Dia do Farmacêutico: CRF/RJ mostra os novos desafios da profissão

Confira a entrevista exclusiva com a presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro, Dra. Tania Mouço

No dia 20 de janeiro, comemora-se o Dia do Farmacêutico e para enaltecer esse profissional tão importante para o setor da saúde, o portal Guia da Farmácia preparou entrevistas exclusivas com conselhos de farmácia e o Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF/RJ) foi contemplado.

Na reportagem, a profissão farmacêutica foi abordada sobre os mais diferentes ângulos, perspectivas e realidades, bem como os aprendizados da Covid-19 e as expectativas para o ano.

Confira a entrevista exclusiva que a presidente do CRF/RJ, Dra. Tania Mouço, nos concedeu para o Dia do Farmacêutico.

GUIA DA FARMÁCIA – No Dia do Farmacêutico deste ano, como o CRF/RJ analisa as mudanças na profissão impostas pela Covid-19? 

TANIA MOUÇO – O grande desafio, a meu ver, foi a necessidade dos profissionais de se dividirem entre o trabalho nos diversos ambientes – inclusive hospitalares, marcados por altos índices de Covid-19 – e pelo medo de levar o vírus até os familiares, muitas vezes idosos ou filhos.

A rotina de trabalho, assim como a rotina pessoal, mudou drasticamente, e os farmacêuticos tiveram de se reinventar; seja com novas estratégias no atendimento, na manutenção do distanciamento social, ou na implantação das medidas de proteção individual e coletivas.

Além, é claro, dos novos serviços farmacêuticos, aplicados com o desafio de orientar e acolher os pacientes, prestando assistência farmacêutica aos portadores de doenças crônicas, justamente os de maior risco no caso de  desenvolvimento da doença.

GUIA – A população passou a ter um novo olhar para esses profissionais e para as farmácias, como um estabelecimento de saúde?

TANIA – Sim! Com certeza. Os farmacêuticos passaram a ser profissionais de saúde essenciais no atendimento à população.

No início da pandemia, quando havia pouca informação sobre o vírus e suas possíveis formas de contágio, com o fechamento dos consultórios médicos e os serviços de saúde em colapso, as farmácias passaram a ser pontos de avaliação de sinais e sintomas.

Afinal, quando a imprensa e os profissionais da saúde solicitaram que os serviços de atendimento à saúde fossem procurados em último caso, as orientações farmacêuticas foram primordiais. Fomos relembrados e vistos enquanto profissionais da saúde.

GUIA – A pandemia também acelerou a transformação digital, seja entre empresas e consumidores. Como essas mudanças têm impactado e ainda devem impactar a rotina dos profissionais da farmácia?

TANIA – Sempre ouvimos falar que crises geram oportunidade. E, em relação aos estabelecimentos farmacêuticos, a crise gerou um grande avanço e o e-commerce, antes tão distante, virou uma realidade. Seja nas grandes redes de farmácias, ou no pequeno comércio que vivenciou um aumento das vendas sem, necessariamente, atendimento presencial.

Contudo, aproveito a oportunidade para lembrar que mesmo que o e-commerce seja uma alternativa excelente, deve funcionar de acordo com as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

GUIA – De que forma a telemedicina e a prescrição digital se tornaram uma realidade para as farmácias? Quais os benefícios e riscos dessas mudanças?

TANIA – O assunto ainda é polêmico mas, o avanço da Covid-19, aliado à necessidade do distanciamento social e às medidas restritivas impostas pelos Decretos em todas as esferas, criaram o ambiente necessário para isso.

Os benefícios relacionam-se à maior segurança e menor disseminação do vírus entre as pessoas. Os riscos ficam por conta das dificuldades na obtenção dessas prescrições; bem como a falta de entendimento da população sobre a necessidade de seguir orientações na emissão das prescrições.

GUIA – Com a atualização da RDC 44/09, quais novas responsabilidades se podem esperar dos profissionais farmacêuticos? Neste Dia do Farmacêutico, o CRF/RJ acredita que os profissionais da área estarão preparados para elas?

TANIA – Com a atualização da RDC 44/2009, através da CP 911/2020 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), espera-se que surjam oportunidades para o Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica e ações clínicas-assistenciais diretas aos usuários, através do cuidado farmacêutico.

Será a oportunidade de cumprimento da Lei nº 13.021/2014 em sua plenitude. Além disso, abrirá oportunidades para a implantação de novos serviços farmacêuticos, visando acompanhamento da farmacoterapia.

Os egressos dos cursos de farmácia já estão sendo formados com os conhecimentos básicos necessários para exercer a profissão farmacêutica atendendo às mudanças que ocorreram com as diretrizes (tanto as de 2002, quanto as de 2017) que ampliaram  a formação dos cursos de tecnicista para os cuidados farmacêuticos, mas que também mantiveram os níveis de formação laboratorial, clínico e de tecnologias.

