Idosos: força muscular é qualidade de vida

Ter um envelhecimento ativo significa manter a autonomia para executar tarefas cotidianas; quando a perda se manifesta, a independência pode ser prejudicada

Doenças crônicas não transmissíveis são o principal motivo para que idosos fiquem acamados ou internados. Mas há outro fator que tem alta incidência e causa prejuízos para a população da terceira idade: quedas e acidentes domésticos, responsáveis por 5,6% dos problemas de saúde na terceira idade.

Fraqueza muscular, dor, diminuição da mobilidade articular e sensação de perda de força ao realizar movimentos são alguns dos motivos que levam os idosos a se acidentarem com maior facilidade. Mais do que características naturais do envelhecimento, esses sintomas podem ser sinais de sarcopenia.

A palavra é de origem grega e significa “sarx” = carne e “penia” = perda, ou seja, trata-se da perda de massa muscular esquelética, especialmente nos membros, caracterizando uma grave síndrome geriátrica.

Com o aumento da expectativa de vida e consequentemente do número de idosos na população mundial, a prevalência da sarcopenia vem aumentando. Estudos realizados no Novo México, nos Estados Unidos, mostram que a doença se manifesta em 13% a 24% das pessoas de 65 a 70 anos de idade. Com o avançar dos anos, a presença da síndrome é ainda maior, chegando a mais de 50% em indivíduos com mais de 80 anos de idade.

De acordo com o reumatologista do Hospital Santa Paula, Dr. Jayme Fogagnolo Cobra, a sarcopenia é uma síndrome que acompanha o envelhecimento.

“É difícil dizer uma idade precisa para o início da sarcopenia, mas alguns estudos sugerem que vários fatores podem contribuir, como alterações hormonais, neurológicas, nutricionais e inatividade física”, explica.

A perda muscular que gera a doença pode, inclusive, se iniciar em indivíduos saudáveis e sem comprometimento físico algum. “Uma perda muscular pequena, de cerca de 1% ao ano, pode ser observada a partir dos 50 anos de idade, podendo chegar a uma perda de 20% a 40% entre os 70 e 80 anos de idade”, complementa o Dr. Cobra.

Quando a doença se instala de fato, os sintomas pioram a capacidade de autonomia do idoso e comprometem a qualidade de vida. A fraqueza muscular e a diminuição da funcionalidade dos membros podem chegar a um ponto que inviabiliza a execução de tarefas simples.

“A vida diária passa a ser um verdadeiro desafio para o indivíduo acometido pela síndrome até em ações cotidianas, antes consideradas fáceis, como abrir uma janela, subir um lance de escada, caminhar pequenas distâncias”, conta o especialista.

Essa queda no desempenho ocorre porque a sarcopenia promove uma diminuição nas fibras musculares brancas do tipo II, responsáveis pela força e explosão, além de alterar os nervos que conectam os músculos ao sistema nervoso.

Somam-se a isso alterações fisiopatológicas características da terceira idade, como inflamação, resistência à insulina e estresse oxidativo.  “Isso mostra que diversas condições levam à sarcopenia, como doenças, sedentarismo e desnutrição, e sua instalação causa alterações fisiológicas que pioram outras doenças”, descreve o clínico geral e pós-graduando em Geriatria, Dr. Leandro Minozzo.

Diagnóstico e tratamento

A sarcopenia pode ser diagnosticada com exames simples feitos dentro do consultório médico. Um deles é a medição da circunferência da panturrilha. Idosos com uma medida igual ou abaixo de 31 cm estão em risco para sarcopenia e devem ser avaliados com mais cuidado.

O segundo método de análise é a velocidade de marcha. Por duas vezes, o paciente deve percorrer quatro metros, com tomada de tempo pelo médico. Velocidades abaixo de 0,8 metro por segundo indicam sinais de sarcopenia.

Esses meios de avaliação são capazes de identificar fraqueza muscular e redução da capacidade de realizar atividades da vida diária, no entanto, a quantificação precisa da perda de massa muscular deve ser avaliada pela realização da densitometria óssea.

“O aparelho utiliza um software específico para a determinação da composição corporal, por meio da qual é possível definir a quantidade de massa muscular, em gramas, em diferentes segmentos do corpo”, detalha o Dr. Cobra.

O problema é que, dentro da realidade do sistema de saúde brasileiro, esse ainda é um exame diagnóstico de difícil acesso, tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como por meio de planos de saúde privados.

Uma vez identificada a sarcopenia, o tratamento varia de acordo com a idade, a capacidade de mobilidade do paciente e a origem da perda muscular.

Segundo o ortopedista do Hospital Santa Catarina,  Dr. André Pedrinelli, se a causa da sarcopenia for um problema anterior, como alterações hormonais, neurológicas, inflamação ou resistência insulínica, ao tratar essas alterações primárias, já é possível ter uma grande redução da sua manifestação.

Prevenção imprescindível

As consequências das alterações que ocorrem no organismo humano decorrentes do processo de envelhecimento, principalmente a perda muscular que leva à sarcopenia, podem ser minimizadas e parcialmente controladas.

“Com prática regular de atividade física, além do controle alimentar, com ingestão de determinados tipos de alimentos, em quantidades e horários adequados, é possível, muitas vezes, prorrogar o aparecimento da sarcopenia por um longo período”, afirma o Dr. Cobra.

A proteína animal, o magnésio e a vitamina D são alguns dos nutrientes que contribuem para o fortalecimento dos músculos. O problema é que, devido a algumas particularidades do organismo do idoso, às vezes, não é possível obter as vitaminas necessárias apenas pela dieta.

Como relata a nutricionista voluntária do Horas da Vida, Dra. Mariane Savassi, o processo natural da idade leva a um quadro de atrofia da mucosa gástrica.

“O pH estomacal passa por mudanças, se tornando mais básico e afetando a absorção de alguns nutrientes. Essa alteração é chamada de hipocloridria e afeta, principalmente, a absorção de cálcio, ferro e vitamina B12”, explica.

Além disso, a chegada da terceira idade também altera o paladar, o que propicia uma diminuição no interesse em variar a alimentação e provoca problemas na dentição, dificultando o consumo de certos alimentos.

“Sem contar que existe risco de interferência na absorção de vitaminas e minerais quando se consome uma grande quantidade de medicamentos”, lembra a Dra. Mariane.

Diante desses obstáculos que dificultam a absorção completa dos níveis de nutrientes recomendados para prevenir a perda muscular, em muitos casos, é necessário fazer uso de suplementação vitamínica. A necessidade ou não desse suporte deve ser avaliada pelo profissional médico, para que a quantidade de vitaminas seja adequada a cada indivíduo.

Prevenir o surgimento da sarcopenia não só resulta em maior qualidade de vida, mas também em maior longevidade. Estudos mostram que idosos acima de 80 anos de idade que apresentam a síndrome têm uma mortalidade 2,3 vezes maior do que aqueles que não sofrem com a doença. Além disso, o risco de quedas em idosos com sarcopenia é 3,2 vezes maior do que para aqueles pacientes sem a síndrome.

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