Mulheres multitarefas: quem são elas?

As mulheres modernas são multitarefas, mas têm sofrido com problemas de saúde devido à sobrecarga de funções e falta de tempo para cuidar de si mesmas

O público feminino é maioria no Brasil. Representa 51,5% da população brasileira, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Além de mais numerosas, as mulheres vivem mais que os homens. Eles são maioria apenas até o grupo de 20 a 24 anos de idade. A partir disso, a situação se inverte.

Na faixa etária de 60 anos ou mais, elas correspondem a 8% da população total do País, enquanto eles representam 6,3%. Isso porque elas vivem, em média, 79,4 anos – cerca de sete anos a mais que a população masculina.

Os papéis exercidos pelas mulheres ao longo desses anos de vida têm se diversificado e se tornado cada vez mais relevante para o cenário socioeconômico do País.

De acordo com a ferramenta Estatísticas de Gênero, também do IBGE, 37,3% das 50 milhões de famílias que residem em domicílios particulares têm a mulher como responsável pela casa. Em áreas urbanas, o índice chega a ser maior (39,3%).

Muitas mulheres obtiveram potencial para ser responsáveis por uma família devido à escolarização. A taxa de frequência escolar no ensino médio é de 52,2% entre as mulheres (9,8%) acima do índice registrado entre o sexo masculino. Dos em torno de 4,9 milhões de jovens entre 15 e 17 anos de idade que frequentam o ensino médio, 54,7% são mulheres.

No ensino superior, essa diferença de escolarização cresce ainda mais. Mais de 57% dos universitários de 18 a 24 anos de idade são do sexo feminino. As áreas de formação em que as mulheres estão presentes em maior proporção são educação (83%) e humanas e artes (74,2%), justamente campos de atuação com menores rendimentos mensais médio entre as pessoas ocupadas (R$ 1.811 e R$ 2.224, respectivamente).

Mesmo sendo maioria na população e tendo maior grau de instrução, as mulheres ainda são minoria no mercado de trabalho e ocupam 44% das vagas disponíveis. Ainda assim, o percentual demonstra um avanço. Em 2007, profissionais do sexo feminino representavam 40,8% do mercado formal de trabalho.

Mudanças de comportamento

Quando conquistaram o direito de estudar e trabalhar, as prioridades do universo feminino passaram a mudar. Um dos pontos que mais sofreu alteração foi o número de filhos por mulher.

Em 1980, cada brasileira tinha, em média, quatro crianças. Agora, o índice está em 1,72 filho por mulher. Com cada vez mais ocupações fora do lar, elas também estão esperando mais tempo para ter filhos.

A faixa etária entre os 20 e 24 anos é a que registra maior queda na taxa específica de fecundidade (23,5%) entre os grupos de idade analisados pelo IBGE.

Apesar de estar sendo adiada, a maternidade ainda é o sonho de muitas mulheres. No entanto, quando se concretiza, passa a disputar espaço com o trabalho, os estudos, o marido e o lar.

Da necessidade de equilibrar todos esses papéis surgem muitos conflitos e angústias. “Com todas as mudanças, os novos tempos, as novas ocupações, aumentaram-se as demandas e, junto com isto, o estresse gerado. O estresse afeta duas vezes mais mulheres do que homens. Há ainda a autocobrança, para corresponder aos modelos sociais ideais de carreira, de beleza, etc.”, avalia o psicólogo e especialista em Medicina Comportamental, Valdecy Carneiro.

Parte dessa sobrecarga se deve ao fato de que os cuidados com a casa e com a família ainda são muito mal divididos entre os casais. De acordo com a pesquisa, as brasileiras dedicaram, em 2016, 18,1 horas semanais com as tarefas do lar – quase oito horas a mais do que a média da população masculina do País. O Nordeste é a região que apresenta a pior divisão de atribuições domésticas. Lá, a discrepância chega a 80%.

