O mundo encantado da Bomboniere

No corre-corre do dia a dia, é natural que as refeições sejam substituídas por pequenos lanchinhos ou guloseimas para saciar a fome. Esse comportamento traz força a esse mercado e as farmácias podem participar desses resultados

Café, água mineral, sucos, iogurtes, chá pronto, água de coco, bebidas à base de soja, isotônicos, sobremesas prontas, bolos, pães; além de itens de bomboniere, como chocolates, salgadinhos, biscoitos, balas, gomas… A lista de snacks – considerados substitutos, intermediários ou complementares às refeições – é extensa e faz sucesso por todo o mundo. O Estudo Global sobre Alimentos para Lanches, realizado pela Nielsen e divulgado em 2014, já apontava para a ascensão desse mercado.

O estudo indicou que essa categoria movimentou US$ 374 bilhões e, deste total, ganharam destaque a Europa, como o maior consumidor (US$ 167 bi), seguida da América do Norte (US$ 124 bi). E apesar de ainda apresentar valores bem menores, a Ásia-Pacífico (US$ 46 bi), a América Latina (US$ 30 bi) e o Oriente Médio/África (US$ 7 bi) apresentaram as maiores taxas de crescimento (4%, 9% e 5%, respectivamente).

Dados mais recentes, de março do ano passado, e específicos do Brasil, divulgados no estudo Hábitos de Consumo de Snacks, da Mintel, revelaram que 97% dos consumidores entrevistados afirmaram que consumiram snacks/lanchinhos no último mês; e 21% desta fatia afirmou ter consumido mais snacks em relação a 2016, percentagem que sobe para 32% quando analisado o consumidor entre 16 e 24 anos de idade.

Segundo a Mintel, números como esses refletem estilos de vida cada vez mais ocupados e o abrandamento das normas tradicionais de refeições, que geram um aumento nas ocasiões de lanchar. Além disso, o tempo é um recurso cada vez mais precioso para os brasileiros e as empresas estão respondendo com o lançamento de produtos on-the-go (consumo em movimento, na tradução livre para o português).

“O hábito do snack vem se tornando mais forte entre os brasileiros, principalmente devido à busca constante por economizar tempo. Assim, acabam sendo uma forma de saciar a fome entre refeições e também podem chegar a substituí-las. O importante é verificar que os motivadores para o consumo de snacks variam de acordo com a ocasião. As empresas devem, portanto, entender como posicionar cada categoria de acordo com as diferentes ocasiões de consumo do dia”, comentou, sobre essa pesquisa, a então especialista da área de Alimentação e Bebidas da Mintel, Naira Sato.

ONDE OS BRASILEIROS COMPRAM SEUS SNACKS?

Segundo estudo Consumo Dentro e Fora do Lar, realizado no segundo semestre de 2015 na região metropolitana de São Paulo, pela Nielsen, foi identificado que a pessoa adquire snacks, em média, em oito locais diferentes. Um exemplo provável, de acordo com o levantamento, seria: supermercados, restaurantes, padarias, atacadistas, compartilhamento por outras pessoas, mercearias, docerias, bombonieres, conveniência e mercado informal.

Mas outros canais podem entrar no mix, como as farmácias. “Nas farmácias, essa categoria tem crescido na mesma proporção em que tem sido tratada de forma profissional: cuidando da extensão do mix; da retirada do que não gira; da inclusão de itens válidos; e cuidados com a precificação e exposição. Há, ainda, muito a se trabalhar nela e receber resultados interessantes”, analisa a consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso.

Prova disso é que, segundo dados da IQVIA, somente considerando doces, biscoitos, chocolates, gomas de mascar, balas, mel e barras de cereais, as farmácias brasileiras já faturaram R$ 558 milhões de junho de 2017 a maio de 2018 (MAT* maio/18), com crescimento de +9,8% versus o mesmo período do ano anterior. Quando são contabilizadas as bebidas de conveniência, como água, sucos herbais e energéticos, esse mercado ganha R$ 210,7 milhões ao ano. “Existe um grande universo a ser explorado pelas farmácias, especialmente porque muitas ainda não perceberam que algumas categorias de checkout são 100% incrementais dentro da cesta de compra do consumidor, ou seja, compras de impulso e de ‘indulgência saudável’ que não concorrem com nenhuma outra categoria de destino de compras do consumidor dentro da loja”, aponta o diretor de marketing – Consumer Health da IQVIA, Rodrigo Kurata.

SAIBA COMO ABRIR ESPAÇO PARA BOMBONIERE NA SUA LOJA

APOSTA NA DIVERSIFICAÇÃO: por haver diversidade de estratégias dos fabricantes desses produtos, que criam kits, combos e descontos, há muito a ser explorado. E é na diversificação de mix que é possível ter margem de lucro melhor.

ESCOLHA DO SORTIMENTO: o melhor caminho é começar pequeno, testando categorias de grande giro, e fazendo uma análise da concorrência ao redor, como pontos de vendas (PDVs) de supermercados, padarias, etc. Cada região pode ter um perfil de consumo diferente, e entender quais categorias são mais importantes é vital para ter sucesso.

