Novos idosos no Brasil

Economicamente ativos, participando da renda da família e cuidando mais da saúde para uma longevidade com qualidade de vida. Entenda o perfil desse público no País

Quando a palavra “idoso” surge, ainda é difícil separá-la do estereótipo da bengala, dos cabelos brancos, da inatividade e da doença. Entretanto, uma boa parcela da população do País com mais de 60 anos de idade mostra que esse conceito mudou.

Mesmo com a aposentadoria, eles têm uma vida ativa, muitos deles trabalham (e também são responsáveis pela renda do lar), têm momentos de lazer e prezam pela saúde e qualidade de vida.

Hoje, o que se vê é uma população idosa significativa e com hábitos alterados em relação aos antigos idosos. Boa parte dessa realidade se dá pela melhora das condições gerais da população que, hoje, tem mais acesso à saúde, a medicamentos e à informação, quando comparado com décadas atrás, embora a realidade ainda esteja bem longe da ideal.

“Mesmo com toda a dificuldade que o Brasil tem enfrentado, o acesso à saúde, educação, ao trabalho e saneamento básico ajudou na melhoria de conduções de vida da população. A mortalidade também cai com a introdução de vacinas e antibióticos. Fatos como esses fazem com que a vida do brasileiro tenha melhorado, aumentando, assim, a expectativa de vida”, analisa o pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira.

Esse novo cenário demográfico do Brasil já pode ser comprovado por números e projeções. Segundo o levantamento Estudos e Análises – Mudança Demográfica no Brasil no Início do Século XXI, desenvolvido em 2015, pelo IBGE, o segmento populacional que mais aumenta é o de idosos, com taxas de crescimento de mais de 4% ao ano no período de 2012 a 2022.

Esse levantamento aponta que a população com 60 anos ou mais de idade passou de 14,2 milhões, em 2000, para 19,6 milhões, em 2010, devendo atingir 41,5 milhões, em 2030, e 73,5 milhões, em 2060.

Oliveira afirma, ainda, que, em 1991, a expectativa de vida era de 66 anos; em 2000, de 69,8 anos; em 2017, é de 76 anos; e em 2050, será de 81 anos.

Espera-se, para os próximos dez anos, um incremento médio de mais de um milhão de idosos anualmente, segundo o IBGE. No mesmo compasso, a queda da participação das pessoas de 0 a 14 anos de idade na população tem sido mais expressiva, passando de 26,5%, em 2005, para 21% em 2015. Há, ainda, um declínio observado no grupo de 15 a 29 anos de idade, que foi de 27,4% para 23,6% no mesmo período.

Mais ativos do que nunca

Os idosos brasileiros têm mostrado ao País que esses anos a mais de vida constatados pelas estatísticas são aproveitados em plena atividade. “Uma pesquisa recente indica 33,9% dos idosos como economicamente ativos. Considerando os aposentados que têm entre 60 e 70 anos de idade, o percentual dos que trabalham sobe para 42,3%”, comenta o coach de carreira e negócios, mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e sócio da Alfa Centauri Coaching, Edgard Pitta de Almeida.

Grandes desafios para o mercado

O envelhecimento dos brasileiros traz três grandes desafios para o País, sendo que o primeiro deles é a saúde, na visão do pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira.

“A expansão demográfica traz, com ela, uma transição epidemiológica. Como processo natural do avanço da idade, aumentam-se os casos de doenças degenerativas e crônicas, bem como os casos de câncer. É uma realidade para a qual o Brasil precisa se preparar”, analisa.

Para ele, outro ponto de atenção é o de cuidado com os idosos. “Precisa-se treinar e capacitar pessoas que atuem como cuidadores”, diz. Outro grande desafio é o da reforma da previdência que, hoje, encontra-se em plena discussão. “É preciso encontrar meios para que a previdência social não penalize a população idosa mais pobre”, finaliza Oliveira.

A pesquisa citada pelo especialista foi desenvolvida em 2016, pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e, mostra que a principal justificativa para os idosos se manterem ativos é o complemento da renda, uma vez que a aposentadoria não é o suficiente para pagar as contas (46,9%).

“Dois em cada dez (23,2%) idosos continuam trabalhando para manter a mente ocupada e 18,7% para se sentirem pessoas mais produtivas na sociedade. Além disso, 9,1% alegaram não ter parado de trabalhar para poder ajudar os familiares financeiramente”, acrescenta.

O mesmo levantamento também mostra a participação que os idosos exercem, hoje, na renda familiar: nove em cada dez (95,7%) idosos contribuem ativamente para o sustento financeiro da casa, sendo que, em mais da metade dos casos (59,7%), eles são os principais responsáveis. 

Perfil do público idoso no Brasil

LONGEVIDADE: o quantitativo de idosos no País alcançou 14,3% da população geral, ou seja, 29,3 milhões de pessoas. Nesse grupo, o que mais expressivamente cresce é o de idosos longevos, de 80 anos de idade ou mais. De acordo com as estimativas, em 2030, o número de brasileiros com 60 anos de idade ou mais ultrapassará o de crianças de 0 a 14 anos de idade1.

