A dor mista, caracterizada pela combinação de dois ou mais mecanismos de dor (nociceptiva, inflamatória ou neuropática) em uma mesma área do corpo, afeta a qualidade de vida de diversos brasileiros.¹
Em 2017, para avaliar a sua incidência, um estudo demonstrou que a dor mista acometia a maioria dos pacientes (59,3%,) avaliados no serviço de emergência de alguns hospitais na Espanha.
Os casos caracterizados como dor mista eram seguidos pelos casos dor nociceptiva (31,8%) e, por último, por casos de dor neuropática (8,9%).²
Considerando as causas de dor na coluna espinhal, a lombalgia (dor lombar) e a cervicalgia (dor no pescoço) são as que mais comumente acometem os pacientes, sendo a lombalgia responsável por cerca de 80% dos pacientes, enquanto a cervicalgia já acomete quase 1/3 da população.²
As causas podem envolver diversas doenças que possuem as características de dor nociceptiva e neuropática na mesma área do corpo, lombociatalgia, ciatalgia, câncer, osteoartrite, fibromialgia, bem como a esclerose múltipla, entre outros.¹
Entenda o que é a dor mista, os sintomas, as causas e muito mais.
O que é a dor mista?
De acordo com o mestre e doutor pela Santa Casa de São Paulo, Médico Assistente do Grupo de Cirurgia da Mão da Santa Casa de São Paulo e membro do comitê de dor da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Prof. Dr. Yussef Ali Abdouni (CRM-SP: 90.889), “dor mista é a combinação de dois ou mais mecanismos de dor (nociceptiva, neuropática ou nociplástica) em uma mesma área do corpo”. Entenda cada uma delas:
Dor nociceptiva
“Resulta da estimulação dos receptores da dor quando ocorrem lesões no tecido e ativação de receptores de dor (nociceptores), que estão localizados na pele ou nos órgãos internos”, conforme explica a anestesista especialista em dor da rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dra. Anny Sugisawa (CRM-SP 166525).
Dor neuropática
Qual a classificação de dor mista?
A dor pode ser classificada em aguda ou crônica, quando esta persiste por mais de três a seis meses. E a dor mista pode ser um exemplo claro de dor crônica, caso não seja bem tratada em sua fase aguda. Daí a importância do reconhecimento dos diferentes componentes da dor no momento do diagnóstico com consequente tratamento dos mesmos para evitar a cronificação.¹
A Dra. Any complementa que “a definição de dor mista também é a sobreposição da dor neuropática, que é uma a dor que requer uma lesão demonstrável, ou uma doença que satisfaça os critérios de diagnóstico neurológico estabelecidos; e da dor nociceptiva, que surge de dano real ou potencial ao tecido não neural e é devido à ativação de receptores específicos no organismo”.
Quais as causas da dor mista?
“Muitas condições que levam à dor e que eram consideradas apenas como dor nociceptiva, hoje, são reconhecidamente condições de dor mista”, explicou o Dr. Abdouni.
Um estudo publicado em 2017 na Espanha, com mais de 5 mil pacientes, demonstrou que 59% apresentavam dor mista¹, sendo as principais causas a lombalgia, bem como a cervicalgia e a osteoartrite.²
“Mesmo condições dolorosas consideradas esperadas ou “normais” podem possuir um componente neuropático associado à dor nociceptiva, assim como acontece na dor pós-operatória em cerca de 8%”, complementou o médico.
Quais os sintomas da dor mista?
“A dor mista apresenta concomitância de sintomas como dor em queimação, formigamento ou dor em pontada, característicos da associação de componentes nocireceptivo e dor neuropático”, explicou o Dr. Abdouni.
Contudo, os sintomas irão variar de acordo com diagnóstico principal. Isso porque a dor nociceptiva costuma ser aguda, intensa ou leve, e latejante. Já a dor neuropática apresenta-se como sensação de queimação, choque, fisgada, formigamento e dormência.¹
Como o diclofenaco associado com vitaminas B1, B6 e B12 podem auxiliar na dor mista?
