Genéricos alcançam maturidade na crise

Em situações de bolso mais apertado, os brasileiros recorrem, cada vez mais, aos genéricos, que garantem qualidade e preço baixo nos tratamentos

Os sinais da retomada do País começam a aparecer. Inflação e taxa de juros, por exemplo, estão, claramente, em ritmo de desaceleração, o que contribui para o crescimento geral da economia. Há, ainda, uma pequena melhora nos índices de emprego, embora ainda de forma lenta.

“A economia brasileira passou, recentemente, pela mais severa crise da história, com queda de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) no período 2015 a 2016. Em 2017, o PIB cresceu apenas 1%. Ainda não retomamos o patamar de atividades anterior à crise. O que se vê é que a indústria parou de diminuir, permanecendo estável”, comenta a diretora executiva da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan), Maria Cristina Amorim.

Já o cenário político ainda é cheio de incertezas. Aliado ao fato de que o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não deve participar da disputa presidencial em 2018, ainda esperam-se os desdobramentos de grandes operações anticorrupção, como a Lava Jato, que tem mudado os rumos do País.

Os dez maiores laboratórios de genéricos do País em volume

Fonte: IQVIA. Ranking em Unidades, MAT fev.18 (MAT significa Moving Annual Total – em português, Movimento Anual Total) (acumulado dos meses de mar.17 a fev.18), no canal varejo, total Brasil

Mas apesar das imprecisões e ritmo de crescimento ainda abaixo do esperado, alguns setores começam a sentir esses efeitos da leve recuperação nacional, a exemplo da indústria farmacêutica.

“Percebemos que está havendo uma melhora nos indicadores relativos ao nível de emprego. Portanto, uma maior cobertura dos planos de saúde que, indiretamente, contribui para o crescimento da indústria farmacêutica”, comenta o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini.

A executiva da Abradilan acrescenta, inclusive, que a situação do segmento dos produtos e serviços de saúde é oposta à geral. “Mesmo durante a recessão, as empresas do setor continuaram crescendo e meu contato com os empresários mostra que estão dispostos a continuar investindo”, diz.

De fato, com a retomada gradativa do emprego e renda, é natural que a população comece a custear mais seus gastos com a saúde, embora com o orçamento ainda reduzido. Essa realidade tem feito com que os genéricos tenham se firmado como motor de crescimento do setor.

“O mercado farmacêutico total registrou expansão de 5,73% em 2017. Já os genéricos cresceram 11,78%. Isso mostra como eles têm cumprido o papel de ampliar o acesso a medicamentos no País”, constata a presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), Telma Salles.

Os dez maiores laboratórios de genéricos do País em valor (R$)


Fonte: IQVIA. Ranking em Valores (R$, a preço PPP), MAT fev.18 (MAT significa Moving Annual Total – em português, Movimento Anual Total) (acumulado dos meses de mar.17 a fev.18), no canal varejo, total Brasil

Dados da entidade apontam, ainda, que os genéricos fecharam 2017 com crescimento de quase 12% no volume de unidades vendidas, na comparação com 2016 e, com este desempenho, houve crescimento na participação de mercado.

“Os genéricos encerraram o ano com 32,46% de participação de mercado em unidades, contra 30,70% verificados em 2016. É o aumento da confiança do consumidor traduzida em números”, comemora Telma.

Para 2018, em razão da recuperação ainda lenta da economia, espera-se um crescimento moderado dos genéricos, entretanto, com resultados superiores aos registrados pelo mercado farmacêutico total. Esses números refletem o resultado positivo que esses medicamentos têm trazido para toda a cadeia.

“Eles contribuíram e contribuem com o bom desempenho das indústrias farmacêuticas nacionais; com o volume de vendas do varejo e da distribuição; com o aumento moderado dos preços dos demais medicamentos; e com o aumento do acesso da população à saúde”, pontua a executiva da Abradilan.

Aliás, a aceitação e procura do consumidor por esses medicamentos são indiscutíveis. “Em pesquisa que fizemos, 37% dos consumidores apontaram que adquiriram medicamentos genéricos, outros 32% compraram os de marcas e 31% compraram uma mescla dos dois tipos”, mostra o presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia.

De fato, com o orçamento ainda apertado, a população encontra, nos genéricos, uma alternativa segura e confiável para seguir com seus tratamentos.

