Ansiedade, estresse e obesidade

Associados à vida moderna, distúrbios têm sido cada vez mais diagnosticados. Iniciar o tratamento o quanto antes é o mais indicado, dizem especialistas

Em algum momento da vida, todo ser humano sente ao menos um sintoma de ansiedade. Segundo os médicos, é normal. Pode-se até dizer que faz parte do DNA, uma vez que os ancestrais mais remotos a usavam como sistema de defesa. Ante a ameaça de ataque de um animal ou de um perigo iminente à vida, o corpo se mantinha em alerta: os músculos ficavam mais tensos, a pressão se elevava e o sangue circulava com mais intensidade. Tudo preparado para reação. Caso o risco desaparecesse, o corpo voltava ao estado normal. O recurso acabou cravado no cérebro e até os dias atuais entra em ação diante de situações interpretadas como ameaça. “Os quadros de ansiedade acompanham o homem ao longo de sua história. Sigmund Freud e outros estudiosos já analisavam casos de ansiedade há mais de 200 anos”, lembra o psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Daniel de Sousa Filho.

Com a intensidade da vida moderna, esse mecanismo acaba sendo acionado mais frequentemente. Na maioria das vezes, não passa de um breve alerta. “Diante de situações cotidianas é almejado que todo indivíduo apresente algum grau de ansiedade, por exemplo, quando espera por um encontro, por uma prova ou por uma entrevista de emprego”, explica o Dr. Sousa Filho. “Ansiedade considerada normal é um comportamento humano e presente na maioria dos animais. Está ligada à sobrevivência e é adaptativa. É um estado de alerta que nos impulsiona para as atividades em geral e planos da vida cotidiana”, completa o supervisor e assistente do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Luiz Vicente Figueira de Mello. Geralmente, a ansiedade é causada por problemas de ordem emocional e familiar, bem como está ligada a um fator externo. “Alguns elementos da vida moderna, como trânsito, pressão no ambiente de trabalho, entre outros, podem exacerbar os quadros. Entretanto, quando ela é acompanhada de sentimentos, comportamentos ou sintomas que incapacitam a pessoa ou a prejudicam fortemente em suas atividades do dia a dia, é preciso investigar se não se caracteriza como um distúrbio ou transtorno de ansiedade”, completa.

Níveis preocupantes

Quando a ansiedade se torna um distúrbio, logo aparecem os sintomas de nervosismo, medo e insegurança. “Ela se torna patológica quando é desadaptativa, inapropriada, inadequada, exagerada. Nessa forma desencadeia sintomas físicos, como falta de ar, palpitações, apreensão excessiva, fobias, tonturas ocasionais e, às vezes, insônia, crises de pânico e outros sintomas”, esclarece o Dr. Mello. A ansiedade considerada patológica é denominada Transtorno de Ansiedade. Essa classificação tem como base um manual estatístico de transtornos mentais, o DSM-V, elaborado por psiquiatras de vários países e, também, organizado e editado pela associação psiquiátrica norte-americana. Esse manual é adotado pela maioria dos países do Ocidente, incluindo o Brasil. Existem diversas apresentações dos transtornos de ansiedade. Entre eles, o transtorno de ansiedade generalizada, o transtorno de pânico, as fobias específicas (fobia social, agorafobia), transtorno de ansiedade de separação, transtorno de ansiedade induzido por substâncias, mutismo seletivo e os transtornos de fóbico-ansiosos não especificados. Os transtornos fóbicos de maneira geral são incluídos nos transtornos de ansiedade. “A gravidade de cada transtorno varia conforme a pessoa acometida e outras variáveis a serem avaliadas caso a caso”, ressalta o Dr. Mello.

Sintomas identificados

Além dos sentimentos de insegurança e medo, a ansiedade pode acarretar dores de cabeça, tremores, náusea, insônia, queda de cabelo e falta de apetite. “Um quadro de ansiedade não tratado pode evoluir com exacerbação dos sintomas, bem como com incapacitação do indivíduo para a realização das atividades de vida diária. Em geral, isso acontece em pacientes não tratados ou em situações de maior estresse. Sinais de piora da doença incluem aumento da frequência e intensidade dos sintomas, incapacitação para o trabalho e para a realização de atividades simples do cotidiano”, explica o Dr. Sousa Filho. “Quando os transtornos não são tratados com precocidade, eles imprimem prejuízos importantes na vida laboral, social e familiar da pessoa acometida, podendo desencadear outros transtornos emocionais”, completa o Dr. Mello.

