Fitoterápicos: solução para diferentes problemas

O tratamento com medicamentos fitoterápicos, homeopáticos e antroposóficos pode ser indicado para diversos problemas corriqueiros e relacionados à saúde física e mental da população. Conheça como cada um deles pode atuar

Cada vez mais as pessoas estão procurando tratamentos menos invasivos, com menos efeitos colaterais ou dependência quando comparados aos medicamentos sintéticos. Um cenário que favorece os medicamentos fitoterápicos, homeopáticos e antroposóficos.

Para o farmacêutico e ex-presidente e atual membro do conselho consultivo da Associação Paulista de Fitoterapia (Apfit), Luís Carlos Marques, a fitoterapia pode ajudar em quadros leves.

“Ela pode auxiliar em casos de indigestão, constipação, dores leves, resfriados, infecções das vias aéreas superiores, insônia e ansiedade leves, vida estressante, artroses, queimaduras e cortes de pequeno porte, etc.”, diz, salientando que, geralmente, apresentam efeitos mais suaves que os medicamentos sintéticos.

Já a medicina antroposófica busca considerar o paciente como um todo e em sua individualidade. “Ela compreende que a saúde do homem não está apenas no seu estado físico, mas que precisa haver equilíbrio entre a esfera emocional e mental também”, diz o farmacêutico técnico científico da Weleda, Rodolfo Schleier.

Segundo ele, o médico antroposófico propõe terapias e tratamentos para que o próprio corpo seja estimulado para reequilibrar o organismo como um todo. “Os medicamentos antroposóficos são dinamizados feitos com ingredientes de origem natural orgânicos a partir de substâncias minerais, vegetais ou animais”, explica.

Outra alternativa de tratamento é a medicina homeopática. Segundo o médico homeopata e que atua no suporte médico às demandas direcionadas a medical affairs da WP Lab, Dr. Luiz Antônio Batista da Costa, o tratamento homeopático, primordialmente, promove a saúde, possibilitando a reação do organismo como um todo, proporciona cura rápida, suave e duradoura.

Somado a isso, a homeopatia ativa as reações imunológicas de defesa do organismo por meio do mecanismo de imunomodulação e pode impedir, retardar ou reduzir a predisposição e a manifestação de doenças, tais como as hereditárias. Entre outros benefícios, é igualmente capaz de identificar e restabelecer o organismo doente antes que surjam lesões em órgãos e tecidos, valorizando os sintomas mentais e sensações.

Neste especial, listamos alguns problemas de saúde que atingem um grande número de brasileiros, suas causas e como a fitoterapia pode ser uma alternativa de tratamento. Lembrando que, para todos eles, é fundamental o auxílio de um especialista da saúde, já que muitos podem ter contraindicação ou interações e também estão sujeitos a reações adversas. Acompanhe.

1.Estresse, ansiedade e insônia

A fitoterapia tem excelentes possibilidades e evidências dentro das áreas de estresse, ansiedade e insônia, segundo afirma o especialista da Apfit.

“É o caso da Valeriana officinalis, o ansiolítico de destaque na fitoterapia, seguida dos produtos à base das folhas do maracujá (não há efeitos com o uso do suco, como popularmente se atribui), produtos à base das três ervas-cidreiras (Melissa officinalis, Cymbopogon citratus, Lippia alba), além da camomila, lúpulo (explicando parte dos efeitos calmantes da cerveja), óleo de lavanda, óleo de cítricos, entre outros”, explica.

Marques acrescenta que, na área do estresse, a fitoterapia é hegemônica, regulando o impacto negativo nas diversas esferas orgânicas e prevenindo a depressão, melhorando memória, libido, fadiga, irritabilidade, entre outros sintomas.

“Produtos à base dos ‘ginsengs’ são os mais recomendados: Panax ginseng, Pfaffia glomerata, Eleutherococcus senticosus, Withania somnifera, Schisandra chinensis, Rhodiola rosea, entre outros”, enumera.

Já a medicina antroposófica lança mão de substâncias como: Bryophyllum, que é indicada para vitalizar o organismo em casos de ansiedade, angústia e em processos emocionais que provocam irritabilidade. “Sua ação é potencializada por meio de processo exclusivo de cultivo do solo com a prata, por isso nosso medicamento Bryophyllum Argento cultum”, explica Schleier, da Weleda.