Para os farmacêuticos formados anteriormente às novas Diretrizes Curriculares, tanto os Conselhos, quanto as universidades e cursos livres, ofertam uma gama de cursos de atualização.

Trabalhamos sempre para assegurar que os farmacêuticos tenham oportunidades de forma cada vez mais democrática.

GUIA – Diante dessa nova realidade, qual a importância da atualização, capacitação e treinamentos constantes desses profissionais?

TANIA – As atualizações e capacitações são de primordial importância. A geração do conhecimento é imensa e diariamente surgem novas tecnologias, bem como novas revisões de diretrizes, mudanças de paradigmas, etc.

O próprio usuário/paciente possui uma atualização diária proporcionada pelas mídias e é impossível não acompanhar as tendências.

GUIA – Qual a importância que os farmacêuticos ganharam no incentivo continuidade de um tratamento ou mesmo no autocuidado dos consumidores?

TANIA – Realmente, a nova realidade fez com que muitas pessoas procurassem as farmácias. Assim, vimos que os farmacêuticos ganharam novas responsabilidades na orientação para o autocuidado dos pacientes e para a verificação da farmacoterapia.

Desse modo, eles foram os responsáveis por revisar as necessidades não atendidas no período e avaliar os riscos envolvidos. Nesse sentido, a educação em saúde passa a ter um papel fundamental.

Guia – Mais do que conhecimento técnico, hoje, se cobra que os farmacêuticos que atuem em farmácias também tenham perfil de liderança e conhecimentos de gestão. Na sua visão, qual o perfil que os profissionais que atuam hoje no varejo farmacêutico precisam ter?

TANIA – Em 25 de abril de 2013, o CFF nos apresentou a Resolução 572 que fala justamente sobre as 10 linhas de atuação do Farmacêutico. Para estar no varejo, vejo como primordial que o farmacêutico se sinta preparado para atender as necessidades farmacoterapêuticas dos usuários dos medicamentos.

Também é desejável que possam, se assim o desejar, atuar nas atividades de Gestão. A gestão para mim está em todas as áreas, conforme descrito no inciso VII do Artigo 3, da referida norma.

Portanto, ser líder é ser respeitado por uma equipe, receber salário digno para realizar as atribuições e cumprir com as determinações legais éticas e sanitárias.

GUIA – Quais foram as principais conquistas do CRF/RJ em 2020?

TANIA – O ano de 2020 trouxe muitos desafios para a gestão do CRF/RJ, já que tivemos de atender às demandas dos usuários internos (funcionários) e os externos (empresas e farmacêuticos).

As conquistas vieram com o isolamento parcial imposto pela pandemia e a necessidade de tornar os procedimentos internos mais digitais com o CRF/RJ Online. E, além dos diversos canais de atendimento online abertos, ampliamos a plataforma e preservando os contatos telefônicos através do SIGA-ME (que atendeu inclusive a população), dirimindo dúvidas e ouvindo desabafos.

Com a criação do programa JUNTOS, para atendimento psicológico gratuito aos farmacêuticos que se sentiram fragilizados durante a pandemia, pudemos acolher e mostrar empatia a diversos profissionais.

Projetamos a profissão nas mídias sociais e, sobretudo, de massa garantindo nossa presença enquanto profissão e retomamos projetos importantes como a Revista Riopharma. Lançamos, ainda, diversos manuais voltados a orientações aos farmacêuticos e para a população.

Além disso, incentivamos os farmacêuticos atuantes na linha de frente contra a Covid-19 e, em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ). Igualmente, lançamos o Manual de Prescrição Online, unindo as plataformas para prescrição e dispensação dos medicamentos, conforme as normas da Anvisa.

Mantivemos a fiscalização orientativa e atendemos as denúncias dos Farmacêuticos e dos Ministérios Público e do Trabalho, assim, realizando sindicâncias para coibir os desvios à ética e às legislações sanitárias.

Nossa parceria com a Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) foi construída e, com isso, pretendemos nos unir ao Sindicato dos Farmacêuticos do Rio de Janeiro (Sinfaerj) em busca da valorização do profissional em seus ambientes de trabalho.

GUIA – Neste Dia do Farmacêutico, conte-nos quais devem ser as maiores lutas e desafios do CRF/RJ para 2021?

TANIA – Não sabemos como será o ano de 2021 em relação à pandemia, mas já estamos preparando nossas capacitações nos modelos online.

Nosso “novo normal” passará por um CRF/RJ mais informatizado, com mais facilidades para nossos usuários. Faremos cumprir as legislações éticas e sanitárias, mantendo nossas fiscalizações e nossas parcerias com as entidades.

Manteremos a publicidade das nossas ações, divulgando-as no Portal da Transparência, cumprindo com as normas do serviço público, bem como zelando pela transparência e pela legalidade das ações.

Fonte: Guia da Farmácia

Foto: CRF-RJ

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