Representando 51% da população, mulheres que crescem no mercado de trabalho têm consciência das práticas de prevenção à saúde, mas dispõem de pouco tempo para cuidar de si mesmas diante de tantas responsabilidades
As mulheres constituem, hoje, pouco mais de 51% da população brasileira. E seu único posto de “dona de casa”, marcante há algumas décadas, vai sendo esquecido pela sociedade para dar lugar a um outro perfil. Agora, elas são grandes responsáveis no ambiente de trabalho, crescem em suas carreiras e acumulam essas funções com as obrigações do lar.
Portanto, para cumprir tantas tarefas diárias, a atenção à saúde desse público torna-se fundamental. “As mulheres reconhecem a necessidade de se manter com boa saúde a fim de desempenhar todas as suas funções com eficiência”, afirma a ginecologista da a+ Medicina Diagnóstica, uma das marcas do Grupo Fleury, Dra. Paula Faggion Doin.
Entretanto, por vezes, diante de tantas tarefas, não sobra tempo para priorizar bons hábitos. “As mulheres têm consciência da importância do diagnóstico precoce e da prevenção de doenças. No entanto, apesar dessa consciência, elas são muito solicitadas por outras demandas, o que pode deixar esses cuidados de lado. Até meados do século passado, elas tinham apenas a atribuição de ser esposas e cuidadoras do lar. Hoje, têm uma vida profissional e não abrem mão disso”, comenta o professor titular da disciplina de Ginecologia do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e presidente eleito da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Dr. César Eduardo Fernandes.
Um reflexo desse fenômeno é a gravidez tardia, muitas vezes acima de 35 anos de idade, e o sedentarismo, por alegar falta de tempo para a prática de atividades físicas. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de adultos classificados na condição de insuficientemente ativos (não praticaram atividade física ou praticaram por menos de 150 minutos por semana) no Brasil foi de 46%. Entre as mulheres, foram observadas frequências mais elevadas, variando de 50,3% na região Sul a 56,4% na região Norte.
Perspectiva aumentada
As taxas de mortalidade feminina têm caído nas últimas décadas. Segundo dados do estudo Saúde Brasil, do Ministério da Saúde (MS)*, entre 2000 e 2010, o País reduziu esse índice em 12%. Assim, a taxa de mortalidade caiu de 4,24 óbitos por mil mulheres para 3,72. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, “essa redução mostra que o País tem qualificado a assistência à mulher, mas também demonstra que temos de continuar priorizando as causas dos óbitos das mulheres, como o câncer de mama”.
O levantamento apontou que todas as regiões brasileiras tiveram as taxas reduzidas de mortalidade da mulher. A maior queda foi registrada na região Sul (-14,6%), seguida pelas regiões Sudeste (-14,3%), Centro-Oeste (-9,6%), Nordeste (-9,1%) e Norte (-6,8%). O estudo Saúde Brasil também mostrou que a taxa de mortalidade materna de 2010 chegou a 68 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. Na comparação com os últimos 20 anos (1990 a 2010), a razão da mortalidade materna no Brasil caiu 50%.
A expectativa de vida das mulheres também aumentou. Segundo dados da Tábua Completa de Mortalidade para o Brasil – 2012, divulgada pelo IBGE, a expectativa de vida das brasileiras passou de 77,7 para 78,3 anos entre 2011 e 2012. E esse índice supera a esperança de vida entre os homens que, em 2012, atingia 71 anos. “Muito mais preocupadas com a saúde do que os homens, as mulheres têm um médico de confiança, com destaque ao ginecologista, que visitam, em média, uma vez ao ano. Com ele, estabelecem vínculos fortes e esse especialista passa a tratar não apenas das doenças ginecológicas, mas também fornece toda a atenção primária a esse público. Os homens não têm o mesmo hábito”, justifica o presidente da Febrasgo.
