Claramente em crescimento e também fomentado por consumidores que cada vez mais buscam não somente uma alimentação mais saudável, como também medicamentos oriundos da natureza, o mercado de produtos de origem natural tem ganhado cada vez mais consumidores em todo o mundo e o Brasil não é exceção.
Essa demanda engloba diversos segmentos, desde alimentos, suplementos alimentares, cosméticos e também medicamentos. “Já havia sinais do crescimento deste mercado desde 2016, onde dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontaram que a procura por produtos de origem natural cresceu 167% com relação a 2013.
Além disso, um recente estudo exploratório qualitativo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e publicado no Brazilian Journal of Health Review apontam que, durante a pandemia, houve um crescimento de 27% no uso de plantas medicinais e 21,9% no uso de produtos fitoterápicos”, conta a presidente do Conselho Diretivo da Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa), Gislaine Gutierrez.
Segundo ela, a inclusão de novos Produtos Tradicionais Fitoterápicos (PTFs); o aumento da prescrição médica por conta do crescente volume de estudos de segurança e eficácia terapêutica; e o aumento das licitações públicas pelas Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde levaram este mercado a um grande crescimento nos últimos anos.
“Existe uma tendência mundial de valorização da saúde e do bem-estar. Inclusive, um recente estudo da Fiocruz,ia que visava analisar o uso das Práticas Integrativas Complementares durante a pandemia no Brasil, revelou que mais de 82% dos consumidores utilizaram fitoterapia, homeopatia, entre outros, para promover a saúde e bem-estar, e não por sentirem sintomas do Coronavírus”, comenta Gislaine.
Além disso, o consumidor brasileiro cada vez mais entende o medicamento fitoterápico como um pro-
duto de alta eficácia e que, normalmente, traz menos efeitos adversos que outros medicamentos. “Essa percepção é reforçada pelo aumento expressivo da prescrição médica dos fitoterápicos, pois os médicos têm ampliado o uso dessas soluções com sucesso em seus esquemas terapêuticos. Inclusive, este mesmo estudo da Fiocruz apontou que os principais vetores de consumo deste mercado são, de fato, os profissionais da saúde (47,6%) por meio de consultas on-line e/ou presenciais”, afirma a especialista da Abifisa.
Para as membros da área técnica da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), Bruna Oliveira, Ana Cláudia Oliveira e Marina Moreira, mundialmente, o mercado de fitoterápicos se apresenta em expansão, porém, no Brasil, ainda há poucos produtos registrados, mesmo com a larga biodiversidade brasileira que poderia ser mais bem explorada.
“Temos discutido bastante com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que estes números aumentem e existe uma mobilização para que as indústrias farmacêuticas tenham uma regulamentação robusta o suficiente para grandes investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos”, dizem. Em relação às categorias, de maneira geral, as mais consumidas, especialmente nos últimos anos, são aquelas voltadas para controle da ansiedade, produtos utilizados para tratamentos de doenças pulmonares, expectorantes, redutores de fadiga e cansaço, anti-inflamatórios e diuréticos.
“Estes medicamentos fitoterápicos são consumidos, em sua maioria, sob a forma de cápsulas, comprimidos e soluções líquidas”, complementa Gislaine.
OS IMPACTOS DA PANDEMIA
De acordo com as especialistas da Abifina, com a pandemia do novo Coronavírus, o consumo de medicamentos no geral foi exponencial, pois muitos indivíduos buscavam formas de se manterem saudáveis ou de
curar seus males gerados pela Covid-19.
“Dados publicados por pesquisadores da Unicamp registraram que 90% de um grupo de pacientes entrevistados relatou que utiliza plantas medicinais em sua rotina de cuidados, o que evidencia a confiança destes neste tipo de tratamento”, comentam. Mas vale um alerta. “Houve um aumento de compra nas plataformas de comércio eletrônico e com um agravante: a dificuldade de fiscalização na internet favorece atividades ilegais e danosas para o consumidor.
Propaganda enganosa, falta de indicação de origem do fabricante e venda de produtos sem registro sanitário são apenas algumas delas e isso trazemos como um importante impacto que a Abifina tem se mobilizado para combater”, advertem.
