Mesmo com recessão, MIPs atingem dois dígitos

Segmento eleva em cerca de 10% suas vendas em 2015, ano em que o PIB brasileiro registrou o pior resultado em 25 anos. Expectativa é manter o patamar de crescimento setorial em 2016

Em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 3,8% em relação ao do ano anterior, atingindo R$ 5,9 trilhões. É a maior queda desde 1990, quando o recuo foi de 4,3%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o PIB per capita fechou o ano passado em R$ 28.876, provocando uma redução de 4,6% frente a 2014. Dos setores da economia analisados pelo Instituto para o cálculo do PIB poucos se salvaram em 2015. A maior alta foi da agricultura, de 1,8%. Mesmo o setor de serviços, responsável por boa parte do PIB e que ainda com a crise conseguia se manter em ascensão, recuou 2,7%, a maior baixa desde 1996, influenciado pela forte retração do comércio, que caiu 8,9%. A indústria como um todo sofreu queda de 6,2%, puxada pela retração de quase 8% do setor de construção. 

O ponto fora da curva no setor industrial continua sendo a indústria farmacêutica. Segundo a consultoria IMS Health, que compila dados do segmento, o canal farma fechou 2015 com alta de 12% em relação ao ano anterior, apresentando faturamento de R$ 84,3 bilhões, somando medicamentos, Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) e não medicamentos. Em volume, o setor girou 4,6 milhões de unidades, um crescimento de 6% versus 2014. O ramo de MIPs representa cerca de 25% da receita da indústria farmacêutica. Acompanhando o resultado positivo do setor, o segmento variou suas vendas positivamente em 10% em 2015. No levantamento, a receita atingiu R$ 16,3 bilhões no ano passado contra R$ 14,9 em 2014. Em março, o faturamento já estava em  R$ 16,7 bilhões. Em unidades, o mercado farmacêutico total cresceu 8% e o MIP avançou 9% no ano passado, segundo compilação da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), fechando o ano com 1,01 bilhão de unidades comercializadas. Na contabilização do IMS Health, em março último, as vendas já atingiam 1,04 bilhão de unidades. 

Representatividade mantida

De forma geral, o segmento de MIPs vem crescendo de forma significativa, na opinião da vice-presidente executiva da Abimip, Marli Martins Sileci. “É possível ter uma dimensão desse crescimento, considerando o aumento registrado no faturamento em 2015. Também o crescimento de 9% em vendas unitárias no ano passado, contra 7% em 2014, indica isso. Para 2016, esperamos crescer ainda mais”, afirma. “O potencial é muito grande. Seguindo a tendência da última década, o consumo de MIPs deve continuar avançando, provavelmente em ritmo mais lento, em face da crise econômica que enfrentamos”, acrescenta o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini.

Na última década, o motor da economia brasileira foi baseado em boa parte no consumo. Nesse cenário, o aumento do poder de compra das pessoas foi decisivo. A classe C, que representa aproximadamente 30 milhões de famílias (52% da população), foi a que mais cresceu no decênio. A elevação do poder desse contingente e da melhora de vida das classes D e E tiveram influência direta nos resultados do setor farmacêutico como um todo e do segmento dos MIPs em particular, uma vez que estes medicamentos se tornaram mais acessíveis – a taxa média de crescimento desse ramo farmacêutico girou em torno de 16% nos anos de bonança, até 2012. Com a elevação do poder aquisitivo, a preocupação com a saúde se elevou e, consequentemente, fez crescer a produção e venda de medicamentos. Nas faixas de renda C, D e E, há uma relação direta entre o aumento do poder aquisitivo e o potencial de consumo de produtos como os MIPs. Como esses medicamentos dependem da venda espontânea, a elevação da renda é decisiva na hora da compra.

A crise que afeta a economia brasileira há dois anos trouxe aumento do desemprego e queda na renda, que desidrataram o poder de compra das famílias. Com o revés na economia, as pessoas passaram a restringir as compras, sobretudo de bens duráveis. Sobraram as despesas essenciais, como alimentação e medicamentos que, apesar de não registrarem queda, passaram a crescer menos. A expectativa no setor farmacêutico é de que a maré negativa vire logo – a depender de variáveis políticas – e que o canal consiga manter seu patamar de vendas até a recuperação econômica. 

Ranking dos MIPs mais vendidos em 2015 (em unidades)

1

Dorflex

2

Neosaldina

3

Eno

4

Buscopan

5

Benegrip

6

Centrum

7

Tylenol

8

Vick

9

Expec

10

Multigrip

 

Top 10 laboratórios

1

Sanofi

2

Neo Química

3

DM Indústria Farmacêutica

4

EMS

5

Takeda

6

Legrand

7

Aché

8

Boehringer Ingelheim

9

GSK Consumo

10

Pfizer

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Perspectiva setorial

Dentro do setor dos MIPs, o ramo dos analgésicos mantém a liderança histórica, como lembra Marli. “Os últimos anos vêm se mostrando estáveis ao ter as mesmas classes terapêuticas como líderes de mercado no segmento de MIPs, como analgésicos, produtos para gripes e resfriados, miorrelaxantes tópicos (como sprays e patches), multivitamínicos, antitussígenos e produtos para problemas gástricos”, revela a executiva. 