Para o estresse, essa classe de medicamentos utiliza ativos como Aurum metallicum (ouro), para harmonizar o organismo; além da silicea (silício), muito importante para os cabelos, pele e unhas. Na forma dinamizada, o silício atua na falta de memória e de concentração.

Para a insônia, na medicina antroposófica, o problema pode ser tratado também com passiflora além da alata (maracujá). “É uma planta sul-americana, já utilizada pelos índios para tratar distúrbios do sono”, diz Schleier.

Além da Avena sativa (aveia) que na forma de medicamento, atua como um tônico do sistema nervoso, contribuindo na sua regeneração.

Quanto aos homeopáticos, para os casos de ansiedade e medo por antecipação, precipitação, inquietude, pressa e impaciência, Argentum nitricum é indicado.

2. Azia e má digestão

São muitas as opções simples que podem aliviar a azia. Segundo explica a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti, elas passam desde um chá (camomila, alecrim, chá verde, hortelã, boldo, entre outros) até a utilização de fitoterápicos contendo extratos compostos de origem vegetal (boldo, cascara-sagrada, ruibarbo, etc.) que também podem ser eficazes.

“A espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart.ex Reissek e Maytenus aquifolia Mart.) é utilizada como antidispéptico, antiácido e protetor da mucosa gástrica”, exemplifica.

3. Pernas cansadas

Para esses quadros, utilizam-se, na fitoterapia, algumas espécies com propriedades tônicas vasculares que melhoram a capacidade de retenção das válvulas venosas dos membros inferiores, de reforço à parede vascular, principalmente inibindo enzimas, como a hialuronidase e a elastase, e ainda efeitos anti-inflamatórios, segundo explica Marques, da Apfit.

Nesse sentido, destacam-se as sementes da castanha-da-índia, a mais usada nessa área em todo o mundo, além das sementes de uva, da Melilotus officinalis, hamamélis. “São úteis, também e pelos mesmos mecanismos básicos, em quadros de hemorroidas”, comenta.

4. Imunidade

A fitoterapia atua em quadros de imunidade baixa por meio dos adaptógenos (produtos que diminuem o impacto orgânico geral do estresse), mas também por ações estimuladoras do sistema imunológico celular, o que aumenta a capacidade do organismo em responder às infecções bacterianas e mesmo virais melhorando o prognóstico do quadro e reduzindo a necessidade do emprego de antibióticos.

“As espécies mais recomendadas nessa área são a Echinacea purpúrea e o Pelargonium sidoides, ambos presentes no Brasil apenas em fitoterápicos industrializados ou manipulados”, diz Marques, acrescentando à lista o própolis (preferência de uso em tinturas alcoólicas), o alho (como chás ou em tinturas), além de fontes nutricionais ricas em beta glucana (polissacarídeo que estimula a ação dos macrófagos).

Maria Aparecida também destaca a Equinácea [Echinacea purpurea (L.) Moench], indicada como preventivo e coadjuvante no tratamento dos sintomas de resfriados.

5. Tosse

Como a tosse é um sintoma de quadros respiratórios diversos, infecciosos ou não, ela está relacionada à necessidade de eliminação de secreções. “Teoricamente, a tosse não deve ser suprimida, pois é uma resposta positiva do organismo. Geralmente, busca-se a adequada hidratação para facilitar essa eliminação e também o emprego de medicamentos sintéticos e fitoterápicos auxiliares ao processo, particularmente os que favorecem a fluidificação das secreções por mecanismos diversos”, explica o especialista Apfit.

Segundo ele, são comuns na fitoterapia o emprego da Hedera helix, do abacaxi (extratos ricos em bromelina), das raízes de ipeca (apenas em doses baixas, pois é um forte emético), das raízes da polígala, além do uso associado de óleo-resinas e bálsamos.

6. Infecção urinária

Marques afirma que existem poucas opções fitoterápicas nesta área, destacando-se o cranberry (frutos de Vaccinium macrocarpon), que interfere na adesão bacteriana ao trato urinário; a Echinacea purpúrea, que favorece a resposta imunológica celular, de vários diuréticos que aumentam a eliminação da urina (cavalinha, canela, cabelo de milho, etc.); e os frutos da uva-ursi (Arctostaphylos uva-ursi), com propriedades antimicrobianas e que é sujeito à prescrição médica.