LIMITAÇÕES: a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) investigou as limitações funcionais que as pessoas de 60 anos ou mais de idade enfrentavam para realizar, sozinhas, suas atividades básicas de vida diária, como: comer, tomar banho e outras. No Brasil, em 2013, 6,8% das pessoas de 60 anos ou mais de idade tinham limitação funcional para essas atividades1

CAUSAS DE INTERNAÇÃO: entre pessoas com mais de 60 anos de idade, em 2016, no Sistema Único de Saúde (SUS), os principais motivos de internação foram doenças do aparelho circulatório (660.409), doenças do aparelho respiratório (404.777), neoplasias (311.413) e doenças do aparelho digestivo (288.218). Em 2016, as internações de idosos no SUS totalizaram 2.822.3641.

USO DE MEDICAMENTOS: mais de 39 milhões de pessoas acessaram o Programa Farmácia Popular desde a implementação da gratuidade dos medicamentos para o tratamento de hipertensão e diabetes, em fevereiro de 2011. Os idosos são os mais beneficiados, pois representam em torno de 54% do total atendido mensalmente1.

QUALIDADE DE VIDA: o percentual de idosos, que autoavaliaram sua saúde como boa ou muito boa, varia de 48,4%, para aqueles de 60 a 64 anos de idade; 44,2%, para idosos com 65 a 74 anos de idade; e 39,7%, para as pessoas de 75 anos ou mais de idade1.

HOMENS X MULHERES: existem, aproximadamente, 80 homens para cada 100 mulheres, resultado dos diferenciais de mortalidade entre os sexos, cujas taxas para a população masculina são sempre maiores do que aquelas observadas entre as mulheres2.

MORTALIDADE: entre 2000 e 2030, a mortalidade na faixa de 60 a 90 anos de idade tende a declinar em todo o Brasil. Em Santa Catarina, a taxa de mortalidade, em 2000, que era de 880,2%, passará a ser 641,1%, em 2030, isto é: 239 pessoas para cada mil, que até então não conseguiam atingir os 90 anos de idade, passarão a alcançar essa idade2.

PRINCIPAIS GASTOS: alimentação (82,9%), compromissos com serviços de luz (73,6%) e telefonia (47,2%), além de despesas com produtos de higiene (44%) e saúde, tais como medicamentos, exames e médicos (41,2%) são os gastos mais frequentes entre os brasileiros que têm acima de 60 anos de idade4.

HOBBIES: entre idosos com 60 a 70 anos de idade, de forma geral, os principais são cozinhar e praticar artesanato. Variando entre as classes sociais, também são hobbies, leitura, yoga, fotografia, trabalho voluntário, caminhar, entre outros3.

ESTRUTURA FAMILIAR: entre idosos de 60 a 70 anos de idade, praticamente metade é de casados, morando com o/a esposa/marido; e a outra metade é de divorciados. Uma minoria são viúvos e moram sozinhos. Alguns também residem com a mãe/pai ou sogro/a e cuidam dos mais velhos da família. Filhos solteiros (muitos já acima dos 30 anos de idade) ou divorciados residem na casa dos pais. Também há quem viva com os netos3.

GANHOS EMOCIONAIS DA TERCEIRA IDADE: entre idosos com 60 a 70 anos de idade, eles consideram os principais ganhos da idade: a liberdade (disponibilidade de tempo, tempo para o lazer, motivação para viver melhor, fazer o que gosta); maturidade (experiência, sabedoria, dizer o que pensa, convicção nas decisões, firmeza positiva, confiança, clareza); aceitação (amor pela vida, alegria de ser quem é, consciência de que precisa se cuidar/cuidar da saúde); redenção (usufruir de direitos, impor-se); tranquilidade (paciência, compreensão, aprender a não julgar, menos ansiedade, positividade e espiritualidade); realização (dever cumprido); doação (servir, ser útil, compartilhar)3.

LAZER: entre idosos com 60 a 70 anos de idade, as principais formas de lazer são: receber, visitar ou sair junto com familiares ou amigos; viajar para a casa de praia; e comer fora. Também são formas de lazer, passeios em parques ou shoppings, cinema, teatro, shows e clubes3.

STATUS DE TRABALHO: entre idosos com 60 a 70 anos de idade, a maioria é de aposentados e boa parcela ainda segue ativa profissionalmente. Os não aposentados (+ homens das classes AB1) continuam atuando no mercado de trabalho formal ou informalmente3.

Fontes: 1. Ministério da Saúde (MS); 2. Estudos e Análises – Mudança Demográfica no Brasil no Início do Século XXI, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – 2015; 3. Pesquisa Nova Terceira Idade, desenvolvida pela 5WBrazil Pesquisa Qualitativa de Mercado e realizada em abril de 2017, em São Paulo (SP); 4. Pesquisa desenvolvida pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) – 2016

 

 

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