DESAFIOS PARA O CRESCIMENTO
Levar conhecimento aos médicos e aos demais prescritores ainda em tempo de pandemia é um dos maiores desafios do mercado de fitoterápicos para as membros da área técnica da Abifina. “Uma oportunidade é a possibilidade de proteção intelectual por patente desse tipo de medicamento no Brasil. Além disso, com a ratificação do Protocolo de Nagoia, as espécies nativas voltarão ao foco do mercado, uma vez que a indústria conhece a legislação de biodiversidade brasileira e, utilizando espécies exóticas, terá de compreender também a legislação internacional sobre acesso ao Patrimônio Genético e Conhecimento Tradicional Associado”, comentam.
O Protocolo de Nagoia, citado pelas especialistas, é um documento que estabelece regras internacionais para a utilização e a repartição de benefícios do uso econômico de recursos genéticos da biodiversidade. Ainda segundo elas, o retorno ao foco das espécies nativas brasileiras poderá ser uma oportunidade para alavancar a cadeia produtiva dessas espécies com responsabilidade social e ambiental.
Já para Gislaine, o maior desafio e oportunidade, definitivamente, estão na aceleração do processo de inovação e lançamento de novas soluções no mercado, ao mesmo tempo em que as indústrias devem atender às alterações regulatórias da Anvisa.
“Ainda existem grandes oportunidades no aumento da informação aos prescritores, médicos, farmacêuticos e ao público em geral; aumento das licitações públicas, com mais Secretarias de Saúde licitando esses medicamentos e, fundamentalmente, organizando um grande Projeto de Estado para o desenvolvimento de medicamentos a partir da Biodiversidade Brasileira para reduzir a dependência da importação de insumos estrangeiros”, diz.
O mercado de fitoterápicos no Brasil abrange cerca de 2% de todo o canal farma, enquanto países desenvolvidos apresentam números acima de 20%, o que se configura num grande paradoxo quando se conhece a potencialidade dos biomas do Brasil “Estamos no ambiente perfeito para o desenvolvimento de uma grande cadeia nacional de produção de medicamentos fitoterápicos para fornecimento de saúde à população brasileira e exportação do excedente para outros mercados”, finaliza Gislaine.
OPORTUNIDADES PARA O CANAL
O mercado de fitoterápicos no Brasil tem ganhado grande visibilidade e avançado consideravelmente nos últimos anos. Um bom exemplo disso é a atenção que as redes de farmácias têm dado para isto. Atualmente, já é possível encontrar espaços específicos para estas categorias dentro das lojas. “Essa mudança aconteceu nos últimos dois anos, pois, assim como nós, o mercado também acredita no potencial de crescimento deste grupo de produtos”, comenta a coordenadora de marketing institucional da Herbarium, Natana Martins.
Segundo ela, a chegada do Coronavírus, variante ômicron, influenza, H3N2, entre outras síndromes gripais, também gerou na população um maior entendimento sobre a necessidade de cuidar da saúde e imunidade.
“Esse aumento no cuidado e bem-estar é impactado diretamente pelo uso dos fitoterápicos, que além de tratar diversas patologias, podem também ser aliados na prevenção”, afirma. Para Natana, o mercado de naturais como um todo é uma tendência no Brasil e, mais do que produtos, o posicionamento e a responsabilidade das marcas estão cada vez mais em voga. “Falando especificamente de fitoterápicos, além dos medicamentos relacionados ao trato respiratório, acreditamos que, nos próximos anos, teremos lançamentos bem inovadores, pois existem várias plantas novas sendo estudadas, e a própria cannabis ajudou a estimular muito isto também”, comenta.
Ela destaca que este aquecimento do mercado é perceptível também pelo foco que algumas redes de farmácias têm dado a esta categoria, fazendo pilotos de exposição, treinando atendentes sobre estes produtos, entre outras ações que visam esclarecer as dúvidas dos consumidores e, ainda, educar este público sobre os benefícios dos fitoterápicos.
“O perfil dos consumidores de fitoterápicos de venda livre está cada dia mais diverso. Com as mudanças comportamentais dos últimos anos e, até mesmo, com o enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus, que despertou uma preocupação ainda maior com a saúde, muitos passaram a buscar soluções menos agressivas para o organismo e investir no consumo de produtos naturais, inclusive, medicamentos fitoterápicos”, avalia Natana.
Fonte: Guia da Farmácia
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