Futuro impactante

Viver mais sempre será positivo. Contudo, previdência, saúde pública e qualidade de vida são questões que precisam ser equalizadas para garantir prosperidade aos idosos

De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), nos últimos 60 anos, a cada 13 anos, em média, a população cresce um bilhão de indivíduos. No entanto, já foi detectada pelos especialistas tendência de estabilização demográfica global para as próximas décadas. Na maior parte dos países do mundo, com exceção do continente africano, a população não cresce, há inclusive declínio em algumas regiões, caso da Europa, cuja taxa de fecundidade é de 1,5 filho por casal, o que não repõe a população.

Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que o envelhecimento implica desenvolver planejamento adequado para um mundo com mais idosos. Isso envolve analisar a produção de alimentos, água, energia e todas as questões ambientais relacionadas à produção de resíduos, situações que vão ficar a cargo de uma geração com menos força de trabalho.

O estudo “Envelhecimento populacional e o meio ambiente: é possível uma relação harmônica?”, da professora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Islândia Maria Carvalho de Sousa, e das professoras do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Paula de Oliveira Marques e Adriana Falangola Benjamin Bezerra, revela que o envelhecimento tem sido apontado como um dos fatores que agrava o desequilíbrio do meio ambiente, pois gera o aumento da população. “Entretanto, a poluição ambiental não é consequência direta do número de habitantes de um país, mas, sim, do modo de produção e vida da população daquele lugar”, assinala o documento. “Ao mesmo tempo que necessitamos melhorar as políticas para os idosos, é imprescindível a necessidade de melhorar, adequar e fortalecer o ambiente, o ‘nicho ecológico’ de todos.” O estudo cita como exemplo de falta de planejamento a arquitetura das cidades, não amigável ao idoso. “Vemos estruturas arquitetônicas inadequadas para quem está envelhecendo. Estruturas públicas e privadas, meios de transporte coletivos, dentre outros equipamentos sociais, ainda não estão adequados para atender os idosos que os utilizam ou que irão utilizá-los.” Levantamento realizado na cidade do Rio de Janeiro evidenciou que, em relação às desigualdades sociais, não apenas a condição econômica do idoso influenciava sua chance de usar serviços de saúde, como também o local de sua residência. 

“Mesmo nos países desenvolvidos, mais bem preparados economicamente, essas mudanças geram preocupação. Para o Brasil, com uma desigualdade elevada, pode ser ainda pior”, adverte o presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC, na sigla em inglês) e diretor do programa de envelhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS), Alexandre Kalache.

Uma das alternativas para enfrentar o problema é investir em educação, principalmente a básica, como fez a Coréia do Sul, que teve quadro semelhante ao do Brasil de envelhecimento com queda na taxa de natalidade. Isso permitiu que o envelhecimento fosse acompanhado pelo aumento da produtividade nos mais diversos setores. “É preciso investir nos jovens, principalmente em educação, de forma que eles estejam preparados para o futuro em que terão grandes responsabilidades”, afirma.

Igualmente, os idosos devem estar preparados para voltar ao mercado de trabalho. “O que não podemos ter, como ocorre hoje, é jovens ‘nem-nem’ (nem trabalham, nem estudam) e idosos também sem oportunidades de trabalho”, diz. Em outra ponta, é imperioso criar condições para que os idosos aposentados possam exercer plenamente sua cidadania. “Melhorando a vida deles, há uma melhora para todos. Por exemplo, um ônibus preparado para atender o idoso é um veículo mais bem equipado para deficientes físicos, grávidas e a população em geral, que terá um equipamento moderno à disposição”, pondera Kalache. “Em termos urbanísticos, as fronteiras serão as cidades age-friendly (amigável ao idoso). E será um movimento visto em toda a sociedade, no comércio e na indústria”, conclui Kalache.

