Para celebrar o Dia do Farmacêutico, comemorado no dia 20 de janeiro no Brasil, o portal Guia da Farmácia convidou a presidente do Conselho Regional do Paraná (CRF-PR), Dra. Mirian Ramos Fiorentin, para comentar os desafios do setor.
A Dra. Mirian comenta que, nos últimos tempos, diante da Covid-19, as farmácias tiveram que readequar as instalações, os processos e fluxos para propiciar os ajustes necessários à ampliação da capacidade de suprimento de medicamentos e produtos para a saúde.
Dessa forma, aumentou-se a responsabilidade do profissional farmacêutico no descarte correto e destinação final desses produtos. “A atualização e a capacitação é a chave para nos mantermos firmes nesse novo tempo”, considera a executiva.
Neste Dia do Farmacêutico, acompanhe, a seguir, as lutas do CRF-PR para 2021, bem como a visão do conselho sobre os novos rumos da profissão.
GUIA DA FARMÁCIA – No Dia do Farmacêutico de 2020, como o CRF-PR avalia os desafios impostos pela carreira do farmacêutico diante da Covid-19? Como mudou a rotina desses profissionais?
MIRIAN RAMOS FIORENTIN – Muitos foram os desafios a serem enfrentados pelo setor farmacêutico, seja no serviço público ou no atendimento privado, principalmente nos hospitais e farmácias.
Primeiramente, fomos surpreendidos com a grande demanda por Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e medicamentos de suporte que levaram a falta desses materiais. Dessa forma, colocou-se em risco a atividade não só do farmacêutico, como também de todos os profissionais da saúde.
Assim, as farmácias tiveram de readequar as instalações, os processos e fluxos para propiciar os ajustes necessários à ampliação da capacidade de suprimento de medicamentos e produtos para a saúde, além de potencializar a atuação nas atividades direcionadas à resposta ao vírus, bem como minimizar a possibilidade de contaminação.
Com o aumento do uso de EPIs e materiais utilizados para os serviços e procedimentos farmacêuticos implantados, aumentou a responsabilidade do profissional farmacêutico no descarte correto e destinação final desses produtos, bem como na orientação correta à população.
GUIA – Vocês acreditam que a população passa a ter um novo olhar para esses profissionais e para as farmácias, como um estabelecimento de saúde?
MIRIAN – Com toda certeza. Com as unidades de pronto atendimento abarrotadas de pacientes potencialmente infectados, as farmácias assumiram papel fundamental neste momento ao se reafirmarem como estabelecimentos de saúde de fácil acesso à população. Desse modo, sendo parte efetiva da resposta e do controle contra o Coronavírus.
O farmacêutico é o profissional mais próximo da comunidade. Nesse sentido, ele está diuturnamente presente na farmácia oferecendo um atendimento diferenciado e igualitário. Igualmente, garante informações seguras e confiáveis, e contribui para minimizar os riscos de transmissão do vírus.
De uma maneira geral, a comunidade sempre soube da presença do profissional farmacêutico na farmácia e faz, sim, uso de suas competências. Entretanto, para uma pequena parcela da comunidade, ele era visto como mais um elemento dentro do cenário da farmácia.
A pandemia mudou essa realidade e o farmacêutico ganhou destaque quando, sem medo, se fez presente na linha de frente ao combate do novo Coronavírus.
GUIA – A pandemia também acelerou a transformação digital, seja entre empresas e consumidores. Como essas mudanças têm impactado e ainda devem impactar a rotina dos profissionais da farmácia?
MIRIAN – A farmácia que já oferecia plataforma de venda on-line para retirada no balcão incrementou ainda mais esse serviço, disponibilizando mais colaboradores. E vemos que isso irá se perpetuar.
Desse modo, a transformação digital e a mudança cultural abrem um mundo de oportunidades para criar e experimentar. Isso sempre observando o que determina a legislação sanitária quando falamos de comércio de medicamentos.
GUIA – No Dia do Farmacêutico, como o CRF-PR avalia a importância da atualização, capacitação e treinamentos constantes desses profissionais?
MIRIAN – O CRF-PR possui um departamento voltado para informação e esclarecimento do profissional farmacêutico: o Centro de Informação de sobre Medicamentos (CIM).
Durante a pandemia, a população foi bombardeada, pela mídia e redes sociais, com informações de fontes duvidosas e que trouxeram muita preocupação.
Assim, nós fizemos um trabalho intenso no esclarecimento da população, disponibilizando diariamente material seguro aos farmacêuticos e à comunidade.
Isso tudo para auxiliar no enfrentamento dessa e de outras doenças, porque embora se fale muito sobre o novo Coronavírus, as demais doenças continuam a acontecer.
Contribuindo para a capacitação dos farmacêuticos, o CRF-PR, em parceria com o CRF-SP, disponibiliza, gratuitamente, aos profissionais farmacêuticos, acesso a Academia Virtual.
A plataforma de cursos conta com os mais variados temas. Por lá, é possível acessar trabalhos, assistir palestras com os mais conceituados profissionais de saúde, bem como realizar treinamentos e muito mais. Isso porque a atualização e a capacitação é a chave para nos mantermos firmes nesse novo tempo.
