Anticoncepcionais: Liberdade de escolha

Com a evolução dos métodos contraceptivos, a mulher passou a contar com diferentes maneiras para prevenir gravidez e Doenças Sexualmente Transmissíveis

Desde as primeiras civilizações, métodos contraceptivos são utilizados. Na Grécia Antiga, acreditava-se que a semente da cenoura selvagem era capaz de prevenir a gravidez. Já os egípcios utilizavam tampões vaginais feitos de excremento de crocodilo, linho e folhas comprimidas. No Império Romano, bexigas de animais eram usadas para fabricar preservativos rudimentares que evitavam a proliferação de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) que já circulavam entre a civilização humana.

Foi apenas a partir do século 19 que surgiram os primeiros métodos contraceptivos mais semelhantes aos que conhecemos hoje. Em 1839, quando o engenheiro Charles Goodyear descobriu o processo de vulcanização da borracha e tornou o material flexível à temperatura ambiente, os preservativos deixaram de ser feitos com matéria-prima animal ou tecidos para se tornarem de borracha. No entanto, ainda eram grossos e caros, por isso, precisavam ser lavados para ser reutilizados.

As camisinhas de látex só surgiram em 1880 e, a partir de então, tiveram a composição aprimorada, melhorando a confiabilidade e eficácia. Considerado um método anticoncepcional de barreira, a camisinha é a única maneira de prevenir tanto uma gravidez indesejada quanto o contágio de DSTs, incluindo a Aids.

Ainda que extremamente eficaz, o uso do preservativo está em queda no Brasil. Dos dois mil homens entre os 15 e 25 anos de idade ouvidos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em dez capitais brasileiras – Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo –, apenas 31% afirmaram usar preservativos. A consequência desse comportamento de risco é preocupante: casos de HIV (vírus da imunodeficiência humana, em português) entre jovens aumentaram 85% nos últimos dez anos.

Outro método contraceptivo de barreira que surgiu no século 19 foi o diafragma, tampão de borracha fina com um aro circular endurecido para cobrir a saída da vagina. Ao proteger o colo do útero, o dispositivo impede a passagem dos espermatozoides, evitando a fecundação sem utilizar nenhum recurso hormonal.

“A única ressalva é que tem de ser colocado entre quatro a seis horas antes da relação sexual e retirado seis a oito horas depois. É preciso lavá-lo e armazená-lo corretamente. Exige uma organização grande e é preciso saber manuseá-lo corretamente”, destaca o ginecologista responsável pela área de reprodução humana da Criogênesis, Dr. Renato de Oliveira.

Entre os métodos contraceptivos de barreira ainda há a opção do Dispositivo Intrauterino (DIU) de cobre. “A colocação pode ser feita com ou sem analgesia por um ginecologista/obstetra e tem duração média de três a dez anos. Sendo necessário realizar o controle anual por meio de um ultrassom. Ao ser inserido no útero, o DIU de cobre causa um efeito inflamatório no endométrio, tornando o útero um ambiente hostil e impedindo que o espermatozoide fecunde o óvulo”, detalha o diretor da divisão médica da DKT International, Wilson Rodrigues.

Entre os benefícios do DIU, está o fato de que ele não interfere nas relações sexuais e nem diminui a libido, além de poder ser retirado caso seja necessário, ou quando a mulher quiser engravidar. Modelos mais modernos podem ser aplicados logo após o parto.

“Como o colo uterino está suficientemente dilatado, a inserção do DIU nesse período costuma ser bem mais confortável e quase imperceptível. Além disso, por ser livre de hormônio, garante uma amamentação mais segura e de qualidade para o bebê”, complementa Rodrigues.

Métodos hormonais

Além do DIU de cobre, o mercado possui a opção de DIU de liberação hormonal. O dispositivo é aplicado da mesma maneira, mas a ação se dá por meio de liberação periódica de um tipo de progesterona sintética, o levonorgestrel. A substância ajuda a tornar o muco cervical mais espesso, dificultando a passagem dos espermatozoides e, consequentemente, impedindo a fecundação.

A eficácia do DIU é de 99,3% e ele não depende da disciplina da paciente para que o efeito de proteção ocorra. Ainda assim, a popularidade desse método contraceptivo está longe do alcance da pílula anticoncepcional. Quando foi lançada no mercado em 1960 como o primeiro método contraceptivo hormonal, provocou uma revolução nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, que puderam controlar a vida reprodutiva de maneira eficaz e mais acessível.

Preferência pela pílula

As primeiras pílulas que chegaram ao mercado tinham altas doses de hormônios, que causavam efeitos colaterais desagradáveis. Com o passar dos anos, o método evoluiu e, hoje, a maioria das opções disponíveis possui doses hormonais bem mais baixas.

Apesar de segura, a pílula possui algumas contraindicações para certos grupos. Mulheres com histórico familiar de trombose e embolia pulmonar, ou com doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, devem dar preferência a outros métodos de contracepção. Para tabagistas e obesas, a pílula também é contraindicada.

Quando administrada da maneira correta, ou seja, ingerida todos os dias e no mesmo horário, a chance de uma gravidez é de uma a cada mil mulheres. Agora, se o uso da pílula não é adequado, com esquecimento e interferência de outros medicamentos, as chances de concepção sobem de seis a oito para cada 100 mulheres. “Ser bastante rigoroso com o uso da pílula é fundamental”, alerta o Dr. Oliveira.

Para aquelas que têm dificuldade de se organizar em relação à administração, existem outras opções de contraceptivos hormonais. A injeção mensal, o anel vaginal e o adesivo são métodos combinados, ou seja, possuem estrogênio e progestágeno na formulação.

Já o DIU hormonal, o implante subcutâneo e os comprimidos formulados apenas com progestágeno, popularmente denominados de minipílulas, são métodos que contêm apenas um hormônio. Assim como a pílula, o principal mecanismo de ação desses métodos é inibir a ovulação, no entanto, com diferente mecanismo de ação.

As pílulas têm absorção rápida, por isso precisam ser ingeridas diariamente. Já nos demais métodos, os hormônios são absorvidos devagar, seja pela pele, pela camada subcutânea ou de forma intrauterina, a depender do recurso utilizado.

A escolha do método contraceptivo mais adequado deve obedecer os critérios de elegibilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Cada mulher que queira prevenir a gravidez tem de ser avaliada para verificar se há características clínicas, como tabagismo, enxaqueca, hipertensão, antecedente de infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC), alguma doença hepática, renal e diabetes”, orienta o Dr. Oliveira.

Essa avaliação é feita para definir quais métodos teriam maior ou menor risco. “Esse é o primeiro passo. Depois que quantificamos o risco, aí temos de entender qual é o perfil dessa mulher. Caso se descubra que ela tem mais de 35 anos de idade e é fumante, não iremos indicar nenhum método hormonal combinado, porque o estrogênio aumenta o risco de AVC pela associação com o cigarro. Aí, podemos sugerir um método sem hormônio, como DIU de cobre”, explica o Dr. Oliveira.

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