Ao contrário dos países europeus, que levaram séculos para envelhecer, o processo de envelhecimento no Brasil ocorre de modo acelerado, apenas em décadas. Segundo informa a diretora técnica de saúde do Núcleo de Assistência Farmacêutica do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia, Maristela Ferreira Catão Carvalho, outro motivo de discussões e reflexões é o aumento da expectativa de vida, que não necessariamente ocorrerá de forma bem-sucedida, uma vez que poderemos estar diante de uma população com comorbidades, aumentando a necessidade de recursos financeiros para seu cuidado. O grande desafio, segundo ela, é proporcionar ao idoso maior tempo de autonomia e independência. “Para isso, é necessário pensar em medidas preventivas ao longo da vida do indivíduo, preparando-o desde cedo para lidar com os dilemas encontrados durante o processo de envelhecimento. Somos preparados durante nossa infância e juventude para vivermos a fase adulta, para trabalharmos e constituirmos 

informa a diretora técnica de saúde do Núcleo de Assistência Farmacêutica do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia, Maristela Ferreira Catão Carvalho, outro motivo de discussões e reflexões é o aumento da expectativa de vida, que não necessariamente ocorrerá de forma bem-sucedida, uma vez que poderemos estar diante de uma população com comorbidades, aumentando a necessidade de recursos financeiros para seu cuidado. O grande desafio, segundo ela, é proporcionar ao idoso maior tempo de autonomia e independência. “Para isso, é necessário pensar em medidas preventivas ao longo da vida do indivíduo, preparando-o desde cedo para lidar com os dilemas encontrados durante o processo de envelhecimento. Somos preparados durante nossa infância e juventude para vivermos a fase adulta, para trabalharmos e constituirmos família. No entanto, não temos o preparo para vivermos a fase do envelhecimento”, observa. “Temos de discutir também a tendência da população brasileira em diminuir o número de filhos por casal. Esse fenômeno poderá trazer problemas na previdência e no cuidado ao idoso nas próximas décadas.”

Há estudos afirmando que até 2050 o deficit da Previdência Social brasileira vai ter passado de 1% para cerca de 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB) por conta do envelhecimento da população e das novas regras de aposentadoria em discussão no Congresso Nacional. Segundo alguns cálculos, nos próximos 35 anos, o gasto da Previdência aumentaria em R$ 1,6 trilhão. Já em 2023, o gasto da Previdência saltaria para R$ 427,5 bilhões, considerando que no ano passado os empenhos somaram R$ 394,2 bilhões. Além disso, quem paga a conta vai diminuir. Em 2000, para cada pessoa com mais de 60 anos, havia cerca de sete pessoas entre 16 e 59 anos. Para 2050, a expectativa é que essa relação caia para menos de duas pessoas por idoso. Some-se a isso o fato de que 30% dos trabalhadores não têm nenhuma cobertura previdenciária. Para minimizar os efeitos do envelhecimento e das regras da aposentadoria, analistas de mercado avaliam que uma das saídas seria ampliar a formalização do mercado de trabalho, o que ajudaria a aumentar as contribuições à Previdência.

Processo de envelhecimento

Em termos de saúde, as dificuldades dos idosos são diversas. A diretora técnica de saúde do Núcleo de Assistência Farmacêutica do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia, Maristela Ferreira Catão Carvalho, lembra que essa população apresenta características específicas, por exemplo, a diminuição dos sentidos, como o tato e a visão; alterações nos processos de farmacocinética e farmacodinâmica; e alterações na concentração de substâncias endógenas, como a albumina, que interfere diretamente na farmacocinética do medicamento. “Tais características levam a peculiaridades que devem ser consideradas no tratamento do idoso, como as dificuldades de leitura da receita e da caixa de medicamento, além das alterações do comportamento dos fármacos em seu organismo. Portanto, os profissionais de saúde e as empresas farmacêuticas devem compreender isso para mudar e melhorar o atendimento ao idoso.”

A especialista relaciona outros problemas que os idosos enfrentam, entre eles, a disponibilidade de formas farmacêuticas adaptadas àqueles com dificuldade manual (embalagens difíceis de serem manipuladas), disfagia (medicamentos que precisam ser triturados na administração via sonda, podendo perder sua estabilidade e efetividade), deficit visual (dificuldade de ler receita, bulas e medicamentos), medicamentos com baixo limiar terapêutico (como a digoxina, na qual o idoso tende a fracionar o comprimido ao meio, correndo o risco de intoxicação medicamentosa). 

Para evitar doenças e ter uma boa qualidade de vida, é preciso ter uma alimentação adequada, com a presença de frutas, verduras, leite e vitaminas, além de exercício físico, para aumento da força e da massa muscular. “O envelhecimento inicia no dia do nosso nascimento. Por isso, a forma como educamos nossas novas gerações dirá como será o envelhecimento delas”, salienta a responsável pelas áreas de comércio e marketing da AxisMed, Rachel Santos Moreira Redigolo.

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