As diversas aplicações dos Fitoterápicos

Os fitoterápicos se expandiram no mercado e, hoje, podem ser dirigidos para uma série de tratamentos. Conheça, a seguir, alguns deles

medicamento fitoterápico consiste em toda preparação farmacêutica (extratos, tinturas, pomadas e cápsulas) que utiliza como matéria-prima partes de plantas, como folhas, caules, raízes, flores e sementes, com conhecido efeito farmacológico.

Ao longo dos anos, seu uso tem provado ser capaz de auxiliar no combate a doenças infecciosas, disfunções metabólicas, doenças alérgicas e traumas diversos. Acompanhe, na sequência, algumas das situações em que essa classe de medicamentos tem se mostrado eficaz e com efeitos satisfatórios.

Depressão e ansiedade

A depressão se difere das flutuações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração aos desafios da vida, segundo explica o Ministério da Saúde (MS). Especialmente quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, pode se tornar uma séria condição de saúde, causando um grande sofrimento e disfunção, seja no trabalho, na escola ou na família.

“Esta é uma doença que se constitui como a maior causa de suicídio no mundo”, constata a psicóloga da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Maria Cristina Oda, acrescentando que, entre os principais sintomas, estão alterações de humor, apatia, solidão, isolamento social, falta de vontade de agir e fadiga. As causas podem ser diversas e irem além das genéticas.

“O individualismo e a carência das relações pessoais – em que há trocas afetivas – são fatores que contribuem para o aumento de depressão e da ansiedade na população”, comenta a psicanalista e mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e integrante do quadro do Zenklub, Claudia Livingston Ades.

Já a ansiedade, quando se dá de maneira generalizada, as manifestações não ocorrem na forma de ataques, nem se relacionam com situações determinadas. Estão presentes, na maioria dos dias e por longos períodos, de muitos meses ou anos.

O sintoma principal é a expectativa apreensiva ou preocupação exagerada. Dessa forma, o acometido está, a maior parte do tempo, excessivamente preocupado*.

“Falta de concentração, irritabilidade, falta de sono ou até comer muito para descarregar as emoções na alimentação são sintomas característicos”, descreve Maria Cristina.

Segundo analisa Claudia, a ansiedade é um importante sinal de alerta diante do perigo; porém, quando crônica, torna-se preocupante. “No País, especificamente, estamos passando por mudanças em diversas esferas e o brasileiro desenvolveu um estado de alerta porque vive constantemente com medo. Medo da violência, do desemprego, das incertezas e de outros fatores”, lamenta.

Seja qual for o caso, para quadros mais leves de depressão ou ansiedade, os medicamentos fitoterápicos têm mostrado ação bastante satisfatória, segundo comenta a especialista da BP.

“Ativos como valeriana, passiflora e erva-de-são-joão têm mostrado ótimos resultados. Mas é importante que esses fitoterápicos provenham de laboratórios que tenham selo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que sejam usados com supervisão médica, inclusive para evitar o risco de interação com outros medicamentos”, adverte a psicóloga.

Emagrecimento

Hoje, são inúmeros os brasileiros que procuram fórmulas para o emagrecimento. “Muitas pessoas querem soluções rápidas para o excesso de peso, mas sem alterações de comportamento. Elas querem continuar com uma alimentação pobre em fibras e em vegetais, mas rica em gorduras, açúcares livres, bebida alcoólica, e com ausência de exercício físico. Então, esse público costuma procurar fórmulas milagrosas para obter resultados”, comenta a nutricionista e presidente da Associação Paulista de Fitoterapia (APFit), Vanderli Marchiori.

Entretanto, a nutricionista esclarece que não há milagres. Existe uma gama de medicamentos que podem ajudar a alcançar esses objetivos, mas a mudança no estilo de vida é fundamental para resultados satisfatórios. “Junto com os medicamentos, os usuários devem praticar a reeducação alimentar e aliar à prática de atividades físicas”, reforça.