“O diclofenaco é um antiinflamatório consagrado entre médicos e pacientes, sendo reconhecido como eficaz no tratamento de dores nociceptivas e inflamatórias. As vitaminas do complexo B são estudadas há mais de 30 anos por suas propriedades anti-inflamatórias e antineuríticas, assim, sendo consideradas adjuvantes no tratamento da dor. Mais recentemente observou-se que a vitamina B1 modula os canais de sódio voltagem dependentes da membrana neuronal e as vitaminas B6 e B12 possuem efeitos serotoninérgicos e GABAérgicos. Assim, além das suas propriedades antinociceptivas, atuando em sinergia com o anti-inflamatório não esteroide (AINE), essas vitaminas também agem no componente neuropático da dor”, explicou o Dr. Abdouni.
De acordo com a Dra. Anny, o diclofenaco auxilia na dor mista através das suas propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e antirreumáticas.
“O diclofenaco ajuda a diminuir a síntese de substâncias chamadas prostaglandinas, que possuem papel fundamental no mecanismo da dor e inflamação. Além disso, as vitaminas ajudam no metabolismo do sistema nervoso, diversos estudos demonstram atividade regeneradora de nervos. Quando associa-se o diclofenaco com certos tipos de vitaminas o efeito observado é de sinergismo, ou seja, um efeito contribui com o outro”, explica.
A dor mista tem cura?
Há uma crença de que dores neuropáticas ou crônicas são incuráveis e esse conceito é equivocado.¹ “É claro que, quando já há sensibilização central, o tratamento é mais longo. Mas o maior desafio ainda é fazer o diagnóstico correto e o mais precoce possível para instituir o tratamento adequado”, pontuou o Dr. Abdouni.
Como evitar o aparecimento da dor mista?
“Em geral, não é possível prevenir o aparecimento da dor mista, porém, é possível evitar sua cronificação. O médico que lida com dor no dia a dia, tendo em mente o dado apresentado, de que 59% das dores são mistas, deve estar atento aos sinais e sintomas que vão evidenciar que ele não está diante de uma dor puramente nociceptiva”, afirma o Dr. Abdouni.
“É importante a consulta com médicos especialistas em dor o mais precoce possível, a fim de realizar o diagnóstico e início do tratamento específico rapidamente com o objetivo de evitar a cronificação dessa dor”, ressalta a Dra. Anny.
“Além disso, vale ressaltar que a cura dependerá da doença de base que está causando esse problema”, acrescenta a especialista.
Conclusão
A dor mista é a combinação de dois ou mais mecanismos de dor (nociceptiva, inflamatória ou neuropática) em uma mesma área do corpo.¹
Seu surgimento pode ocorrer devido a diversos fatores diferentes e é possível evitar sua cronificação.¹
Como vimos, o diclofenaco associado com vitaminas pode aliviar as dores mistas e ser um aliado no tratamento.4,5
Contudo, somente um médico pode realizar o diagnóstico da dor mista, bem como orientar sobre o melhor tratamento.
Referências:
- Freynhagen R, Arévalo Parada H, Calderón-Ospina CA, et al. Current understanding of the mixed pain concept: a brief narrative review. Curr Med Res Opin. 2019;35(6):1011-1018.
- Ibor PJ, Sánchez-Magro I, Villoria J, et al. Mixed Pain Can Be Discerned in the Primary Care and Orthopedics Settings in Spain: A Large Cross-Sectional Study. Clin J Pain. 2017;33(12):1100-1108.
- Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Dor Crônica; Portaria SAS/MS nº 1083, de 02 de outubro de 2012; Retificada em 27 de novembro de 2015. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/04/Dor-Cr–nica—PCDT-Formatado–1.pdf. Acesso em 04/11/2020.
- Calderon-Ospina CA, Nava-Messa MO, Arbeláez Ariza CE. Effect of Combined Diclofenac and B Vitamins (Thiamine, Pyridoxine, and Cyanocobalamin) for Low Back Pain Management: Systematic Review and Meta-analysis. Pain Med. 2020;21(4):766-781.
- Calderón-Ospina CA, Nava-Mesa M. B Vitamins in the Nervous System: Current Knowledge of the Biochemical Modes of Action and Synergies of Thiamine, Pyridoxine, and Cobalamin. CNS Neurosci Ther. 2020;26(1):5-13.
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Fonte: Guia da Farmácia
Fotos: Shutterstock