específicos de câncer, desenvolvido em parceria com a AstraZeneca. Apesar desse e outros medicamentos da companhia não estarem incluídos no SUS ou no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o diretor da empresa no Brasil explica que existe um processo de negociação com hospitais e operadoras.
“Existem instituições onde nós temos maior facilidade de tratar os dados de fármaco-economia e êxito na incorporação, independente de estar no rol ou não, mas existem outras onde ainda há uma dificuldade orçamentária. O que a gente tenta na maioria dos casos é sentar na mesma mesa para conversar entre iguais: fonte pagadora, prestadora de serviço para o paciente e indústria farmacêutica”.
Fonte: Futuro da Saúde
Foto: Daiichi Sankyo
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