Alvo das farmacêuticas

Além do benefício para a saúde pública, os Medicamentos Isentos de Prescrição também provaram ser rentáveis para os negócios da indústria do setor, que aposta, incessantemente, em novidades e inovação para o usuário

Uma das principais oportunidades de crescimento no setor de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) está na busca pela inovação. E ela não vem apenas por meio de lançamentos de novas marcas e fórmulas. O novo vem por meio de diferentes nichos de mercado, extensões de linhas e novos claims de produtos (comunicação dos produtos). Há, ainda, investimentos em forças de vendas e comunicação, a fim de trazer mais informações sobre a marca e seus produtos; e aumentar a presença do laboratório pelo País.

A Natulab, por exemplo, reconhecida pelo vasto portfólio de fitoterápicos, injetou R$ 5 milhões em nova configuração e posicionamento de sua equipe comercial, como parte de um projeto de expansão.

“Uma nova equipe comercial foi contratada no início de 2017 para trabalhar mais fortemente junto às grandes redes de farmácias. A equipe é composta por 31 profissionais, sendo que 21 foram contratados este ano. O objetivo da força de vendas é expandir a presença da Natulab nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, comenta a diretora de marketing da Natulab, Ivana Marques, salientando que, hoje, os MIPs representam 94% do portfólio da empresa, em faturamento. 

Com tais investimentos, a empresa espera, em 2017, crescer acima da média de mercado. “O mercado de MIPs prevê uma alta unitária por volta de 4% e a Natulab projeta crescer o dobro do mercado em unidades”, conta Ivana. 

E na busca constante de atualizar seu portfólio, oferecendo para o mercado os medicamentos adequados para os principais males e doenças de menor gravidade, a Natulab deve apresentar novidades. “Estão previstos lançamentos dentro das áreas de analgésicos e antitérmicos, vitaminas, desconforto abdominal, flatulência e gases e alívio dos sintomas do climatério (menopausa), entre outros”, enumera a gerente de marcas da companhia, Sylvia Granziera.

Outra oportunidade dentro do mercado de MIPs que a indústria tem aproveitado para expandir no setor, está na publicação da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 98/16 e na Instrução Normativa (IN) 11, de 29 de setembro de 2016, que visa tornar medicamentos tarjados, por efeito da legislação, em livres de receita.

O Teuto é um exemplo. “As principais apostas nessa classe de medicamentos estão nos produtos da companhia que hoje são de venda sob prescrição médica e, com a publicação da RDC 98/16, se tornarão isentos de prescrição”, reforça o farmacêutico do setor de lançamentos da empresa, Thiago Lobo Matos. 

Entre os principais lançamentos da empresa em MIPs estão: Prometazina Creme (anti-histamínico), Pneumucil Xarope Adulto (expectorante) e Ibupril Suspensão Oral 100 mg/mL (anti-inflamatório, antirreumático e analgésico).

Para 2017 e 2018, o Teuto deve apresentar novos produtos. “Temos a previsão de lançamento de MIPs em diversas classes terapêuticas, como antissépticos tópicos, laxantes, expectorantes, etc., dentro da nossa estratégia de lançar, em média, 50 produtos por ano”, constata Matos.

Os investimentos em mídia também têm sido maciços para crescer nesse mercado. Nos últimos quatro anos, a unidade de negócios Over The Counter (OTC) da EMS, por exemplo, expandiu o faturamento em 30% e espera quintuplicar sua demanda anual nos próximos cinco anos.

“Neste ano, somente a unidade OTC investirá uma média de R$ 70 milhões em novas campanhas”, revela o diretor adjunto de marketing da unidade OTC da EMS, Everton Schemes.

A empresa também aposta em grandes lançamentos. “Apresentamos o Suplevit Mulher, suplemento vitamínico feminino, que tem expectativa de crescer mais de 70% apenas neste ano em demanda; e o Suplevit Kids, suplemento para crianças que faz parte da mesma família”, mostra o diretor comercial da unidade de Marcas da EMS, Luiz Fernando Dias, acrescentando que os MIPs representam 16% do faturamento da empresa e que, no último ano, cresceram 10% no mercado.

Outras grandes apostas da empresa são o Lacday, alimento funcional para pessoas com dificuldade de digerir a lactose que já deve saltar de uma demanda atual de R$ 8 milhões para R$ 40 milhões nos próximos três anos; o Cicatenol Derma, gel hidratante e umectante desenvolvido para a pele com cicatrizes, lançado em 2016; e o Naridrin Jet, recém-lançado, e que consiste uma extensão da tradicional família Naridrin, um fluidificante e descongestionante.


Avanço indiscutível


Na Takeda, por exemplo, esse segmento já representa 48% do faturamento da companhia. A diretora de marketing CHC na Takeda Brasil, Bruna Fausto, pontua que o último lançamento da farmacêutica foi para a Eparema®. “A marca desenvolveu uma nova embalagem que contém quatro flaconetes de 10 mL para completar a família do fitoterápico que atua e traz alívio nos sintomas da má digestão. A novidade oferece praticidade e maior alternativa de escolha para o consumidor na hora da compra”, descreve.