Proporção de homens e mulheres no País Hoje, no Brasil, vê-se que as mulheres contabilizam 51,03% do total da população. Segundo o professor titular da disciplina de Ginecologia do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e presidente eleito da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Dr. César Eduardo Fernandes, esse número se justifica pela maior longevidade dessa fatia da população. “As mulheres se cuidam mais, enquanto os homens só procuram o médico quando incentivados pelo público feminino”, comenta. Confira, a seguir, a proporção entre mulheres e homens nas cinco regiões brasileiras. |
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censo Demográfico 2010
Motivos múltiplos
De acordo com o Dr. Fernandes, são diversas as razões que fazem as mulheres terem maior expectativa de vida e menores taxas de mortalidade. “Hoje, o Brasil apresenta melhores cuidados quanto à saúde da população ou ao tratamento farmacológico. Não se morre mais de uma infecção grave, por exemplo, por falta de alternativas. Pode-se, ainda, controlar o diabetes, adotar medidas preventivas ao câncer e prescrever vacinas que eliminam o risco de diversas enfermidades. Isso sem contar as melhorias no País em relação ao saneamento básico”, enumera o Dr. Fernandes.
O avanço na classe dos medicamentos é outro grande ganho. O progresso dos anticoncepcionais, por exemplo, trouxe benefícios significativos. “A evolução mais marcante dos contraceptivos orais combinados começou entre a década de 1970 e 1980, com a drástica redução nas doses dos componentes hormonais e consequente diminuição dos efeitos colaterais, determinando maior segurança e tolerabilidade para as usuárias”, relembra o especialista em ginecologia e obstetrícia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e médico consultor da Libbs Farmacêutica, Dr. Achilles Cruz. Posteriormente, novas formulações trouxeram substâncias mais próximas à progesterona natural. E os avanços não pararam por aí. “Nos anos 2000, surgiram modificações no regime de administração das pílulas, seja por meio da diminuição do período da pausa, seja pela eliminação da mesma”, mostra. Segundo o médico formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em ginecologia e obstetrícia pela Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. Sérgio dos Passos Ramos, apesar do movimento de mulheres naturalistas que são contra o uso de anticoncepcionais alegando riscos, ele considera que esses medicamentos são um passo muito importante na liberdade feminina. “É um retrocesso de séculos, depois de tantos avanços, falar que os anticoncepcionais fazem mal”, reforça.
Outras classes de medicamentos também merecem destaque pelo desenvolvimento. “Um avanço importante foi o das estatinas, dedicadas ao tratamento do colesterol. Houve também o desenvolvimento de medicamentos eficazes para controlar colesterol, diabetes e hipertensão, somados aos bons fármacos dirigidos ao tratamento da osteoporose”, mostra o Dr. Fernandes, da Febrasgo.
Ascensão profissional As mulheres mudaram seu papel na sociedade. Se, no passado, a grande maioria trabalhava apenas para suprir parte das despesas domésticas, hoje elas têm assumido, cada vez mais, o papel de responsáveis pelo sustento da família. “Dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, revelam que cerca de 40,9% das mulheres contribuem para a renda das famílias do País”, comenta a diretora de diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil), Jorgete Lemos. A especialista acredita que são diversos os motivos que levaram à ascenção profissional da mulher. “Pode-se destacar o acesso à educação, via meios de ensino tradicional e/ou virtual, mudança do desenho da estrutura familiar e da divisão de poder, aumento da dissolução conjugal e atitude: querer fazer parte efetiva da sociedade, protagonismo e mais autonomia”, diz. Tem se fortalecido, inclusive, o número de mulheres empreendedoras. Segundo dados do Serasa Experian, elas já somam 5,6 milhões, o que representa 8% da população feminina do País. Isso significa que 43% dos donos de negócios do País são do sexo feminino. “Somente no Estado de São Paulo, existem mais de 1,3 milhão de microempreendedores individuais (MEI) e, nesse universo, 48% são mulheres. Esses números mostram que as mulheres optam por empreender, visando o sustento da família ou a independência financeira”, considera a analista de negócios do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), escritório Capital Centro, Denise Weinstock. Assim, mais independentes e com renda própria, as mulheres passam a trazer ganhos ao País sob diversos aspectos. “Elas beneficiam a economia, seja via injeção de recursos financeiros pela entrada de maior percentual de consumidoras, seja pelo aumento da renda familiar. Tanto que, hoje, as mulheres são as principais responsáveis pelas compras em supermercados e representam mais de 80% do público frequentador e, em 85% das vezes, é ela a responsável pela decisão da compra*”, mostra Jorgete. O mesma realidade pode ser observada no canal farma. Afinal, estimativas apontam que 75% do público que frequenta esses canais é formado pelo universo feminino e, além de medicamentos, elas se abastecem de itens de higiene pessoal e beleza. *Fonte: Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) |
Autor: Kathlen Ramos