Farmacêuticos se fortalecem na pandemia

Neste cenário de pandemia, os profissionais da saúde ficam ainda mais em evidência. Entre eles, os farmacêuticos, que seguem oferecendo novos serviços ou auxiliando na adesão correta ao tratamento

É difícil falar sobre saúde sem pensar na importância da figura dos farmacêuticos, especialmente durante a pandemia pela Covid-19.

Esses profissionais assumem a responsabilidade de ser o último contato do paciente antes de iniciarem seus tratamentos. Dessa forma, está nas mãos deles a responsabilidade de fazer com que o receituário médico seja atendido e seguido à risca.

Diante do cenário devastador provocado pela Covid-19, que se estende por mais de seis meses sem tratamento ou vacinação, cada um desses personagens assume um papel ainda mais importante. Afinal, eles atuam no acolhimento da comunidade e disseminação de informações corretas.

Segundo comenta a farmacêutica fundadora e diretora executiva da Germinar Consultoria e também professora/consultora de varejo do Instituto de Desenvolvimento do Varejo Farmacêutico (IDVF), Carla Bovo Bartolo, as farmácias receberam, em muitos casos, o primeiro contato das pessoas que buscavam informações sobre o vírus e os sintomas do novo coronavírus.

O motivo é simples: o farmacêutico está muitas vezes mais acessível às pessoas, pela própria proximidade do ponto de venda (PDV) e de suas casas.

“Diante do confinamento social, as pessoas tendem a se deslocar menos e evitar a ida a hospitais, pelo risco de contaminação”, comenta Carla.

“Assim, entre os serviços essenciais e de saúde, o primeiro local de visita e de orientação pode se dar nas farmácias, especialmente para as áreas mais carentes, que possuem uma proximidade maior com o farmacêutico”, acrescenta.

“Essa situação reforça a importância desses profissionais, que têm se consolidado como um alicerce importante para o desenvolvimento de ações resolutivas em saúde”, complementa a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.

Farmacêuticos têm rotina alterada na pandemia

No PDV, a rotina de trabalho mudou com a pandemia. Além da obediência a todas as normas de proteção e segurança estabelecidas pelas autoridades sanitárias, as farmácias tiveram de se adaptar.

A adaptação considera, por exemplo, o recebimento de receitas digitalizadas (escaneadas) e digitais, que atendem a todos os pré-requisitos exigidos pela legislação.

Tais prescrições são assinadas digitalmente e detém seus devidos certificados. “Essas receitas, ao contrário das digitalizadas, têm curso legal, presunção de legalidade e não podem ser repudiadas, o que garante aos farmacêuticos absoluta segurança”, comenta Carla.

Além disso, a possibilidade de vacinação contra a gripe e a aplicação de testes rápidos para Covid-19 também exige mais do farmacêutico.

Dessa forma, torna-se importante que estes profissionais realizem treinamentos, criem Procedimentos Operacionais Padrão (POPs), bem como orientações e formas de acompanhamento da equipe.

O farmacêutico tem assumido um papel central na adesão ao tratamento e prevenção. Grosso modo, um estabelecimento farmacêutico é um depósito de produtos bem expostos ao consumidor, mas quem faz tudo acontecer é o farmacêutico”, afirma o CEO da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sergio Mena Barreto.

“Então, se já considerávamos a relevância dele até agora, muito por conta da Lei 13.021/14, que dispõe sobre serviços farmacêuticos, depois da pandemia, essa importância fica mais forte e aumenta-se a consciência sobre o papel que esse profissional exerce. É como se os farmacêuticos tivessem realizando uma residência médica”, concluiu o executivo.

Atenção redobrada aos grupos de risco

O Ministério da Saúde (MS) estima que as cardiopatias constituam a primeira causa de morte entre a população brasileira.

Males como hipertensão, obesidade, diabetes e outras doenças crônicas do coração respondem por mais de 7,6 milhões de óbitos no mundo todo. E, em tempos de pandemia do novo coronavírus, estes números, que já são graves, podem ficar ainda piores.

As doenças cardiovasculares são responsáveis por mais de 30% das mortes todos os anos no Brasil e, no momento que vivemos, de aumento no número de casos de Covid-19, os portadores de comorbidades associadas a essas enfermidades podem ter mortalidade de três a quatro vezes maior que outros pacientes, e os afetados com hipertensão arterial têm o risco de morte aumentado em 7,5%”, constata o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Dr. Marcelo Queiroga.

“Não apenas a infecção pelo novo coronavírus pode se apresentar com formas mais graves, mas em qualquer afecção que ocorra nestes grupos, o desfecho pode ser pior quando comparado ao dos saudáveis”, reforça o cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. André Gasparoto.

Dispensação responsável

Neste momento, torna-se ainda mais importante que o tratamento proposto pelo médico para esse público seja seguido à risca.

É o tratamento contínuo e regular de doenças crônicas que reduz a probabilidade de complicações. Portanto, médicos e farmacêuticos assumem um papel fundamental para que a prescrição seja seguida, mas também a orientação de conscientizar sobre a importância do uso correto das medicações”, afirma.

Dessa forma, mais uma vez, o farmacêutico reforça o seu papel como agente importante no processo de adesão ao tratamento. “O farmacêutico pode ser o educador e orientador em saúde para a melhoria da qualidade de vida da população. Entretanto, precisa estar atualizado para que sejam passados dados corretos, considerando informações técnico científicas a respeito de medicamentos”, analisa a farmacêutica da USP.

Ela avalia que este é um trabalho árduo. Isso considerando a dificuldade que encontrada para que prevaleça a ciência como o caminho para a segurança, saúde e qualidade de vida. 

Nesse sentido, a farmacêutica lembra que as farmácias precisam, assim, estar atentas à disponibilidade de medicamentos usados por pessoas do grupo de risco.

“Além de ajudar na fidelização, esse ato contribui para que o consumidor não prejudique a continuidade do tratamento e possa aumentar os riscos de contaminação na procura da sua prescrição em outros estabelecimentos”.

Fonte: Guia da Farmácia

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