As empresas que atuam no segmento estão otimistas. “O segmento de MIPs na Aspen Pharma teve crescimento de 12% em 2015. Já nos primeiros meses de 2016, a empresa registrou aumento de 11% nas vendas em relação ao ano passado”, afirma a gerente de Produto OTC da Aspen Pharma, Gabriella Rica. A linha MIPs representa 31% do faturamento da empresa. “A Aspen Pharma acredita muito no potencial dos MIPs e continuará investindo nesse segmento. Os dois primeiros produtos da empresa são MIPs e os três desse portfólio estão no top 10 em faturamento. Temos um lançamento importante para este ano e a expectativa de crescimento é grande”, complementa o gerente de marketing da companhia, Jackson Figueiredo.

No Aché, atualmente, a área de MIPs representa cerca de 11% do faturamento do laboratório. Em 2015, as vendas do segmento cresceram 12% em relação ao ano anterior, contribuindo com quase R$ 360 milhões para o faturamento total da empresa. Para 2016, a expectativa é de expansão de 13% nas receitas com MIP. “Neste ano, seguimos investindo fortemente, inclusive passando a contar com uma força de demanda focada em MIPs”, afirma o diretor de MIP do Aché, Cesar Bentim. Além disso, ele revela que o Aché realizou um planejamento de crescimento para todas as áreas. “Nesse plano, definimos uma estratégia para a área de MIP que prevê a renovação de portfólio e lançamentos, a fim de chegarmos até 2030 entre os três maiores do segmento. Estamos seguros de que o projeto é ousado, mas factível”, finaliza.

A expectativa da Cimed para este ano é de crescer mais 30%, muito acima da previsão do mercado, que é de 7%. “O investimento direto previsto é próximo aos 5% da venda da linha MIP, porém existem investimentos indiretos na marca Cimed que impactam na venda da linha MIP da empresa, como o patrocínio na Seleção Brasileira de Futebol e no Stock Car”, afirma o gerente de produto da empresa, Marcelo Pontello. 

“Temos previstos mais de 20 lançamentos na linha MIP, entre os que concorrerão em novos mercados, como micose de unha e regulador intestinal, e extensões de linha de marcas consagradas”, acrescenta o também a gerente de produto da Cimed, Natiele Barreto. O segmento MIP da empresa teve em 2015 crescimento de 28% em relação a 2014. Já no primeiro trimestre deste ano, a linha MIP manteve alta de 28%, se comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo revelam os executivos da companhia. O segmento MIP representou, em 2015, 23% do faturamento líquido da Cimed e, para 2016, está previsto atingir 29%.

Na EMS, a unidade de negócios Over The Counter (OTC) registrou crescimento acima do mercado em 2015. Enquanto o setor cresceu 10%, o laboratório registrou 24% de avanço de 2014 para 2015, percentual também superior ao alcançado no último período, de 18%. Para 2016, a farmacêutica projeta um crescimento ainda mais agressivo, entre 30% e 35%, com a previsão de dois a três lançamentos de produtos com foco em inovação. 

A empresa revela que investiu mais de R$ 100 milhões somente na área de OTC nos últimos dois anos. O lançamento mais recente da unidade foi um medicamento para intolerantes à lactose, distinto de seus concorrentes, segundo a empresa, por apresentar tabletes dispersíveis alocados em blíster em vez de sachês. Só para esse produto, foram investidos R$ 20 milhões, e a expectativa da empresa é uma demanda de R$ 10 milhões já no primeiro ano de comercialização. 

O segmento de MIPs respondeu por cerca de 30% da receita líquida da Hypermarcas em 2015 e no primeiro trimestre de 2016. Segundo dados do IMS Health, a demanda por MIPs da companhia aumentou 11,2% na comparação entre o primeiro trimestre de 2016 e o mesmo período do ano anterior. Em 2016, a empresa lançou um medicamento de fibras prebióticas 100% solúveis, indicado para o funcionamento do fluxo intestinal, e a versão em frascos de um antiácido nas versões abacaxi e sem sabor. “Há diversas extensões de linha programadas no pipeline da empresa, que deve ainda consolidar ao longo do ano lançamentos recentes, como medicamentos para enxaqueca, antigripais e multivitamínicos”, afirma o diretor executivo da unidade de negócios Consumer Health da Hypermarcas, Diego Luz. 

Na Sanofi do Brasil, os produtos de Consumer Health Care respondem por cerca de 30% das vendas. “A área de Consumer Health Care é um dos pilares do grupo Sanofi e um importante componente para o crescimento da companhia no País. Produzimos o medicamento mais vendido no mercado brasileiro. Para se ter ideia, são vendidos 50 comprimidos desse medicamento por segundo no Brasil”, revela a diretora de Consumer Health Care do Grupo Sanofi, Patrícia Macedo.

Autor: Marcelo de Valécio

MIPs 2016

Especial MIPs 2016

Essa matéria faz parte do Especial MIPs 2016.

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