GUIA – Qual a importância que os farmacêuticos ganharam no incentivo da continuidade de tratamento ou mesmo no autocuidado dos consumidores?
MIRIAN – Os farmacêuticos tiveram papel fundamental por serem profissionais de saúde de fácil acesso à população.
Eles puderam levar informações atualizadas sobre como proceder frente ao novo Coronavírus; como se prevenir e proteger seus familiares e colegas; e a importância das boas práticas de convivência em grupo quando se fez necessário.
Sabemos que muitos médicos, hospitais e clínicas descontinuaram, por medida de segurança, o atendimento dos pacientes de rotina e que fazem uso contínuo de medicamentos.
Nesse momento, tem destaque o farmacêutico que, com todas as medidas de segurança, manteve-se a postos, prestando serviços farmacêuticos de acompanhamento aos sinais e sintomas do paciente, bem como tranquilizando e deixando-o mais confiante.
GUIA – Na sua visão qual o perfil que os profissionais que atuam hoje no varejo farmacêutico precisam ter?
MIRIAN – O grande desafio serão as mudanças na forma de trabalhar a gestão de pessoas. Isso porque, com o aumento da concorrência e o poder de decisão nas mãos do consumidor, o atendimento personalizado e a assistência farmacêutica são fundamentais para atrair e fidelizar o paciente.
Dessa maneira, é preciso rever as estratégias organizacionais e adequá-las ao novo processo cultural frente a transformação digital. A pandemia acelerou em anos as mudanças.
Para acompanhar toda essa transformação, é preciso investir em cultura, inovação e tomada de riscos, sem medo de falhar. Assim, empoderando as pessoas com informações, formação e conhecimentos estratégicos -técnicos e tecnológicos – para alcançar as metas escolhendo o caminho da evolução constante.
GUIA – Quais foram as principais conquistas do CRF-PR em 2020?
MIRIAN – Sem dúvida alguma, em 2020 o farmacêutico foi um dos profissionais que mais se destacou desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) oficializou a batalha contra a Covid-19 como uma pandemia.
Nós assumimos um papel fundamental na orientação à população sobre prevenção e sintomas. Igualmente, defendemos o combate contra as fake news que envolvem a doença e no diagnóstico e notificação de possíveis casos sintomáticos.
Em meio a um cenário de calamidade instalado no sistema de saúde, o farmacêutico surge como protagonista. No âmbito da prestação de serviço à sociedade, sua atuação no uso racional de medicamentos é fundamental, principalmente, durante esse período de escassez de muitos fármacos e itens nas farmácias.
Os farmacêuticos foram os responsáveis por adotar práticas de dispensação seguras desses produtos, assim, otimizando a farmacoterapia; a fim de garantir a segurança, a saúde, bem como a qualidade de vida e a efetividade no tratamento dos pacientes.
E para que essa conquista fosse consolidada, o CRF-PR deu todo suporte e trabalhou ativamente para que o farmacêutico pudesse se preparar para o enfrentamento da pandemia.
GUIA – Quais devem ser as maiores lutas e desafios do CRF-PR para 2021?
MIRIAN – O CRF-PR trabalha ativamente em benefício da sociedade e na defesa e valorização da profissão farmacêutica. A classe farmacêutica também é conhecida por sempre enfrentar grandes desafios, muitos já transpostos. Porém, ainda há um longo caminho de ameaças a se percorrer.
A Lei 13.021/14, regulamentou a farmácia como efetivo estabelecimento prestador de serviços em saúde e alicerçou o caminho para uma série de outras conquistas, como a prescrição farmacêutica, o consultório farmacêutico, as vacinas, entre outras. Mas ainda esperamos a consolidação desse cenário.
Atuamos no acompanhamento sistemático de projetos de leis de interesse da área farmacêutica em tramitação na Câmara dos Deputados, Senado Federal, Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais, além de manter constante contato com autoridades que podem auxiliar nas ações em que são necessárias a preservação e ampliação dos direitos dos farmacêuticos, bem como na defesa da saúde.
GUIA – Qual a sua visão sobre as Consultas Públicas abertas recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), especialmente em relação à atualização da RDC 44/09?
MIRIAN – Recentemente, a Anvisa publicou as consultas públicas 911 e 912 que, se aprovadas, representam grave perigo à saúde.
Esse movimento pode vir a banalizar os atendimentos por ir contra preceitos já sedimentados ao longo dos anos. Isso principalmente referente ao ambiente onde são realizados os exames, bem como na qualidade dos resultados laboratoriais. Já a CP 911 propõe alterações na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 44/2009.
A norma é uma das mais importantes no âmbito da farmácia comunitária. Isso porque que trata das boas práticas, da estrutura física e das condições de funcionamento desses estabelecimentos.
Os desafios são muitos e surgem a todo momento e estamos sempre atentos às mudanças propostas. Porém, somente com uma classe unida, podemos passar por todas as adversidades impostas.
Fonte: Guia da Farmácia
Foto: CRF-PR
O papel do farmacêutico na saúde da população