Mudança de cenário

A indústria farmacêutica enfrentou mudanças tanto na demanda como no comportamento de consumo do brasileiro durante a pandemia. Para 2022, as perspectivas são de crescimento e novos investimentos

A pandemia do novo Coronavírus impôs mudanças e transformações tanto na sociedade, como também na indústria farmacêutica. As novas necessidades e a alta demanda do shopper, que passou a consumir mais produtos como vitaminas, por exemplo, além de medicamentos para o trato respiratório, anti-inflamatórios, entre outros, mexeu com números e projeções da indústria que viu o mix mudar e precisou se adaptar a uma nova realidade.

No primeiro semestre de 2021, o segmento de vitaminas, por exemplo, apresentou variação positiva de 9,2%. Com os genéricos, o quadro não foi diferente e a categoria registrou volume 5,94% maior do que o verificado em 2020, segundo relatório da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (ProGenéricos).

“O avanço de casos de síndrome respiratória no fim de 2021 e início de 2022 movimentou muito o setor de saúde. Por conta do aumento expressivo na venda de tratamentos para sintomas respiratórios, foi preciso se mobilizar rapidamente para atender a esta demanda, sem deixar faltar produtos essenciais aos consumidores.

Exploramos nossa capacidade total de produção e antecipamos entregas para atender à cobertura de estoque. Para isso, linhas produtivas e recursos foram direcionados para os produtos de Gripes e Resfriados e doenças respiratórias”, conta a diretora executiva da Divisão de Consumer Health do Aché Laboratórios Farmacêuticos, Elizangela Kioko.

Segundo ela, a unidade de genérico do Aché teve um aumento de vendas em função da Covid-19, principalmente nos produtos respiratórios. “No mercado em que atuamos com esses produtos, crescemos mais de 60% (MAT22 vs. MAT21). As principais moléculas que tiveram alta de vendas foram Azitromicina (+298%), Loratadina (+30%), Prednisolona (+54%) e Levofloxacino (+1737%). (dados IQVIA em Unidades – MAT22 vs. MAT21)”, diz.

No Aché, os medicamentos respiratórios representam cerca de 17% da demanda em valor dentro do portfólio de genéricos (dados IQVIA R$PPP MAT22).

Mercado resiliente

Além das mudanças no cenário e no mix, a pandemia também provocou um cenário global de falta de insumos, ocasionando um elevado número de faltas no mercado.

“Como somos dependentes de insumos importados, fizemos uma série de ajustes e suprimimos gastos para mitigar os efeitos cambiais. Mas mesmo que por caminhos diferentes daqueles inicialmente projetados, foi possível trabalhar com os mesmos números”, conta o diretor da Unidade de Negócios Genéricos da Eurofarma, Donino Scherer Neto.

Ele diz que apesar da farmacêutica ter registrado impacto nos produtos controlados com retenção de receita, já que houve isolamento e as pessoas reduziram suas idas ao médico, houve um crescimento exponencial em algumas classes de produtos, como analgésicos, anti-inflamatórios e alguns antibióticos.

“Essa retomada, inclusive, foi tão forte que enfrentamos problemas por conta da alta demanda, situação que nos fez trabalhar para suprir essa procura”, diz.

Durante o ano de 2021, a Eurofarma apresentou evolução acima do mercado da classe, com um crescimento de 15% de faturamento em relação a 2020, com a 134,9 milhões de unidades comercializadas.

“Nosso propósito é tornar a saúde acessível para que as pessoas possam viver mais e melhor e, neste contexto, nosso foco está em oferecer aos consumidores produtos dessa categoria, pois os genéricos oferecem a possibilidade de vários tratamentos a preços mais acessíveis a toda a população. Os próximos anos reservam vencimentos de patentes importantes, de produtos para cardiologia, doenças do sistema nervoso, Parkinson, trombolíticos, oncológicos e diabetes, que em breve terão suas versões genéricas disponibilizadas à população”, afirma Neto.

Novo comportamento de consumo

Até mesmo a escolha do canal de compras foi impactada pela pandemia, conforme conta a diretora de marketing da Cimed, Sílvia Genaro. “Vivenciamos uma mudança no comportamento de compra do consumidor, que devido ao confinamento, diminuiu a frequência de compras em farmácias localizadas em grandes centros e aumentou as compras em farmácias de bairro e e-commerce. Além disso, houve um impacto negativo no orçamento familiar do brasileiro, consequência do cenário econômico desfavorável na pandemia, o que refletiu na redução do tíquete médio nas compras do varejo farmacêutico e aumento da preferência de compra por produtos mais acessíveis, como os genéricos”, avalia.

Ela ainda destaca que outro aspecto foi o cenário logístico global, que representou um grande desafio para a indústria. “Enfrentamos escassez de matérias-primas, embalagens, serviços e insumos de uma forma geral, o que por consequência impactou negativamente nos custos e leadtime de produção. Houve também um impacto direto na demanda de algumas classes de medicamentos, por estarem relacionadas ao tratamento dos pacientes infectados por Covid-19, isso exigiu uma reação rápida da indústria e de toda cadeia de abastecimento que precisou se adequar a essa demanda não planejada”, conta Sílvia.

No portfólio de genéricos da Cimed, há um grande número de moléculas como antibióticos, anti-inflamatórios, xaropes e antialérgicos que tiveram um aumento expressivo de demanda em função da Covid-19.

“Em 2021, o grupo ultrapassou a marca de 130 milhões de unidades de genéricos produzidos, com crescimento de 15% sobre o ano anterior. Esse número é superior ao mercado como um todo, que registrou um crescimento de 11% no mesmo período. Atualmente, 40% do faturamento da empresa é proveniente da categoria de genéricos”, revela Sílvia.

Expectativas e tendências

Depois do julgamento que tornou inconstitucional o parágrafo primeiro do artigo 40 da Lei de Propriedade Industrial, a grande expectativa da indústria de medicamentos genéricos no Brasil é sobre o vencimento de algumas patentes e a consequente liberação para que novas moléculas e classes terapêuticas de genéricos possam ser lançadas.

“Hoje, este mercado representa mais de 37% do mercado farmacêutico total e quase 50% da demanda dos produtos tarjados, crescendo consistentemente ano após ano (dado IQVIA – Unidades ano fechado 2021).

Acreditamos que os genéricos continuam se desenvolvendo e ganhando força em todos os canais e regiões, principalmente em função da procura dos consumidores por opções de compra mais acessíveis”, comenta Elizangela do Aché.

Para a especialista do Aché, a empresa tem acompanhado as dinâmicas de mercado e os consumidores estão com os genéricos cada vez mais presentes em suas cestas de compras.

“Além disso, temos 152 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Estes continuarão recebendo prescrições na molécula, o que continuará ativando a demanda do mercado de genéricos consistentemente”, afirma.

Atualmente, segundo a ProGenéricos, há genéricos disponíveis para mais de 95% das doenças conhecidas, das mais simples às mais complexas, cobrindo tratamentos de doenças do sistema cardiocirculatório; sistema urinário/sexual; aparelho digestivo/metabolismo; Sistema Nervoso Central (SNC); doenças respiratórias; além de anti-infecciosos; anti-inflamatórios hormonais e não hormonais; dermatológicos; oftalmológicos; helmínticos/parasitários; oncológicos; e contraceptivos; entre outros.

“As oportunidades estão nos próximos vencimentos recentes de patentes importantes, que abrirão espaço para atender à demanda da população em diversos segmentos, como cardiologia, doenças do sistema nervoso e Parkinson”, finaliza Neto.

Fonte: Guia da Farmácia
Foto: Shutterstock