Com tantas atribuições e pouca ajuda de parceiros, as mulheres têm tido menos tempo para se dedicar à saúde. “Com o aumento contemporâneo da presença da mulher no mercado de trabalho formal e, muitas vezes, acúmulo de funções, observa-se aumento do nível de estresse, do tabagismo, do sedentarismo, do peso”, aponta o cardiologista do Hospital Santa Paula, Dr. Fabrício Assami.

O descuido é tanto que as principais causas de mortalidade no sexo feminino estão relacionadas a hábitos de vida ruins. Os dados sobre as principais causas de morte entre mulheres variam muito dependendo da idade, condição socioeconômica e região avaliada, mas, de maneira geral, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), doença cardíaca isquêmica; Acidente Vascular Cerebral (AVC); infecções do trato respiratório inferior; Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC); além Alzheimer e outras demências, são males que mais matam a população feminina.

O diabetes é uma doença que também avança em níveis alarmantes entre as mulheres – é o gênero mais afetado pelo problema no Brasil. Atualmente, a taxa de brasileiras com a doença é de 9,9%, enquanto, entre os homens, este número é de 7,8%, segundo dados do Ministério da Saúde (MS) divulgados em 2017. Em todo o mundo, 199 milhões de mulheres vivem com a doença e este número deve passar de 300 milhões em 2040.

“As causas desse avanço ainda não são determinadas, mas acredita-se que, por conta do estilo de vida que as mulheres vêm levando de um tempo para cá, elas estejam apresentando doenças que antes eram mais predominantes nos homens, como obesidade com acúmulo de gordura na barriga, que é um dos itens que mais pode levar ao diabetes tipo II”, diz o endocrinologista, coordenador médico do Ambulatório de Diabetes da Faculdade de Medicina do ABC e membro da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Dr. Marcio Krakauer.

Consumo feminino

Levando em conta o ritmo atual das mulheres que possuem uma tripla jornada, não há tempo a perder. Para elas, o atributo essencial de um varejo é a proximidade. Ou seja, valorizam a localização, a conveniência e a praticidade.

“Elas querem chegar, encontrar facilmente o que procuram, navegar sem problemas na loja e sair rapidamente. Tudo isso, sem dúvida, tendo um bom atendimento”, resume a diretora da Connect Shopper, consultora de varejo e shopper marketing, Fátima Merlin.

Diante dessas exigências, tempo (ou a falta de) pode ser considerado um atributo de alto valor na decisão de compra de uma mulher. Logo, facilitar o processo de compra e decisão é o grande desafio do varejo.

Para conseguir entregar esse atributo, é preciso conhecer o cliente, o comportamento de compra e decisão, necessidades e aspirações. Ter uma loja bem ambientada, setorizada, sinalizada, com sortimento adequado, exposição correta e bom preço também é primordial.

“É claro que existem diferentes shoppers com diferentes perfis e demandas e, dependendo destas necessidades e das categorias procuradas, os perfis também são variados. Há quem queira preço; outras, conveniência; outras, inovações; outras são orientadas por promoções; outras estão em busca da melhor compra a partir do acesso às informações de uso e benefício dos produtos. Nos dias atuais, mais do que segmentar por informações sociodemográficas e classe sociais, as segmentações mais modernas consideram estilo de vida, hábitos, etc.”, orienta Fátima.

Entre as consumidoras brasileiras, 36,4% se encaixam no grupo de vaidosas, conforme categorização da Nielsen. Essa categoria gasta 48% acima da média das mulheres com produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPC) e com uma frequência 17% maior.

Em geral, esse perfil de consumidora tem de 19 a 35 anos de idade e está localizado principalmente no Nordeste, Leste e na Grande São Paulo. Costuma comprar mais no meio da semana e, de preferência, nos canais porta a porta, perfumaria e farmácia.

Ainda segundo estudos da Nielsen, a consumidora vaidosa pode ser engajada por promoções bem efetuadas, levando, por exemplo, um xampu maior com um condicionador menor, pois sabe que o xampu acaba mais rápido e consegue perceber o custo-benefício deste tipo de embalagem. Por questões de desembolso, esses kits são mais importantes para os níveis socioeconômicos mais altos.

Foto: Shutterstock