Em 60% dos casos a ansiedade pode evoluir para depressão de várias gravidades, acrescenta o Dr. Mello, destacando que a doença pode agravar os transtornos clínicos de outra natureza, como a hipertensão. Segundo o Dr. Sousa Filho, os transtornos de ansiedade podem estar associados a outros transtornos, como depressivo, afetivo bipolar, déficit de atenção e hiperatividade e obsessivo-compulsivo. “Transtornos de ansiedade não diagnosticados ou não adequadamente tratados podem estar associados a uma série de outras doenças, como asma, lesões de pele (vitiligo, psoríase), males gastrointestinais (síndrome do cólon irritável), entre outras”, afirma.

Pesquisas indicam que o distúrbio de ansiedade atinge perto de 18% das populações norte-americana e europeia. No Brasil, estima-se que aproximadamente 12% da população sofra de ansiedade, de acordo com o IPq, um montante que ultrapassa 24 milhões de pessoas. No entanto, esse número pode ser ainda maior. “De modo geral, observa-se no País um subdiagnóstico dos transtornos de ansiedade, uma vez que a população tem pouco acesso a profissionais de saúde mental”, frisa o Dr. Sousa Filho.

Casos de estresse

Podendo estar ligado ou não a casos de ansiedade, o estresse acontece quando o excesso de atividades (e a quantidade de problemas) sobrecarrega não apenas o físico, mas também o estado mental da pessoa. “Assim como a ansiedade, pode ser caracterizado como um transtorno quando associado a prejuízos importantes que impactam a qualidade de vida, as relações, o trabalho e o cotidiano das pessoas”, revela o psiquiatra do Hospital Albert Einstein. Sinais agudos de estresse, diz o especialista, estão incluídos na Classificação Internacional das Doenças em sua décima revisão (CID-10) como reações ao estresse grave e a transtornos de adaptação. “Nessas situações, além de lazer e repouso, o indivíduo pode necessitar de psicoterapia, outras modalidades terapêuticas e medicamentos, nos casos mais graves”, afirma o Dr. Sousa Filho, lembrando que as pessoas que apresentam níveis altos de estresse podem desenvolver transtornos de ansiedade e outros transtornos, como os depressivos. “O estresse desencadeia ansiedade e, quando aguda, pode desencadear estresse. São paralelos e muitas vezes coincidentes”, completa o Dr. Mello. 

Incidência da obesidade

Outro problema que tem crescido de forma vertiginosa entre a população brasileira é o aumento de peso. A obesidade se torna a porta de entrada de muitas doenças, que podem causar desde o comprometimento da qualidade de vida até o óbito.

A pesquisa Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel) 2014 revelou que 52,5% dos brasileiros estão acima do peso – o índice era de 43% em 2006 e de 51% em 2013, enquanto 17,9% da população está obesa.

O maior aumento da taxa de sobrepeso ainda está no sexo masculino (56,5% contra 49,1% no sexo feminino), enquanto que a obesidade tem uma pequena vantagem para o sexo feminino (18,2 contra 17,56% no sexo masculino).

A pesquisa ainda mostra que os níveis de colesterol estão elevados em 20% da população pesquisada (22,2% em mulheres / 17,6% em homens), especialmente acima dos 40 anos (6,8% em adultos jovens de 18 a 24 anos).

No que diz respeito às características da alimentação nessa população, o estudo aponta para uma presença maior de frutas e hortaliças na rotina do brasileiro, com um aumento no número de pessoas que buscam uma alimentação saudável, com menos gordura.

No entanto, o consumo de sal (12 gramas/dia) ainda é muito alto (2,5 vezes o recomendado de 5 gramas/dia) e essa população ainda tem substituído refeições por lanches (16,2%).

A obesidade é o acúmulo excessivo de gordura corporal no indivíduo. Em adultos o parâmetro utilizado mais comumente é o do índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso do paciente por sua altura elevada ao quadrado. De acordo com o gastroenterologista e credenciado da Paraná Clínicas, Dr. Cassius Frigulha, esse é o padrão utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Identificamos o peso normal quando o resultado do cálculo do IMC está entre 18,5 e 24,9. Para ser considerado obeso, o IMC deve estar acima de 30.” 

O gastroenterologista, cirurgião bariátrico e responsável pelo Centro de Obesidade do Hospital Leforte, Dr. Tiago Szego, divide a obesidade em três graus:

• Sobrepeso: 25-29,9;

• Obesidade Grau 1: 30-34,9;

• Obesidade Grau 2: 35-39,9; e

• Obesidade Grau 3 ou mórbida: IMC >=40.

A obesidade é uma das principais causas de morte evitáveis em todo o mundo. O Dr. Frigulha destaca que a cada ano morrem 3,4 milhões de adultos em consequência da obesidade ou do sobrepeso. Um IMC entre 30 e 35 reduz a esperança de vida entre dois e quatro anos, enquanto que a obesidade grave (IMC > 40) reduz a esperança de vida em dez anos. Sendo assim, em média, ela reduz a esperança de vida entre seis a sete anos, tempo significativo.