Entre os medicamentos que podem auxiliar pessoas que precisam de redução de peso estão os fitoterápicos. “Temos grupos específicos de fitoterápicos para cada ação que se deseja ter. Os mais usados são os lipolíticos, que trazem ativos capazes de quebrar as moléculas de gordura presentes no corpo. Nessa categoria, pode-se citar a erva-mate; e a casca da laranja amarga, por exemplo”, explica.

Além disso, a nutricionista afirma que essas substâncias também agem na redução da absorção de glicose ou na redução da resistência à insulina. “Outras substâncias que podem ajudar nessa ação são o extrato de chá verde, que diminui a absorção de glicose no corpo; o extrato do feijão branco, que inibe a absorção do carboidrato e então pode ser um grande adjuvante”, diz, acrescentando que os resultados dos medicamentos fitoterápicos no emagrecimento dependem muito do diagnóstico correto que levou à obesidade. Assim, acertar a substância depende de corrigir a causa do ganho de peso. “Esses medicamentos devem ser usados com orientação de um médico ou de um nutricionista”, conclui.

Estresse e insônia

Estresse todo mundo tem. Afinal, esta é uma reação natural do corpo a alguma ameaça externa, segundo comenta o especialista em administração de tempo e produtividade e CEO da TriadPS, Christian Barbosa.

“Desde o tempo das cavernas, o estresse atua em benefício do ser humano, já que, quando o homem precisava caçar, o estresse preparava o seu corpo para que tivesse mais foco e mais reflexos. Assim, nos momentos certos, o estresse é positivo. O grande problema é que, atualmente, ocorre com tamanha frequência que acaba sobrecarregando o organismo e prejudicando a saúde”, pondera.

Quando sai do controle, o estresse pode trazer uma série de reações negativas. “O estresse é um mal comum da população atual, que vive no ritmo incessante da correria e da competição. De modo geral, o problema se consolida em pessoas com sobrecarga de atividades e pressões e se acentua entre os perfeccionistas, que querem ter o controle de tudo, seja na vida pessoal e profissional”, afirma a psicóloga da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Maria Cristina Oda.

Outra situação que pode levar ao estresse é a qualidade do sono. “A insônia não é uma doença. É um distúrbio que prejudica a qualidade de dormir. Quando não se consegue descansar a mente durante o sono, o acometido tende a se sentir cansado, com fadiga, irritado, sem energia e foco, reduzindo a produtividade e qualidade de vida. Os efeitos são cumulativos”, adverte.

De acordo com o Instituto do Sono, a insônia pode ocorrer de três formas. A chamada inicial, que faz com que a pessoa tenha dificuldades para pegar no sono; a intermediária, responsável pelo sono interrompido de forma constante; e a insônia terminal, que provoca o despertar muito antes da hora de acordar.

Segundo a psicóloga da BP, seja em quadros de estresse ou de insônia, o tratamento inicial pode se dar por meio de fitoterápicos. “Logo que são detectados os sintomas, especialmente em pacientes que têm resistência ao uso de medicamentos sintéticos, os fitoterápicos, como valeriana e passiflora, podem trazer ótimos resultados, reduzindo a irritabilidade, por exemplo”, comenta.

Entretanto, para melhores resultados, é fundamental consultar um médico. “Esse profissional irá avaliar o histórico do paciente, outros medicamentos já administrados e dar a orientação correta sobre efeitos e interações”, aconselha.

Má circulação

O termo “má circulação” é usado quando se deseja fazer referência a problemas de circulação venosa e linfática dos membros inferiores. Entre esses problemas, o de varizes é o mais comum, segundo afirma o médico vascular do Hospital Santa Paula, Dr. Flávio Duarte.

De acordo com o especialista, as causas que levam a uma insuficiência venosa em membros inferiores ainda não estão totalmente esclarecidas. “O que temos é a identificação de algumas alterações dos tecidos biológicos identificadas nas veias varicosas. A principal delas é uma do colágeno, presente na camada média da parede das veias. Essa fraqueza é transmitida geneticamente, podendo pular algumas gerações. No entanto, para que leve a uma dilatação da parede venosa, com o aparecimento de varizes, outros aspectos são importantes como o estilo de vida da paciente”, lembra.