Os dez medicamentos genéricos mais vendidos em unidades

Fonte: IQVIA. Ranking em Unidades, MAT fev. 18 (MAT significa Moving Annual Total – em português, Movimento Anual Total) (acumulado dos meses de mar. 17 a fev.18), no canal varejo, total Brasil

“Os genéricos são a principal fonte de acesso à saúde e a tratamentos médicos para grande parte da população brasileira. Por lei, devem custar, no mínimo, 35% menos que os medicamentos de referência. Hoje, a categoria representa 32% do mercado farmacêutico, sendo o segmento com maior evolução nos últimos anos”, argumenta a diretora de marketing de Neo Química, Jurema Aguiar.

Desempenho comprovado pela indústria

Em 2017, a Prati-Donaduzzi – que tem, nos genéricos, 96% do faturamento e 147 produtos registrados em comercialização – investiu na área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para aprimorar o portfólio com foco em medicamentos de prescrição médica. As apostas surtiram resultados positivos.

“Os genéricos, de maneira geral, registraram alta de 13,5% no faturamento da empresa”, indica o gerente de marketing da empresa, Lucas Angnes, acrescentando que o trabalho realizado pela área comercial, tanto na linha farma quanto hospitalar, contribuiu para que esses números fossem possíveis.

“Um exemplo desse crescimento foi o fato de três moléculas de genéricos representarem 26% do faturamento da empresa no ano”, justifica Angnes. Para 2018, a companhia almeja crescer 15% em relação ao ano passado e tem a meta de dobrar o faturamento nos próximos cinco anos.

Faturamento dos medicamentos de marca, genéricos e similares no Brasil

Fonte: IQVIA. Auditoria de mercado farmacêutico PMB, base de fev.18. Valores a preço PPP (valores que já consideram o desconto praticado entre distribuição e varejo), e unidades em unidades de caixa, apenas canal varejo, total Brasil. Na análise, é considerado “similar” um produto que não possui uma marca comercial e não é considerado genérico pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devido a não possuir testes comparativos de bioequivalência e biodisponibilidade. Exemplo: Eucaliptol. É considerado medicamento de marca (similar ou cópia) aquele que não é um genérico porque tem uma marca comercial e não tem comprovação de testes de bioequivalência e biodisponibilidade. Exemplo: Anador

A EMS – empresa que tem 36% do faturamento representado por genéricos e detém 83 moléculas neste mercado – registrou R$ 4,4 bi de faturamento neste segmento em 2017, alta de 12% no comparativo com o ano anterior; e alcançou 203 milhões de unidades comercializadas. A empresa encerrou o período no segmento de genéricos com 17% de market share (em reais e em unidades) e está presente em 90% dos pontos de venda (PDVs) espalhados pelo Brasil.

“Esse resultado é reflexo do pioneirismo da EMS na produção e comercialização de medicamentos genéricos no Brasil, desde 2000, e do contínuo investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) (6% do faturamento anual da empresa é destinado ao Centro de P&D), reforçando seu histórico de contribuição para a expansão do acesso a medicamentos no Brasil”, considera o diretor comercial da Unidade de Genéricos da EMS, Aramis Domont.

Para 2018, as metas da empresa são de manutenção da liderança no mercado de genéricos, posição que já ocupa desde 2013, e a promoção de importantes lançamentos na categoria para enriquecer ainda mais o portfólio e viabilizar o acesso da população a novas terapias. “A expectativa da EMS é crescer 20% em faturamento”, arrisca.

Já a Sandoz – que possui cerca de 150 apresentações que representam, em média, 80% de participação do mercado de genéricos – nos últimos três anos, conseguiu dobrar as vendas no segmento. E as projeções seguem positivas para 2018. “Esperamos uma alta de cerca de 10% das vendas de genéricos”, revela o diretor de marketing e Inteligência de Mercado da empresa, Guilherme Barsaglini.

Os dez medicamentos genéricos mais vendidos em valor (R$)

Fonte: IQVIA. Ranking em Valores (R$, a preço PPP), MAT fev. 18 (MAT significa Moving Annual Total – em português, Movimento Anual Total) (acumulado dos meses de mar.17 a fev.18), no canal varejo, total Brasil

Na Geolab, indústria que tem registrado crescimento expressivo no mercado farmacêutico, com alta de 27,6% [MAT fev. 18 (MAT significa Moving Annual Total – em português, Movimento Anual Total)], boa parte desse desempenho também é fruto da boa performance dos genéricos.

“De 2017 para 2018, tivemos um crescimento acima dos 57%. E boa parte dos resultados planejados vem de genéricos. Projetamos alta de 30%, mas esperamos superar nossos objetivos”, conta o gerente de marketing da empresa, José Ribeiro Suso Junior.

Hoje, 40% do portfólio da companhia é de genéricos e o restante de genéricos de marca. “Nossa linha é composta por cerca de 70 moléculas e 110 apresentações”, resume.

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