ADEQUAÇÃO DO ESPAÇO: a otimização do espaço da loja é realmente o maior problema para a expansão dessa categoria. O checkout hoje é uma boa opção para exposição desses produtos, além da reorganização do mix de itens que ficam fora do balcão. Devem ser implementadas categorias que realmente possuem maior giro para não ocupar o PDV com produtos de baixo consumo.

VISIBILIDADE NA EXPOSIÇÃO: a categoria de bomboniere deve ser posicionada na área de checkout, que precisa estar bem organizada, para facilitar o acesso do consumidor aos produtos. Como se trata de um estabelecimento de saúde, é recomendável que itens que tragam algum benefício nesse sentido sejam maioria e tenham destaque. Vale lembrar, ainda, que como a compra dessa categoria acontece 100% por impulso, a visibilidade é o principal fator de eficiência nas vendas, portanto, estar no checkout ou exposta nos diversos materiais criados é decisivo.

MIX ASSERTIVO: o sortimento deve ser enxuto, com itens de alto giro e demandados pelo consumidor. Alimentos e bebidas estão entre os mais adquiridos nas farmácias. Farmácias de pequeno e médio portes enfrentam um limitador na hora de trabalhar novas categorias, como a bomboniere: a falta de espaço físico. Essa dificuldade precisa ser superada uma vez que são esses modelos de lojas que apresentam a maior evolução no crescimento de candies. Para conseguir expor bomboniere, mesmo numa área limitada, é preciso ter foco, avaliando o mix que mais vende na região e focando nele. Em seguida, deve-se buscar o auxílio da indústria para obter dicas de planogramas e organização da visibilidade desses produtos.

Fontes: especialista em varejo da consultoria Inteligência360, Olegário Araújo; gerente-geral do Close-Up International, Guilherme Alfano; Mind Shopper; Fini Brasil; e Revista Bomboniere Farma – 1ª edição (Contento Comunicação

Dados do Close-Up International são igualmente positivos. Somente em 2017, de acordo com o instituto, o varejo farmacêutico faturou R$ 377 milhões com bomboniere, alta de 8,4% em relação ao resultado de 2016.

“Essa categoria cresce no canal farma, pois é uma novidade neste tipo de ponto de venda (PDV). O paciente que vai à farmácia buscar medicamento e encontra produtos para consumo imediato, acaba consumindo estes e possivelmente deixando de consumi-los em outros canais. Também é possível que a compra por impulso estimule o consumidor a comprar esses produtos mesmo se ele não tivesse a intenção antes de entrar na loja”, comenta o gerente- -geral do Close-Up International, Guilherme Alfano, acrescentando que, no País, ainda há grande oportunidade de distribuição e comercialização dessa categoria nas farmácias.

“Em geral, apenas as grandes e médias redes já possuem a categoria razoavelmente estabelecida. Mas ainda há grande oportunidade nas farmácias de médio e pequeno porte”, analisa.

A indústria já enxerga esse potencial. “O canal farma é PDV completo e, cada vez mais, os consumidores exploram essas lojas. Por ser um mercado altamente regulado, com normas e restrições para o incentivo do consumo indiscriminado de medicamentos, o que se observa, nos últimos anos, é o aumento do sortimento de conveniência e bomboniere. A Fini Brasil está empenhada para impulsionar a relevância da categoria dentro da conveniência das lojas”, conta o gerente executivo Farma da Fini Brasil, Daniel Carvalho.

OPORTUNIDADE PELO IMPULSO

A pesquisa Os influenciadores das Compras por Impulso, de dezembro de 2015, desenvolvida em parceria pelo portal de educação financeira Meu Bolso Feliz, pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), revelou que 100% dos consumidores entrevistados cedem em algum grau às compras por impulso.

Os produtos mais adquiridos nessas situações pertencem ao segmento de alimentos e bebidas, em que os produtos da bomboniere estão inclusos. Em primeiro lugar apareceram os pães (42,1%), seguidos de leite (39,6%), cafés (36,4%), sucos (31,2%) e biscoitos (27,6%).

Também apareceram nessa lista os salgadinhos para aperitivos (20,7%); e as guloseimas, como balas, chicletes, chocolates, doces (19,3%). “Água de coco, sucos, barras de cereal e balas são produtos que apresentam boa venda por impulso, ainda mais se a loja estiver situada em um ponto de fluxo onde as pessoas passam, entram e compram aquilo que estão com vontade no momento”, considera o especialista em varejo da consultoria Inteligência360, Olegário Araújo.

Dados como esse apontam para uma grande oportunidade às farmácias que conseguem trabalhar um bom mix e exposição, inclusive as lojas que trabalham com limitação do espaço físico.

“Apesar do pouco espaço na maioria das farmácias independentes, o consumidor que visita este tipo de estabelecimento se mostra muito suscetível à compra por impulso, principalmente das apresentações em tamanhos menores e com preços cada vez mais atrativos”, opina Alfano.

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