A linha MIP também é estratégica no Grupo Cimed. “Essa é a número 1 entre as seis unidades de negócios da empresa e representa 33% do faturamento”, comenta o gerente de marketing, Marcelo Pontello.

No último ano, a Cimed registrou o crescimento de 23% em faturamento no mercado de MIPs. “As principais forças para esse resultado são: lançamentos de novos produtos e novas apresentações, ações de trade, além da negociações com a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma)”, diz.

No ano passado, a empresa registrou 26 lançamentos e, em 2017, já apresentou oito novidades ao mercado. Entre elas, o Bepantriz® Derma Shampoo Regenerador (atua na regeneração dos fios), Bepantriz® Derma Creme para as Mãos (hidratante) e Ambroxmel Spray Sabor Gengibre e Freno Spray Sabor Gengibre (indicados para o alívio da dor de garganta).

A projeção de crescimento da Cimed com esse mercado é de 25% entre 2017 e 2018. Para tanto, a empresa aposta em lançamentos em categorias ainda não presentes, como no mercado da Lactulose (laxante) que acontecerá neste mês, e melhor exposição dos produtos nos pontos de venda (PDVs), com materiais de divulgação.

Entre 2017 e 2018, também há previsão de lançamentos nas especialidades otorrinolaringologia, gastroenterologia, dermatologia e ortopedia.

Já a Pfizer Consumer Healthcare (PCH) – divisão de consumo da Pfizer – representa 15% do total de faturamento da Pfizer Brasil. No País, nos últimos 12 meses, a área de PCH, que engloba os MIPs, cresceu 7% em vendas e já apresenta novidades.

“Lançamos o Centrum Vitamints, multivitamínico em formato mastigável com agradável sabor refrescante de menta e citrus. Um produto inovador e que é a aposta da companhia para crescer no mercado de multivitamínicos este ano”, destaca a diretora de marketing da Pfizer Consumer Healthcare, Cristina Viana Fonseca.

SETE CRITÉRIOS PARA O ENQUADRAMENTO DOS MIPS

A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em 19 de julho do ano passado, novas regras para o enquadramento dos medicamentos que podem ser adquiridos pela população sem prescrição médica.

A proposta de texto passou por consulta pública e, na época, cidadãos, representantes da sociedade civil e do setor regulado tiveram 60 dias para enviar contribuições, que previam a revisão da norma atualmente vigente, a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 138/03. Acompanhe, a seguir, os sete critérios estabelecidos:

1.TEMPO MÍNIMO DE COMERCIALIZAÇÃO: para esse quesito, passa a valer o tempo de comercialização do princípio ativo ou da associação de princípios ativos, com as mesmas indicações, via de administração e faixa terapêutica de:

a) Dez anos sendo, no mínimo, cinco anos no Brasil como medicamento sob prescrição ou;

b) Cinco anos no exterior como medicamento isento de prescrição, cujos critérios para seu enquadramento sejam compatíveis com os estabelecidos nesta Resolução.

2. SEGURANÇA: aqui, avaliam-se a causalidade, gravidade e frequência de eventos adversos e intoxicação, e o baixo potencial de causar dano à saúde quando obtido sem orientação de um prescritor, considerando sua forma farmacêutica, princípio ativo, concentração do princípio ativo, via de administração e posologia. O Medicamento Isento de Prescrição (MIP) precisa apresentar:

a) Reações adversas com causalidades conhecidas e reversíveis após suspensão de uso do medicamento;

b) Baixo potencial de toxicidade, quando reações graves ocorrem apenas com a administração de grande quantidade do produto, além de apresentar janela terapêutica segura;

c) Baixo potencial de interação medicamentosa e alimentar, clinicamente significante.

3. SINTOMAS IDENTIFICÁVEIS: indicação para o tratamento, prevenção ou alívio de sinais e sintomas de doenças não graves e com evolução inexistente ou muito lenta, sendo que os sinais e sintomas devem ser facilmente detectáveis pelo paciente, seu cuidador ou pelo farmacêutico, sem necessidade de monitoramento laboratorial ou consulta com o prescritor.

4. TEMPO DE UTILIZAÇÃO: uso por curto período de tempo ou por tempo previsto em bula, exceto para os de uso preventivo, bem como para os medicamentos específicos e fitoterápicos indicados para doenças de baixa gravidade.

5. SER MANEJÁVEL PELO PACIENTE: precisa ser manejável não só pelo paciente, mas pelo cuidador, ou mediante orientação pelo farmacêutico.

6. APRESENTAR BAIXO POTENCIAL DE RISCO AO PACIENTE: o baixo risco deve obedecer as seguintes condições:

a) Mau uso com a utilização do medicamento para finalidade diferente da preconizada em bula;

b) Abuso com a utilização do medicamento em quantidade superior ao preconizado ou por período superior ao recomendado; e

c) Intoxicação.

7. NÃO APRESENTA POTENCIAL DEPENDÊNCIA: esse quesito é válido, ainda que seja utilizado conforme preconizado em bula.

 

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