Assim, fatores, como sedentarismo, obesidade, uso de anticoncepcionais e até mesmo gravidez, enfraquecem ainda mais a parede venosa, precipitando o aparecimento das varizes.

Quando o problema está na fase inicial, a dilatação inicial dos vasos na pele dos membros inferiores faz com que haja um incômodo estético devido ao aparecimento de pequenos vasos avermelhados ou veias azuladas. Entretanto, com o avanço do quadro, outros problemas podem surgir.

“Podem aparecer sintomas, como edemas (principalmente no período vespertino e perimenstrual), sensação de peso ou cansaço, coceira e até mesmo, em casos mais avançados, alteração da pigmentação da pele (dermatite ocre), fibrose e úlceras”, enumera o Dr. Duarte, acrescentando que os sintomas de má circulação podem levar à perda de produtividade dos acometidos, por não conseguirem ficar em pé ou parados com os membros inferiores para baixo por longos períodos.

Para o tratamento desses quadros, os fitoterápicos são aliados dos médicos, conforme indica o vascular do Hospital Santa Paula. “Esses medicamentos são utilizados para melhora dos sintomas, prevenção de complicações em situações de risco e durante os períodos pré e pós-operatórios dos tratamentos cirúrgicos para acelerar a recuperação dos pacientes”, diz.

Segundo ele, os fitoterápicos têm diminuído os sintomas, como edema, peso, cansaço e, em menor grau, a coceira relatada por alguns pacientes, principalmente em temperaturas menores. Há, ainda, um efeito adjuvante importante no tratamento e fechamento de úlceras venosas dos membros inferiores; e melhora de fatores de inflamação na parede venosa.

Menopausa

limatério e menopausa não são expressões semelhantes. Climatério é uma fase marcada pela transição do período reprodutivo para o não reprodutivo da mulher. Já a menopausa, ao contrário, tem data para começar: a da última menstruação.

Ainda no climatério, segundo explica a gerente de Medicina Preventiva da NotreDame Intermédica, Dra. Daniela Leanza, a menstruação pode ficar irregular, com ciclos mais frequentes ou mais espaçados, com ou sem aumento do fluxo. Esse período de transição pode durar alguns anos, até a menstruação cessar completamente.

“São comuns, nessa fase, sintomas, como ondas de calor, sudorese, calafrios, insônia e ansiedade. Com o passar do tempo, devido à falta do estrogênio, a mulher também pode passar a sofrer por ressecamento vaginal, alterações urinárias, ganho de peso, aumento do risco cardiovascular e dos níveis de colesterol. Perda de massa óssea, favorecendo a osteopenia e osteoporose são igualmente característicos”, enumera a especialista, reforçando que esses sintomas podem gerar bastante desconforto, insegurança, diminuição da libido e repercussão na vida sexual feminina, prejudicando a qualidade de vida.

Os fitoterápicos podem ser usados com segurança para reduzir os sintomas do climatério, conforme sinaliza a Dra. Daniela. “Eles auxiliam no controle dos principais desconfortos, como fogachos, ansiedade, insônia e até na atrofia vaginal”, diz, acrescentando que esses medicamentos podem, inclusive, ser a principal fonte de tratamento para esses casos. Eles podem ser indicados até mesmo às mulheres que podem ter riscos no uso da Terapia de Reposição Hormonal (TRH).

“A TRH deve ser criteriosamente avaliada, principalmente o risco cardiovascular e neoplásico, sendo indicada em situações particulares e de forma individualizada. Os fitoterápicos proporcionam um bom controle dos principais sintomas climatéricos”, sinaliza a médica.

Entretanto, assim como qualquer medicamento, eles também podem apresentar contraindicações e efeitos colaterais. “O uso deve ser sempre acompanhado e recomendado por um médico ginecologista”, finaliza a especialista da NotreDame.

Memória

É difícil encontrar alguém que esteja plenamente satisfeito com a própria memória. Embora o esquecimento faça parte do dia a dia, não há quem deixe de ficar decepcionado com essa espécie de traição do cérebro, que pode ocorrer nas horas mais inconvenientes.