Além disso, a obesidade desencadeia a chance de síndrome metabólica, ou seja, de desenvolver diabetes Mellitus que é o acréscimo do açúcar no sangue e a elevação da pressão. “Piora o refluxo gastroesofágico, aumenta o risco de colesterol e o nível de triglicerídeos e ocasiona outras alterações, elevando, assim, o risco para infartos e problemas circulatórios. O obeso tem mais tendência a apneia do sono que aumenta o risco de morte súbita”, alerta o Dr. Szego.

Os principais fatores desencadeantes da obesidade são maus hábitos alimentares e falta de atividade física, como destaca o responsável pelo centro de obesidade do Hospital Leforte. “O estilo de vida, o aumento da longevidade nas cidades, o maior uso de alimentos industrializados, a falta de prática de atividades físicas, ou seja, sedentarismo, alimentação fora de casa, enfim, hábitos inadequados”.

Além disso, hoje as pessoas estão mais sedentárias e têm facilidade de ingerir produtos industrializados com alto teor calórico (bolachas, salgadinhos, enlatados, refrigerantes), além de frituras, doces e massas. Elas também nem sempre fazem as refeições em horários adequados e não procuram ter uma dieta equilibrada, favorecendo o ganho de peso.

Fitoterápicos usados para tratar estresse e ansiedade

• Erva-de-são-joão: é uma das mais eficientes para o tratamento da ansiedade.

• Melissa ou erva-cidreira: tem óleos que acalmam.

• Camomila: possui efeito calmante.

• Passiflora: atua como calmante em crises de ansiedade.

• Valeriana: dispõe de propriedades na raiz que ajudam a melhorar o sono.

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Prevenção e tratamento disponível

O tratamento do estresse, da ansiedade e da obesidade varia de acordo com o transtorno específico e a intensidade. Para os casos mais leves de ansiedade, por exemplo, são indicadas terapias com especialistas, entre elas a cognitivo-comportamental, que busca alterar padrões de comportamentos e pensamentos que desencadeiam as crises. Já nos casos moderados e mais graves, é recomendada a combinação das terapias com medicamentos, que podem ser alopáticos sintéticos e fitoterápicos. “O tratamento para os transtornos ansiosos depende da gravidade e subtipo apresentado. Muitas vezes, recomenda-se antidepressivos e psicoterapia, mais especificamente psicoterapia cognitiva comportamental ou, em alguns transtornos, apenas psicoterapia”, pontua o Dr. Mello, lembrando que os tratamentos levam, em média, de seis meses a dois anos e, se possível, devem ser acompanhados de seis em seis meses mesmo após melhora significativa. As atividades físicas também contribuem para o tratamento da ansiedade.

Fitoterápicos para estresse, depressão, ansiedade e obesidade são eficazes e seguros. O acompanhamento dos pacientes e a vigilância farmacológica também são indispensáveis, pondera a médica e presidente da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (Sobrafito), Dra. Maria Fátima de Paula Ramos. “A proposta dos fitoterápicos é muito boa porque só utiliza os medicamentos que foram aprovados em estudos clínicos. Todos os medicamentos sintéticos e fitoterápicos precisam passar por esse teste”, diz a Dra. Maria Fátima. “As medicações fitoterápicas e sintéticas têm o mesmo tempo de tratamento e demoram, em média, de três a cinco semanas para começarem a agir e, normalmente, o tratamento é de pelo menos seis meses, com acompanhamento médico.”

“O início da ação do fitoterápico depende do tipo de extrato vegetal, com sua respectiva ação e não há um único padrão para todos os extratos existentes”, completa a responsável pelo Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma, Dra. Rita de Cássia Salhani Ferrari. “Não há uma média genérica que se possa afirmar. No entanto, a maioria dos estudos clínicos realizados com fitoterápicos para testar sua eficácia e segurança costumam ter, no mínimo, quatro semanas de tratamento. Isso corrobora o conceito de fitomedicamentos para doenças de menor gravidade, mas com maior tendência a serem doenças crônicas do que crises agudas.” A especialista lembra que transtornos de ansiedade ou depressão são distúrbios do sistema nervoso central muito frequentes e que podem apresentar etiologia multifatorial. Dessa forma, medicamentos que atuam por diversos mecanismos de ação podem ser efetivos nessas patologias. “A vantagem de um medicamento fitoterápico está em sua característica intrínseca de ser considerado um fitocomplexo. Não é apenas um ativo que é responsável por seu efeito terapêutico, mas um conjunto de substâncias presentes no extrato vegetal. Assim, os medicamentos fitoterápicos usualmente possuem eficácia em virtude do sinergismo de ação dessas substâncias, presentes em concentrações pequenas e que, portanto, não costumam causar graves efeitos adversos”, sublinha a Dra. Rita. 

Autor: Vivian Lourenço

Fito 2016

Especial Fito 2016

Essa matéria faz parte do Especial Fito 2016.

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