Maria Aparecida acrescenta, ainda, a já citada uva-ursi, que também é utilizada para tratamento de outras patologias, como cistite, pedra nos rins e como diurético e apresenta na composição derivados hidroquinônicos (principalmente o arbutosídeo ou arbutina), taninos polifenólicos, ácidos fenólicos em sua forma livre, flavonoides, triterpenos, monoterpenos, resina, óleos voláteis e cera.

7. Menopausa/climatério

Nesse período da vida da mulher, há uma redução hormonal, principalmente do estrógeno, promovendo diversos sintomas incômodos, como suores repentinos (fogachos), depressão, irritabilidade, secura vaginal, aumento no colesterol sanguíneo, etc.

De acordo com Marques, os fitoterápicos e mesmo alimentos funcionais atuam repondo parcialmente essa carência por meio dos chamados fitoestrógenos, os quais têm potência bem menor do que o estrógeno fisiológico, mas promovem, com o uso continuado, uma redução expressiva nos sintomas.

“Destacam-se os alimentos e produtos à base da soja, à base do trevo vermelho (Trifolium pratense) e à base da cimicifuga (Cimicifuga racemosa). No caso da soja, há produtos sob prescrição médica de grandes laboratórios, além de inúmeros tipos de alimentos. Mantendo-se a dose adequada, mesmo aos alimentos, o uso continuado mostra os efeitos terapêuticos desejados”, afirma.

A soja é indicada em razão da presença de isoflavonas e atua como coadjuvante no alívio dos sintomas do climatério. “É considerado modulador seletivo de receptores estrogênicos. Entretanto, deve ser verificado se a mulher estiver em uso de medicamentos anticoagulantes à base de varfarina, porque a dose deste medicamento deverá ser ajustada”, lembra Maria Aparecida.

8. Constipação

A constipação tem diversas origens, desde alimentação e hidratação inadequadas, baixa ingestão de fibras, sedentarismo até quadros patológicos, como câncer, obstrução intestinal, hérnias, hipotireoidismo, abuso de alguns medicamentos, entre outros.

“Antes do início de qualquer tratamento com fitoterapia ou outra terapêutica, é importante eliminar esses patológicos”, alerta Marques. Segundo ele, destacam-se nessa área os inúmeros produtos alimentícios à base de fibras, que devem ser incorporados à alimentação usual dos pacientes, acompanhados de aumento expressivo na hidratação para que promovam os efeitos esperados.

“Deve-se atentar, também, ao fato de que há uma demora de dias ou mesmo semanas para que essa alteração na dieta expresse as mudanças esperadas”, comenta.

Em relação aos fitoterápicos, destacam-se as diversas espécies à base das substâncias da classe das antraquinonas, que são: sene folhas, sene folículos (frutos), cascara-sagrada, frângula e ruibarbo. “Pode-se incluir também a babosa (na forma de extratos), embora seus efeitos sejam potentes e possam causar cólicas e irritação intestinal”, diz Marques.

Vale dizer ainda que a cascara-sagrada (Rhamnus purshiana DC.) é indicada para o para tratamento de curto prazo da constipação intestinal ocasional.

Na homeopatia, por exemplo, o Cardus marianus 5 CH, associado a outras substâncias como o Chelidonium majus 5CH, o Lycopodium clavatum 5CH, entre outros, têm indicação para o tratamento da constipação auxiliando no tratamento dos sintomas e também na digestão.

9. Enjoo

O fitoterápico à base de gengibre (Zingiber offinale Roscoe) é indicado como auxiliar na prevenção e alívio sintomático da cinetose (enjoo de movimento) e no tratamento sintomático decorrentes de queixas gastrointestinais leves e como antidispéptico.

Marques destaca que a grande vantagem do gengibre decorre de mecanismos de ação focados no trato gastrointestinal, modulando a comunicação entre esse ambiente e o Sistema Nervoso Central (SNC). Assim, diferentemente dos antieméticos sintéticos, não causa sonolência ou alterações centrais.

Fonte: Guia da Farmácia
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