Entretanto, é preciso analisar o quanto esse esquecimento é uma falha normal do corpo e quando se torna algo patológico. “Problemas de memória devem sempre ser acompanhados e observados para avaliar se consiste em um esquecimento pontual por momentos de estresse, medo ou ansiedade, como o popular ‘branco’ em uma prova, por exemplo, ou se os lapsos de memória já estão afetando a capacidade de realizar atividades diárias ou aumentam o risco do indivíduo se perder, por não lembrar seus dados pessoais”, alerta a nutricionista do Departamento Científico da VP Centro de Nutrição Funcional, Neiva Souza, acrescentando que sinais como esses podem ser indicativos de doenças degenerativas, como a Doença de Alzheimer, por exemplo.

Os medicamentos fitoterápicos podem ser usados para alguns tipos de problemas de memória. Entretanto, a prescrição deve ser feita de forma individual e realizada após uma análise minuciosa de cada caso, que será determinante na indicação, com escolha do melhor princípio ativo, dosagem e tempo de tratamento, ou contraindicação.

“Em casos de problemas de memória associados a estresse, ansiedade e medo, os fitoterápicos podem apresentar um bom resultado, auxiliando a controlar essas condições e, ao mesmo tempo, melhorando a capacidade da memória”, destaca Neiva.

Segundo ela, até mesmo em alguns casos de Alzheimer, determinados fitoterápicos também desempenham papel coadjuvante terapêutico interessante. Contudo, deve-se sempre avaliar as contraindicações pelo histórico pessoal. O uso de medicamentos que podem apresentar interações com alguns tipos de fitoterápicos também precisa ser considerado.

“O nutricionista ou médico prescritor do fitoterápico deve ter profundo conhecimento da farmacocinética e farmacodinâmica do composto ativo da planta a ser prescrita, a fim de se avaliar todas as possíveis contraindicações”, adverte a especialista da VP.

Prisão de ventre

A constipação intestinal, também conhecida como prisão de ventre, pode ser definida pela mudança na frequência, tamanho, consistência ou facilidade de passagem das fezes.

“A doença é causada por uma série de fatores, principalmente erros alimentares, hábitos sedentários e desvios de postura. Com maior ou menor frequência, também pode ocorrer nos indivíduos que não possuem uma regularidade de horário para esvaziamento intestinal, o que causa, ao longo dos anos, a perda do reflexo de evacuação, resultando na constipação”, afirma a nutricionista pós-graduada em Nutrição nas Doenças Crônico-Degenerativas pelo Instituto de Pesquisa e Ensino do Hospital Israelita Albert Einstein, Elaine de Pádua.

Segundo a nutricionista e presidente da Associação Paulista de Fitoterapia (APFit), Vanderli Marchiori, em relação à alimentação, a falta de fibras e pouca hidratação são as principais causas do problema.

“Ingestão de refeições com poucas fibras e pessoas que bebem menos de um litro ou 1,2 L de água por dia podem sofrer por prisão de ventre”, afirma, reforçando que muitos brasileiros têm sofrido esses sintomas.

“A população tem se alimentado cada vez pior, com cardápio escasso de verduras, frutas e vegetais. Pessoas que não fazem exercício físico também tendem a ter prisão de ventre”, acrescenta.

Segundo Vanderli, os acometidos podem ter comprometimento da qualidade de vida. “A sensação de desconforto é grande entre aqueles que sofrem por constipação. Podem-se notar quadros de alteração de comportamento, porque fica-se mais irritado e com o abdome distendido”, comenta.

A especialista da APFit afirma, ainda, que os fitoterápicos podem ter ação bastante efetiva. “A Cáscara Sagrada, Sene e Ruibarbo são ativos que podem ser usados de um a dez dias com efeito laxativo. Eles têm ação citotóxica e agem irritando a mucosa intestinal e, como consequência, culminam em evacuações mais presentes. Entretanto, mudanças comportamentais devem acontecer para que a prisão de ventre não seja constante”, diz.

Para serem usados com sucesso e sem riscos, é fundamental que esses produtos sejam utilizados com recomendação de um médico ou nutricionista, já que, em excesso, podem causar diarreia e comprometer, assim, a absorção de vitaminas e minerais pelo organismo.

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